Henrique Monteiro | Expresso |
opinião
Ouve-se por aí, nomeadamente em
meios do PS, que a investigação rapidíssima do Ministério Público ao ministro
das Finanças, Mário Centeno, foi uma afronta. No seu habitual estilo de ir mais
depressa atrás de palavras do que de raciocínios, a deputada Isabel Moreira
afirmou o seguinte: “Achar que o ministro das Finanças se vendeu por dois
bilhetes é digno de um Estado persecutório”.
Independentemente de a deputada
saber o que é um Estado persecutório, daqueles que prendem pessoas às quatro da
manhã sem processo nenhum, sem nada, como aconteceu durante 40 anos em
Portugal, o caso é que investigar seja quem for é digno de um Estado de Direito
democrático. E foi nesse Estado democrático que Centeno foi incomodado e,
depois, se lhe fez justiça.
Estou pessoalmente à vontade. No
dia 10 de janeiro considerei (e está escrito) este processo absolutamente
ridículo. Mas se pessoas como Isabel Moreira e outras mais doutas, acham que o
MP deve atuar consoante o que acha ou não ridículo (ou talvez consoante o que
algumas pessoas acham ridículo) devo dizer que estão a dar poder de mais ao MP.
Ou então, o que me parece tese mais sólida, pretendem um controlo do MP,
controlando também o ‘ridiculómetro’ para se saber quando deve atuar.
As suspeitas ridículas sobre
Centeno foram investigadas. Ainda bem. Com isso o ministro teve ganho de causa.
Imaginemos que não eram.
Ter-nos-íamos que fiar na palavra do próprio e uma mancha qualquer ficaria
adstrita ao atual presidente do Eurogrupo. Deste modo, o MP veio concluir em
poucos dias que o que parecia ridículo era, de facto, ridículo. Sem pernas para
andar. Arquivou.
Mário Centeno tem agora algo
melhor do que a sua palavra (que seria sempre vista como juízo em causa
própria) ou que a palavra de Isabel Moreira e outros (que já no caso Sócrates
mostraram grandes virtudes justicialistas). Tem a acusação e defesa do Estado
(o MP) do seu lado dizendo: não houve crime absolutamente nenhum.
Melhor do que uma suspeita, uma
certeza absoluta.
Porém, ainda que correndo o risco
de ser demasiado maçador, deixem-me que pergunte: fez ele bem em pedir dois
convites para a tribuna do Benfica, mesmo nada dando em troca, longe disso? A
resposta é não!
Quem não perceber por que o não
devia ter feito, recomendo-lhe um curso de ética, daqueles simples, que dizem
apenas que quanto maior é a responsabilidade de uma pessoa, maior tem de ser o
seu exemplo e probidade, a sua contenção e distanciamento de locais onde, há
muito, sabemos que não são poços de virtude. E não, não é apenas o Benfica. É
como escreveu Luís Aguiar-Conraria, todo o futebol.
Numa palavra: ó senhores, vejam
os jogos em casa, ou comprem bilhetes para os estádios. Não peçam favores a
quem não devem, mesmo que não tenham de pagá-los…
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