Mariana Mortágua | Jornal de
Notícias | opinião
De acordo com o Instituto
Nacional de Estatística (INE), a taxa de risco de pobreza após transferências
sociais caiu de 19,5% em 2013 para 17,3% em 2017.
É o valor mais baixo registado em
quase 15 anos, mas continua alto demais. Se forem considerados os rendimentos
antes de qualquer transferência social, a redução foi de 4,7 pontos percentuais
(p.p.), e se a estes rendimentos forem acrescidas apenas as transferências
relativas a pensões, então a queda foi de 4p.p.
A primeira nota é que a
austeridade, ao contrário do que afirmam PSD e CDS, não foi "socialmente
justa". O desemprego, os cortes nos apoios sociais e rendimentos, atiraram
para a pobreza milhares de pessoas, agravando todos os indicadores de
desigualdades, exclusão e privação.
Mas a reflexão que mais importa é
sobre o presente e o futuro.
Segundo o INE, excluindo já as
pensões, quase 23% da população está em risco de pobreza. Em 2017, as
prestações sociais - o abono de família, o rendimento social de inserção, a
prestação social para a inclusão ou o complemento solidário para idosos -
reduziram esta percentagem em 5,3 p.p. São por isso instrumentos essenciais no
combate à pobreza. A aposta que fizemos, ao longo desta legislatura, no seu
reforço depois dos cortes da Direita foi acertada.
Mas a pobreza não é um fenómeno
que se combata apenas com prestações sociais. Em 2014, a taxa de risco de
pobreza entre a população trabalhadora era 10,9%. Ou seja, mais de um em cada dez
trabalhadores não ganhava o suficiente para não ser pobre. Em 2017 esta taxa
reduziu-se para 9,7%, e o aumento do salário mínimo nacional em muito deve ter
contribuído para isso.
Os resultados são positivos, e
devemos aprender com eles. Mas se o aumento das prestações sociais e do salário
mínimo foram essenciais para retirar o país da situação de emergência social, a
erradicação da pobreza e o combate estrutural às desigualdades não podem ficar
pela política de mínimos.
A qualidade e universalidade dos
serviços públicos, que são uma forma indireta de rendimento, e a legislação
laboral, que protege o salário e o emprego, são dois elementos centrais dessa
estratégia. Em ambos, a atuação do Governo, limitado pelas suas próprias
escolhas ideológicas e orçamentais, deixa muito a desejar. Não tinha que ser
assim, sobretudo porque há no Parlamento uma maioria que permitiria fazer
diferente. Mas ainda há tempo para mudar algumas coisas. Esta ainda pode ser a
legislatura em que limpamos a troika do código laboral e protegemos o SNS com
uma nova lei de bases. Se tal não acontecer, a responsabilidade será
exclusivamente do Partido Socialista.
*Deputada do BE
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