quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

ESTREIA NO CURTO, CÍCLICOS ASSASSINATOS NA FOSSA DOS EUA


Curto tirado por um novato nestas andanças da cafeína, Pedro Cordeiro, a receber ordenado (temos esperança) do burgo Impresa Balsemão da Marinha Bilderberg. Que o senhor jornalista Cordeiro se dê bem e não se sinta sacrificado é o que no PG desejamos. Oh, homem, seja feliz! Isso mesmo apesar das desgraças que tem de reportar, a começar pelas que teclou na abertura deste Curto do Expresso.

Pois é. Nas escolas dos EUA matam que se fartam. É a abertura deste Curto. Lá foram mais 17 alunos, talvez também professores. O lobie das armas na enorme fossa do mundo, agora dirigida pelo paranóico e doidivanas Trump, vence. É por isso que adquirir armamento nas lojas é tão fácil como comprar em Portugal chupas-chupas. Cowboys uma vez, cowboys sempre. O mesmo é dizer assassinos, já que os vaqueiros nada devem ter de relacionado com assassinos. Mas é assim, o que se espera de um país de assassinos? Adiante.

Também assassinada foi a lusodescendente Maëlys de Araújo, em França. Tinha oito anos. Um doido fez dela gato-sapato e ocultou o cadáver. Agora descoberto. O assassino está preso e por lá vai ficar muitos anos. A mãe da criança escreveu ao esterco assassino e deixou rasto para que ele dê em mais chalupa. “A Maelys vai-te assombrar para o resto da vida”, escreveu. Daqui por uns tempos iremos saber que o grande tarado assassino vai, provavelmente, queixar-se que na prisão vê imensos fantasmas que o atormentam e acabará por se enforcar. Esperemos que sim.

Coisas bonitas, a seguir. De desgraças estamos fartos. Vejam que bonito vai ser ter mais uma chocadeira de doutores em Portugal, como podemos ler no site da TSF: Doutoramentos nos politécnicos "é evolução normal". Bem se diz que este é um país de doutores e de dótores. É bom? É mau? Que há dótores que são uma grande trampa sabemos que sim. Nos tempos desta atualidade em velocidade furiosa aqueles já são demasiados… Mas também existem bons doutores. Diferenciá-los e sabermos quem é quem é que só é possível depois de sermos vítimas dos ditos dótores. Ou benefiados (na saúde e tuti quanti) pelos bons, pelos doutores. É a vida, dirão. Não, há uma corrente que considera que é a facilidade com que eles chegam aos licenciamentos e depois aos doutoramentos. Afinal a maioria é só licenciada, não é? Pois. O meu cão também está licenciado, mas não é doutor, nem dótor. É sim um grande e inestimável grande amigo. Avancemos, que alguns não vão gostar nada de ler isto. Principalmente os dótores. Ops.

Zuma fez zumba. Na África do Sul. Os esquemas do costume de energúmenos da política e do grande capital: corrupção e ladroagem. Como sabem Zuma era o presidente daquele país africano e antigo respaldo do apartheid. Zuma, um indigno do país de Mandela. Demitiu-se após grandes pressões do seu próprio partido político. Tem vergonha, oh energúmeno. Claro que nada de mal lhe vai acontecer. Prisão nem vê-la. Caldos de galinha e boa comidinha é o que o espera futuramente… E uma grande vida. É quase sempre assim para os ladrões e vigaristas da política. Zuma não deve ser excepção. Foste corrido do poder, zumba!

Por hoje é melhor não estender mais este “lençol” de palavras alinhadas. Um ninho de parvoíces, dirão alguns… Ou muitos. Pois. Está bem. Então sigam para o Expresso Curto, mesmo, pela lavra do estreante (bem-vindo) que se acusa. Bom dia e boas-festas – aos cachorros que passem por vós. Aos donos que não recolhem os cocós dos passeios um bom zurro a chamar-lhes porcos. Pois são.

MM | PG

“Pop, pop, pop”, eis o som da morte

Pedro Cordeiro | Expresso

Bom dia. Estreio-me neste Expresso Curto em dia de regresso às aulas, com a triste confirmação de mais uma desgraça numa escola dos Estados Unidos da América. Um ex-aluno do liceu Marjorie Stoneman Douglas de Miami regressou à escola mas o que matou não foram saudades, e sim 17 pessoas, entre alunos e professores. Nikolas Cruz, de 19 anos, fora expulso do estabelecimento por mau comportamento. Ontem à tarde apareceu com pelo menos uma arma automática e granadas de mão, gerando cenas de pânico. “Ouvi pop, pop, pop e corri”, conta um estudante, num relato cuja simplicidade desarma. O homicida, que já fora considerado perigoso, está preso.

O massacre, a recordar nomes como Columbine, Virgina Tech ou Sandy Hook, é mais um de uma longa lista que inclui mais de 40 casos desde 2000, o último há menos de um mês no Kentucky. O senador Chris Murphy, do Connecticut, exprimiu ontem o óbvio ao reagir ao ocorrido: há uma “epidemia de matança em massa” que “não acontece em país nenhum além dos Estados Unidos”. Como pai, o legislador confessa-se “aterrorizado” e deplora a falta de iniciativa contra tragédias destas, numa nação onde as armas de fogo já mataram 1800 pessoas só este ano (sim, só este ano 2018!) mas falar de controlar o acesso às mesmas vale acusações de esquerdismo radical. Só posso dizer que compreendo Murphy, até porque os hábitos americanos chegam ao lado de cá do Atlântico, para o melhor e para o pior.

Noutro caso arrepiante, este com ecos entre nós, foi encontrado em França o corpo da lusodescendente Maëlys de Araújo, após confissão de seu alegado assassino, Nordahl Lelandais. A mãe da vítima, de oito anos, escreveu uma carta ao homicida.

Mudando de assunto, hoje é também o primeiro dia desde 9 de maio de 2009 em que a África do Sul não é presidida por Jacob Zuma. Acossado por escândalos de corrupção, demitiu-se ontem a contragosto, com efeitos imediatos, pressionado pelo seu próprio partido, o ANC (Congresso Nacional Africano), que prometera uma moção de censura para hoje caso o chefe de Estado não renunciasse ao cargo. Sai de cena aos 75 anos, sem honra nem glória, um sucessor de Nelson Mandela e seu companheiro na luta contra o Apartheid. Segue-se-lhe, para já interinamente, o vice-presidente Cyril Ramaphosa, que o Parlamento deverá tornar efetivo em breve. Não escasseiam assuntos urgentes a resolver, nomeadamente aquele que a Marta Gonçalves explica no Expresso Diário de ontem.

OUTRAS NOTÍCIAS

Ainda na arena internacional, e continuando no continente africano, morreu ontem Morgan Tsvangirai, aos 65 anos, vítima de cancro do cólon. Opositor de Robert Mugabe no Zimbabué, foi primeiro-ministro entre 2009 e 2013, numa tentativa de conciliação com o ditador, que foi deposto em novembro passado após 30 anos no poder.

Aqui pela Europa, fracassou nova tentativa de formar governo na Irlanda do Norte. A região está sem executivo desde janeiro de 2017, há 13 meses, devido a divergências entre os dois maiores partidos, o DUP (Partido Unionista Democrático, que além de ter liderado todos os governos norte-irlandeses desde o Acordo de Sexta-feira Santa de 1998) e o Sinn Féin (nacionalista republicano, outrora braço político do IRA). Arlene Foster, a última primeira-ministra, terá mesmo considerado a visita de May à região, esta semana, “contraproducente”. E isto é dito pela mulher cujo partido (DUP) suporta o Governo conservador em Londres, que faria se assim não fosse...

Também no Reino Unido, e a marcar bem a distância que por vezes se abre entre classe política e cidadão comum, um sem-abrigo foi morrer à porta do Parlamento. Era presença familiar para quem sai do metro na zona de Westminster.

Falando de coisas mais alegres, continua a fascinar-me a transmissão em direto da aventura do Starman da Tesla a bordo do carro Roadster que vagueia pelo espaço. Embora ninguém saiba ao certo onde está, como explica aqui o Virgílo Azevedo, e apesar de ter falhado o objetivo Marte, ainda se pode cantar como David Bowie: “There's a starman waiting in the sky / He'd like to come and meet us / But he thinks he’d blow our minds”. Blow, sim senhor. É verdade: o Governo (o nosso, pois!) vai criar uma agência espacial.

Não tão longe mas ainda assim distantes, geograficamente, desenrolam-se os Jogos Olímpicos de Inverno em PyeongChang, Coreia do Sul. A Alemanha lidera a contagem de medalhas, mas o que tem chamado a atenção é a dimensão política do certame, com a aproximação entre Norte e Sul que levará tempo a avaliar. Sempre palco de tomadas de posição públicas, os Jogos deste ano deram a conhecer um patinador artístico americano. Adam Rippon não se celebriza pelo bronze conquistado, mas por ser um homossexual assumido que recusou encontrar-se com o vice-presidente Mike Pence, durante a visita deste a PyeongChang.

E se ainda há quem ache que a homossexualidade é contranatura, uma cientista francesa pede licença para discordar.

Por falar em Pence, refiramos que a Casa Branca anda em maré de más notícias. Um funcionário demitiu-se porque o seu passado de consumidor de marijuana iria impedi-lo de ter certos acessos de segurança. O acordo sobre imigração entre Donald Trump e o Senado parece estar por um fio. E uma atriz pornográfica sente-se à vontade para falar do relacionamento que teve com o Presidente. Valem ao 45.º Commander-in-Chief os bons números económicos e uma oposição que ainda não percebeu bem o que aconteceu em novembro de 2016.

Se um dos projetos mais emblemáticos de Trump é o famoso muro na fronteira com o México, talvez não goste da peça seguinte, sobre o predomínio de cineastas oriundos desse país nas últimas cerimónias dos Óscares, a próxima das quais acontece já a 4 de março: ele foi Alejandro Gómez Iñarritu em anos recentes, ele é Guillermo del Toro este ano (com o delicioso A forma da água). Mas como é que isto foi acontecer, Donald?

Por cá prepara-se o XXXVII Congresso do PSD, que tem início já amanhã. Rui Rio tenta pacificar as hostes, convidando o ex-adversário Pedro Santana Lopes para liderar a sua lista ao Conselho Nacional, como conta o Filipe Santos Costa. Não falta quem lhe exija concretização e resultados, quiçá postulando-se para o caso de tudo correr mal. Quem já não vai ter tanta relevância é Hugo Soares, um líder parlamentar que não deixa grande memória, a não ser o quanto se agarrou ao lugar depois de o candidato que apoiou (Santana) ter sido derrotado. Como se esperava, Rio dispensa-o. Para o render já foram mencionados tantos nomes (Campos Ferreira, Negrão, Marques Guedes, Adão Silva) que a escolha final se arrisca a parecer solução de recurso.

Enquanto Lisboa e Porto terão redes de metropolitano ampliadas já a partir do ano que vem, no interior vive-se o drama da poluição do Tejo, assinalada neste texto de Daniel Oliveira. Valham, ainda que não livres de controvérsia, os bons números do turismo, que a Maria João Bourbon dissecou neste 2:59.

Só mais umas notas telegráficas sobre o crescente isolamento docada-vez-mais-tirano dirigente venezuelano Nicolás Maduro na América Latina, o sempre interessante concurso World Press Photo (tenho para mim que o fotojornalismo é uma das expressões nobres do nosso ofício) e, para descansar o leitor, a garantia de que não vem aí o fim do mundo (OK, não é desse mundo, mas o assunto é curioso). Aproveitem, já agora, para ouvir, como faço a cada semana, o episódio desta semana do podcast Comissão Política, dos camaradas da secção homónima, desta vez centrado numa grande entrevista (trabalho de Filipe Santos Costa e Tiago Miranda) a uma das figuras promissoras do país, Adolfo Mesquita Nunes, cujo gesto corajoso não é a única razão por que devem lê-la.
FRASES

“Uma coisa, pelo menos, eu não temo logo à noite: não iremos enxovalhar o clube. Não vamos encaixar 5-0, como o Benfica em Basileia”. Miguel Sousa Tavares, adepto do FC Porto. numa tirada que não é de ontem mas foi reproduzida à saciedade depois de... vocês sabem.

“Chamem-lhe a Anti-Trump”. Revista Vogue, a propósito da primeira-ministra neozelandesa Jacinda Ardern, promovida (com mérito) a farol da esquerda mundial.

“Adotámos um compromisso sobre dinheiro, equipamento e contributo para missões militares. Não é uma coisa ou outra, não se pode escolher. Há que cumprir em todos os campos”. Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, exigente com os Estados-membros.

O QUE ANDO A LER

“Qualidade da Democracia em Portugal”, muito interessante ensaio de Conceição Pequito Teixeira publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (uma pechincha, 3,15€ aqui). Um livro magro de tamanho mas denso de conteúdo, que mostra como a saúde do nosso regime não se mede apenas em formalismos. Trata-se do 79.º volume desta série, que é verdadeiro serviço público. Também gosto muito dos Retratos da Fundação, outra coleção que nos dá a conhecer o que somos.

“Oblívio”, poesia de Daniel Jonas. É o terceiro livro deste autor a que me atiro, e sempre com vontade. Como em “Só” e “Bisonte”, o poeta escreve em sonetos intrigantes, nem sempre fáceis, quer-me parecer que desta feita mais sombrios. Note-se este arranque: “Ó voz da noite, ó noiva enviuvada / Sidéreo baldaquim de áurea talha, / Impõe-me as tuas luvas, vem, mortalha, / Ajoelha-me a cabeça na almofada”.

É hora de levantar, mas valha-nos a boa literatura (no caso, portuguesa) para dar alento aos dias. Amanhã virá novo Expresso Curto, a fumegar.

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