Quentes e boas eram as castanhas
assadas que se vendiam em imensas esquinas de Lisboa. A fumarada denunciava o
local onde podíamos comprá-las, embrulhadas num cartucho afunilado de qualquer
folha de jornal de data antiga ou nas famosas páginas amarelas das listas telefónicas
já desatualizadas. Pois, só que atualmente as gerigonças que comportavam o
assador, as castanhas por assar e aquelas que estavam a assar, mudaram de poiso e foram para parte nenhuma. Desapareceram. Deixaram esquinas de ruas
vazias daquele fumo e daquele cheiro agradável. Lá encontramos uma ou outra “fábrica
ambulante” das quentes e boas castanhas mas são muito raras nesta Lisboa a
modernizar-se com as refeições pobres, nocivas e rápidas. Chamam-lhe evolução. Pois.
Chamem-lhe o que quiserem. Pena é que acabem com o que é bom, cheiroso e quente, como as
castanhas assadas que encontrávamos quase a cada passo nesta Lisboa que mais
parece terem deixado de amá-la. Avancemos.
Decerto já deram por isso. Esta é
a “entrada” que antecede o Expresso Curto. Hoje da lavra de Miguel Cadete, do
dito Expresso. Diretor, também. Os diretores nos jornais são mais que as mães,
uns disto e outros daquilo. Foram-se as castanhas assadas e multiplicaram-se
ene de vezes os diretores, e os gestores, e os advogados, e os
doutores-doutores, e os licenciados que ainda não são doutores mas sim dótores…
É um fartote. É a tal evolução. Adiante.
Vai daí, a propósito destes
aumentos evolutivos e da extinção de tradições, como as castanhas assadas sobre
rodas de uma geringonça ou carripana – que regra geral era um triciclo – também
aumentou o número de corruptos e de corruptores, aumentaram os ladrões e afins
de colarinho branco. Alguns ou até todos doutores e dótores da mula-ruça. Nada
como andar na universidade para estudar cientificamente como parasitar a
sociedade e pô-la exangue com a locupletação de milhares e de milhões em notas
altaneiras que quase só chegam às mãos dos ditos VIPs, popularmente chamados de
vigaristas, trafulhas, filhos desta e daquela ou de epítetos muito piores. São
os tempos que mudam, é a chamada evolução. Para esses os tempos mudaram mas
para os que produzem, em fábricas, em obras, nas várias atividades exploradoras
do sangue, suor e lágrimas, não mudou o tempo nem as vontades de extinguir a
penúria de milhões em Portugal e de muitos mais milhares de milhões em todo o
mundo.
Tenham um resto de bom dia. Bom
almoço, para os que têm o privilégio de almoçar, em chiquérrimos restaurantes
ou prantados frente a mesas fartas, estragando comida que dava um jeitão aos
que quase nada têm. Nisso também quase nada mudou. Na realidade acontece mesmo
assim, não só em Portugal mas sim por todo o mundo.
Sigam para o Expresso Curto da
lavra do senhor diretor jornalista (talvez). E aguentem sempre, se continuarem
a não reagir a esta bagunça orquestrada por imensos vigaristas de “canudo”. Certo
é que não são assim todos eles mas os que existem são demasiados. E de vez em
quando lá vem à tona qualquer coisinha… Fizz, Lex, esses são os de agora. Mas já houve e há tantos… Impunes, condecorados por Cavaco Silva (p.ex.), de olhos em bico a olharem para os
seus umbigos, arquitetando novas tramóias. Uns ascos aperaltados com canudos
autênticos ou que conseguiram numa qualquer caixa da Farinha Amparo.
E se os corressemos à castanhada? (MM | PG)
Bom dia, este é o Expresso Curto
Lex, Fizz, Lula e bola: a justiça
pode estar a pisar o risco
Miguel Cadete | Expresso | opinião
Hoje sabemos que na
política, no desporto, na banca e nas empresas se viveu alegremente à margem da
lei durante muitos anos.
Vários processos levados por diante pelo Ministério Público mostraram
que existe corrupção em Portugal, tendo sido acusados um primeiro-ministro,
o maior banqueiro, gestores de empresas com prémios conquistados
pelo mundo fora e uns tantos dirigentes desportivos. É uma vitória da
Justiça, tendemos a concordar.
Nos últimos dias, porém, os acontecimentos precipitam-se a tal velocidade que é
difícil distinguir se não nascemos todos culpados. Basta olhar para as
primeiras páginas dos jornais de hoje, sexta-feira, para, por sua vez, nascerem
perplexidades.
Por exemplo: Processo de Centeno foi arquivado por “inexistência de crime”,
lê-se no
jornal
“i”, mas também na primeira do “Diário de Notícias”, “Jornal de Notícias” e
“Público”.
O processo investigava se o ministro da Finanças havia beneficiado
fiscalmente o presidente do Benfica (ou os seus filhos) em troca de dois
bilhetes para um jogo de futebol. Vale a pena lembrar que há seis dias atrás o
ministério das Finanças tinha sido alvo de buscas. Este arquivamento
acontece num prazo recorde. Afinal era um “não caso
”,
diz Bernardo Ferrão da SIC.
Na agenda mediática o caso foi, entretanto, ultrapassado por outros dois. A
operação Lex visa o juiz Rangel de quem há suspeita de decidir
sentenças a troco de dinheiro.
Mas ao contrário de outros suspeitos menores desde caso, já constituídos
arguidos e detidos, o juíz Rangel permanece em liberdade. Porquê?
O
Expresso Diário tenta explicar. O Expresso também noticia que
Rangel
não compareceu perante o tribunal.
Também a sua ex-mulher, a também juíza Fátima Galante está envolvida
no caso. O “Público” adianta na edição de hoje que
também
terá recebido dinheiro para escrever acórdãos. Por ser juíz, também não foi
detida. Ainda que o Conselho de Magistratura a possa suspender, muito
em breve, lê-se no mesmo diário, pondo fim a esta imunidade.
O “Correio da Manhã” dedica a sua manchete a esta operação Lex. E diz que o
juiz Rangel vendia sentenças,
tendo
recebido em troca uma “casa e jipe de luxo”. Tudo para, de acordo com o
jornal, sustentar “uma vida acima das suas posses”. A operação Lex já conta com
13 arguidos.
Entre
eles há vários juristas. Juízes e advogados em maior número; e o
presidente de um clube de futebol.
O outro caso é o da operação Fizz. Ontem foi divulgada uma escuta
telefónica que “apanhava” o ex-procurador
Orlando
Figueira a pedir a Proença de Carvalho que o ajudasse enquanto
advogado quando estava perto de ser detido.
Paulo
Blanco, advogado e também, arguido, tentou decifrar a agenda do ex-procurador.
E envolveu Álvaro Sobrinho, banqueiro angolano. A operação Fizz, recorde-se,
deu origem a um incidente diplomático com Angola por envolver o ex-presidente
Manuel Vicente numa alegada tentativa de suborno de Orlando Figueira.
Sobrinho, volta a dizer hoje o “Correio da Manhã” na primeira página, deixou de
ter os seus trinta prédios arrestados devido a um acórdão assinado por Fátima
Galante, a ex-mulher do juiz Rangel que também é juíza. Valiam 80 milhões de euros. Mas isto já é da operação
Lex. Confusos?
OUTRAS NOTÍCIAS
Os Metallica atuaram ontem em Lisboa, na Altice Arena, e a grande surpresa da
noite aconteceu quando tocaram “A Minha Casinha”, em homenagem a Zé Pedro dos
Xutos & Pontapés. No relato que a BLITZ faz do acontecimento, o baixista
Rob Trujillo terá dito “esta canção é dedicada a Zé Pedro”, antes de iniciar
uma versão de “Casinha” a meias com o guitarrista Kirk Hammett. Veja o
vídeo
aqui. A reportagem do concerto, por Luís Guerra,
está
aqui. E por aqui encontra
uma
galeria de fotos de Rita Carmo.
Também ontem à noite, o Estado português adquiriu uma pequena pintura (30
cm x 22 cm) de Álvaro Pires de Évora, um dos primeiros senão o primeiríssimo
pintor português. A “Anunciação”, cuja factura remonta ao século XV, foi
arrematada neste leilão da Sotheby’s de Nova Iorque por 350 mil dólares, pelo
telefone, estando previsto que seja entregue ao Museu Nacional de Arte Antiga.
A este valor ainda acrescem comissões.
Segundo
o “Público”, este montante foi conseguido através de contribuições do Estado
português (250 mil euros), do Grupo de Amigos do MNAA e ainda de
verbas que restavam da subscrição pública levada a cabo por aquele museu para
adquirir a obra “Adoração dos Magos”, de Domingos Sequeira. Em Portugal só
existia uma pintura de Álvaro Pires, no Museu Frei Manuel do Cenáculo, em
Évora. Porém, o pintor nunca exerceu em Portugal mas sim em Itália,
não se podendo dizer que faça parte de qualquer escola portuguesa.
Fundação Gulbenkian vai desfazer-se dos negócios do petróleo.
Segundo
notícia ontem avançada pelo Expresso, a Fundação Calouste Gulbenkian
prepara-se para vender a sua participação na Partex à CEFC China Energy,
empresa com sede em Xangai. A instituição justificou esta alienação, prestes a
ser fechada, tendo em conta a estratégia de sustentabilidade que conduzirá à alienação
dos seus investimentos em combustíveis fósseis. Um passo que marca uma
revolução na fundação agora presidida por Isabel Mota. O seu fundador, Calouste
Gulbenkian, ficou para a história
como
o senhor 5%, precisamente devido aos negócios que fazia com o petróleo e
que deram azo à sua fortuna.
Na edição que amanhã chega às bancas, o Expresso publica, como se tornou hábito
nos últimos anos, o ranking das escolas portugueses. Além das tabelas que
ordenam as escolas de acordo com os resultados obtidos pelos seus alunos – este
ano são incluídas, pela primeira vez, as escolas do ensino técnico-profissional
– o Expresso publica reportagens nas melhores escolas do país e uma entrevista
ao Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues.
Também na edição deste sábado, o Expresso dá continuação às entrevistas a
antigos Presidentes da República iniciadas com Jorge Sampaio. No âmbito da
celebração dos 45 anos do jornal, Ramalho Eanes, numa longa conversa de 12
páginas, afirma-se como sendo de esquerda, garantindo que para os povos “não há
inevitabilidades”.
Ainda antes do fim de semana, saiba que a Amazon patenteou uma pulseira
que permite às entidades empregadoras seguir todos os passos dos seus
colaboradores. Mais do que isso, a pulseira vibra sempre que tem a informação
de que algo errado está a ser feito pelo funcionário.
Ao
ler a notícia do “New York Times”, fica a saber-se que o tempo despendido
numa ida à casa de banho é contabilizado, bem como o de toda e qualquer pausa.
Na Polónia foi aprovada legislação que torna ilegal acusar qualquer
cidadão polaco dos crimes nazis. A lei, que impede que sejam utilizadas
expressões como “campos de concentração polacos”, ainda terá de ser promulgada
pelo presidente Andrzej Duda mas está a gerar indignação em Israel e nos
Estados Unidos da América. Esta semana, quando passou mais um aniversário da
libertação do campo de concentração de Auschwitz, o maior em território daquele
país,
o
Embaixador de Israel na Polónia criticou a nova legislação gerando um
conflito que o Presidente polaco considera configurar ingerência em assuntos
internos.
Bas Dost, o ponta de lança do Sporting, está lesionado e vai falhar o
próximo jogo da Liga portuguesa, contra o Estoril. A lesão do jogador holandês,
na grade costal, aconteceu no jogo de anteontem, contra o Vitória de Guimarães
e, segundo o “Record”,
pode
impedir que o avançado se apresenta contra o FC Porto, a 7 de fevereiro, na
primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal. Gelson Martins e Podence
também se encontram lesionados.
FRASES
“Se me pergunta se é lamentável que uma empresa não tenha ainda conseguido
repor os serviços de comunicações nas zonas afetadas pelos incêndios? É
absolutamente lamentável”. António Costa, primeiro-ministro, ontem, no
Parlamento
“Estou com muito mais voz do que o Bono”. José Cid em entrevista ao
jornal “i”
“Não falo de Tony Carreira porque não quero promover o próximo álbum dele, que
é o primeiro de originais”. Idem
“A Madonna pode gravar um fado mas como só canta em playback é complicado”. Idem
“Até para ser útil não é conveniente que seja eu”. Proença de Carvalho,
advogado, em conversa telefónica ontem revelada, dirigindo-se ao Procurador
Orlando Figueira
O QUE ANDO A LER
O processo judicial que envolve o ex-presidente do Brasil Lula da
Silva tem tudo para se tornar ainda mais apaixonante. Além disso, é
excelente para monitorizar o que se vai passando por cá.
Por lá, do outro lado do Atlântico, os seus defensores acusam a justiça
brasileira de ter levado a cabo um golpe de Estado. A destituição de
Dilma, a sua sucessora enquanto Chefe de Estado, foi só um pormenor na manobra
para afastar o PT do Governo. Outro pormenor: Dilma tinha sido eleita pelo
povo. E foi destituída por uma tal “pedalada fiscal”.
Lula liderava as sondagens para as eleições de Outubro até há dias quando foi
condenado há uma semana a 12 anos e um mês de prisão. A sentença a que foi
condenado deve impedi-lo de regressar ao Planalto. Por razões legais e não
políticas: as novas sondagens dão claramente a vitória a qualquer candidato
que ele indicar.
Toda esta confusão entre poder político e justiça acontece no Brasil e é o tema
de um longo artigo assinado pelo jornalista brasileiro Fernando Molica na
próxima Revista do Expresso. As ameaças à democracia estão aí. E o fim
destes folhetins pode não ser bonito.
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Expresso Diário, com opinião e análise. Amanhã, o semanário Expresso estará,
como de costume, nas bancas. O Expresso Curto regressa na segunda-feira. Bom
fim de semana!