sexta-feira, 23 de março de 2018

MOÇAMBIQUE | FRELIMO analisa derrota em Nampula e governação


O Comité Central da FRELIMO reúne-se, a partir desta sexta-feira (23.03), durante três dias. A avaliação da atual governação e a preparação dos próximos atos eleitorais são os principais tópicos em cima da mesa.

O Comité Central da FRELIMO está reunido desde hoje (23.03) e até ao próximo domingo na Matola, nos arredores de Maputo. No discurso de abertura do encontro, o Presidente da FRELIMO, Filipe Nyusi, explicou que a agenda está centrada na análise da atual situação do país, com enfoque para o custo de vida, destacando que é uma questão que preocupa muito os moçambicanos. Acrescentou que os preparativos para as eleições autárquicas de outubro próximo, bem como as eleições gerais e provinciais do próximo ano estão também entre os assuntos principais.

Recentemente, a FRELIMO enfrentou uma derrota histórica nas eleições intercalares em Nampula, a terceira maior cidade do país. Nyusi comentou que este resultado coloca à prova a capacidade da FRELIMO de enfrentar e vencer os próximos pleitos eleitorais, mas garante que o partido não tem medo de mudanças.

"É chegado o momento da FRELIMO dedicar mais tempo para se revelar grande e afirmar-se como um partido moderno e não absolutista. O absolutismo não é e nunca foi a característica do nosso partido, porque a FRELIMO nunca teve medo de mudanças”, afirma Nyusi.

Ainda durante o discurso, Filipe Nyusi apontou que as próximas eleições poderão ser realizadas dentro de um quadro constitucional legal marcado pelo novo modelo de descentralização, em apreciação no Parlamento. Depois dos consensos já alcançados entre o Chefe de Estado e o líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, o presidente da FRELIMO coloca a responsabilidade no partido da oposição.

"A expetativa de todos os moçambicanos é de que a RENAMO não atrase o processo querendo introduzir novas exigências, cuja substância é contrária à do consenso”, afirmou o líder da FRELIMO.

Nyusi informou também que prossegue a discussão de detalhes no âmbito de assuntos militares com vista ao desarmamento da RENAMO, tendo frisado que "o pacote da descentralização e a questão da desmilitarização e reintegração são duas componentes indissociáveis”.

"No processo democrático, não se tem nenhuma experiência de processos armados de descentralização. São dois processos que, segundo os consensos alcançados, devem caminhar no mesmo ritmo e na mesma direção que é o alcance de uma paz efetiva e definitiva em Moçambique”.

O presidente da FRELIMO aproveitou ainda o momento para condenar os ataques que têm sido levados a cabo por armados desconhecidos na província de Cabo Delgado, desde outubro do ano passado. Para ele, estes ataques são um atentado à segurança e ordem públicas e uma afronta às instituições do Estado legalmente constituído.

Desafios para a FRELIMO

Segundo o analista Gil Laurenciano, o próximo ciclo eleitoral no país poderá criar uma nova configuração política, considerando que a RENAMO vai participar no escrutínio, depois de ter boicotado o último pleito eleitoral autárquico. O analista acrescenta que a FRELIMO deverá rever a sua estratégia eleitoral e política a nível local.

"Parece que a solução de ser o partido que leva alguém e diz é "este que vai concorrer" não está a dar resultados.”

Laurenciano explicou à DW África que o maior desafio atual do governo e da FRELIMO está relacionado com a solução do problema das dívidas ocultas contraídas em 2013 e 2014 com garantias do executivo sem o conhecimento do parlamento e dos parceiros internacionais.

 "Isso influencia todos os esforços que o governo tenta fazer para ver se tenta aliviar um pouco o sofrimento a que as pessoas estão sujeitas. Esse problema das dívidas ocultas, que acaba tendo implicações económicas, também tem implicações políticas e essas implicações políticas podem influenciar o comportamento do eleitorado nas próximas eleições”.

A abertura da sessão do Comité Central da FRELIMO contou também com a apresentação de mensagens das organizações do partido. O Secretário-geral da Juventude, Mety Gondola foi um dos que falou na abertura da sessão, descrevendo a habitação e a empregabilidade como questões prioritárias para a juventude moçambicana. Gondola propôs o acesso a terrenos infraestruturados, a isenção na aquisição de materiais de construção, e a aposta da formação técnico profissional com enfoque para as artes e ofícios.

Leonel Matias (Maputo) | Deutsche Welle

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