Martinho Júnior, Luanda
Numa Angola independente,
soberana e fresca na sua bandeira, as plataformas de consenso têm sempre um
grau de relatividade, mas é verdade que Angola, perdendo seus aliados naturais
e sujeita às pressões do capitalismo neoliberal, particularmente dos interesses
capitalistas indexados ao "lobby dos minerais" e cartel dos
diamantes, não teve suporte devido das tão idolatradas democracias ocidentais e
por isso, "teve de se virar" durante demasiado tempo, com
aliados“transversais” e de mafiosa contingência: Pierre Falcone, Arkadi
Gaidamak, Lev Leviev, Sam Pa...
Foi um exercício muito difícil,
indigesto para as questões que se prendem até à soberania, mas foi assim, com
essas linhas tortas da passagem do choque para a terapia neoliberal, que a
ausência de tiros seria alcançada e agora necessita ser encarreirada em
direcção à justiça social, numa longa trilha de luta contra o
subdesenvolvimento!
Angola ainda está demasiado presa
à hipocrisia e ao cinismo da “civilização judaico-cristã ocidental”, assim
como ao seu presunçoso “elitismo”, quantas vezes “contra natura”.
São amarras que a prendem aos
tempos idos próprios da barbárie e por isso Angola continua afectada pela trama
da guerra psicológica de que África é eterna vítima, enquanto dilecta
fornecedora de matérias-primas e de mão-de-obra barata (para não dizer quase
escrava), na devassada ultraperiferia da economia global…
O parto legítimo da civilização
está algures, ainda em nossos sonhos, por que quanta falibilidade há ainda na
lógica com sentido de vida, num mundo em que prevalecem de mãos dadas as
mentalidades injectadas e formatadas do obscurantismo e da alienação!?...
Quantos (novos) Diogo Cão
redescobriram e vieram implantar padrões efémeros de contemporâneas ilusões,
assimilações e misérias!?...
Quanta corrupção endémica não foi
infiltrada por essas veias antigas e pelas injectadas novas veias, “transversais” de
mafiosa contingência, ávidas de protagonismo e de tão efémero quão volátil
lucro, típico de lantejoulas!?...
Garantir independência e soberania
face a imensos riscos, desafios, obstáculos, subversões, ingerências e
manipulações, numa via que implica imensos resgates, os caminhos do mato que
dão sentido ao movimento de libertação em África ainda são os que estão melhor
aferidos à mobilização de todos os esforços para um justo renascimento
africano!
A paz está algures, perdida na
região central das grandes nascentes, perdida na Bacia do Congo e nos Grandes
Lagos, garantes de espaço vital para África e miragem nos horizontes dos povos
sedentários e migrantes…
Em África até os diamantes
aluviais obrigam à massiva migração humana e à desarticulação de bacias
hidrográficas, transformadas em superfície lunar polvilhada de crateras, sem
qualquer tipo de prevenção e consciência dessa desventura e desastre
ambiental!...
Como dizia Kilamba, o poeta da
independência, “nunca houve descobrimentos, a África foi criada com
o mundo”(Renúncia impossível)… e nós estando por dentro dela, temos as mais
legítimas aspirações, os sonhos mais justos e tanto do que obriga à civilização
e imenso respeito pela Mãe Terra, por cultivar!
Martinho Júnior - Luanda,2 de
Novembro de 2018
Na foto: Pórtico de acesso ao
Museu Militar (Fortaleza colonial de São Miguel).
Renúncia impossível (poema
completo) - http://www.faan.og.ao/index.php?option=com_content&view=article&id=537:a-renuncia-impossivel&catid=65:renuncia-impossivel&Itemid=233
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