quinta-feira, 18 de outubro de 2018

O general foi-se mas o juiz do vedetismo ainda mexe frente aos holofotes


Bom dia de quinta-feira. Faltam somente dois dias para chegar o fim-de-semana da ordem. Isso para os que ainda se mantêm a trabalhar só de segunda a sexta. O que é cada vez mais raro. A seguir temos o Expresso Curto por Ricardo Marques, da filial do Bilderberg… Ops. Aborda o assunto demissionário do general Rovisco=Azeredo=Tancos. Todos os dias cansa. Perguntando: e quem mais vai cair nas forças armadas? Uns quantos saem dos cargos e caso abafado? Não pode voltar a ser como tem sido. Assim, com grandes abafadores. Mudem de postura. Sejam decentes.

O juiz vedeta de Mação, de Portugal, do mundo. Ele ficou viciado em não guardar recato, adora as luzes da ribalta. Já sabem de quem se trata. Carlos Alexandre, esse mesmo. Supimpa, apesar de maloio que vai à missa e é um exemplo de… Recatado é que não é. Era tão giro que o fosse e fizesse o seu trabalho sem holofotes e tricas, além de apontar computadores batoteiros. Os batoteiros conhecem-se bem? Será isso? Estamos para ver.

Siga o Curto porque daquele Alexandre pequeno já estamos fartos. Preferimos Alexandres grandes, na personalidade e na resistência à falsa beatice e aos holofotes dos mediatismos e imediatismos que são somente palha que alieneia os cidadãos e não lhes proporciona algo de útil nem realmente informativo. Nem formativo.

Bom dia, bom Expresso Curto. Fique bem, apesar de o pior estar para chegar. (CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Pessoas sempre pessoais

Ricardo Marques | Expresso

Um juiz e um general, duas pessoas normais, entram num bar e sentam-se ao balcão a falar de coisas pessoais.

- Meu caro oficial superior, o que o levou a deixar agora o comando das forças terrestres da pátria, resignando ao cargo de chefe de estado maior?

- Meu bom amigo, direi apenas que foram razões pessoais.

- Muito bem, muito bem.

- Já agora, meu estimado lente de lei, posso perguntar o que o levou a faltar ao trabalho no preciso dia em que seria sorteado o juiz de instrução de um certo processo que, bem sabe, pode abalar os alicerces do regime?

- Calma na marcha, valoroso militar. Abalar por abalar, convenhamos que a historia de um certo paiol mal vigiado não é uma questão menor e quem sabe que danos poderá ainda causar…

- Bem sei, bem sei… Ou melhor, eu não sei. Mas estará o digníssimo magistrado a ensaiar uma retirada estratégica à minha certeira questão?

- Longe disso. Dir-lhe-ei apenas que nesse dia fui forçado a ausentar-me por assuntos pessoais.

Gabriel Garcia Marquez faria muito melhor. Mas cada um escreve sobre o país que tem.

E o que temos nós? Duas cartas, uma entrevista e uma estranha sensação de que algo sério está a acontecer por cá.

O general Rovisco Duarte resignou ao cargo e o Exército ficou temporariamente sem Chefe do Estado-Maior. O problema, como se explica neste artigo, é que alegou “razões pessoais” junto do poder político e “circunstâncias políticas” numa mensagem para consumo interno.

Pelo meio, houve uma reunião com o novo ministro da Defesa e uma série de 'não respostas' de vários responsáveis.

bomba, salvo seja, tinha rebentado durante a tarde - e está hoje em todos os jornais.

Mas a coisa tornou-se absolutamente estranha à noite, quando a RTP exibiu uma “entrevista” ao juiz Carlos Alexandre. Uso as aspas porque não se tratou de uma entrevista-entrevista, daquelas em que o jornalista se senta em frente ao entrevistado com uma mesa pelo meio. Foi outra coisa.

Meia Mação falou para as câmaras. Do padre à colega de escola, do carteiro ao presidente da câmara, ninguém poupou nos elogios ao conterrâneo magistrado que não foi escolhido para a instrução da Operação Marquês. A terra defende os seus.

Depois porque ainda antes de a entrevista ser transmitida já o Conselho Superior da Magistratura tinha anunciado a abertura de um um inquérito "para cabal esclarecimento de todas as questões suscitadas pelo juiz de instrução criminal" que coloca em causa o processo de escolha do juiz para a fase de instrução do processo da Operação Marquês.

Afinal, o que disse o juiz? Explicou que não esteve presente no dia do sorteio do juiz de instrução porque, por coincidência, teve de tratar de “assuntos pessoais”. Constatou que o computador tem regras e que a aleatoriedade é maior ou menor consoante o número de processos que tem cada juiz.

Depois, as coisas ficaram ainda mais esquisitas, porque a conversa saltou para os livros de Garcia Marquez. Questionado sobre se se sentia um general preso num labirinto (“O general no seu labirinto”), Carlos Alexandre respondeu que se sentia mais um náufrago (uma procuradora oferecera-lhe “Relato de um náufrago”), mas que ia sobreviver.

A seguir, ficámos a saber onde é a casa de banho do Tribunal Central de Instrução Criminal, constatámos que Alexandrefalou duas vezes com Ivo Rosa nas últimas semanas (mas não disse uma única vez o nome do colega que vai conduzir a instrução do Caso Marquês), descobrimos que o magistrado esteve “sitiado” pelo fogo no verão, que está preocupado com a poluição no Tejo e que - mesmo não tendo sido um aluno brilhante a matemática, como contou a colega de escola - sabe que lhe faltam exatamente dois mil dias úteis para se reformar. “Veja que os tenho bem contados”, disse ao jornalista.

A entrevista acabou com música de fundo. Carlos Alexandre, vestido a rigor, caminha para lá do portão de ferro. É um homem só, com as mãos atrás das costas, e avança em direção a um país que, fica-se com a ideia, ele acha que não o compreende.

A imagem perfeita de um general a deixar o campo de batalha.

OUTRAS NOTÍCIAS

Vamos então mergulhar no paiol da atualidade à procura dos temas que ficam e, com cuidado para a malta da ronda não notar, meter alguns no saco dos assuntos de que provavelmente vai ouvir falar durante o dia.

Esta é fresquinha: conhece a Fifó? Não sabe o que está a perder. A miúda tem 18 anos e marcou os quatro golos da vitoria (4-1) sobre o Japão na final feminina de Futsal dos Jogos Olímpicos da Juventude que decorrem em Buenos Aires, na Argentina.

Medalha de ouro para Portugal, para começar bem a quinta-feira.

(Aqui está uma entrevista com a árbitro da final, a iraniana Gelareh Nazemi, que só por acaso é sobre futebol)

A greve no Metropolitano de Lisboa termina às 10h00.

Daqui a pouco há Conselho de Ministros, o primeiro da nova equipa titular do Governo, e, por isso, daqui a pouco e mais umas horas haverá certamente novidades. Posso adiantar já uma: António Costa não está.


O primeiro-ministro - cidadão António Luís Santos da Costa, como disse ontem Carlos Alexandre - encontra-se em Bruxelas. Para os que julgam que é fácil a vida optimista de quem nos comanda, deixo aqui a agenda

09:30 - Encontro com o Presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani
10:05 - Início da sessão de trabalho do Conselho Europeu, com o tema: Migrações; Segurança Interna; Relações Externas
13:00 - Almoço de trabalho - Cimeira do Euro
19:25 - Cerimónia de abertura da 12.ª Cimeira da ASEM
21:00 - Jantar dos Chefes de Estado e de Governo da 12.ª Cimeira ASEM, no Museu Real de Arte e História

A historia começou a escrever-se quando Theresa May aterrou na Bélgica e começou uma série de conversas com o único objetivo de garantir um acordo para o Brexit. Diz a primeiro-ministro britânica que “ainda é possível”, mas só com muito trabalho. Os responsáveis europeus aguardam e não parecemtão optimistas.

Por muito que queiramos, não é fácil vir respirar um pouco à superfície do oceano orçamental em que nos encontramos. Há três dias que só se fala disso e é garantido que para a semana a paisagem vai ser idêntica. OE para cá, OE para lá.

Ou, no caso dos funcionários públicos, é mais o Oyeahh(estou a brincar…mas para os restantes tenho uma boa sugestão de leitura no final deste curto).

Ontem uma das surpresas foi a das reformas antecipadas. Há também novidades nos recibos verdes, no preço dos carros… Rui Rio, líder do PSD, considera que se trata de um orçamento de ‘chapa-ganha-chapa-gasta’ para enganar os eleitores, mas António Gosta garante que o objetivo é continuar a “melhorar a vida dos portugueses e da economia”.

Isto é a política nacional ao mais alto nível. Sempre surpreendente.

No extremo oposto, o da aborrecida previsibilidade do quotidiano, está o buraco na rua. Um grande buraco em Lisboa. Em Alcântara. E o trânsito ainda vai estar condicionado esta manhã.

Nesse extremo está também a falta de eletricidade numa série de casas nas zonas atingidas pelo mau tempo do último fim de semana. A EDP garante que são menos de duas mil, como conta o Diário de Coimbra, e é preciso reconhecer que já foram mais de 300 mil.

No fundo, é uma questão de perspectiva. O tal buraco da Maria Pia também deve parecer minúsculo visto da estação espacial, mas acho que ninguém gostava de cair lá dentro…

Passaram cinco dias desde a tempestade Leslie e o prejuízo já ultrapassa os 80 milhões de euros. Com tendência para aumentar.

Na mesma ficaram duas condenações a pena máxima aplicadas nos tribunais portugueses. Pedro Dias viu a Relação confirmar os 25 anos de prisão. Tal como sucedeu aos arguidos condenados no caso da ‘Máfia de Braga’.

Os terrenos onde funcionava a Feira Popular, ali na zona de Entrecampos em Lisboa - e que se encontram em processo de leilão (com direito a anúncios em alguns dos jornais mais vendidos no mundo, como o Financial Times) - parecem estar dentro de um daqueles carrinhos da montanha russa. O CDS entregou na Procuradoria-Geral da República (PGR) um “pedido de sindicância” à Operação Integrada de Entrecampos.

O que é que rima com Entrecampos? Tancos, claro. E o que é que mesmo parecido com Tancos? O roubo de armas na Direção Nacional da PSP, em Lisboa. Foram 57 Glocks que desapareceram há quase dois anos. No Parlamento, o ministro da Administração Interna revelou que já apareceram oito: quatro em Espanha, quatro em Portugal. Faltam 49.

Eduardo Cabrita disse também que ainda não há videovigilância em todos os locais onde as polícias têm armas guardadas. Neste particular, o ministro não concretizou quantos faltam.

Ainda assim, há trabalho a fazer. Pode ler neste artigo que o trabalho - ainda que possa trazer maior segurança ao material bélico nacional - dificilmente tornará alguém rico. Mais deum milhão de portugueses que trabalham são pobres.

Um pequeno bloco de notícias rápidas, mas importantes

O Parlamento discute hoje dois projetos de resolução (PSD e PCP) sobre a ala pediátrica do Hospital de São João;

O ex-super-espião Jorge Silva Carvalho vai lançar um livro que, assegura a revista Sábado, tem “revelações explosivas”: operações ilegais, pressões internas, escutas e um "assalto" feito por espiões à sede de um partido político;

Os manuais escolares gratuitos já têm um prazo de vida. Ao fim de três anos são substituídos por livros novos;

Se quiser impressionar os amigos, atire a seguinte pergunta para o ar: Alguém sabe que dia é hoje? Um vai dizer que é Dia Europeu de Luta Contra o Tráfico de Seres Humanos; outro responderá que é Dia Mundial da Resolução de Conflitos; um terceiro irá garantir que é Dia Mundial da Menopausa; e o mais calado surpreenderá tudo e todos ao revelar que é Dia dos Médicos. Nenhum está errado. É tudo verdade.

Mas guarde o melhor para o fim: ontem foi ‘dia da moca’ no Canadá. Um dos maiores países do mundo legalizou o consumo de marijuana e a BBC acompanhou o fumo a subir durante várias horas.

É com esta sensação de ligeira alucinação e absoluta incompreensão que o mundo vai assistindo à lenta marcha dos dias que faltam para as eleições brasileiras. Os dois candidatos estão em plena guerra nas redes sociais. Bolsonaro lidera as sondagens, mas o que as sondagens mostram mesmo é um país que não se compreende a si próprio.

Entretanto, enquanto não chega o novo presidente, o atual (que, recorde-se, está a caminho de deixar de ser depois de ter substituído a presidente que foi destituída, após ter sucedido ao presidente que está detido) encontra-se em maus lençóis. Michel Temer foi indiciado pela polícia por corrupção e lavagem de dinheiro. Está ‘lulado', portanto.

Jean-Luc Mélenchon estava inspirado. Nas últimas horas tornou-se uma vedeta das redes sociais e um fortíssimo candidato a autor da frase do ano. “La republique c’est moi”, gritou ele na cara do polícia que o separava de uma porta. (O video é imperdível) Uma clara homenagem a Louis XIV que, alegadamente, terá dito, em 1655, “LÉtát cest moi”. Alegadamente porque não há qualquer registo escrito da frase e também porque, ao contrário do que sucedeu com o líder do movimento França Insubmissa, o rei não tinha a polícia a realizar buscas à sede do seu partido.

O assunto seguinte, que vai estar também no topo da atualidade desta quinta-feira, tem algumas frases que custam a ler. A morte de um jornalista no consulado da Arábia Saudita na Turquia ameaça tornar-se um foco de tensão internacional. Os pormenores do caso são chocantes e as suas implicaçõespreocupantes.

No Vaticano, o Papa Francisco recebe esta manhã o presidente da Coreia do Sul. Moon Jaein vai transmitir ao Papa uma mensagem do líder do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un. Ao que tudo indica, será o tal convite para uma visita de que se falou há uns dias.

Há uns anos valentes, neste preciso dia em 1867, o Alasca tornou-se oficialmente parte integrante dos Estados Unidos da América. Os americanos compraram-no à Rússia por cinco centavos o hectare. Custou 7,2 milhões de dólares.

Por muito menos - vamos ser sério, é à borla - milhares de jovens de 18 anos vão poder viajar de comboio pela Europa. O concurso para os bilhetes grátis começa a 29 de novembro e os pormenores estão aqui.

Sem sair do Vida Extra, a novidade mais recente do site do Expresso, arrisco sugerir um salto a Nova Iorque para ver, nos ecrãs gigantes de Times Square, os trabalhos do português Santiago Ribeiro.

Logo à noite há futebol. A abrir as hostilidades desta eliminatóriada Taça de Portugal temos um Sertanense-Benfica, jogado em Coimbra. De um lado, uma equipa cujo relvado não estava de acordo, cheio de buracos que pareciam feitos por toupeiras; do outro, uma equipa que chegou a acordo com a Google para lidar com toupeiras.

Antes, pode ser que haja surf em Peniche. Frederico Morais estána luta.

O QUE ANDO A LER

Calma, não me esqueci de si caro leitor-não-funcionário-público. Antes, contudo, gostava de destacar alguns artigos sobre a juventude.

Podemos começar por este, que conta a história de uma jovem ativista de 15 anos que passa dias inteiros a tentar salvar o planeta.

Passamos para um ambicioso projeto do The New York Times, que foi à procura dos sonhos das raparigas que fazem 18 anos em 2018. Uma viagem por diferentes países e personalidades.

E, já agora, aproveite para recordar este artigo que publicámos há uns meses na revista E sobre os jovens adultos que nasceram em 2000. Uma espécie de Geração 18, à portuguesa.

O livro, por fim. “Felizes sem um Ferrari”, de Ryunosuke Koike, um monge japonês.

O título, traduzido literalmente, é “Manual Para Aprender a Ser Pobre”. No entanto, e do pouco que já consegui ler, é mais um tratado para nos ensinar a viver com menos.

A questão do consumo, e das implicações que pode ter no futuro da humanidade, na medida em que ameaça a própria sobrevivência do homem no planeta, foi um dos temas de uma conferencia recente do cientista Manuel Sobrinho Simões.

O livro de Koike é um bom pequeno passo para esse grande salto que, parece, teremos mesmo de dar um dia.

Este problema já não é pessoal. É de todas as pessoas.

Tenha um bom dia. Estamos por cá, no site do Expresso.

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