Primeira-ministra diz que não
haverá alternativa caso parlamentares britânicos não aprovem seus planos para o
pacto com a UE sobre a saída do bloco. FMI alerta que tal cenário traria altos
custos para o país.
A primeira-ministra britânica,
Theresa May, lançou um alerta nesta segunda-feira (17/09) aos rebeldes de sua
legenda, o Partido Conservador. Ela afirmou que se não apoiarem o acordo
que seu governo negocia com a União Europeia (UE) sobre o Brexit – o chamado
plano Chequers – terão de enfrentar um cenário potencialmente
caótico, sem um pacto que estabeleça as condições para a saída do Reino Unido
do bloco europeu e as futuras relações entre as duas partes.
"Acho que a alternativa a
isso seria não termos um acordo", disse May em entrevista à emissora
britânica BBC.
A saída oficial do Reino Unido da
União Europeia está marcada para 29 de março de 2019, mas as duas partes ainda
estão longe de um acordo total, enquanto alguns membros do partido governista
britânico ameaçam votar contra um possível pacto.
A proposta de May para o Brexit
precisará ser aprovada pela câmara baixa do Parlamento, mas ainda é incerto se
ela conseguirá os 320 votos necessários. Ela diz acreditar que, caso consiga um
acordo com os europeus, os parlamentares acabarão aprovando o acordo.
Britânicos e europeus esperam
finalizar as negociações sobre o acordo do Brexit em outubro de modo a garantir
o tempo necessário para que o texto seja ratificado pelos parlamentos britânico
e europeu. Restam, porém, algumas questões em aberto, como a definição do
status da fronteira entre a Irlanda do Norte, que integra o Reino Unido, e a
República da Irlanda, país-membro da UE.
May defendeu que deve haver
"movimentação de bens sem atritos" entre o Reino Unido e a UE na
Irlanda, ou seja, sem alfândegas e verificações regulatórias, para evitar que
seja instaurada uma fronteira rígida no país.
Uma reportagem do jornal
britânico The Times afirma que a UE se prepara em sigilo para aceitar
uma fronteira livre na Irlanda. A movimentação de bens entre o território
britânico, Irlanda do Norte e Irlanda "poderia ser controlada com a
utilização de códigos de barras nos contêineres sob esquemas de
'trusted-traders' ('operadores confiáveis') administrados por empresas
registradas", removendo a necessidade de uma fronteira rígida, afirma o
diário, citando fontes diplomáticas confidenciais. A medida seria semelhante ao
que já ocorre entre a Espanha e as Ilhas Canárias.
May propõe um chamado Brexit
suave, que manteria o Reino Unido alinhado com as regulamentações da
UE após o Brexit em troca do livre comércio entre as duas partes e da abertura
da fronteira com a Irlanda, o que não agrada muitos dos membros da base
conservadora.
O ex-secretário britânico para o
Brexit David Davis e o ex-ministro do Exterior Boris Johnson estão entre os que
defendem um rompimento total com a UE ao invés do acordo que está sendo
negociado pelo governo.
May criticou Johnson por se opor
a seu plano para o Brexit. Durante a entrevista à BBC, ela insistiu que está
concentrada em trabalhar pelo futuro do país depois da saída britânica da UE.
"Sinto-me um pouco irritada,
mas este debate não é sobre o meu futuro, este debate é sobre o futuro do povo
do Reino Unido e o futuro do Reino Unido", afirmou a PM. "É nisso
que estou concentrada, e é nisso que todos nós deveríamos estar
concentrados", acrescentou May.
A líder conservadora ressaltou
que o mais importante é fechar um "bom acordo" com a UE, que seja
vantajoso para os britânicos de todas as regiões do país.
May também criticou o linguajar
utilizado por Johnson para rejeitar o plano Chequers, ao compará-lo com um
imaginário colete suicida, que explodiria o Reino Unido, mas cujo detonador é
entregue à UE.
"Devo dizer que a escolha do
linguajar é totalmente inadequada. Eu fui ministra do Interior durante seis
anos e primeira-ministra por dois anos e acredito que utilizar um
linguajar como esse não é correto", afirmou.
A primeira-ministra insistiu
que Chequers é o único plano que fará a vontade dos britânicos e, ao
mesmo tempo, evitará uma fronteira rígida na Irlanda.
FMI alerta contra falta de acordo
Líderes do setor empresarial e
investidores temem que aspectos políticos possam minar o futuro acordo, jogando
a quinta maior economia do mundo em um cenário caótico que poderia enfraquecer
o Ocidente, abalar o mercado financeiro e bloquear as artérias do comércio internacional.
O Fundo Monetário Internacional
(FMI) considera que a falta de um acordo para o Brexit poderá gerar uma forte
retração econômica. "Espero muito e rezo para que haja um acordo entre a
UE e o Reino Unido", disse Christina Lagarde, diretora-gerente da
instituição.
Ela rebateu as afirmações de
alguns opositores de May, de que a falta de um acordo seria algo preferível,
uma vez que o país se veria livre para negociar novos acordos comerciais em
todo o mundo.
"Todos os prováveis cenários
do Brexit trarão custos para a economia britânica", afirmou, acrescentando
que, no entanto, uma saída desordenada traria efeitos "significativamente
piores". Segundo o FMI, até mesmo um acordo satisfatório resultaria
em novas barreiras comerciais.
Lagarde diz que qualquer que seja
o acordo, não poderá ser tão bom quanto os benefícios dos quais o Reino Unido
goza atualmente, como parte integrante da zona de livre comércio com outros 27
países da UE. A falta de um pacto "iria impor custos muito altos para a
economia britânica", disse.
O ministro britânico das
Finanças, Philip Hammond, sugeriu que o governo preste atenção aos alertas
do FMI. O fundo prevê crescimento de 1,5% da economia britânica tanto em
2018 e em 2019, uma queda em relação ao 1,75% dos anos 2016 e 2017.
Segundo o FMI, o Reino Unido se
retraiu em relação com os demais países do G7 desde o referendo de 2016 que
resultou na decisão de deixar a UE. As incertezas no futuro do ambiente de
negócios levaram a uma retenção dos investimentos no país. Além disso, a queda
da libra esterlina desacelera o crescimento em termos de renda e consumo.
Caso britânicos e europeus
não cheguem a um acordo até março de 2019, a questão estará sujeita às regras da
Organização Mundial do Comércio (OMC), que especifica as regulamentações
alfandegárias e de fronteira para quaisquer negócios com a UE.
RC/rtr/efe/lusa/ap | Deutsche Welle
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