sexta-feira, 26 de outubro de 2018

EM SAUDAÇÃO À "OPERAÇÃO TRANSPARÊNCIA"...


VOLTO A LEMBRAR O CICLO DE ARTIGOS PUBLICADOS HÁ 5 ANOS, SOB O TÍTULO "AINDA O VALE DO CUANGO", QUE FOI ENTRETANTO TAMBÉM RELEMBRADO NUM DIA DE ÁFRICA!...

DIA 25 DE MAIO É DIA DE ÁFRICA

MUITOS SE INTERROGAM COMO UM CONTINENTE TÃO RICO SE TEM AFUNDADO NA MISÉRIA, EM TENSÕES, CONFLITOS E GUERRAS QUE PARECEM NÃO TER FIM.

POR ISSO É JUSTO LEMBRAR O CASO DE ANGOLA E COMO A CONTRA REVOLUÇÃO, AQUELA QUE FOI USADA CONTRA O MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO, SE FOI EQUACIONANDO AO LONGO DOS TEMPOS.

OS RISCOS NO VALE DO CUANGO NÃO PARARAM DEPOIS DA “GUERRA DOS DIAMANTES DE SANGUE”, PELO QUE ANGOLA DEVE AVALIAR O QUE POR LÁ ACONTECE E COMO AQUELES QUE AO VALE SE REFEREM SE POSICIONAM FACE AOS FENÓMENOS!


O VALE DO CUANGO SOFRE HOJE OS IMPACTOS DA MIGRAÇÃO ILEGAL PROVENIENTE DA ÁREA ISLÂMICA DE ÁFRICA O QUE PODE ESCONDER INTERESSES QUE VÃO CONCORRER COM NOVAS AMEAÇAS QUE PODEM COLOCAR EM RISCO A PAZ.

AINDA O VALE DO CUANGO – I


1 – Quando elaborei a 4 de Janeiro de 2011 o artigo sobre o Vale do Cuango sabia que havia de voltar, mais ano menos ano, ao tema.

Se há de facto em Angola região onde a deliquescência sócio-política-administrativa tem sido crónica é precisamente naquela região imediatamente a sul da fronteira comum da RDC com Angola, em especial no triângulo que tem a norte o município de Luremo e a sul a linha definida entre Xá Muteba, a sudoeste e Capenda Camulemba, a sudeste.

Esse é de facto um autêntico “triângulo das Bermudas” em termos de insuficiências político-administrativo e onde maior expressão têm ganho rebeldes, traficantes e todo o tipo de ilegais que afluem às “minas de Salomão”.

Os fluxos migratórios de ilegais provenientes de países africanos islâmicos aumentaram sintomaticamente em direcção a Angola desde 2011, precisamente o ano em que o regime de Kadafi foi varrido pelos ocidentais e pelos seus aliados das “Primaveras árabes” e uma atmosfera neo colonial se desabou sobre África!

Os relacionamentos de Angola com países do espaço CEDEAO têm vindo a reflectir a conjuntura neo colonial daquela região: sendo um país africano que lutou pela sua independência e contra o “apartheid”, Angola teve dificuldades maiores na Costa do Marfim e na Guiné Bissau.

Com a crise instalada no Mali, mantendo-se as dificuldades de relacionamento de Angola com vários componentes do espaço CEDEAO, os fluxos migratórios ilegais aumentaram e uma parte substancial desses fluxos entraram em Angola directamente na região da bacia hidrográfica do Cuango, por motivos óbvios: a exploração dos diamantes aluviais num dos rios angolanos que mais os garante, como atractivo para os financiadores e os mentores dos migrantes e para os próprios migrantes.

De certo modo terá sido Savimbi, a seu tempo, o maior dos “beneficiados” da ausência de combate ao tráfico ilícito de diamantes na sequência da prisão dos oficiais que melhor evitaram a “abertura” dessa “oportunidade” até 1985.

Ele espreitou sua oportunidade e deu no que deu: uma guerra atroz a partir dos negócios com “diamantes de sangue”, que desarticularam a vida nacional entre os anos de 1992 e 2002, antes do cartel intervir com o processo Kimberley e do seu desaparecimento físico!
Será que agora se poderá repetir o fenómeno com outros protagonismos, mas correspondendo a incentivos que indiciam a mesma matriz de sempre, tendo em conta a inclinação neo colonial dos países CEDEAO e a influência da evolução da situação deles, o que inclui a massiva migração em curso?

2 – A partir de 2011 desencadearam-se perturbações em cadeia pelo Magreb, tendo o Mali como fulcro da desestabilização.

A CEDEAO alinhou por inteiro com a “FrançAfrique” e deu oportunidade à Operação Serval ainda em curso.

No ataque de retaliação de organizações terroristas a In Amenas na Argélia, a organização islâmica radical que o levou a cabo a partir do território líbio, foi comandada por “o zarolho” Mokhtar Belmoktar, argelino de nacionalidade, que ao mesmo tempo era um dos grandes “senhores” do Sahel, “Mr Marlboro” (por traficar cigarros)…

…Entre os tráficos do contrabandista Mokhtar Belmoktar constava o da droga e o de diamantes…

O Mali possui, ao que se faz constar, 30 kimberlites, todavia os diamantes que Mokhtar Belmoktar traficava seriam originários do Mali, ou seriam um resultado da migração dos malianos para a RDC e Angola, quando se sabe que uma parte dessa migração foi “encaminhada” para o garimpo artesanal e ilegal?...

“O zarolho” terá morrido durante um ataque de forças tchadianas no norte do Mali, nas montanhas de Adrar des Ifhogas, entre Kidal, a sul e Tessalit, a norte, a 2 de Março de 2013; será que com ele acabou o tráfico de cigarros, drogas e diamantes por todo o Sahel?

3 – Por conseguinte é oportuno lembrar o que então afirmei em relação a esse vazio político-administrativo no Vale do Cuango:

…“O cartel de diamantes, o intrincado lobby dos minerais e os poderes ligados às elites e à hegemonia, tiveram sempre o vale do Cuango como uma referência obrigatória, como se ali se espraiassem as minas de Salomão e não é por acaso, que depois de tantos jogos africanos instrumentalizados pelas manipulações das potências ocidentais e em particular dos Estados Unidos, surjam num cínico corolário experts como Theresa Whelan, (Subscretária da Defesa para África durante a última fase da Administração de George Bush) que chegam à conclusão de que afinal em África existem zonas onde os poderes centrais têm pouca capacidade de intervenção político-administrativa, num vazio que é por vezes aproveitado para, ao mesmo tempo que se promove a deliquescência dos vulneráveis estados africanos, se incentivarem rebeldes, etno nacionalismos, tribalismos… e as explorações mais desenfreadas e vis dos mais diversos minerais, sobretudo diamantes aluviais e coltan.

As estratégias Norte Americanas em África, dirigidas para as regiões de insuficiente cobertura política-administrativa, fazem hoje parte dos conceitos absorvidos pelo AFRICOM e isso é um inquestionável sinal que nos obriga a reflectir sobre esse tipo de fronteiras e sobre a natureza de estados como o Uganda e o Ruanda, dominados por elites de feição subordinadas a esses interesses extra continentais dispostos à manipulação histórica, à opressão, ao desequilíbrio, às estratégias de tensão a que se habituaram e até às guerras de rapina.

Os regimes do Uganda (Yoweri Museveni) e do Ruanda (Paul Kagame) têm sido identificados como servis aos propósitos dos Estados Unidos e do AFRICOM, enquanto plataformas de acção em direcção leste (Somália) e oeste (particularmente a RDC, mas também com influência na situação transfronteiriça em Angola)”…

(…)

…Milhões de aventureiros de todas as origens, mas acima de tudo provenientes de África enquanto continente marginalizado, desprotegido e miserável, concorrem para chegar a Angola e às minas de Salomão como as do Cuango.

É necessário que os estados implicados na Região e muito particularmente Angola e a RDC, promovam conhecimentos e iniciativas comuns em relação a essa jóia emblemática que constitui o vale do Cuango, tributário como o Cassai do 2º pulmão do planeta, a extensa bacia do Congo, o Amazonas de África.

Em África o Congo tornar-se-á ainda mais importante e decisivo do que é ao longo deste século, pois os desertos quentes imensos que cobrem uma parte colossal do continente estão em fase de aumentar a sua superfície”…

4 – A região está a fugir ao controlo do estado no que diz respeito ao tráfico de diamantes e migração ilegal, essencialmente no vale do Cuango, com maiores incidências num triângulo que tem a norte Luremo, a sudoeste Xá Muteba e a Sudeste Capenda Camulemba.

Nessa região as povoações “surgem como cogumelos”: algumas delas desaparecem de repente, mas outras prosperam e engrossam; entre as povoações consideradas “bem sucedidas” estão: Muxinda, Kaissesse, Samba e Xamutelengue… povoações que são tão recentes que não aparecem nos mapas, mas constituem rota dos políticos da oposição…

Os políticos da oposição e seus “aderentes”, ao que se fez constar das campanhas pré-eleitorais, parecem apenas despertos para as questões que directamente às comunidades angolanas, que vivem em relativa pobreza, mas na sua passagem nada fizeram constar da migração ilegal, da exploração e dos negócios ilegais de diamantes e da massiva presença islâmica ao ponto de em algumas localidades estarem presentes as leis a charia.

É evidente que isso não é por acaso: quanto mais foram postas em causa as leis angolanas, mais desestabilização e a desestabilização tem sido quase sempre o húmus desta oposição, conforme à cartilha do seu principal mestre, Savimbi!

A implantação dos garimpeiros estará a ser estimulada por interesses emparceirados entre nacionais e estrangeiros, operando particularmente nos ricos vales aluviais do Cuango e do Cassai (com seus afluentes), admitindo-se que esse esforço se tenha estendido até ao vale do Cuanza (planalto do Bié).

O grosso das redes indicia aproveitar-se de vários factores favoráveis de implantação, desde a permeabilidade das fronteiras terrestres com a RDC, até às relativas facilidades em função de manipulação e/ou corrupção de autoridades locais nos locais e áreas de exploração e negócio, passando também, em relação aos executivos mentores das redes, por facilidades migratórias obtidas em Luanda.

A região, ao que muitos indicam, terá já milhões de pessoas e os estrangeiros, em especial os de origem de países islamizados africanos, são a maioria!

Uma parte dos diamantes que foge ao controlo de Angola (e do processo Kimberley), está a sair pela fronteira terrestre com a RDC em direcção a Kinshasa e outra parte sai por Luanda; a que sai por Luanda, em função dos parceiros nacionais das redes, escapa-se de forma clandestina pelo aeroporto de Luanda, utilizando muitas vezes as vantagens do trânsito nas salas VIP…

A recordar:

Fotografia:
 As quedas Tazua no Cuango internacional; antes as quedas eram conhecidas por quedas Guilherme; a foto é de 1974.

A consultar:
- Technical review of Diamond concessions on the Cuango river, northern Angola – www.infomine.com/index/pr/Pa145202.PDF 
- UNITA’s diamond mining and exporting capacity – http://www.issafrica.org/pubs/books/Angola/14Dietrich.pdf 
- Un government au service des enterprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des 
- Le Canard Enchaîné l’a révélé hier : Le Qatar finance les terroristes d'Aqmi et du Mujao – http://www.cridem.org/C_Info.php?article=630368 
- Al Qaeda in the Islamic Maghreb: Who’s Who? Who is Behind the Terrorists? – http://www.globalresearch.ca/al-qaeda-in-the-islamic-maghreb-whos-whos-who-is-behind-the-terrorists/5319754
- Mokhtar Belmoktar le gangster djihadiste spécialiste de la prise d’otages – http://www.20minutes.fr/monde/algerie/1081861-algerie-mokhtar-belmoktar-gangster-djihadiste-specialiste-prise-dotages 
- Algerian Militant Mokhtar Belmokhtar, ‘Mr. Marlboro,’ Jihadist or Thug? – http://www.theworld.org/2013/01/algeria-mokhtar-belmokhtar/ 
- Islamist militant Mokhtar Belmokhtar 'killed in Mali' – http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-21645769
- UNITA quer transformar Cafunfu em novo bastião – http://www.angonoticias.com/Artigos/item/29105
- Visita de Isaías Samakuva nas Lundas, terra rica e uma população pobre - Por Manuela dos Prazeres – http://protectoradodalunda.blogspot.com/2011/03/visita-de-isaias-samakuva-nas-lundas.html

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