Luís Menezes Leitão* | Jornal i |
opinião
Segundo o próprio mentor, o novo
partido de Santana Lopes é liberalista mas, afinal, também é solidário; e é
europeísta mas, afinal, também contesta Bruxelas e os seus dogmas. Trata-se de
um partido que é tudo e o seu contrário, não havendo qualquer espaço político
que possa ocupar.
É evidente que há espaço para
novos partidos à direita em Portugal e as eleições europeias até são um campo
privilegiado para o seu surgimento. Basta ver as situações que têm afligido a
Europa, como a crise dos refugiados, as questões de segurança e a guerra
comercial com os Estados Unidos. Para o que não há qualquer espaço é para um
partido político como o de Santana Lopes, agora denominado Aliança, mas que não
apresenta nada de novo em termos de projecto político.
Nos anos do PREC havia partidos
para todos os gostos e a quem quisesse formar um partido bastava-lhe organizar
um comício e enchia imediatamente o Campo Pequeno. Hoje, as coisas já não são
assim e um partido que agora surja tem de ter um projecto político novo e
consistente. Ora, ao partido Aliança falta totalmente esse projecto. Segundo o
que o próprio Santana Lopes declarou ao “Expresso”, trata-se de “um partido
personalista, liberalista e solidário. Europeísta, mas sem dogmas, sem seguir
qualquer cartilha e que contesta a receita macroeconómica de Bruxelas”. Ou
seja, o partido é liberalista mas, afinal, também é solidário; e é europeísta
mas, afinal, também contesta Bruxelas e os seus dogmas. Trata-se, assim, de um
partido que é tudo e o seu contrário, não havendo qualquer espaço político novo
que possa ocupar.
Mas, na verdade, o objectivo da
Aliança não é ocupar um novo espaço político. É antes pescar no espaço político
que tem vindo a ser ocupado pelo PSD depois de Santana Lopes ter perdido o
combate pela sua liderança. E, assim sendo, esta jogada de Santana Lopes visa
exclusivamente a fragmentação do PSD, o que serve essencialmente os interesses
do PS de António Costa e, em menor medida, do CDS de Assunção Cristas. Serve os
interesses do PS porque, para António Costa, é ouro sobre azul assistir a uma
fragmentação do PSD que, no limite, impeça o centro-direita de ter um candidato
alternativo a primeiro-ministro. E serve os interesses do CDS porque dá apoio à
nova teoria de Assunção Cristas de que o que interessa agora é o centro-direita
ter 116 deputados, independentemente do partido em que se vote. Se o PSD se
fragmentasse em vários partidos, teríamos de volta a velha teoria das duas
bossas de Amaro da Costa, com o CDS como principal partido de direita e o PS
como principal partido de esquerda, com um PSD fragmentado no meio.
Só que, politicamente, esta
estratégia é suicida para o centro-direita. Para ganhar eleições é necessário
surgir um grande bloco no centro-direita que congregue os votos de toda esta área
política, em lugar de os dividir. Foi o que sucedeu com a AD de Sá Carneiro e
com o PSD de Cavaco Silva. No caso de os partidos do centro-direita surgirem
separados, as eleições só são ganhas quando o PS abandona espontaneamente o
governo, como sucedeu com as saídas de António Guterres e de José Sócrates, mas
que seguramente não vai acontecer com António Costa. Por isso, com uma maior
divisão da sua área política, é virtualmente impossível ao centro--direita
atingir 116 deputados, uma vez que a dispersão dos votos leva à eleição de
menos deputados.
Assim sendo, o nome Aliança faz
recordar a Aliança Democrática de Sá Carneiro, mas o objectivo político é
precisamente o inverso: conduzir o centro--direita à divisão e à derrota. Este
partido não representa, assim, qualquer aliança mas, antes, precisamente os
seus antónimos: o antagonismo, a emulação e a rivalidade. Ou seja, tudo aquilo
de que o centro-direita seguramente não precisa.
*Professor da Faculdade de Direito
da Universidade de Lisboa
Escreve à terça-feira, sem
adopção das regras do acordo ortográfico de 1990
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