Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião
Desde 2015, o preço da habitação
não parou de subir em
Portugal. Os últimos dados apontam para um aumento médio de
16,4% entre maio de 2017 e 2018, para o qual contribuíram as valorizações nas
áreas de Lisboa e Porto.
Quem desespera à procura de casa
já deu pelo problema há muito, mas só neste junho é que o Banco de Portugal
começou a alertar para o risco de sobrevalorização do mercado imobiliário,
sobretudo devido ao investimento estrangeiro. Há dias, a líder do Conselho de
Supervisão do BCE avisou que a próxima crise estará associada ao mercado
imobiliário.
A bolha imobiliária em Portugal
não apareceu do nada. É o produto de uma tempestade perfeita entre políticas e
circunstâncias económicas. Com a manutenção das restrições orçamentais, a
política do BCE de juros baixos e injeção de liquidez contribuiu para o
sobreaquecimento dos mercados de ações, obrigações e imobiliário. O Governo de
PSD/CDS quis e soube atrair esse "investimento" financeiro: road
shows pelo Mundo, vistos gold, aposta no regime de IRS para residentes não
habituais, taxas reduzidas para alojamento local. A promoção do "turismo
residencial" foi um objetivo político sem preocupação com as
consequências. Por isso, os governantes do CDS se congratulavam com a venda a
estrangeiros de 39 casas por dia.
As principais autarquias,
interessadas nas receitas vindas da grande rotação dos imóveis e do turismo,
participaram neste movimento de forma acrítica, tal como o atual Governo. Até
agora, as medidas de combate à especulação foram tímidas, e nem o sinistro
regime dos vistos gold foi revogado.
Perante esta situação, há duas
opções. A primeira, adotada pelo CDS, é fechar os olhos à crise na habitação
que ajudou a criar. A segunda, há muito defendida pelo Bloco, é avançar com
políticas públicas que contrariem a bolha.
Por isso, propusemos ao Governo,
no início das negociações orçamentais, uma nova tributação sobre mais-valias
imobiliárias, em duas vertentes: a excessiva valorização do preço e a excessiva
rotação dos imóveis (às vezes, comprados por atacado por fundos que os vendem
logo nos meses seguintes). Esta medida não resolverá todos os problemas, mas
contribuirá para dar passos da direção certa, dotando o Estado e as autarquias
de recursos para investir em políticas de habitação.
Não é a primeira vez que
apresentamos medidas para taxar de forma mais justa o mercado imobiliário.
Sabemos que geram ruído, mas que não perdem por isso a sua justeza. Depois do
ruído, serão os votos a ditar a determinação com que cada partido combate a
especulação.
*Deputada do BE
Sem comentários:
Enviar um comentário