“O natal passou, nada mais resta”,
diz-se na canção, o que não corresponde à realidade. De facto o natal já passou
(Ary dos Santos achava que era natal todos os dias) mas ainda restam resquícios
dessa quadra. Até no Jornal de Notícias pelo matraquear das teclas na autoria
de Pedro Ivo Carvalho, lá da “casa” do jornal do norte. E vai daí o Pedro Ivo descobriu
humor em “A lista Secreta dos políticos ao Pai Natal”, que aqui começa com um “cheirinho”
de duas personalidades conhecidas e por isso tão badaladas: O PR Marcelo e o PM
Costa. Depois, no original JN pode ler de outras personalidades, entre as
quais: Rui Rio, Catarina Martins, Assunção Cristas, Jerónimo de Sousa… E só
esses.
Curto elenco de personagens,
achamos nós. Então e a lista de Salgado, de Cavaco e dos da sua pandilha
impune? E a lista de Sócrates, assim como a de Paulo Portas submarinando? E os
outros? Tantos. Tantos, que seria enfadonho mencionarmos aqui.
Está bem. Vamos nessa, com o
humor de Pedro Ivo Carvalho, no JN. Gratos pela bem humorada prenda... e pelo "furo". (CT | PG)
A lista secreta dos políticos ao
Pai Natal
Pedro Ivo Carvalho | Jornal de
Notícias | humor | em 25 Dezembro 2018
Há quem já lhe chame o
"Natal leaks", há quem se refira a elas como o "Pai Natal
Papers". O Jornal de Notícias voltou a ter acesso às cartas que os líderes
dos principais partidos escreveram ao Pai Natal. Uma lista secreta de presentes
para eles e para os adversários que nem à família mostraram. Entre pedidos
obtusos e irreverentes, e outros mais terrenos e fofos, fica evidente que o
altruísmo que os políticos portugueses projetam de forma lustrosa durante 51
semanas não se materializa nos dias do ano em que os nossos corações deviam
convergir numa morna e harmoniosa corrente subterrânea de amor.
Marcelo Rebelo de Sousa - Bom,
este ano, como só completei 70 primaveras, estava a pensar em algo fora da
caixa. Da caixa de ressonância mediática, claro. O que eu queria mesmo, sabes,
Pai Natal, era silêncio. Há dias em que se torna penoso ouvir o presidente da
República falar sobre tudo quando chego a casa à noite. Embora eu até concorde
com ele. O comentador em mim diz: "Modera-te, Marcelo". Mas o
presidente em mim contrapõe: "Comenta, Marcelo, Portugal está à espera que
digas alguma coisa". Eis a minha lista.
Gostava de fazer uma Presidência
Aberta com os portugueses que não vão votar em mim nas próximas eleições, no
sentido de perceber a fundo as suas razões e tentar chamá-los à normalidade.
Como cabem todos no banco de trás do meu Mercedes, podíamos ir no mesmo carro,
poupando esforço ao erário público. É uma dúvida que me inquieta: será que
estes três cidadãos não veem televisão, não ouvem rádio nem consultam jornais?
Não só me inquieta. Consome-me o sono.
Algo que me orgulhava
sobremaneira era poder ver, neste Natal, todos os partidos sentados à mesa a
discutir o futuro do país. Eu ofereço o espaço, o Jerónimo podia levar as
bifanas picantes da Festa do Avante, a Assunção traz os militantes da JP para
pôr música, a Catarina leva as manas Mortágua para irritar a Assunção, o Rio abre
a festa com um show-case de bateria e fechamos tudo com um número de biodança a
solo (passe a redundância) do deputado do PAN. Numa ponta da mesa fico eu, na
outra fica o António Costa. Quem conseguir aguentar mais tempo sem se rir do
nosso otimismo irritante ganha um difusor com óleo de alfazema. Consta que as
suas propriedades relaxantes ajudam a reduzir os níveis de ansiedade. Em 2019,
com eleições legislativas, europeias e regionais, o mais provável é precisarmos
todos.
Por último, e correndo o risco de
soar um pouco a Miss Universo, desejo ardentemente a paz no Mundo, em
particular na sede do PSD, mas também o fim de todos os populismos, os quais
geram movimentos extremistas e perigosos. E quando digo isto não estou a pensar
nos coletes amarelos portugueses. Até porque ficou provado que nunca deu bom
resultado imitar os franceses. Veja-se o que aconteceu ao Tony Carreira.
António Costa - Está mais ou
menos na cara o que eu quero, caro Pai Natal. E só tem duas letrinhas: maioria
absoluta. Apenas não me atrevo a pedi-la já porque ainda há quem ache que eu
realmente me aliei ao BE e ao PCP por imperativo patriótico e não porque queria
dar com a porta na cara do Passos Coelho e ficar quatro anos a rir-me disso
todos os dias. Mas há outras coisas que eu gostava de receber ou de dar.
Se fosse possível guardar num
frasquinho o ar irrespirável que por vezes se sente nos Conselhos de Ministros
quando o Centeno leva a tesoura das cativações era ótimo. É o tipo de objeto
que adoraria ter numa cómoda de S. Bento. Com a seguinte inscrição: "Os
magros duram mais tempo - os cidadãos e os orçamentos do Estado".
Gostava de oferecer ao meu amigo
Rui Rio o álbum "O monstro precisa de amigos", dos "Ornatos
Violeta". Porque ele não merece o que lhe andam a fazer. E o monstro aqui
é o PSD, não ele. Ao Rui dedicava-lhe a música "Ouvi dizer", que tem
aquela passagem épica na voz sussurrada do Victor Espadinha. Com uma letra
adaptada à letargia em que chafurda a Assunção Cristas. Ficava assim: "A
Oposição está deserta, e alguém escreveu o teu nome em toda a parte: nas casas,
nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra repetida ao
expoente da loucura! Ora amarga! Ora doce! Para nos lembrar que a cegueira
política é uma doença, quando nela julgamos ver a nossa cura!". Bonito,
não é?
Por fim, era capaz de oferecer à
Catarina e ao Jerónimo um álbum ilustrado de memórias da
"geringonça". Não punha era fotos nossas. Usava imagens da ida do
homem à Lua, da eleição de Donald Trump nos EUA, da transferência da Cristina
Ferreira da TVI para a SIC e do bicampeonato do Rui Vitória. No fundo,
acontecimentos que, tal como a longevidade do atual Governo, ninguém era capaz
de prever.
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