- diz secretária de Estado da
Igualdade
Secretária de Estado da Cidadania
e Igualdade, Rosa Monteiro, diz que "não podemos escamotear essa
realidade" . Queixas por discriminação aumentaram no último ano.
"Muitas foram apresentadas por pessoas ou associações ligadas à comunidade
cigana."
ortugal é um país com
manifestações racistas e xenófobas, admitiu a secretária de Estado da Cidadania
e Igualdade, apontando que continua a haver muito preconceito contra a
comunidade cigana e que é preciso conhecer o fenómeno para o combater.
Em declarações à agência Lusa,
quando se completa um ano de entrada em vigor da Lei para a Prevenção,
Proibição e Combate à Discriminação, Rosa Monteiro afirmou que "Portugal é
um país com manifestações de racismo e de xenofobia".
"Obviamente, como são todos
[os países], e não podemos escamotear essa realidade", defendeu.
No entender da secretária de
Estado, "há um racismo tácito e há um racismo expresso", que se
refletem nas queixas apresentadas à Comissão para a Igualdade e Contra a
Discriminação Racial (CICDR).
Desde o início do ano e até ao
dia 29 de agosto, a CICDR recebeu 206 queixas, mais 27 do que em todo o
ano de 2017, o que representa já um aumento de 15%, sendo que as 179 queixas
recebidas no ano passado significam também um aumento de cerca de 50% em
relação a 2016.
Como a nova lei entrou em vigor a
1 de setembro de 2017, é preciso acrescentar as 59 denúncias que deram entrada
até 31 de dezembro do ano passado para constatar que a comissão já recebeu 265
queixas enquadradas pela nova legislação.
Rosa Monteiro defendeu que é
preciso conhecer o fenómeno para o conseguir combater e apontou que há
estudos do 'European Social Survey' -- uma organização de realização de
inquéritos transnacional, de cariz académico, da qual Portugal faz parte -- que
mostram que "Portugal apresenta níveis superiores à média europeia em
termos de racismo".
Por outro lado, destacou que em
Portugal "não há um discurso xenófobo aberto por parte, por exemplo,
de agentes políticos", contrariamente ao que se passa noutros países, algo
que classificou como "muito positivo", tendo em conta um
"consenso alargado na defesa e no combate a essas formas de
discriminação".
Muitas queixas de pessoas e
associações ligadas à comunidade cigana
Já no que diz respeito às
motivações, a secretária de Estado destacou que é interessante perceber que a
principal foi a discriminação étnica e racial e que muitas das queixas foram
apresentadas por pessoas ou associações ligadas à comunidade cigana.
"Percebemos que há muitos
preconceitos e muito desconhecimento relativamente àquilo que é ou são as
pessoas ciganas e as suas realidades de vida e como sabemos o desconhecimento
gera preconceito e gera segregação", sublinhou.
Os dados provisórios da CICDR,
analisados até ao dia 25 de maio, revelam que, entre as 114 queixas recebidas
desde o início do ano, as principais motivações são a origem racial e étnica e
a cor da pele (ambos com 25,4%), seguindo-se a nacionalidade.
Já entre as expressões que mais
se destacam como fundamento para a origem da discriminação estão a "etnia
cigana" e a "cor da pele negra", as duas com 24,6%, seguidas da
"nacionalidade brasileira" (11,4%).
Olhando para as 173 queixas
registadas desde a entrada em vigor da nova lei, ou seja entre 01 de setembro
de 2017 e 25 de maio de 2018, 35,3% foram encaminhadas para outras entidades,
dependendo da matéria em concreto, enquanto 49,1% estão em fase de tramitação
interna, sendo que 13,9% estão em fase de instrução no âmbito dos processos de
contraordenação.
Das 173 queixas, 24 deram origem
a processos de contraordenação, tendo sido já proferidas duas decisões de
condenação em coima em 2018.
A secretária de Estado revelou
que tem havido alguns processos em que é difícil fazer prova, mas não se
mostrou defensora de mais mecanismos sancionatórios.
"Penso que é importantíssimo
fazer a literacia da legislação existente, junto das próprias populações e de
profissionais e por isso mesmo a CICDR tem apostado na formação e capacitação,
desde as forças de segurança, com protocolos com a PSP e a GNR, e agora também
com a direção-geral dos serviços prisionais de forma a que conheçam a própria
legislação", explicou.
No balanço de um ano da nova
legislação, Rosa Monteiro faz uma avaliação positiva, apontando que "foi
fundamental" a revisão e o reforço dos meios da CICDR, que teve como
consequência o aumento do número de queixas.
Lusa | em Diário de Notícias
Foto: António Cotrim/Lusa
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