domingo, 11 de novembro de 2018

EM NOVEMBRO, MEMÓRIA DOS CAMINHOS DO MATO!


Martinho Júnior, Luanda 

Numa Angola independente, soberana e fresca na sua bandeira, as plataformas de consenso têm sempre um grau de relatividade, mas é verdade que Angola, perdendo seus aliados naturais e sujeita às pressões do capitalismo neoliberal, particularmente dos interesses capitalistas indexados ao "lobby dos minerais" e cartel dos diamantes, não teve suporte devido das tão idolatradas democracias ocidentais e por isso, "teve de se virar" durante demasiado tempo, com aliados“transversais” e de mafiosa contingência: Pierre Falcone, Arkadi Gaidamak, Lev Leviev, Sam Pa...

Foi um exercício muito difícil, indigesto para as questões que se prendem até à soberania, mas foi assim, com essas linhas tortas da passagem do choque para a terapia neoliberal, que a ausência de tiros seria alcançada e agora necessita ser encarreirada em direcção à justiça social, numa longa trilha de luta contra o subdesenvolvimento!

Angola ainda está demasiado presa à hipocrisia e ao cinismo da “civilização judaico-cristã ocidental”, assim como ao seu presunçoso “elitismo”, quantas vezes “contra natura”.

São amarras que a prendem aos tempos idos próprios da barbárie e por isso Angola continua afectada pela trama da guerra psicológica de que África é eterna vítima, enquanto dilecta fornecedora de matérias-primas e de mão-de-obra barata (para não dizer quase escrava), na devassada ultraperiferia da economia global…

O parto legítimo da civilização está algures, ainda em nossos sonhos, por que quanta falibilidade há ainda na lógica com sentido de vida, num mundo em que prevalecem de mãos dadas as mentalidades injectadas e formatadas do obscurantismo e da alienação!?...

Quantos (novos) Diogo Cão redescobriram e vieram implantar padrões efémeros de contemporâneas ilusões, assimilações e misérias!?...

Quanta corrupção endémica não foi infiltrada por essas veias antigas e pelas injectadas novas veias, “transversais” de mafiosa contingência, ávidas de protagonismo e de tão efémero quão volátil lucro, típico de lantejoulas!?...

Garantir independência e soberania face a imensos riscos, desafios, obstáculos, subversões, ingerências e manipulações, numa via que implica imensos resgates, os caminhos do mato que dão sentido ao movimento de libertação em África ainda são os que estão melhor aferidos à mobilização de todos os esforços para um justo renascimento africano!

A paz está algures, perdida na região central das grandes nascentes, perdida na Bacia do Congo e nos Grandes Lagos, garantes de espaço vital para África e miragem nos horizontes dos povos sedentários e migrantes…

Em África até os diamantes aluviais obrigam à massiva migração humana e à desarticulação de bacias hidrográficas, transformadas em superfície lunar polvilhada de crateras, sem qualquer tipo de prevenção e consciência dessa desventura e desastre ambiental!...

Como dizia Kilamba, o poeta da independência, “nunca houve descobrimentos, a África foi criada  com o mundo”(Renúncia impossível)… e nós estando por dentro dela, temos as mais legítimas aspirações, os sonhos mais justos e tanto do que obriga à civilização e imenso respeito pela Mãe Terra, por cultivar!

Martinho Júnior - Luanda,2 de Novembro de 2018

Na foto: Pórtico de acesso ao Museu Militar (Fortaleza colonial de São Miguel).

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