VOLTO A LEMBRAR O CICLO DE
ARTIGOS PUBLICADOS HÁ 5 ANOS, SOB O TÍTULO "AINDA O VALE DO CUANGO",
QUE FOI ENTRETANTO TAMBÉM RELEMBRADO NUM DIA DE ÁFRICA!...
DIA 25 DE MAIO É DIA DE ÁFRICA
MUITOS SE INTERROGAM COMO UM
CONTINENTE TÃO RICO SE TEM AFUNDADO NA MISÉRIA, EM TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS
QUE PARECEM NÃO TER FIM.
POR ISSO É JUSTO LEMBRAR O CASO
DE ANGOLA E COMO A CONTRA REVOLUÇÃO, AQUELA QUE FOI USADA CONTRA O MOVIMENTO DE
LIBERTAÇÃO, SE FOI EQUACIONANDO AO LONGO DOS TEMPOS.
OS RISCOS NO VALE DO CUANGO NÃO
PARARAM DEPOIS DA “GUERRA DOS DIAMANTES DE SANGUE”, PELO QUE ANGOLA DEVE
AVALIAR O QUE POR LÁ ACONTECE E COMO AQUELES QUE AO VALE SE REFEREM SE
POSICIONAM FACE AOS FENÓMENOS!
O VALE DO CUANGO SOFRE HOJE OS
IMPACTOS DA MIGRAÇÃO ILEGAL PROVENIENTE DA ÁREA ISLÂMICA DE ÁFRICA O QUE
PODE ESCONDER INTERESSES QUE VÃO CONCORRER COM NOVAS AMEAÇAS QUE PODEM COLOCAR EM RISCO A PAZ.
AINDA O VALE DO CUANGO – I
1 – Quando elaborei a 4 de
Janeiro de 2011 o artigo sobre o Vale do Cuango sabia que havia de voltar, mais
ano menos ano, ao tema.
Se há de facto em Angola região
onde a deliquescência sócio-política-administrativa tem sido crónica é
precisamente naquela região imediatamente a sul da fronteira comum da RDC com
Angola, em especial no triângulo que tem a norte o município de Luremo e a sul
a linha definida entre Xá Muteba, a sudoeste e Capenda Camulemba, a sudeste.
Esse é de facto um autêntico
“triângulo das Bermudas” em termos de insuficiências político-administrativo e
onde maior expressão têm ganho rebeldes, traficantes e todo o tipo de ilegais
que afluem às “minas de Salomão”.
Os fluxos migratórios de ilegais
provenientes de países africanos islâmicos aumentaram sintomaticamente em
direcção a Angola desde 2011, precisamente o ano em que o regime de Kadafi foi
varrido pelos ocidentais e pelos seus aliados das “Primaveras árabes” e uma
atmosfera neo colonial se desabou sobre África!
Os relacionamentos de Angola com
países do espaço CEDEAO têm vindo a reflectir a conjuntura neo colonial daquela
região: sendo um país africano que lutou pela sua independência e contra o
“apartheid”, Angola teve dificuldades maiores na Costa do Marfim e na Guiné
Bissau.
Com a crise instalada no Mali,
mantendo-se as dificuldades de relacionamento de Angola com vários componentes
do espaço CEDEAO, os fluxos migratórios ilegais aumentaram e uma parte
substancial desses fluxos entraram em Angola directamente na região da bacia
hidrográfica do Cuango, por motivos óbvios: a exploração dos diamantes aluviais
num dos rios angolanos que mais os garante, como atractivo para os
financiadores e os mentores dos migrantes e para os próprios migrantes.
De certo modo terá sido Savimbi,
a seu tempo, o maior dos “beneficiados” da ausência de combate ao tráfico
ilícito de diamantes na sequência da prisão dos oficiais que melhor evitaram a
“abertura” dessa “oportunidade” até 1985.
Ele espreitou sua oportunidade e
deu no que deu: uma guerra atroz a partir dos negócios com “diamantes de
sangue”, que desarticularam a vida nacional entre os anos de 1992 e 2002, antes
do cartel intervir com o processo Kimberley e do seu desaparecimento físico!
Será que agora se poderá repetir
o fenómeno com outros protagonismos, mas correspondendo a incentivos que
indiciam a mesma matriz de sempre, tendo em conta a inclinação neo colonial dos
países CEDEAO e a influência da evolução da situação deles, o que inclui a
massiva migração em curso?
2 – A partir de 2011
desencadearam-se perturbações em cadeia pelo Magreb, tendo o Mali como fulcro
da desestabilização.
A CEDEAO alinhou por inteiro com
a “FrançAfrique” e deu oportunidade à Operação Serval ainda em curso.
No ataque de retaliação de
organizações terroristas a In Amenas na Argélia, a organização islâmica radical
que o levou a cabo a partir do território líbio, foi comandada por “o zarolho”
Mokhtar Belmoktar, argelino de nacionalidade, que ao mesmo tempo era um dos
grandes “senhores” do Sahel, “Mr Marlboro” (por traficar cigarros)…
…Entre os tráficos do
contrabandista Mokhtar Belmoktar constava o da droga e o de diamantes…
O Mali possui, ao que se faz
constar, 30 kimberlites, todavia os diamantes que Mokhtar Belmoktar traficava
seriam originários do Mali, ou seriam um resultado da migração dos malianos
para a RDC e Angola, quando se sabe que uma parte dessa migração foi
“encaminhada” para o garimpo artesanal e ilegal?...
“O zarolho” terá morrido durante
um ataque de forças tchadianas no norte do Mali, nas montanhas de Adrar des
Ifhogas, entre Kidal, a sul e Tessalit, a norte, a 2 de Março de 2013; será que
com ele acabou o tráfico de cigarros, drogas e diamantes por todo o Sahel?
3 – Por conseguinte é oportuno
lembrar o que então afirmei em relação a esse vazio político-administrativo no
Vale do Cuango:
…“O cartel de diamantes, o
intrincado lobby dos minerais e os poderes ligados às elites e à hegemonia,
tiveram sempre o vale do Cuango como uma referência obrigatória, como se ali se
espraiassem as minas de Salomão e não é por acaso, que depois de tantos jogos
africanos instrumentalizados pelas manipulações das potências ocidentais e em
particular dos Estados Unidos, surjam num cínico corolário experts como Theresa
Whelan, (Subscretária da Defesa para África durante a última fase da
Administração de George Bush) que chegam à conclusão de que afinal em África
existem zonas onde os poderes centrais têm pouca capacidade de intervenção político-administrativa,
num vazio que é por vezes aproveitado para, ao mesmo tempo que se promove a
deliquescência dos vulneráveis estados africanos, se incentivarem rebeldes,
etno nacionalismos, tribalismos… e as explorações mais desenfreadas e vis dos mais
diversos minerais, sobretudo diamantes aluviais e coltan.
As estratégias Norte Americanas
em África, dirigidas para as regiões de insuficiente cobertura
política-administrativa, fazem hoje parte dos conceitos absorvidos pelo AFRICOM
e isso é um inquestionável sinal que nos obriga a reflectir sobre esse tipo de
fronteiras e sobre a natureza de estados como o Uganda e o Ruanda, dominados
por elites de feição subordinadas a esses interesses extra continentais
dispostos à manipulação histórica, à opressão, ao desequilíbrio, às estratégias
de tensão a que se habituaram e até às guerras de rapina.
Os regimes do Uganda (Yoweri
Museveni) e do Ruanda (Paul Kagame) têm sido identificados como servis aos
propósitos dos Estados Unidos e do AFRICOM, enquanto plataformas de acção em
direcção leste (Somália) e oeste (particularmente a RDC, mas também com
influência na situação transfronteiriça em Angola)”…
(…)
…Milhões de aventureiros de todas
as origens, mas acima de tudo provenientes de África enquanto continente
marginalizado, desprotegido e miserável, concorrem para chegar a Angola e às
minas de Salomão como as do Cuango.
É necessário que os estados
implicados na Região e muito particularmente Angola e a RDC, promovam
conhecimentos e iniciativas comuns em relação a essa jóia emblemática que
constitui o vale do Cuango, tributário como o Cassai do 2º pulmão do planeta, a
extensa bacia do Congo, o Amazonas de África.
Em África o Congo tornar-se-á
ainda mais importante e decisivo do que é ao longo deste século, pois os
desertos quentes imensos que cobrem uma parte colossal do continente estão em
fase de aumentar a sua superfície”…
4 – A região está a fugir ao
controlo do estado no que diz respeito ao tráfico de diamantes e migração
ilegal, essencialmente no vale do Cuango, com maiores incidências num triângulo
que tem a norte Luremo, a sudoeste Xá Muteba e a Sudeste Capenda Camulemba.
Nessa região as povoações “surgem
como cogumelos”: algumas delas desaparecem de repente, mas outras prosperam e
engrossam; entre as povoações consideradas “bem sucedidas” estão: Muxinda,
Kaissesse, Samba e Xamutelengue… povoações que são tão recentes que não
aparecem nos mapas, mas constituem rota dos políticos da oposição…
Os políticos da oposição e seus
“aderentes”, ao que se fez constar das campanhas pré-eleitorais, parecem apenas
despertos para as questões que directamente às comunidades angolanas, que vivem
em relativa pobreza, mas na sua passagem nada fizeram constar da migração
ilegal, da exploração e dos negócios ilegais de diamantes e da massiva presença
islâmica ao ponto de em algumas localidades estarem presentes as leis a charia.
É evidente que isso não é por
acaso: quanto mais foram postas em causa as leis angolanas, mais
desestabilização e a desestabilização tem sido quase sempre o húmus desta
oposição, conforme à cartilha do seu principal mestre, Savimbi!
A implantação dos garimpeiros
estará a ser estimulada por interesses emparceirados entre nacionais e
estrangeiros, operando particularmente nos ricos vales aluviais do Cuango e do
Cassai (com seus afluentes), admitindo-se que esse esforço se tenha estendido
até ao vale do Cuanza (planalto do Bié).
O grosso das redes indicia
aproveitar-se de vários factores favoráveis de implantação, desde a
permeabilidade das fronteiras terrestres com a RDC, até às relativas
facilidades em função de manipulação e/ou corrupção de autoridades locais nos
locais e áreas de exploração e negócio, passando também, em relação aos
executivos mentores das redes, por facilidades migratórias obtidas em Luanda.
A região, ao que muitos indicam,
terá já milhões de pessoas e os estrangeiros, em especial os de origem de
países islamizados africanos, são a maioria!
Uma parte dos diamantes que foge
ao controlo de Angola (e do processo Kimberley), está a sair pela fronteira
terrestre com a RDC em direcção a Kinshasa e outra parte sai por Luanda; a que
sai por Luanda, em função dos parceiros nacionais das redes, escapa-se de forma
clandestina pelo aeroporto de Luanda, utilizando muitas vezes as vantagens do
trânsito nas salas VIP…
A recordar:
- O Vale do Cuango – http://pagina--um.blogspot.com/2011/01/o-vale-do-cuango.html
Fotografia:
A consultar:
- Technical review of Diamond
concessions on the Cuango river, northern Angola – www.infomine.com/index/pr/Pa145202.PDF
- Tim Read – America Mineral
Fields Inc – http://www.twst.com/?action=pdf&series=natura_resou&fileid=PAA614;
http://www.twst.com/interview/11937
- UNITA’s diamond mining and
exporting capacity – http://www.issafrica.org/pubs/books/Angola/14Dietrich.pdf
- Fowler Report – http://en.wikipedia.org/wiki/Fowler_Report
- Final
Report of the UN Panel of Experts – http://www.globalpolicy.org/component/content/article/202/41606.html
- Un government au service des
enterprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- O nome do interesse da França
em África – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/02/uranio-o-nome-do-interesse-da-franca-na.html
- Le Canard Enchaîné l’a révélé
hier : Le Qatar finance les terroristes d'Aqmi et du Mujao – http://www.cridem.org/C_Info.php?article=630368
- Al Qaeda in the Islamic
Maghreb: Who’s Who? Who is Behind the Terrorists? – http://www.globalresearch.ca/al-qaeda-in-the-islamic-maghreb-whos-whos-who-is-behind-the-terrorists/5319754
- Mokhtar Belmoktar le gangster
djihadiste spécialiste de la prise d’otages – http://www.20minutes.fr/monde/algerie/1081861-algerie-mokhtar-belmoktar-gangster-djihadiste-specialiste-prise-dotages
- Algerian Militant Mokhtar
Belmokhtar, ‘Mr. Marlboro,’ Jihadist or Thug? – http://www.theworld.org/2013/01/algeria-mokhtar-belmokhtar/
- Islamist militant Mokhtar
Belmokhtar 'killed in Mali' – http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-21645769
- UNITA quer transformar Cafunfu
em novo bastião – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/29105
- Visita de Isaías Samakuva nas
Lundas, terra rica e uma população pobre - Por Manuela dos Prazeres – http://protectoradodalunda.blogspot.com/2011/03/visita-de-isaias-samakuva-nas-lundas.html
*Antes publicado em http://paginaglobal.blogspot.com/2013/03/ainda-o-vale-do-cuango-i.html
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