O historiador Fernando Rosas
alerta para a "desculturalização do conhecimento", promovida pelas
novas tecnologias, e considera que "a substituição do Homem pela máquina
só se resolve no quadro de uma sociedade socialista".
Fernando Rosas, autor, entre
outras obras, de 'Portugal Século XX: Pensamento e Ação Política' (2004), faz
estas declarações a encerrar o novo volume, a si dedicado, da série 'Fio da
Memória', de autoria de José Jorge Letria, editada pela Guerra e Paz.
Esta série publica entrevistas a
personalidades da cultura, contando com títulos dedicados à escritora Lídia
Jorge, ao maestro Álvaro Cassuto, ao cineasta António-Pedro Vasconcelos, ao
catedrático de filosofia Manuel Maria Carrilho, ou o ensaísta Eduardo Lourenço.
No último capítulo do novo
volume, intitulado 'Nas Minhas Velhas Convicções de Militante Socialista', o
historiador comenta que quando alguém quer saber quem foi Vladimir Lenine
(1870-1924), político que liderou os sucessivos Governos russos desde o derrube
da monarquia, em 1917, até 1924, resolve o problema de "telemóvel em
punho".
Rosas afirma que "há uma
'desculturalização' do conhecimento" e, noutro capítulo da obra, numa
resposta a Letria, argumenta que "nada substitui o livro e o papel",
referindo que, no atual contexto, "há é uma desistência da leitura, da
reflexão crítica e da controvérsia".
O historiador Fernando Rosas, de
72 anos, é apontado pelo escritor José Jorge Letria como um exemplo de como o
combate político se tornou "numa intensa e apaixonada carreira
académica" na historiografia.
Licenciado em Direito, pela
Universidade de Lisboa, Rosas "constitui um exemplo de como o combate
político, que implicou detenções nas prisões da ditadura, mas também a
experiência da clandestinidade, acabou por se converter numa intensa e
apaixonada carreira académica que lhe permite falar da História como uma paixão
e do pensamento político como uma porta aberta para o que há de vir e que
ninguém sabe ao certo o que será e como irá ser".
Nesta conversa, colocada em letra
de forma, Fernando Rosas dá conta de como o seu avô materno, Filipe Mendes, um
republicano, o influenciou, tendo-se tornado militante do Partido Comunista
Português (PCP) aos 15 anos e, mais tarde, depois da Revolução de Abril, militante
do MRPP e diretor do seu órgão oficial, o jornal Luta Popular, "num tempo
turbulento e violento", escreve Letria.
Sobre si, afirma Fernando Rosas:
"Nasci com a política à mesa". E recorda os brindes de Natal, em que
o avô finalizava com "Viva a República, viva a liberdade", ou como a
casa da sua tia Cândida Ventura, funcionava como apoio aos militantes
clandestinos do PCP.
No texto sobre as suas
"velhas convicções de militante socialista", o autor regressa às
teorias de Karl Marx, filósofo sobre qual nota assistir-se "uma pujança
editorial" de trabalhos sobre o pensador.
Considerando "muito
importante", no contexto social atual, "a substituição do Homem pela
máquina", Rosa afirma que esta questão "só se resolve no quadro duma
sociedade socialista, ou seja, só se resolve "no quadro da coletivização
dos meios de produção", e quando se puder "planear os meios de
produção para que o inevitável e necessário progresso da máquina traga ao Homem
mais tempo de lazer e de bem-estar e não o desemprego e a miséria".
Uma questão, argumenta, que
"tem tudo a ver com o capitalismo e com a superação do capitalismo".
"A coletivização tem de ter
poder sobre os meios de produção, para que possa programar em seu proveito o
progresso da técnica", defende.
Notícias ao Minuto com Lusa
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