Miguel Guedes* | Jornal de Notícias
| opinião
A ambição da líder do CDS é ter
um par que possa estar à altura da lide. No baile de Cristas, faz escola aquela
formosa ideia olímpica da dupla de patinadores no gelo em que o homem age em
balanço firme para o apogeu da criatividade feminina em rodopio, pirueta no
andarilho. O que a Direita portuguesa parece precisar, segundo Cristas, é de
outra agilidade. Declara a hora do CDS se fazer poder como partido maioritário
no Centro-Direita e, como tal, a ambição é (des)medida pela volatilização do
PSD. Meio ano de letargia e um arranque contemporizador de Rui Rio chegam para
transportar a líder do CDS para um outro mundo de cobiça eleitoral, ainda que
não almeje senão manter a votação nas eleições Europeias para depois disparar
subitamente ao furto eleitoral de 15% aos sociais-democratas em sede de
Legislativas. Para chegar ao poder como maior partido da Direita, Cristas
pretende enfiar o PSD num táxi.
Fosse eu um grande fã de Leni
Riefenstahl e teceria louvores à estética nazi. Felizmente que em matéria de
civilização ou barbárie, a estética conta muito pouco ou nada. Não é de
espantar que a não muito aficionada Assunção Cristas tenha de "pensar
muito, muito, muito, muito" para ter pena dos animais que são lidados numa
tourada, actividade que olha como "um bailado". Ainda hoje há quem
faça fogueiras sem nunca pensar na Inquisição. Queimar os livros de Hemingway
ou os traços angulares de Picasso como companhia tauromáquica é um baile de
confraria que mesmo os maiores marialvas não podem desdenhar. Mas se o CDS pretende
vir a sair de Lisboa, rumando ao íntimo do país, ao encontro do volátil centro
político que enfiará o PSD num habitáculo para cinco, prepare-se então para
enfrentar o touro pelos cornos: há um lado pouco resolvido no CDS contemporâneo
que não impede protofascismos internos e odes aos antigos costumes, como se
comprova no Congresso pelos votos em Abel Matos Santos, vice-presidente do
partido na capital. A inquestionável qualidade de alguns dos fazedores do
programa eleitoral do CDS para 2019 ainda não permite, infelizmente, o liminar
saneamento programático de alguns colunistas do "Observador".
Entre a pouco ética polémica
sobre Nádia Piazza e a nada razoável condenação de Pedro Passos Coelho a
info-proscrito no ISCP, sobra um verdadeiro caso-de-canudo-e-alguidar na arte
da mentira política. As ténues ligações de Feliciano Barreiras Duarte, novo
secretário-geral do PSD à Universidade de Berkeley, constavam do currículo e relatório
profissional da sua tese de mestrado que não versava propriamente sobre turismo
ou propaganda. Rui Rio, campeão da ética, desculpa o indesculpável e, mesmo não
correndo riscos de se confinar a um táxi, coloca-se a jeito para o baile. Não
será a destruir a imagem de seriedade com que se anuncia que poderá vir a
dançar como parte maior do par.
O autor escreve segundo a antiga
ortografia
* Músico e jurista
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