@Verdade | Editorial
Os resultados da eleição
intercalar para a escolha de novo presidente do Conselho Municipal da Cidade de
Nampula falam por si. Os candidatos da Frelimo e Renamo foram, efectivamente,
os mais votados na eleição intercalar realizada a 24 de Janeiro último, na
cidade de Nampula, mas nenhum deles amealhou votos suficientes para ser
declarado eleito e substituto de Mahamudo Amurane, covardemente assassinado a
04 de Outubro de 2017, na sua residência.
Os munícipes de Nampula
demonstraram redondamente a sua indignação no dia da votação, não se fazendo às
urnas. Ou seja, apenas 73.852 votaram (24,90%), o que significa que 222.738
(75,10%) não se fizeram ao local de votação. Esse comportamento que se pode
descrever como um acto anti-político ou de falta de consciência de cidadania é,
na verdade, uma forma de de participação passiva, pois é um um voto silencioso.
Os munícipes mostraram claramente
que ainda estão de luto pelo assassinato do seu edil, uma figura que muito fez
pela cidade em pouco tempo de governação. Fazer-se massivamente às urnas seria
insultar a memória de Amurane e legitimar um bando de corruptos que medra à
custa do sofrimento dos moçambicanos. Aliás, os nampulenses demonstraram também
que nunca se deve aceitar que uma minoria corrupta continue a dirigir os
destinos da urbe e a ampliar o seu património pessoal até para lá do
inaceitável em detrimento dos legítimos interesses da maioria.
Os munícipes de Nampula
perceberam que cabe a eles decidir quem deve ou não governar o município e que
jamais devem permitir que a sua cidade volte a registar retrocesso no
desenvolvimento. Os nampulenses, cada vez mais, começam a ficar conscientes de
que não há outra maneira de demonstrar a sua indignação e também insatisfação
em relação à forma como são conduzidas as eleições no país. Os eleitores de
Nampula tomaram consciência que a principal arma que pode abrandar toda essa
pouca vergonha, acima de tudo, demonstrar o seu sentimento é abstenção.
O recurso à abstenção não pode
ser visto como uma atitude meramente insensata. Porém, trata-se de discernir a
opção mais justa num ambiente de políticos profissionais, corruptos e
oportunistas. Portanto, mesmo que se encontre na segunda volta o novo
presidente do Concelho Municipal da Cidade de Nampula, os nampulenses já terão
deixado ficar a sua indignação em relação ao assassinato do seu edil e também a
forma vergonhosa como são realizados os processos eleitorais.
Na foto: Amurane, assassinado em
plena campanha eleitoral
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