sexta-feira, 16 de março de 2018

BRASIL SEM ORDEM NEM PROGRESSO RUMA AO FASCISMO


Criminosos da política, do judiciário e militares estão se apossando do país e executando brasileiros

É isso aí, o que acima pode ler. É o que está acontecendo no Brasil. É o Brasil rumo a uma ditadura mascarada de democracia mas em que emitir opinião, tecer críticas, relatando verdades da atualidade dá azo a que criminosos militares, da polícia, ou outros, procedam à execução de cidadãos que denunciem as atrocidades cometidas pelas seitas acima referidas e que detêm os poderes que criminosa e abusivamente usam. Do Brasil democrático e em franco progresso resta a desordem, a anulação do progresso e o recuo para a falta de liberdades cidadãs, para o medo, para uma ditadura que avança de botas cardadas, ao arrepio da vontade expressa em eleições pelos brasileiros. Um caldo de reacionários e gatunos, de corruptos e assassinos, apossou-se do Brasil. Eles acoitam no poder político, judiciário e militar. Importa que o mundo saiba e reaja ao descalabro que por aquele país abunda e onde o funeral da democracia está a ser concretizado.

Marielle Franco foi ontem assassinada por represália dos militares assassinos do corpo de sua polícia. Marielle denunciou o excesso de violência desses mesmos militares contra brasileiros, o racismo a que exalam. Mariette era vereadora. Foi executada por eles. Ela e seu motorista. Assim, impunemente, numa rua do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro que perdeu a lindeza, o Brasil que mirra perante o mundo democrático, quando ainda não há muito tempo crescia como país de referência na ordem e no progresso, na justiça social que avançava, na educação, saúde e em muitos mais setores estratégicos.

É disso que se trata, o Brasil está a recuar no tempo. Tempo da ditadura dos coronéis que agora é exercida por seita multifacetada de políticos, judiciários e militares.  Sob o amén das grandes corporações mundiais e dos EUA. Todos criminosos à luz da justiça de facto e dos mais elementares Direitos Humanos, sendo um deles o direito à vida, assim como à liberdade de expressão.

Siga para o Expresso Curto, com Martim Silva, do Expresso.

MM | PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Marielle Franco, a Filha da Maré (dos quatro tiros mais ignóbeis da história do Brasil)

Martim Silva | Expresso

Bom dia,
Hoje é sexta-feira. Vem aí o fim de semana. O navio já não está encalhado no Tejo. O Sporting conhece o seu adversário na Liga Europa. Nós vamos para os nossos trabalhos e as nossas vidas seguem normalmente. Cá vamos indo. Mas deixe-me dar-lhe um murro no estômago. Esta é a história de Marielle Franco. Esta é a história que interessa, a história que indigna e revolta.

“Os favelados e as faveladas sabem exatamente qual é o barulho dos tanques à porta”. Este era o discurso muito critico da atuação das forças policiais e militares. Ela era Marielle Franco. Negra. Jovem. Lésbica. Vinda da favela. Vereadora na câmara do Rio de Janeiro. Lutadora. Lutadora pelos direitos das mulheres. Lutadora pelos direitos dos negros. E uma estrela em ascensão na putrefacta política carioca e brasileira.

Foi morta com quatro tiros na cabeça, da forma mais cobarde possível, na noite de quarta-feira, no carro em que seguia. Numa emboscada que vitimou também o seu motorista (uma assessora que também seguia na viatura sobreviveu). Antes, tinha participado numa iniciativa cívica com o nome “Jovens Negras Movendo Estruturas”.

Os tiros não terão sido disparados a mais de dois metros.

A linha de investigação aponta num sentido: tratou-se de uma execução.

Quatro dias antes de ter sido morta tinha denunciado nas redes sociais a atuação da Polícia Militar, referindo especificamente o 41º batalhão da PM e os excessos cometidos no sábado passado em Acari, uma favela na zona norte da cidade do Rio de Janeiro.

De que excessos falamos? Da morte de dois jovens negros, a tiro, um deles à saída de uma igreja. Contra isso se indignou Marielle. Contra o facto do dito batalhão ser considerado responsável pela morte de mais de 400 pessoas nos últimos cinco anos.

Agora, o Brasil grita ‘basta’ e a população vem para as ruas.

O enquadramento: o Rio de Janeiro vive desde há um mês em clima de intervenção militar, decretada pelo presidente Temer, com o apoio do governador estadual, com o argumento de pôr cobro à vaga de crimes e insegurança. Os criminosos estão a matar mais. As autoridades também.

Como nos explica este texto da politóloga brasileira Débora Thomé, “Marielle é oriunda da Maré, conglomerado onde ficam 16 favelas e, em casas simples ou barracos, vivem mais de 100 mil pessoas. Lá também é um dos focos de ação da polícia e dos militares. A vereadora lutava contra este arbítrio diariamente, assim como pelos direitos das mulheres e dos negros. No Carnaval, fez campanha contra o assédio às mulheres.”

As manifestações de indignação e revolta sucedem-se no Brasil e até já chegaram a Portugal, ontem à noite.

No Brasil, fala-se mesmo de um fenómeno de ‘colombização’ da sociedade brasileira, com o recrudescimento de crimes e violência sobre políticos e autoridades, num perigosíssimo fenómeno que alia corrupção das forças da autoridade, incluindo polícia e militares, e grupos ligados a organizações criminais como o tráfico de droga.

Voltemos à história de Marielle. Engravidou adolescente. Deixou os estudos. Conseguiu anos depois uma bolsa para voltar a estudar e entrar na universidade. Tirou sociologia. Entrou na política. Candidatou-se pela primeira vez em 2016 e conseguiu 46 mil votos, tornando-se vereadora.

Marielle Franco. Nome lindo do triste estado de um país que insiste em andar desafinado.

OUTRAS NOTÍCIAS

Cá dentro,
Entrámos ontem numa nova fase da vida política nacional. Não notou? A julgar pelas palavras de Jerónimo de Sousa no Parlamento, dirigindo-se a António Costa (e acusando o PS de estar de braço dado com a direita), foi isso mesmo que aconteceu. Mais um episódio naquilo que eu chamo de escalada verbal dos parceiros da geringonça para se posicionarem para as eleições legislativas do próximo ano.

A EDP pagou bónus de milhões a construtoras investigadas nos processos Lava Jato e Operação Marquês, titula hoje o Público, numa investigação da Cristina Ferreira.

Teodora Cardoso apresentou ontem o panorama do seu Conselho de Finanças Públicas para o que nos pode esperar nos próximos anos. E, por uma vez, o tom de Teodora pareceu menos catastrofista que o de outros tempos.

A regulação da Uber e outras plataformas de transportes anda emperrada há muito mas agora parece finalmente que o tema conheceu avanços no Parlamento. O Ricardo Costa escreve sobre isso.

A ida de um Presidente da República ao estrangeiro já não é propriamente um acontecimento. Mas houve um tempo em que era. Aqui se faz o relato da primeira deslocação de um Presidente ‘lá fora’. Foi em 1914.

O navio que esteve mais de uma semana encalhado na foz do Tejo junto ao Bugio… já não está encalhado. É verdade.

O prazo para limpeza das matas (ou melhor, o primeiro dos prazos impostos pela lei) já chegou ao fim e o Governo anunciou alguma folga na verificação do seu cumprimento. No Expresso Diário, o sempre bem informado Daniel Oliveira escreve sobre o assunto.

Ainda há mais de 4600 clientes que não viram o seu serviço telefónico restabelecido depois das tragédias dos incêndios do ano passado.

O número de casos de sarampo no Porto já vai em 21.

“Setembro a Vida Inteira” é o título do documentário sobre o vinho português que ainda não chegou às salas nacionais mas que o Expresso revela aqui.

Aqui, a crónica de um jogo muito difícil e sofrido para o Sporting, na República Checa, mas que acabou com a qualificação para os quartos de final da Liga Europa. Hoje é o sorteio e os leões são a única equipa nacional nos potes a sortear. Entre os adversários possíveis estão nomes temíveis como o Arsenal ou o Atlético de Madrid.

Lá fora,
A terrível guerra na Síria, que já fez meio milhão de mortos, acaba de fazer sete anos. Sete anos! 2555 dias de um conflito armado que envergonha a humanidade.

preparação da cimeira Coreia do Norte/Estados Unidos passa pela... Suécia.

Os mais fortes aliados do Reino Unido na NATO, França, EUA E Alemanha, juntam-se às críticas e acusações de Theresa May, que culpa directamente o regime de Putin pelo envenenamento de um antigo espião em solo britânico. Eis um caso que mistura o pior do tempo da Guerra Fria com o pior do mundo de hoje.

Se quer ficar a conhecer um pouco mais a fundo o que se passa na política russa, este texto do Financial Times que explica quem são, um a um, os jovens tecnocratas que estão a ganhar poder no regime de Putin (a sucessão há de acontecer um dia).

Pé ante pé, a investigação norte-americana ao alegado conluio entre russos e Trump e os seus próximos vai fechando o cerco em torno do presidente dos EUA. Agora, e pela primeira vez, foi directamente pedida documentação sobre os negócios que Trump, enquanto empresário, tinha com o regime russo e oligarcas russos.

Uma ponte pedonal caiu ontem em Miami fazendo cerca de uma dezena de mortos. Testemunhas relatam o momento em que tudo aconteceu.

Em Angola, hoje há reunião do Comité Central do MPLA. E a situação de José Eduardo dos Santos, agora que deixou a presidência do país mas mantém a liderança do partido, parece não estar nada fácil, como relata o nosso correspondente Gustavo Costa.

Este texto do consórcio europeu de jornalismo de investigação que o Expresso integra mostra como os “ventos offshore” estão a ameaçar seriamente a primeira-ministra da Sérvia.

Aqui pode ler a conversa com a venezuelana que foi violadano seu país e não desiste de levar a sua avante nos tribunais, apesar dos 58 juízes que ao longo de 17 anos se recusaram a dar-lhe razão e a compensação que exige pelo sofrimento que lhe foi causado.

O QUE ANDO A LER

Hoje, véspera de fim de semana, faço uma pausa nos livros que ando a ler para aconselhar um conjunto de formatos longos que podem ser lidos em versão digital.

Primeiro, os textos que a Revista do Expresso publicou a propósito dos 200 anos do nascimento de Karl Marx. Francisco Louçã e Luciano Amaral olham para o legado do pensamento político e económico do alemão que é, ainda hoje e apesar do ruir do império comunista, um dos mais importantes teóricos que a humanidade conheceu nos últimos dois séculos.

Roubo, delicadamente, o primeiro páragrafo do intenso texto de Francisco Louçã:

“Diz-se que o frio varria o cemitério de Highgate, em Londres, naquele 17 de março de 1883, quando onze pessoas se despediram de Karl Marx, que morrera subitamente três dias antes, na sua cadeira de balouço, tinha 65 anos.”

Depois, outro trabalho publicado na Revista do Expresso e que de alguma forma também toca no que é hoje a Rússia de Putin (e é bom lembrar novamente que este fim de semana há eleições presidenciais – sem história – no país). Falámos com um conjunto de militares e civis que estiveram detidos vários anos, no conflito armado que opõe russos a ucranianos, e que recentemente foram libertados pelas autoridades russas.

Finalmente, dois trabalhos multimédia. Daqueles que só as novas tecnologias digitais permitem e que são não só óptimas leituras mas um regalo para a vista.

Este, na Tribuna do Expresso, conta a história do André. E que faz o André? Escalada desportiva. Uma reportagem para quem não tem vertigens.

E este ainda, do New York Times, obre como a subida do nível médio do mar está a fazer perigar a Ilha da Páscoa.

Por hoje é tudo, não esqueça que amanhã é dia da edição semanal do Expresso nas bancas.

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