terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

PORTUGAL | Dr. Rui Rio, a coisa vai ser mesmo muito difícil


Ana Sá Lopes | editorial do jornal i

Rui Rio cometeu um erro estratégico quase desde o primeiro dia: assumiu demasiado rapidamente a vitória do PS nas próximas legislativas e recolheu o PSD a um lugar impossível, o de candidato a parceiro de Costa, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda. Se a visão de Rui Rio e dos seus apoiantes sobre as possibilidades do PSD ganhar as próximas eleições é realista – as sondagens continuam a colocar Costa muitos pontos à frente, às vezes demasiado perto da maioria absoluta – a preparação psicológica para a derrota que tem estado a ser feita por parte dos vencedores das diretas corre o risco de contribuir para agravar ainda mais essa derrota.

Falta muito pouco tempo para as legislativas, um ano e tal passam a correr – e até António Costa, que foi levado aos ombros pelo PS e pelo eleitorado socialista no fenómeno das primárias, conseguiu ficar nas eleições atrás da coligação que tinha protagonizado uma governação que a maioria dos portugueses abjurava. E, ao contrário de Rio, António Costa não contou com oposição interna praticamente nenhuma: o segurismo desapareceu no dia seguinte à derrota de António José Seguro. Discutiram-se lugares a atribuir a alguns dos seus apoiantes e foi só.

Seguro, como a maioria dos líderes derrotados, ficou sozinho no dia seguinte às primárias. Costa teve o PS unido e mesmo assim, contra a governação da troika, ainda conseguiu não ser o partido mais votado. Rui Rio não vai ter o partido unido. A carta de Miguel Pinto Luz, ex-presidente da distrital de Lisboa do PSD e número dois da Câmara de Cascais, coloca questões absolutamente delicadas e “limites” a uma liderança que ainda nem sequer começou. Claro que as coisas podem mudar e o diabo aparecer sob alguma forma e levar Costa para o inferno.

Mas tudo vai ser muito difícil para Rui Rio daqui até às eleições. Mas a confirmar-se uma derrota do PSD há outro perdedor: Pedro Passos Coelho, que poderia ter percebido mais cedo que a sua relação com os portugueses estava esfrangalhada. Dois anos de depressão passista mais dois anos de pré-depressão a preparar uma derrota correm o risco de anular o PSD. Dr. Rui Rio, a coisa vai ser mesmo muito difícil.

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