quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Humor de Pedro em Portugal, no JN


“O natal passou, nada mais resta”, diz-se na canção, o que não corresponde à realidade. De facto o natal já passou (Ary dos Santos achava que era natal todos os dias) mas ainda restam resquícios dessa quadra. Até no Jornal de Notícias pelo matraquear das teclas na autoria de Pedro Ivo Carvalho, lá da “casa” do jornal do norte. E vai daí o Pedro Ivo descobriu humor em “A lista Secreta dos políticos ao Pai Natal”, que  aqui começa com um “cheirinho” de duas personalidades conhecidas e por isso tão badaladas: O PR Marcelo e o PM Costa. Depois, no original JN pode ler de outras personalidades, entre as quais: Rui Rio, Catarina Martins, Assunção Cristas, Jerónimo de Sousa… E só esses.

Curto elenco de personagens, achamos nós. Então e a lista de Salgado, de Cavaco e dos da sua pandilha impune? E a lista de Sócrates, assim como a de Paulo Portas submarinando? E os outros? Tantos. Tantos, que seria enfadonho mencionarmos aqui.

Está bem. Vamos nessa, com o humor de Pedro Ivo Carvalho, no JN. Gratos pela bem humorada prenda... e pelo "furo". (CT | PG)

A lista secreta dos políticos ao Pai Natal

Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | humor | em 25 Dezembro 2018

Há quem já lhe chame o "Natal leaks", há quem se refira a elas como o "Pai Natal Papers". O Jornal de Notícias voltou a ter acesso às cartas que os líderes dos principais partidos escreveram ao Pai Natal. Uma lista secreta de presentes para eles e para os adversários que nem à família mostraram. Entre pedidos obtusos e irreverentes, e outros mais terrenos e fofos, fica evidente que o altruísmo que os políticos portugueses projetam de forma lustrosa durante 51 semanas não se materializa nos dias do ano em que os nossos corações deviam convergir numa morna e harmoniosa corrente subterrânea de amor.

Marcelo Rebelo de Sousa - Bom, este ano, como só completei 70 primaveras, estava a pensar em algo fora da caixa. Da caixa de ressonância mediática, claro. O que eu queria mesmo, sabes, Pai Natal, era silêncio. Há dias em que se torna penoso ouvir o presidente da República falar sobre tudo quando chego a casa à noite. Embora eu até concorde com ele. O comentador em mim diz: "Modera-te, Marcelo". Mas o presidente em mim contrapõe: "Comenta, Marcelo, Portugal está à espera que digas alguma coisa". Eis a minha lista.

Gostava de fazer uma Presidência Aberta com os portugueses que não vão votar em mim nas próximas eleições, no sentido de perceber a fundo as suas razões e tentar chamá-los à normalidade. Como cabem todos no banco de trás do meu Mercedes, podíamos ir no mesmo carro, poupando esforço ao erário público. É uma dúvida que me inquieta: será que estes três cidadãos não veem televisão, não ouvem rádio nem consultam jornais? Não só me inquieta. Consome-me o sono.

Algo que me orgulhava sobremaneira era poder ver, neste Natal, todos os partidos sentados à mesa a discutir o futuro do país. Eu ofereço o espaço, o Jerónimo podia levar as bifanas picantes da Festa do Avante, a Assunção traz os militantes da JP para pôr música, a Catarina leva as manas Mortágua para irritar a Assunção, o Rio abre a festa com um show-case de bateria e fechamos tudo com um número de biodança a solo (passe a redundância) do deputado do PAN. Numa ponta da mesa fico eu, na outra fica o António Costa. Quem conseguir aguentar mais tempo sem se rir do nosso otimismo irritante ganha um difusor com óleo de alfazema. Consta que as suas propriedades relaxantes ajudam a reduzir os níveis de ansiedade. Em 2019, com eleições legislativas, europeias e regionais, o mais provável é precisarmos todos.

Por último, e correndo o risco de soar um pouco a Miss Universo, desejo ardentemente a paz no Mundo, em particular na sede do PSD, mas também o fim de todos os populismos, os quais geram movimentos extremistas e perigosos. E quando digo isto não estou a pensar nos coletes amarelos portugueses. Até porque ficou provado que nunca deu bom resultado imitar os franceses. Veja-se o que aconteceu ao Tony Carreira.

António Costa - Está mais ou menos na cara o que eu quero, caro Pai Natal. E só tem duas letrinhas: maioria absoluta. Apenas não me atrevo a pedi-la já porque ainda há quem ache que eu realmente me aliei ao BE e ao PCP por imperativo patriótico e não porque queria dar com a porta na cara do Passos Coelho e ficar quatro anos a rir-me disso todos os dias. Mas há outras coisas que eu gostava de receber ou de dar.

Se fosse possível guardar num frasquinho o ar irrespirável que por vezes se sente nos Conselhos de Ministros quando o Centeno leva a tesoura das cativações era ótimo. É o tipo de objeto que adoraria ter numa cómoda de S. Bento. Com a seguinte inscrição: "Os magros duram mais tempo - os cidadãos e os orçamentos do Estado".

Gostava de oferecer ao meu amigo Rui Rio o álbum "O monstro precisa de amigos", dos "Ornatos Violeta". Porque ele não merece o que lhe andam a fazer. E o monstro aqui é o PSD, não ele. Ao Rui dedicava-lhe a música "Ouvi dizer", que tem aquela passagem épica na voz sussurrada do Victor Espadinha. Com uma letra adaptada à letargia em que chafurda a Assunção Cristas. Ficava assim: "A Oposição está deserta, e alguém escreveu o teu nome em toda a parte: nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas. Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura! Ora amarga! Ora doce! Para nos lembrar que a cegueira política é uma doença, quando nela julgamos ver a nossa cura!". Bonito, não é?

Por fim, era capaz de oferecer à Catarina e ao Jerónimo um álbum ilustrado de memórias da "geringonça". Não punha era fotos nossas. Usava imagens da ida do homem à Lua, da eleição de Donald Trump nos EUA, da transferência da Cristina Ferreira da TVI para a SIC e do bicampeonato do Rui Vitória. No fundo, acontecimentos que, tal como a longevidade do atual Governo, ninguém era capaz de prever.

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