Martinho Júnior | Luanda
A batalha do Cuito Cuanavale
estendeu-se durante 11 meses (entre Julho de 1987 e Junho de 1988) em toda a
Frente Sul das FAPLA, abrangendo sobretudo as províncias do Cuando Cubango,
Huila e Cunene… todavia, o soco da mão direita a que se referiu o Comandante
Fidel de Castro (como o boxeur que com a mão esquerda o mantém e com a direita
o golpeia” –https://resistir.info/cuba/cuito_cuanavale.html), no lado
africano do Atlântico Sul está aparentemente meio-apagado da corrente da
memória, pelo que não se comemorou em Angola, conforme a dignidade assim o
determina, o histórico 27 de Junho de 1988 em Calueque, 30 anos depois do
acontecimento!...
1- A partir de Março de 1988, fez
agora trinta anos, as forças das FAPLA, das FAR (Forças Armadas
Revolucionárias, de Cuba) e do PLAN (o braço armado da SWAPO da Namíbia),
desencadearam uma poderosa ofensiva a partir do sul da província da Huila e em
direcção à fronteira, com o propósito de vencer em definitivo a presença
do “apartheid” em Angola e na Namíbia ocupada, obrigando a África do
Sul a sentar-se à mesa de conversações…
Essa ofensiva visou
taticamente “desempatar” a situação a leste dos dispositivos
militares angolanos no Triângulo do Tumpo e foi projectada para,
geo-estrategicamente e tirando partido da superioridade aérea (invertendo a
correlação de forças), dar um sinal claro ao “apartheid” que iria
sofrer pesadas consequências, ainda que tivesse em sua posse seis bombas
atómicas para despejar sobre as forças que compunham a aliança em prol do
Movimento de Libertação Nacional em África, se não entendesse que era premente
para as instituições racistas sul-africanas encontrar soluções políticas de fundo
em toda a África Austral e na própria África do Sul.
Nunca antes do “soco” em
Calueque, as South Africa Defence Forces haviam experimentado tantas
contrariedades juntas, contrariedades que seriam as definitivas e conduziriam
ao próprio fim do “apartheid”!
Os conceitos operacionais
aplicados em toda a Frente Sul das FAPLA, correspondem a um projecto integrado
de ofensiva de que alguns historiadores fiáveis transmitem a noção, todavia
os “lavadores da história” trinta anos mais tarde, imbuídos de ideologias
neoliberais, social-democratas ou cristã-democratas, reinterpretam a ofensiva
polvilhando o terreno onde se registaram o encadeado de acontecimentos, em
sucessivas batalhas (Cuito Cuanavale, Triangulo do tumpo, Calueque, Tchipa,
Ruacaná…), como se cada uma das acções não resultasse dum processo integrado de
conceitos.
É evidente que com isso dão
cobertura a interesses que derivam de interpretações elitistas e
estruturalistas que ficaram como resíduos umbilicalmente presos ao colonialismo
e ao “apartheid”, desde as estimuladas pelo “Le Cercle” até às
derivadas do Exercício Alcora e fazem o jeito de “aproximar-se” às
interpretações dos historiadores sul-africanos que apenas se circunscreveram
aos combates do perímetro do sudeste angolano, seguindo a trilha e a
perspectiva das South Africa Defence Forces!
É evidente que esse tipo de sagas
que demonstram quão longe progrediram os processos de assimilação em Angola
desvirtuando sua própria identidade, é o que mais interessa ao cartel dos
diamantes, pelas mesmíssimas razões, corroborando a sua iniciativa expressa nos
projectos transfronteiriços do KAZA-TFCA (https://www.kavangozambezi.org/index.php/en/)!
2- A 23 de Março de 2013 o
Cubadebate publicou uma incontornável síntese analítica do historiador Piero
Gleijeses sobre a batalha do Cuito Cuanacale de acordo com a visão integrada de
toda a Frente Sul das FAPLA, onde duma assentada se reflete sobre a correlação
de forças em termos políticos, diplomáticos, de geoestratégia militar e de
inteligência, que redundaram na derrota definitiva do “apartheid” institucional
(http://www.cubadebate.cu/opinion/2013/03/23/cuito-cuanavale-batalla-que-termino-con-el-apartheid/#.VvgGFj72Zy0)!
Essa síntese analítica tinha como origem
os seus estudos sobre a revolução cubana e a evolução do Movimento de
Libertação em África desde 1959, ou seja desde o ano da vitória da revolução
cubana, por que, praticamente logo após essa vitória, Cuba progrediu dignamente
com a sua solidariedade e o seu internacionalismo exemplar e Não Alinhado, em África
(“De Argel ao Cabo… cavalgando com Fidel” – http://paginaglobal.blogspot.com/2016/12/de-argel.html).
Em relação ao 27 de Junho de
1988, Piero Gleijeses foca, como em toda a sua investigação, fundamentada e
esclarecidamente os acontecimentos da ordem de batalha em sua época.
… “La gran pregunta era: ¿se
detendrían los cubanos en la frontera?
Para obtener una respuesta a esta
pregunta, Crocker fue a buscar a Risquet: ¿Cuba tiene la intención de detener
su avance en la frontera entre Namibia y Angola?
Risquet contestó: si yo le dijera
que no van a detenerse yo estaría profiriendo una amenaza. Si yo le dijera que
van a detenerse yo le estaría dando un meprobamato y yo ni quiero amenazar ni
quiero darle un calmante, lo que he dicho es que solo los acuerdos sobre la
independencia de Namibia pueden dar las garantías.
Al día siguiente, 27 de junio de
1988, MIG cubanos atacaron posiciones de las SADF cerca de la presa de
Calueque, 11 kilómetros al norte de la frontera de Namibia.
La CIA informó que: la manera
exitosa con que Cuba ha utilizado su fuerza aérea y la aparente debilidad de
las defensas antiaéreas de Pretoria subrayaban el hecho de que la Habana había
logrado la superioridad aérea en el sur de Angola y en el norte de Namibia.
Unas pocas horas después del
ataque exitoso de los cubanos, las SADF destruyeron un puente cercano a
Calueque sobre el río Cunene.
Lo destruyeron —la CIA opinó—
para dificultar a las tropas cubanas y angolanas el cruce de la frontera con
Namibia y para reducir el número de posiciones que deben defender.
El peligro de un avance cubano
sobre Namibia nunca antes había parecido tan real.
Los últimos soldados sudafricanos
salieron de Angola el 30 de agosto, cuando los negociadores ni siquiera habían
empezado a discutir el cronograma de la retirada cubana de Angola”…
3- Como as SADF sentiram a
progressão das FAPLA, das FAR e do PLAN no braço oeste da Frente Sul angolana?
Como sentiram o golpe da aviação
em Calueque?
Constate-se, por exemplo, aqui,
entre as “heroicas” mas afinal tão improdutivas bravatas do costume (https://mobile.facebook.com/southafricanlegion/photos/a.145635755606165.1073741836.142385935931147/302881963214876/?type=3):
“27th June is a tragic day on the
South African Military calendar, here Trooper Gregory Scott from 2 Special
Service Battalion comes home. he and 11 other SADF men where Killed in Action
during the Calueque Dam attack, here he is been loaded with full military
honours onto a transport aircraft for the trip home.
On the 27th June 1988, a combined Angolan FAPLA-Cuban force launched an unexpected ground attack against the Calueque Water Scheme SADF positions, close to the South West Africa/Namibia and Angola border. This was followed shortly thereafter by an air attack with MiG fighters.
The ground attack was halted by a combined SADF and SWATF protection force. However,
the first wave of enemy aircraft bombed the bridge and sluice gates, killing a
South African soldier in the process. Another wave of Migs bombed the pump and
generator station, while a third strike destroyed the water pipeline to
Ovamboland.
Significantly and tragically a SADF Buffel troop carrier suffered a direct hit by one of the bombs, killing all aboard. An Eland 90 Armoured Car was also hit by a bomb, killing the crew.
Twelve SA soldiers and more than 300 Cuban and Angolan soldiers died in the two skirmishes.
Let us always remember our fallen brothers in arms, the brave South Africans killed in action on this day were:
80468341BG Lieutenant Noah Tucker of 8 SAI. He was 23.
84247501BG Corporal Ewert Phillipus Koorts of 8 SAI. He was 19.
84481994BG Lance Corporal Johannes Reinhard Gerhardus Holder from the SA
Medical Corps attached 8 SAI. He was 19.
84241694BG Rifleman Johannes Mattheus Strauss Venter of 8 SAI. He was 19.
8448141BG Rifleman Thomas Benjamin Rudman of 8 SAI. He was 20.
84458074BG Rifleman Phillipus Rudolph Marx of 8 SAI. He was 19.
84382407BG Rifleman Michael John van Heerden of 10 Armoured Car Squadron. He
was 19
85434181BG Rifleman Andries Stephanus Johannes Els of 8 SAI. He was 19.
84450683BG Lance Corporal Wynand Albert van Wyk of 1 SSB Attached 10 Armoured
Car Squadron. He was 19.
84246024BG Trooper Gregory Scott of 2 SSB Attached 10 Armoured Car Squadron. He
was 19.
84432756BG Trooper Emile Erasmus of 10 Armoured Car Squadron. He was 20.
85445708BG 2/Lieutenant Muller Meiring of 61 Mechanised Battalion was Killed in
Action North East of Calueque. His Ratel received a direct hit by a Soviet PG-7
Anti-Tank Rocket on the Commanders position, killing him instantly. He was 19.
Lest we forget.
A special thank you to Graham Du Toit for the Honour Roll and his tireless work to keep the veterans community in remembrance of those who went before us”.
É evidente que o “apartheid” na “border
war”, entre outros contenciosos que marcavam a sua retumbante derrota, já nada
mais podia justificar perante aqueles que mobilizavam a “carne para
canhão” de tão insustentável aventura, o próprio Partido Nacional!...
Continua
Martinho Júnior - Luanda, 1 de Julho de 2018
Imagens:
Mapa da Frente Sul das FAPLA, de
acordo com “Cuito Cuanavale revisitado” – https://resistir.info/cuba/cuito_cuanavale.html;
Aeródromo da Cahama –
conjuntamente com a pista de Xangongo, serviu de base operacional para os MIG
23, junto à fronteira sul, ganharem o domínio do espaço aéreo inclusive no
norte da Namíbia ocupada pelo “apartheid”;
Mapa das South Africa Defence
Forces no norte da Namíbia ocupada;
Blindado Ratel atingido por
bombardeamento de MIG 23 em Calueque, no dia 27 de Junho de 1988;
Honras militares no embarque do
corpo de um dos militares sul-africanos mortos durante o bombardeamento dos MIG
23 e Calueque.
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