Ana Sá Lopes | editorial do
jornal i
Rui Rio cometeu um erro
estratégico quase desde o primeiro dia: assumiu demasiado rapidamente a vitória
do PS nas próximas legislativas e recolheu o PSD a um lugar impossível, o de
candidato a parceiro de Costa, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda.
Se a visão de Rui Rio e dos seus apoiantes sobre as possibilidades do PSD
ganhar as próximas eleições é realista – as sondagens continuam a colocar Costa
muitos pontos à frente, às vezes demasiado perto da maioria absoluta – a
preparação psicológica para a derrota que tem estado a ser feita por parte dos
vencedores das diretas corre o risco de contribuir para agravar ainda mais essa
derrota.
Falta muito pouco tempo para as
legislativas, um ano e tal passam a correr – e até António Costa, que foi
levado aos ombros pelo PS e pelo eleitorado socialista no fenómeno das
primárias, conseguiu ficar nas eleições atrás da coligação que tinha
protagonizado uma governação que a maioria dos portugueses abjurava. E, ao
contrário de Rio, António Costa não contou com oposição interna praticamente
nenhuma: o segurismo desapareceu no dia seguinte à derrota de António José
Seguro. Discutiram-se lugares a atribuir a alguns dos seus apoiantes e foi só.
Seguro, como a maioria dos
líderes derrotados, ficou sozinho no dia seguinte às primárias. Costa teve o PS
unido e mesmo assim, contra a governação da troika, ainda conseguiu não ser o
partido mais votado. Rui Rio não vai ter o partido unido. A carta de Miguel
Pinto Luz, ex-presidente da distrital de Lisboa do PSD e número dois da Câmara
de Cascais, coloca questões absolutamente delicadas e “limites” a uma liderança
que ainda nem sequer começou. Claro que as coisas podem mudar e o diabo
aparecer sob alguma forma e levar Costa para o inferno.
Mas tudo vai ser muito difícil
para Rui Rio daqui até às eleições. Mas a confirmar-se uma derrota do PSD há
outro perdedor: Pedro Passos Coelho, que poderia ter percebido mais cedo que a
sua relação com os portugueses estava esfrangalhada. Dois anos de depressão
passista mais dois anos de pré-depressão a preparar uma derrota correm o risco
de anular o PSD. Dr. Rui Rio, a coisa vai ser mesmo muito difícil.
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