Dois terços dos filiados do
Partido Social-Democrata concordaram com a participação no quarto governo
Merkel, mas boa parte deles apenas por rejeitar a ideia de uma nova eleição.
Alívio, aplausos, sorrisos? Nada
disso se viu na manhã deste domingo (04/03) na sede do Partido Social-Democrata
da Alemanha (SPD) em Berlim, depois de finalmente estar claro que uma
ampla maioria (66%) dos filiados aprovou a participação num novo governo da
chanceler federal Angela Merkel. O clima era de contenção, o que certamente
tem a ver com a noite passada sem dormir: 120 voluntários estiveram desde a
noite de sábado contando os 378.437 votos recebidos pelo correio.
Esgotados, muitos deles
acompanharam o momento em que o tesoureiro do partido, Dietmar Nietan, ao lado
do presidente interino, Olaf Scholz, anunciou o resultado da consulta, no
início da manhã. O que Nietan tinha para dizer aos jornalistas não era mais
novidade: meia hora antes, sites de notícias já haviam vazado o resultado:
"sim" para uma coalizão com os partidos conservadores, liderados por
Merkel.
Isso explica o clima de desânimo
na sede do SPD? Ou só agora, depois de meses de uma desgastante luta interna, o
partido se deu conta do que o espera? Um jornalista quis saber se teria havido
uma orientação da direção ao filiados presentes para que este se abstivessem de
aplausos para não provocar aqueles membros que eram contra a entrada do partido
no governo. Scholz não respondeu.
Em vez disso, e com seu
tradicional jeito apático, ele afirmou que a coesão interna cresceu com os
debates das últimas semanas e que ela "dá ao partido a força de que ele precisa
para entrar no governo e para continuar o processo de renovação agora
iniciado".
Decepção entre parte dos filiados
Esse processo deverá ser
acompanhado de perto pela Juventude Socialista (Juso), a ala jovem do SPD. Seu
presidente, Kevin Kühnert, um ferrenho adversário da chamada grande coalizão,
mostrou-se decepcionado com o resultado da consulta aos filiados. "Mas é
claro que nós reconhecemos o resultado", afirmou.
Os jusos, como são
conhecidos, querem lutar por um SPD mais preocupado com questões sociais e
defendem uma reorientação programática do partido. Kühnert afirmou que a ala
jovem quer ser a garantia de que esse processo vai mesmo ocorrer, além de
fiscalizar se o governo – e o partido – estão cumprindo o que prometeram.
Mas como o SPD pretende superar
sua divisão interna? Entre os filiados, a grande coalizão é "tão amada
quanto frieira no pé", afirmou o vice-presidente Ralf Stegner, um
representante da esquerda do SPD que integra o comando do partido. Isso não vai
mudar tão cedo. Dentro da legenda, muitas pessoas afirmam que o resultado de
66% só foi alcançado porque muitos filiados temiam que, caso houvesse nova
eleição, o partido obteria ainda menos votos nas urnas. Na eleição de setembro,
o SPD conseguiu apenas 20,5%, o pior resultado do pós-Guerra.
Alívio na CDU e na CSU
Antes do anúncio oficial do SPD,
Scholz ligou para a chanceler federal e para o presidente para informá-los do
resultado. Na União Democrata Cristã (CDU) e na União Social Cristã (CSU), o
clima era de alívio. "Fico satisfeita com o resultado positivo da decisão
do SPD e a resultante concordância com o acordo de coalizão", afirmou a
secretária-geral da CDU, Annegret
Kramp-Karrenbauer. Também o presidente da CSU, Horst Seehofer, mostrou-se
satisfeito e congratulou o SPD.
Críticas foram ouvidas em setores
da oposição, principalmente no partido A Esquerda. "Lamento a decisão do
filiados do SPD", afirmou a chefe da bancada esquerdista, Sahra
Wagenknecht. Ela disse que pretende convencer os adversários da grande coalizão
dentro do SPD a unir forças em favor de uma agenda de esquerda e que foi
encorajador ver que setores do SPD combateram com valentia a "política da
mesmice" de suas lideranças.
Eleição indireta em 14 de março
Ao longo dos próximos dias,
CDU/CSU e SPD querem definir detalhes da formação de governo. Os
social-democratas pretendem anunciar seus ministros até o dia 12, entre
eles os das Finanças, do Exterior e do Trabalho e Social. É tido como certo que
Scholz será o novo ocupante da pasta das Finanças e provavelmente também
vice-chanceler federal. A situação no Ministério do Exterior está indefinida. O
atual ocupante, Sigmar Gabriel, gostaria de permanecer no cargo, mas a relação
dele com Scholz e com a chefe da bancada, Andrea Nahles, não é das melhores.
A CDU já está bem mais adiantada. Merkel
apresentou seus ministros há uma semana. Na próxima sessão do Bundestag, no
dia 14 de março, ela vai se apresentar pela quarta vez para uma
eleição a chanceler federal.
Sabine Kinkartz (as) | Deutsche
Welle
Foto: Clima na sede do partido
era de contenção quando Nietan e Scholz anunciaram o resultado
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