Empresa de Jean-Claude Bastos de
Morais, conhecido pelos negócios com José Filomeno dos Santos, vê os seus
fundos congelados após visita de autoridades angolanas às Maurícias e exige
explicações, demarcando-se de "Zénu".
A Quantum Global, empresa através
da qual o Fundo Soberano de Angola (FSDEA) investe grande parte dos seus
fundos, exige saber porque é que as autoridades financeiras das Ilhas Maurícias
suspenderam as licenças de negócio da empresa no país.
As Maurícias congelaram 25 contas
bancárias e suspenderam sete licenças ligadas à Quantum Global, depois de uma
visita das autoridades angolanas ao país, na semana passada, segundo uma fonte
citada pela agência de notícias Reuters. Segundo a mesma fonte do setor regulador,
as Maurícias atuaram prontamente em colaboração com as investigações das
autoridades angolanas para se protegerem contra um potencial "risco de
reputação".
A Quantum Global, liderada pelo
suíço-angolano Jean-Claude Bastos de Morais, queixa-se da decisão das
autoridades financeiras das Ilhas Maurícias, alegando que não se
defenderam.
Em comunicado, a Quantum Global
anuncia que pediu formalmente à Comissão de Serviços Financeiros (FSC) das
Ilhas Maurícias que "apresente uma explicação clara da sua decisão de
suspender as licenças da empresa na semana passada, e que permita à companhia
ter uma audição justa".
Na rede social Twitter, esta
sexta-feira (13.04), o grupo Quantum Global diz que "leva a sério as suas
obrigações de transparência e coopera totalmente e com todos os órgãos
reguladores" onde as suas companhias operam.
A FSC refere ter suspendido as
licenças a 8 de abril, com base numa ordem de restrição emitida pelo Supremo
Tribunal das Maurícias, e deu sete dias à Quantum Global "para fazer uma
representação por escrito".
Contudo, diz a empresa contratada
por José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente angolano José Eduardo
dos Santos, e que até janeiro último administrava o FSDEA, "o regulador
não forneceu quaisquer detalhes sobre a causa subjacente para a ordem de restrição
ou para a suspensão da licença".
Colaboração com Angola
As autoridades financeiras das
Ilhas Maurícias anunciaram a 9 de abril o congelamento de sete fundos geridos
pela empresa de Jean-Claude Bastos de Morais, após uma reunião do
primeiro-ministro com um representante do Governo de Angola.
Os sete fundos cujas contas foram
congeladas estavam em três bancos e eram propriedade da Quantum Global Group,
que está a gerir 3.000 milhões de dólares do FSDEA.
O congelamento dos fundos
acontece depois de um representante do Governo angolano se ter reunido com o
primeiro-ministro, Pravind Jugnauth, a 3 de abril, de acordo com a imprensa
local.
Nesse mesmo dia, partiu de
Luanda, com destino à capital das Ilhas Maurícias, Port-Louis, de acordo com
informação a que a agência de notícias Lusa teve acesso, o ministro das
Relações Exteriores de Angola, Manuel Augusto, em visita de trabalho.
Os ativos nestes fundos estão
entre os 150 e os 200 milhões de dólares, segundo duas fontes anónimas citadas
pela Bloomberg, que dá conta ainda de que a comissão cobrada por Bastos de
Morais para gerir os três mil milhões de dólares do Fundo Soberano está entre
os 60 a 70 milhões por ano.
As ligações entre o antigo
presidente do FSDEA e o gestor com nacionalidade suíça e angolana têm sido alvo
de críticas por parte da oposição e de várias organizações que questionam os
montantes envolvidos e a aplicação das verbas sob gestão da Quantum Global.
Em novembro, o jornal suíço Le
Matin Dimanche revelou, a partir de documentos divulgados pelos Paradise
Papers, que Jean-Claude
Bastos de Morais estaria a enriquecer ilicitamente através da gestão do Fundo
Soberano de Angola. A reportagem do jornal suíço afirmava que dos
cerca de cinco mil milhões de euros do fundo angolano, pelo menos três mil
milhões tinham sido direcionados para sete fundos de investimentos sediados nas
Ilhas Maurícias.
Bastos de Morais demarca-se de
transferência ilegal
Entretanto, o suíço-angolano
garante não ter tomado parte na transferência, alegadamente ilícita, de
500 milhões de dólares de Angola para um banco britânico, que envolve o
sócio José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente da República.
"Gostaria de afirmar
categoricamente que nem eu, nem o Grupo Quantum Global, empresa que dirijo como
PCA, fizemos parte da transação de 500 milhões de dólares, atualmente sob
investigação das autoridades angolanas", refere a declaração.
"Não tive conhecimento
prévio desta transação antes de ser divulgada nos meios de comunicação social e
posteriormente confirmada pelo Ministério das Finanças de Angola. Além disso,
em nenhuma ocasião fui interrogado pelas autoridades angolanas ou por qualquer
órgão regulador, em torno da referida transação", garante ainda.
No entanto, segundo a imprensa
internacional, os 500 milhões de dólares terão sido transferidos para uma conta
ligada a Jean-Claude Bastos, em Inglaterra, o que a empresa nega
categoricamente, segundo o jornal L'Express, das Ilhas Maurícias.
"Não temos absolutamente nada a ver com isso", diz uma fonte da
Quantum Global citada pelo diário.
José Filomeno dos Santos e o
ex-governador do Banco Nacional de Angola (BNA) Valter Filipe, além de outros
três angolanos, foram constituídos arguidos pela Justiça de Angola, pela
prática suspeita de crimes de defraudação, peculato e associação criminosa, entre
outros.
Agência Lusa, Reuters, mjp | em Deutsche
Welle
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