João Lourenço/1 ano: Afastamento
de apoiantes de antecessor e combate à crise marcam período
O primeiro ano do mandato do
Presidente angolano, João Lourenço, foi de "consolidação do poder",
com afastamento de muitos dos apoiantes do seu antecessor, e de "propostas
de combate à crise" e à corrupção, marcando um virar de página na
governação.
Depois de 38 anos no poder de
José Eduardo dos Santos, João Lourenço tomou posse a 26 de setembro do ano
passado e, desde então, segundo analistas ouvidos pela Lusa, a mudança no país
foi evidente, com dezenas de exonerações, abertura de processo judiciais contra
próximos do seu antecessor e um discurso mais aberto ao exterior.
Para o analista angolano Jonuel
Gonçalves, "este primeiro ano foi de consolidação do poder e das propostas
de combate à crise".
"João Lourenço removeu
obstáculos políticos no Estado e no seu partido, saindo reforçado. Esta remoção
produziu-se com base em ações anti-nepotismo e inquéritos sobre corrupção,
atingindo níveis altos e num quadro de alargamento da liberdade de expressão em
geral", destacou o também jornalista.
Já o investigador Eugénio Costa
Almeida considera que o chefe de Estado angolano "alternou uma governança
discreta", do ponto de vista político, com uma governação de
"impacto" na economia.
"Alternou uma governança
discreta, num ponto de vista meramente político, com uma governação de impacto
em questões financeiras, embora pudesse ter ido mais longe, nomeadamente,
naquele que foi o seu maior momento: a questão do retorno de capitais",
afirmou o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL).
"Ainda assim, o impacto que
isto teve, foi o início de um pequeno maremoto na vida política interna do MPLA
[Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder desde a independência
Angola, em 1975]", acrescentou.
A decisão de transferir os restos
mortais do general da União Nacional para a Independência Total de Angola
(UNITA, na oposição) da África do Sul e a possibilidade de ser autorizado o
mesmo procedimento com o líder histórico Jonas Savimbi "adormeceu ainda
mais, se isso ainda era possível, a oposição", sublinhou.
Jonuel Gonçalves salienta ainda
que João Lourenço ordenou à sua equipa para "gerir a conjuntura", não
a deixando agravar-se e dando sinais de descompressão, tomou "medidas de
flexibilização do mercado de câmbios".
"Mais, durante todo esse
período, [João Lourenço] marcou presença em grandes palcos internacionais,
apresentando Angola com um perfil muito diferente do anterior e revelando
abertura ao mercado de capitais", acrescentou.
"Se o projeto de João
Lourenço for bem-sucedido no Estado, isso repercutir-se-á no MPLA. Mas há três
pontos capitais: dar mais passos na democratização, atrair investimentos para
áreas económicas não tradicionais e equilibrar as contas publicas",
defendeu.
O futuro é desafiante para João
Lourenço, concorda Eugénio Costa Almeida, destacando o facto de Angola
continuar "dependente de uma mono economia" baseada, essencialmente,
na exploração e exportação do petróleo.
"Compreendo, por exemplo,
que a China seja o nosso maior parceiro económico, apesar de ser vontade de
João Lourenço diversificar a economia por outros parceiros, como já tem
procurado fazer, reincluindo, de novo, Portugal. Mas manter a China como
principal parceiro e endividar-nos ainda mais, não me parece boa medida. É que,
como já escrevi, não há almoços grátis...", sublinhou, mostrando-se
otimista.
"Numa questão que lhe foi
colocada em Espanha, se se achava um futuro Gorbatchov angolano, [João
Lourenço] preferiu ser visto como um novo Deng Xiaoping [ex-Presidente da
China, reformista], porque desejava abrir o sistema e combater tudo o que
poderia manter o 'status quo' como estava", lembrou.
Apesar das dúvidas dos analistas,
"João Lourenço não só conseguiu libertar-se dessas 'algemas' como foi,
claramente, mais longe", afirmou, referindo-se ao facto de José Eduardo
dos Santos ainda liderar até ao início deste mês o MPLA.
O investigador angolano, por
outro lado, defendeu que já houve tempo suficiente para começar a procurar uma
maior diversificação da economia angolana.
"Vamos aguardar pelos
próximos anos. Uma das medidas tem a ver com as eleições regionais [as
autárquicas estão previstas para 2020 em moldes ainda a definir]. Outra, como
angolano na Diáspora, que possamos fazer uso de um direito que nos tem sido
cortado: o direito de voto", reivindicou.
João Lourenço foi eleito chefe de
Estado de Angola nas presidenciais de 23 de agosto de 2017, tendo sido
empossado a 26 de setembro do mesmo ano.
Tornou-se o terceiro Presidente
de Angola deste a independência do país, em 1975, sucedendo a António Agostinho
Neto (1975/79) e José Eduardo dos Santos (1979/2017).
Lusa | em TSF
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