sábado, 3 de novembro de 2018

Portugal | Tourada não é arte, é só triste


Manuel Molinos | Jornal de Notícias | opinião

Não devia ser preciso pensar "muito, muito, muito" para chamar às touradas o nome que lhe é devido. E não, não se trata de uma atividade cultural, não é arte. É simplesmente um espetáculo de tortura deplorável no século XXI. Classificar a tourada como "atividade cultural" é triste.

A ministra da Cultura admitiu discutir em sede de especialidade do Orçamento um eventual alargamento dos espetáculos abrangidos pela redução do IVA de 13% para 6%, mas excluiu a tauromaquia por "ser uma questão de civilização". No que às touradas diz respeito, esteve muito bem! Aplausos como se estivéssemos na arena do Campo Pequeno. Mas o Governo podia ter estado ainda bem melhor. Se já é difícil entender que os espetáculos ao ar livre sejam taxados a 13% e os realizados em recintos fechados a 6%, é ainda mais complicado assistir a uma tourada ao vivo numa sala de teatro ou num palco de um festival de verão. É que só assim, e com muito esforço, se perceberia a aproximação da tourada à arte, uma vez que está tudo no mesmo pacote!

Civilizado, portanto, seria proibir a realização de touradas em Portugal.

A este propósito, convém que a ministra da Cultura não se esqueça que a RTP classifica as touradas como cívicas, pois enquadra-as no serviço público. Aliás, numa resposta enviada aos subscritores de uma petição que pede o fim da transmissão de touradas na RTP, o provedor dos espectadores indicou que não irá pressionar o diretor de programas para que erradique as touradas do ecrã. "Não me cabe qualquer dúvida de que a instituição à qual compete representar a vontade dos portugueses é a Assembleia da República", diz.

Assim, já que o PAN até aprovou um Orçamento onde a tourada ainda é vista como arte, e se aliena de uma das mais escandalosas violações dos direitos dos animais, e já que Assunção Cristas vê a tourada como um "bailado", e se pensar "muito, muito, muito" é capaz de ter pena dos animais, resta a esperança de que a civilização apregoada pela nova ministra da Cultura não seja mais uma cornada em vão.

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