Manuel Molinos | Jornal de Notícias
| opinião
Não devia ser preciso pensar
"muito, muito, muito" para chamar às touradas o nome que lhe é
devido. E não, não se trata de uma atividade cultural, não é arte. É
simplesmente um espetáculo de tortura deplorável no século XXI. Classificar a
tourada como "atividade cultural" é triste.
A ministra da Cultura admitiu
discutir em sede de especialidade do Orçamento um eventual alargamento dos
espetáculos abrangidos pela redução do IVA de 13% para 6%, mas excluiu a
tauromaquia por "ser uma questão de civilização". No que às touradas
diz respeito, esteve muito bem! Aplausos como se estivéssemos na arena do Campo
Pequeno. Mas o Governo podia ter estado ainda bem melhor. Se já é difícil
entender que os espetáculos ao ar livre sejam taxados a 13% e os realizados em
recintos fechados a 6%, é ainda mais complicado assistir a uma tourada ao vivo
numa sala de teatro ou num palco de um festival de verão. É que só assim, e com
muito esforço, se perceberia a aproximação da tourada à arte, uma vez que está
tudo no mesmo pacote!
Civilizado, portanto, seria
proibir a realização de touradas em Portugal.
A este propósito, convém que a
ministra da Cultura não se esqueça que a RTP classifica as touradas como
cívicas, pois enquadra-as no serviço público. Aliás, numa resposta enviada aos subscritores
de uma petição que pede o fim da transmissão de touradas na RTP, o provedor dos
espectadores indicou que não irá pressionar o diretor de programas para que
erradique as touradas do ecrã. "Não me cabe qualquer dúvida de que a
instituição à qual compete representar a vontade dos portugueses é a Assembleia
da República", diz.
Assim, já que o PAN até aprovou
um Orçamento onde a tourada ainda é vista como arte, e se aliena de uma das
mais escandalosas violações dos direitos dos animais, e já que Assunção Cristas
vê a tourada como um "bailado", e se pensar "muito, muito,
muito" é capaz de ter pena dos animais, resta a esperança de que a
civilização apregoada pela nova ministra da Cultura não seja mais uma cornada
em vão.
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