domingo, 6 de maio de 2018

EUA FORNECEM ARMAS LETAIS À UCRÂNIA


A escalada do conflito e o enterro das esperanças de paz

Arkady Savitsky [*]

Washington confirmou a entrega de sistemas de mísseis anti-tanque FGM-148 Javelin a Kiev. O pessoal ucraniano começa a treinar com as novas armas em 2 de Maio. 

O pacote de ajuda aprovado em Março especificava 210 mísseis anti-tanque Javelin e 37 lançadores Javelin. Desde 2014, os EUA entregaram mais de US$850 milhões para reforçar a segurança da Ucrânia. Embora o National Defense Authorization Act para Ano Fiscal 2018 conceda US$350 milhões para esta finalidade, esta é a primeira vez que Washington entrega armas letais a Kiev. Embarques de rifles Barrett M107A1 vêem a seguir.

A notícia chegou no momento em que a "operação anti-terror" (OAT) na região separatista do Donbas, no leste da Ucrânia, acaba de terminar (em 30 de Abril), para ser substituída por uma operação de forças conjuntas (OJF). Os militares regulares, as forças de segurança (SBU), a polícia, a guarda nacional e o serviço de fronteira ficarão todos sob comando úco . O SBU fora antes encarregado do que está a ser chamado de "lei de reintegração" do Donbas, a qual foi assinada e entrou em vigor no fim de Fevereiro. Os EUA apoiam a ideia de trazer tropas de paz da ONU que serão posicionadas sob os termos exigidos por Kiev.

A partir de agora, as conversações entre Volker e Surkov serão vistas a uma luz diferente, porque Washington já não é um mediador, mas antes um cúmplice que está a atiçar o conflito. Com um apoio tão explícito dos EUA, Kiev redobrará sua solução militar. A corrupção é desenfreada na Ucrânia. Não será surpresa se as armas caírem em mãos erradas e forem utilizadas contra militares dos EUA em algum lugar fora da Europa.

As entregas de armamento são sempre seguidas por instrutores militares que vêm providenciar treino local. Serão gradualmente absorvidos num conflito armado que não tem absolutamente nada a ver com a segurança nacional da América. Afinal de contas, a Ucrânia é uma dor de cabeça europeia. A US Navy já está presenteem Ochakov. Sua presença militar próxima às fronteiras da Rússia não pode passar desapercebida em Moscovo. Washington será responsável pelas consequências. A Rússia não posicionou seus militares junto à fronteira americana. Nem enviou armas para quaisquer vizinhos dos EUA.

Os Javelins foram despachados para um país que foi duramente criticado pelas suas violações dos direitos humanos num relatório redigido pelo Departamento de Estado. Muitas organizações internacionais tocaram a campainha de alarme quanto ao abuso de poder na Ucrânia, a qual se tornou um receptador da ajuda militar americana. Não há nada que responsáveis mais gostem do que dar lições aos outros sobre liberdade, democracia e direitos humanos. Estas são as suas palavras. Entregas de armas letais a um dos mais corruptos países do mundo são os seus feitos. Os Javelins enviado para a Ucrânia incharão o poder dos oligarcas que estão a arrecadar fortunas graças ao seu relacionamento de compadrio com os poderosos. O conflito no Donbas está a ser utilizado para distrair a atenção pública em relação ao agravamento dos problemas internos.

Washington está a fechar os olhos para o abuso de poder naquele país porque Kiev concordou em abdicar da sua própria soberania nacional e permitiu-se ser transformada numa ferramenta da política externa dos EUA. Ela aderiu recentemente a um bloco de três países anti-Rússia e foi recompensada ao ser concedido um status oficial na NATO.

Todo movimento tem consequências. A Rússia pode facilmente fornecer às auto-proclamadas repúblicas no leste da Ucrânia o sistema anti-tanque Kornet , o qual é militarmente superior ao Javelin. A arma russademonstrou-se eficaz no campo de batalha mesmo contra tanques no estado da arte, tal como o Merkava IV israelense. Moscovo pode abastecer aquelas repúblicas com armas e sistemas de guerra electrónica em maiores quantidades pela simples razão de que não tem de despachar esse equipamento através do Oceano Atlântico e de toda a Europa. A agora que os EUA cruzaram a linha vermelha, as mãos da Rússia estão livres.

Em teoria a Rússia poderia reconhecer as repúblicas como estados independentes, uma vez que os acordos de Minsk II foram esquecidos e os preparativos de guerra estão em pleno andamento. Se os seus governos convidarem forças russas, a fim de garantir a sua própria segurança, Moscovo actuará estritamente de acordo com o direito internacional ao concordar com tais pedidos.

Os Javelins não mudarão nada. Estes sistemas de armas não são suficientemente poderosos para dar às tropas ucranianas a vantagem crucial de que precisariam para assegurar uma vitória. Mas o movimento certamente inflamará tensões, tornando piores as vidas dos ucranianos comuns. Eles precisam de reformas políticas e económicas, não de novas armas. A última coisa que os europeus querem é o reinício da guerra na Ucrânia. Mas as armas estão ali. As advertências foram ignoradas e não há como voltar atrás. As repercussões serão destrutivas. A partir deste momento Washington deve arcar com a responsabilidade por tudo o que acontecer de errado.

03/Maio/2018

[*] Analista militar, russo 

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

IMPÉRIO DA HEGEMONIA UNIPOLAR ESTÁ A SOFRER REVESES GEOESTRATÉGICOS NO MÉDIO ORIENTE!


O PROCESSO DIALÉTICA ESTÁ A TORNAR-SE DISJUNTIVO

Martinho Júnior | Luanda  

À medida que a Rússia consegue fazer a Síria vencer sobre o caos, o terrorismo e a desagregação, multiplicam-se as manobras de intoxicação da propaganda e contrapropaganda dos “maus perdedores” (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França, Arábia Saudita, Israel e outras monarquias arábicas, bem como alguns dos membros da NATO)!...

A pista das "fake news" produzidas pela contrapropaganda do império anglo-saxónico relaciona-se com esse “mau perder” e é aí que se inserem as orquestrações de acusação de uso de armas químicas por parte da Rússia e da Síria: sempre que uma ofensiva é bem-sucedida assim surgem esse tipo de medidas de contrapropaganda, de que está especialmente encarregue a Grã-Bretanha, os seus serviços de inteligência e os seus vínculos que advêm do passado do seu próprio império colonial!...

A “aposta” nos falcões de Israel é outra fórmula concomitante desesperada do império da hegemonia unipolar, procurando com isso travar as perdas geoestratégicas e por isso essa "aposta" está intimamente associada às acusações que vão sendo preparadas contra o Irão, quando antes estiveram associadas às “fake news” produzidas pelos serviços de inteligência britânicos sobre a “guerra química” da Rússia e da Síria.

O quadro geoestratégico, como é ainda desfavorável ao império anglo-saxónico da hegemonia unipolar e seus vassalos arábicos em estreita conexão aos falcões de Israel, noutros contenciosos que têm por fundo a guerra financeira global em curso, bem como nos choques em busca de influência (que também recorrem ao “soft power”), evolui para a impossibilidade de, pelos meios convencionados desde o passado, o império conseguir manter a coesão das linhas no continente euro-asiático.

A crispação da Turquia (uma das maiores forças armadas na Europa Oriental) em relação à NATO e à União Europeia, confirma a derrapagem e o desespero da barbárie “ocidental”.

Desse modo os russos podem avaliar quanto os esforços multipolares coligados a si na região em torno da Síria, estão a prevalecer sobre os alinhamentos da hegemonia unipolar!

Ou desistem da hegemonia unipolar, a fim de integrarem a abertura de portas a decisivos investimentos na "Rota da Seda", ou mantendo o império o carácter dessa hegemonia, cada vez menos a aristocracia financeira mundial, consolidada desde a revolução industrial pelos bancos das famílias “transatlânticas”, terão hipóteses de participar nela ao nível das aspirações que “alimentam”!

Os oligarcas alemães demonstram ser outra das rupturas face à perversa teimosia anglo-saxónica que demonstra tão “mau perder”: eles estão mais próximos de assumirem as aspirações de participarem na “Rota da Seda” do que andarem “eternamente” atrelados aos tão flácidos como depauperados músculos carregados de tensões da NATO!


Os fantasmas de Lawrence da Arábia começam-se a esvair e a esgotar, de tanta extravagância, de tanta alienação, de tanta “fake news” e de tanto mau perder!

Martinho Júnior - Luanda, 5 de Maio de 2018

. Foto de Trump em plena dança das espadas: há espadas que são como os “feitiços que se voltam contra os feiticeiros”, escorregam das mãos e acabam por ferir quem tão com tantas contorções dança com elas!
. Foto dos dois cada vez mais vencedores e integradores na Síria: Putin e Assad!
. Foto dos dois mentores da cada vez mais inultrapassável transcontinental “Rota da Seda”: Putin e Xi Jinping.

ESTADO FORA DA LEI | Perigosos jogos de guerra


Manuel Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Tenho, como a maioria dos portugueses e grande parte dos cidadãos europeus, formação pessoal e cultura com forte influência cristã que prezo e valorizo, e respeito os sofrimentos do povo judeu, em particular vividos com o Holocausto. Por isso mesmo senti repugnância perante o inacreditável espetáculo televisivo dado recentemente pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Aquela "apresentação de provas" contra o Irão seria apenas um exercício ridículo de propaganda, de um líder político sem escrúpulos e de um Estado com enormes telhados de vidro, se não representasse mais um passo na escalada dos perigosos jogos de guerra no Médio Oriente.

Segundo informação partilhada na Internet, Israel dispõe atualmente de 440 ogivas nucleares. Tendo-se recusado a subscrever o Tratado de não Proliferação de Armas Nucleares, este país do Médio Oriente desenvolveu um programa nuclear imediatamente após a sua proclamação como Estado e conseguiu, com o apoio secreto da França, produzir as primeiras bombas em 1967. Nada disto é confirmado por Israel, mas também não é desmentido. E nunca foi sujeito a qualquer verificação internacional.

Um país acusado de dispor de um amplo arsenal nuclear secreto resolveu acusar um outro país (o Irão) - que subscreveu um acordo de desnuclearização sujeito a verificação internacional - de desenvolver secretamente um programa nuclear. O que é ainda mais dramático é o facto de a Administração norte-americana se ter apressado a confirmar a veracidade das alegações de Israel. "Agarra que é ladrão", é o que nos ocorre dizer.

Recentemente, a Síria foi bombardeada porque, sem qualquer verificação, se presumiu que teria usado armas químicas. Agora, é ameaçado o Irão, apesar de importantes países e a União Europeia terem valorizado os compromissos que assumiu e alertarem para os perigos de uma escalada belicista na região.

Nada disto faz sentido. As relações entre povos e países, de todas as culturas e credos, têm de assentar no respeito mútuo, na reciprocidade e na igualdade, cumprindo valores universais e princípios éticos, bem como decisões e recomendações de organizações internacionais que a todos deviam obrigar. Israel e em particular o seu povo vivem situações por vezes de forte instabilidade e insegurança, cuja resolução exige que não se façam responsabilizações ou análises a preto e branco. Entretanto, não existem dúvidas nas instâncias internacionais quanto à inadmissível ocupação que Israel faz dos territórios da Cisjordânia e dos montes Golã da Síria, quanto ao ostensivo cerco a Gaza, na Palestina, e à instalação de novos colonatos em oposição às resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia-Geral das Nações Unidas. Com toda a facilidade, Israel bombardeia um país vizinho, recorre à metralhadora para responder a manifestações pacíficas e condena menores a severas penas de prisão.

O Irão está sem dúvida ofensivo nas disputas geoestratégicas de impacto mundial que se movem na região e participa em jogos bélicos ali em curso, mas não ocupa territórios vizinhos. Acrescente-se que tem um regime autoritário, contudo bem mais tolerante e aberto do que o da Arábia Saudita, hoje o grande aliado de Israel de Netanyahu e dos Estados Unidos de Trump, onde os mais elementares direitos religiosos ou das mulheres, por exemplo, são espezinhados.

Face à situação no Médio Oriente, é surpreendente que, em contraste com o que acontece com a península da Coreia, a questão da desnuclearização da região não seja sequer suscitada. Por que razão é tolerável a nuclearização - não confirmada mas não sujeita a verificação - de um país da região? Quem e porquê quer acreditar que as putativas ogivas israelitas estão em boas mãos?

Benjamin Netanyahu é o líder de um partido da extrema-direita, aliado dos fundamentalistas judaicos que assassinaram Yitzhak Rabin e envolvido em enormes escândalos. Por outro lado, Israel comporta-se, amiúde, como um Estado fora da lei.

No que a ogivas nucleares diz respeito, não há mãos confiáveis. Quando vemos personagens tão perturbadoras como Netanyahu, Trump ou Kim Jong-un a jogar com elas, como se de brinquedos se tratassem, mais nos convencemos de que só existe uma solução: o desarmamento.

*Investigador e professor universitário

PORTUGAL | PCP diz que proposta das 35 horas é sua e que pode criar 440 mil empregos


A deputada do PCP Rita Rato defendeu hoje que o agendamento do grupo parlamentar comunista das 35 horas semanais para o setor privado permitirá criar cerca de 440 mil novos postos de trabalho.

"O PCP decidiu agendar, por sua iniciativa, para o dia 18 de maio, a proposta de garantia das 35 horas para todos os trabalhadores, do setor público e privado. É um contributo no âmbito da valorização dos direitos dos trabalhadores, mas também da criação de emprego", disse à Lusa Rita Rato.

A deputada comunista esclareceu que a proposta foi agendada pelo PCP, tendo sido posteriormente arrastado um projeto do PAN, a que outros partidos se podem ainda juntar, como o BE.

No sábado, a coordenadora nacional do BE, Catarina Martins, mencionou numa ação do partido uma iniciativa legislativa para alargar a redução de 40 para 35 horas semanais ao privado.

"Para o PCP, esta é uma matéria essencial, sempre foi, a redução da jornada de trabalho é uma matéria histórica da luta dos trabalhadores. O PCP entendeu agendar neste mês de maio, em que se assinalou o 1.º de Maio. Se outros nos quiseram acompanhar, acompanham sempre bem o PCP", declarou.

De acordo com as estimativas do PCP, esta medida "significaria a criação de cerca de 440 mil empregos para ocupar as mesmas necessidades".

"É uma medida que faz acompanhar conquistas tecnológicas e científicas a conquistas sociais", sustentou Rita Rato.

No sábado, a coordenadora do BE, Catarina Martins, anunciou que os bloquistas irão entregar na próxima semana no parlamento uma iniciativa legislativa para estender ao privado a redução de 40 para 35 horas de trabalho semanais.

O anúncio foi feito na intervenção de encerramento do X Encontro do Trabalho do BE, que decorreu em Lisboa, na qual Catarina Martins disse também esperar a aprovação de uma nova lei para o trabalho de turnos, que se encontra em discussão na especialidade.

"Nada justificaria que ficasse por aprovar nesta legislatura", referiu.

A discussão da iniciativa legislativa para igualar ao privado as 35 horas semanais praticadas na administração pública decorrerá em 18 de maio, especificou Catarina Martins.

Lusa | em Notícias ao Minuto

DESCENTRALIZAÇÃO | Poucochinho!


Afonso Camões* | Jornal de Notícias | opinião

Um famoso político, que aliás terminou a carreira perdendo eleições, achava que a melhor maneira de adiar uma decisão é criar um grupo de trabalho. Ele mesmo ironizava que um camelo é um cavalo desenhado por uma comissão. O político era britânico, mas os portugueses, uns e outros, especializaram-se na aplicação da doutrina. E um exemplo acabado é o da descentralização.

Por mais que façamos de conta, há quem nos tope de longe. Um correspondente da imprensa estrangeira residente em Lisboa reportava, há dias, que "bem pode a França ficar com a fama, mas há poucos países na Europa mais centralizados que Portugal". Apesar do objetivo descentralizador estar inscrito na Constituição e constar dos cardápios eleitorais de todos os partidos, as desigualdades regionais têm vindo a acentuar-se e cavámos mais fundo o fosso na distribuição da riqueza. O rendimento da Área Metropolitana de Lisboa representa 110% da média na União Europeia, mas o do Norte só equivale a 64%, o do Centro, a 68% e o do Alentejo, a 73%. E há a chaga do despovoamento e do abandono da metade interior do país para que só teremos acordado depois das tragédias do último verão.

Aquele aperto de mãos de António Costa e Rui Rio, a selar a "declaração conjunta sobre descentralização", foi um bom sinal, é certamente uma das fotos do ano, mas é poucochinho. Limitou-se, por ora, a criar mais uma comissão, a estabelecer novos prazos e, para aquietar autarcas, assumir o compromisso de que haverá um envelope financeiro que compense a transferência de competências para as autarquias locais. É justo que se pague o que é devido, mas o acordo é omisso quanto à reorganização do mapa administrativo. Da última vez que se mexeu nele, extinguiram-se (por fusão) muitas dezenas de freguesias. Quase sempre bem, quando se tratou de freguesias urbanas, em sedes de concelho. Mas faltou coragem para propor a fusão de municípios, atualizando um mapa político com quase dois séculos. Olha-se para ele e percebe-se que mais de metade dos nossos municípios tem menos de 20 mil habitantes, ou seja, caberiam todos no Estádio do Fontelo, em Viseu. E que um em cada 10, entre os 308 concelhos, tem menos de 5 mil habitantes, menos do que em alguns condomínios de Gondomar ou da Amadora, e até menos que o número de amigos que alguns juntam no Facebook. Ora, insistir em ignorar o território e as distorções do mapa é continuar a atirar dinheiro para cima de um problema sem o resolver, com medo dos votos que ainda representam muitas dezenas de régulos locais e regionais que sobrevivem à custa das suas clientelas.

*Diretor do JN

A Europa pobre está de volta — inclusive nos filmes


“Ciganos de Ciambra”, de Jonas Carpignano, denuncia miséria da vida infantil na Calábria, onde as migalhas da riqueza capitalista são disputadas por italianos, ciganos e imigrantes ilegais africanos

José Geraldo Couto* | Outras Palavras

Crianças e adolescentes indomáveis, crescendo num ambiente hostil, são um tema recorrente nos dramas sociais, e diante de Ciganos da Ciambra muita gente inevitavelmente se lembrou de clássicos como Os esquecidos, de Buñuel, Os incompreendidos, de Truffaut, e Pixote, de Babenco.

Mas o filme de Jonas Carpignano se passa na Itália, berço do neorrealismo, que fecundou praticamente todas as cinematografias do mundo, e talvez fosse mais pertinente lembrar que a infância desamparada e rebelde esteve no centro de grandes marcos neorrealistas, de Vítimas da Tormenta (Vittorio De Sica, 1946) a Alemanha ano zero (Roberto Rossellini, 1948), passando pelo episódio napolitano de Paisà (Rossellini, 1946).

De certo modo trata-se, portanto, de uma volta às origens, a mostrar que o cinema italiano não se diluiu no sentimentalismo de um Tornatore nem na afetação de um Sorrentino.

Escombros de ontem e de hoje

Se os meninos de Rossellini e De Sica se moviam entre os escombros de uma Europa devastada pela guerra, o pequeno cigano Pio (Pio Amato), de catorze anos, é obrigado a se virar num ambiente marcado por outro tipo de conflagração, a criminalidade de um lugarejo da Calábria em que as migalhas da riqueza capitalista são disputadas por italianos, ciganos e imigrantes ilegais africanos.

A numerosa família de Pio (avô, pai, mãe, tios e uma infinidade de irmãos e sobrinhos) sobrevive de pequenos delitos, como o roubo de carros e acessórios. E aqui entra outro procedimento herdado do neorrealismo, a utilização de não-atores: os parentes do protagonista são todos membros da verdadeira família Amato.

O que primeiro chama a atenção, logo no início, é a condição desregrada das crianças, que fumam, bebem, dirigem carros e motos. Um menino de não mais de cinco anos fuma com a maior desenvoltura entre irmãos e primos, na frente da sua casa. Quando sua jovem mãe ou tia esboça intervir, ele diz: “Vou mijar na sua boca”. Ela ri. É desse tipo de violência que trata o filme, mais do que de tiros ou pancadas.

O que impede Ciganos da Ciambra de ser apenas um vívido registro naturalista de uma comunidade pobre, à maneira do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, ou do filme Feios, sujos e malvados, de Ettore Scola, é a dimensão moral, trágica, que adquire a trajetória de Pio. É, em essência, um romance de formação, ou antes de deformação.

Aprendizado tenso

Quando o pai e o irmão de Pio são presos por roubo, o garoto se sente chamado a ocupar o lugar deles no sustento da família, e passa a praticar delitos cada vez maiores. Até sua amizade aparentemente desinteressada com um imigrante de Burkina Fasso (Koudous Seihon) é contaminada no processo.

O aprendizado de vida de Pio (que aliás é analfabeto), suas interações sociais, sua iniciação sexual, tudo isso se dá num quadro de crescente tensão, premido pela necessidade material, pelo ímpeto juvenil e pela vigilância da polícia.

Diferentemente dos clássicos neorrealistas, compostos em grande parte de planos longos de conjunto, com uma profundidade de campo que permitia a formação de um quadro geral das relações entre personagens e destes com o ambiente, em Ciganos da Ciambra quase tudo é captado com uma nervosa câmera na mão, em planos curtos filmados muito perto dos personagens. Corpos e espaços fragmentados, ações truncadas.

A impressão geral é de despedaçamento, instabilidade, incompletude. Assim como a aprendizagem torta de Pio, a vida naquele pedaço pobre do planeta, enclave de Terceiro Mundo no velho e rico continente, segue aos tropeços – e ninguém sabe aonde vai dar.

Em tempo: o filme tem Martin Scorsese como produtor-executivo e o brasileiro Rodrigo Teixeira como coprodutor.

*José Gerado Couto é crítico de cinema e tradutor. Publica suas criticas no blog do IMS. Para ler as edições anteriores da coluna, clique aqui.

200 ANOS DE KARL MARX | "Karl Marx se mantém extremamente atual"


Duzentos anos após seu nascimento e várias revoluções mais tarde, até que ponto permanecem válidas as ideias do pensador alemão? Para o sociólogo Martin Endress, hoje uma análise mais objetiva é possível.

O que Karl Marx tem a ver com o marxismo, leninismo, stalinismo? Até que ponto ele é responsável pela ascensão ou a queda da União Soviética? O nome do filósofo alemão nascido em 1818 e sua obra têm sido repetidamente evocados por revolucionários e ditadores, geralmente de forma muito seletiva.

Segundo o sociólogo Martin Endress, o olhar sobre Marx foi, durante muito tempo, limitado, e só recentemente é possível avaliar sua obra de forma mais objetiva. E é praticamente impossível ignorar quanto suas análises dos sistemas de exploração do trabalho na Europa do século 19 agora se aplicam em escala global.

"O trabalho infantil, que Marx condenava e lutava para que fosse abolido, é algo que conhecemos também hoje em dia, como no caso de empresas têxteis de âmbito global na Ásia ou no Sudeste Asiático. Ali vemos um deslocamento que Marx analisou com precisão em relação ao Ocidente."

Endress é sociólogo na Universidade de Trier. Entre seus interesses de pesquisa estão teoria sociológica, teoria da sociedade, sociologia da confiança e pesquisa da resiliência. Ele é um dos organizadores do Congresso Karl Marx 1818 – 2018. Constelações, transformações, perspectivas, realizado de 23 a 25 de maio de 2018 na Universidade de Trier.

DW: Há quase 30 anos a União Soviética não existe mais. Seus líderes invocavam Karl Marx repetidamente. Com razão?

Martin Endress: Depois de 1989, a "era dos extremos" – como o século 20 foi denominado pelo historiador Eric Hobsbawm – novamente liberou um pouco a nossa visão sobre Marx. Desde então o exame do potencial analítico dessa obra deixou de ser limitado pela até então dominante concorrência de sistemas. Com isso, não estamos acima de toda instrumentalização política das análises de Marx, mas pelo menos é possível evitar o pré-julgamento unidimensional de sua obra. Pois este se baseia essencialmente no que o marxismo, leninismo, stalinismo. e outros totalitarismos como o maoísmo. fizeram de sua obra.

Então, um abuso completo de sua obra?

Claro que há partes difíceis nos escritos de Marx, sem dúvida. No entanto precisamos considerar que, em vida, apenas uma pequena parcela de sua obra foi publicada, e que se lidou com ela de forma intencionalmente seletiva. Hoje sabemos que Friedrich Engels teve uma participação significativa na reformulação dessa obra, especialmente dos trabalhos mais tardios. Mas sobretudo foi aquela primeira geração que – de Karl Kautsky, passando por Rosa Luxemburg, até Lênin – gerou e construiu aquilo que mais tarde, sob o nome de marxismo, numa alusão a posteriori a Marx, provocou distorções políticas do sistema.

A obra de Karl Marx ainda serve para analisar as circunstâncias atuais?

Há dois aspectos que mantêm uma atualidade ininterrupta. Primeiro, a obra de Marx é única na análise das condições de desigualdade social. Se a essa análise se aplica uma terminologia de classes, é, a princípio, totalmente secundário. Marx chamou a atenção, de forma inigualável, para a distribuição desigual das oportunidades e condições de vida.

Em segundo lugar, vivenciamos atualmente formas bem específicas de uma "economização" de nossas relações sociais; uma certa dinâmica do capitalismo que Marx não tinha em mente, mas que pelo efeito penetrante em todas as esferas da vida, se pode analisar de modo bem semelhante ao que Marx fez em sua época.

Uma das frases mais famosas de Marx se encontra noManifesto do Partido Comunista. Ele descreve o processo da evolução capitalista, que na época provocou uma tremenda dinamização das condições de vida. Marx escreveu a respeito: "Tudo o que se referia às ordens sociais e era estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessacralizado, e os homens são finalmente obrigados a encarar com olhos sóbrios sua situação de vida e suas relações recíprocas. " O senhor vê na palavra "finalmente" (endlich) uma alegria secreta em relação a esse desdobramento?

Há um problema na formulação da palavra "endlich". Eu a interpretaria no sentido de "por fim". Marx percebe em torno de si, não tanto na Alemanha, mas sobretudo na Inglaterra, um ritmo de mudança social que ele considera fora do comum e sem precedentes. Por isso, vê que os percursos até então calmos de uma ordem social baseada por condições de vida marcadas por estratos sociais, privilégios de nascença, relações familiares bem definidas, continuariam a se romper. Seus contemporâneos eram confrontados com uma realidade que, por assim dizer, lhes tirava o chão de sob os pés.

Talvez o Manifesto Comunista  possa ser interpretado como uma espécie de atestado da globalização, ou pelo menos de uma confluência europeia. Ele descreve como a tecnologia se desenvolvia, como, por exemplo, ferrovias e redes de navegação se alastravam cada vez mais.

Certo. No entanto o próprio Marx tinha uma consciência muito clara da limitação de suas análises. Há cartas tardias, endereçadas a ativistas russos, onde ele enfatiza que suas análises foram escritas tendo em vista a Europa Ocidental. Marx era absolutamente consciente da complexidade do mundo e, por conseguinte, das limitações de sua própria vivência. Mesmo na Europa, os desdobramentos que ele descrevia eram altamente solitários. Manchester foi tomada como exemplo para a Inglaterra, mas isso era naturalmente um completo exagero. Na época, Manchester era, com sua produção têxtil, um cosmos relativamente solitário na Inglaterra. A Alemanha, de todo modo, estava bem atrasada em relação a essas condições.

E no entanto parece que ele captou bem cedo uma dinâmica que pode ser observada hoje no mundo inteiro.

O trabalho infantil, que Marx condenava e lutava para que fosse abolido, é algo que conhecemos também hoje em dia, como no caso de empresas têxteis de âmbito global na Ásia ou no Sudeste Asiático. Ali vemos um deslocamento que Marx analisou com precisão em relação ao Ocidente. Primeiro, a produção barata é transferida. Depois se desenvolvem ali, como acontece agora na China, polos de produção de maior qualidade, resultando num aumento do nível salarial.

A produção barata então emigra novamente para outras regiões do mundo, ainda mais pobres. Isto é, podemos perfeitamente observar a elevação relativa do padrão de vida enquanto a exploração permanece constante – para usar os termos de Marx. E isso já permite questionar se aquilo que Marx analisou para a Europa Ocidental não pode também ser universalizado em aspectos marcantes, ou seja, se mostra sua relevância numa perspectiva global.

Kersten Knipp (sc) | Deutsche Welle

Foto: Dupla estátua de Marx e Engels em parque em Xangai, China

Crimes contra a humanidade | ENQUANTO OS PARASITAS E CRIMINOSOS PERDURAREM


Corre o texto em baixo sobre a divulgação das "fotos oficiais do terceiro filho de Kate e William, o príncipe Louis." Muito bem, mal. É momento de equacionar esta cimentada tendência de endeusar as tais famílias reais dos cifrões que são reis, príncipes e podres de ricas porque ao longo de milénios roubaram a outros, aos que eles chamam de súbditos. 

Roubaram sistemáticamente e alaparam-se a essa profissão - alegadamente de status superior - que dominou e domina vastamente a humanidade, o planeta. A profissão de reis, de príncipes, de famílias reais. Essas, as tais, que são autoras de enormes atos de assassinios, de terror de populações ao longo da história da humanidade, de exterminio de etnias, de ocupações e chacinas, selváticas e criminosas, praticadas em  continentes, como o asiático e o africano. A fotografia acima não permite que seja desmentida a nocividade e a criminalidade das hostes reais nem da tão apregoada democracia republicana da atualidade. O extermínio dos africanos, de mãos dadas com a permanente exploração mantém-se há imensos séculos. Assististe-se a toda essa desumanidade com gáudio e a exibir os "bens" da Europa e até reis e príncipes que são atualmente quem beneficia do usufruto das selvajarias praticadas em África, dos roubos e das mortandades ainda tão atuais.

Por um lado exibem-se príncipes recém-nascidos, como na foto em cima. Por outro, fazem por esquecer porque são eles príncipes ainda na barriga das mães, enquanto os outros, os súbditos, a plebe nos seus próprios países, são uns desgraçados e na África são uns permanentes miseráveis - fruto dos continuados roubos cometidos pelos tais países ricos, reis, príncipes e corporações.

Para que nunca nos esqueçamos fazemos aqui o lado a lado da abundância de uns poucos por fruto dos roubos a outros, a multidões que mal sobrevivem na miséria por todo o planeta.

Eis mais uns pequenos príncipes que quase que ainda nados asseguram a continuidade na obtenção de fortunas por via das suas atividades parasitárias, criminosas para com a humanidade. Não esqueçamos os outros, que na foto os ladeiam e nos fazem recordar - numa imagem com crianças - a disparidade que continua a existir entre os que roubaram e os que foram e são roubados. Esses tais súbditos e desgraçados permanentes enquanto os parasitas perdurarem. 

Segue-se a notícia, as fotos, que convidam à adulação dos que dominam, exploram e assassinam a humanidade, sem pejo, sem remorsos, através da manipulação e ação psicosocial em que os mídias são principais responsáveis. Este pequeno exercício para os desmascarar tem por prova a própria história da humanidade que cabe em milhentas páginas. (MM | PG)

Divulgadas fotos oficiais do bebé de Kate e William

Foram divulgadas as fotos oficiais do terceiro filho de Kate e William, o príncipe Louis.

Louis Arthur Charles, o quinto na linha do trono britânico, nasceu a 23 de abril com 3,820 quilogramas e foi fotografado ao colo da irmã Charlotte, de três anos.

As fotografias foram tiradas pela mãe, no Palácio de Kensington, sendo a primeira de quarta-feira passada, dia de aniversário de Charlotte, e a última três dias depois do nascimento.

"O duque e a duquesa de Cambridge estão orgulhosos em compartilhar duas fotografias da princesa Charlotte e do príncipe Louis, tiradas no palácio de Kensington. O duque e a duquesa querem agradecer a todos pelas mensagens amorosas pelo nascimento do príncipe Louis e pelo aniversário da princesa Charlotte", diz uma nota do palácio real britânico.

Este fim de semana foi divulgado que Louis não se juntará ao casamento do tio, Harry, e Meghan Markle, a 19 de maio.

Jornal de Notícias

Na foto (montada por PG): Charlotte e Louis – Por Catherine, Duchess Of Cambridge/courtesy Of Kensington Palace/handout Via Reuters | Os da foto de súbditos e desgraçados são anónimas vítimas já do presente e ainda mais do futuro de Charlote, Louis e mais uns quantos das famílias reais e corporações da alta finança, da alta súcia de criminosos que dominam o planeta e os povos.

EMPATE A ZERO NO DERBI DE LISBOA FAZ DO FC PORTO CAMPEÃO ANTES DA HORA


FOI PERDOADO UM PENALTI AO BENFICA EM ALVALADE. O VAR NÃO VIU?

O facto de se ser benfiquista ou de outro qualquer clube desportivo não invalida que vejamos o futebol tal qual ele acontece e houve um penalti por marcar ao Benfica a razar os primeiros 20 minutos do encontro. Foi estranho o chamado VAR (vídeo arbitro) não ter visto. Deduz-se que foi para não matar logo ali a águia que vendeu (dispensou) jogadores cruciais desfalcando a equipa. Rui Vitória nunca o disse mas assim dificilmente seria pentacampeão. Todos o encarnados fizeram os possíveis e os impossíveis para levar o Benfica ao penta… Assim era muito difícil. Depois ainda mais com as lesões ocorridas e Jonas fez a falta crucial para o “não-penta”. Mesmo assim foi feito um bom trabalho, mas o FC Porto foi mais homogéneo, mais constante, mais estável. Mereceu ser campeão.

Quanto ao VAR, voltamos ao mesmo, agravadamente. Como foi possível ele não ver o tal penalti contra o Benfica? É que nos monitores não existem desculpas. Critérios errados por parte do VAR retiram a credibilidade àquela nova modalidade de visionamento e reposição da verdade desportiva. Afinal será mais um árbitro em que não podemos confiar. Porque acontece assim é objecto de justificáveis desconfianças e o VAR não está ali a fazer falta alguma. É só mais um… a falhar.

Segue-se a análise do jogo via Notícias ao Minuto e depois um trabalho apresentado no Expresso em que sobressai Sérgio Conceição. Merecidamente ele. Sigam para o campeão do norte de Portugal, que ainda agora está em festa, mais logo continuará a festa e amanhã será tempo das grandes ressacas de entusiasmo, de alegria, de excessos de felicidade e de… álcool comemorativo. Parabéns e juízo, felizes tripeiros (PG).

Um por um: Dérbi sem golos e sem... 'brilhantismo'

Sporting e Benfica terminaram o dérbi de Lisboa sem golos (0-0), em jogo referente à 33.ª jornada da I Liga.

Odérbi entre Sporting e Benfica terminou com um empate (0-0), entregando o título de campeão nacional ao FC Porto. Apesar da intensidade, faltou eficácia às duas equipas, que não conseguiram concretizar as oportunidades registadas.

Na primeira parte, o Benfica esteve por cima no encontro, com excelentes ocasiões para marcar, mas valeu Rui Patrício a evitar o 'pior'. Já o Sporting, mostrava dificuldades em reagir à superioridade dos encarnados, principalmente, em conseguir ‘furar’ o muro montado com Fejsa, Samaris e Pizzi, no meio-campo.

No segundo tempo, os leões entraram mais organizados e a conseguir adaptar-se à estratégia de Rui Vitória. Com um jogo mais aberto e equilibrado, voltou a falhar a eficácia nas oportunidades criadas pelas duas equipas para desatar o nó do empate, que acabou por se manter até ao apito final.

Confira, à lupa, a exibição dos protagonistas: 

Sporting

Rui Patrício: Neste dérbi, foi ‘São Patrício’. Perante as oportunidades criadas pelo Benfica, o guarda-redes leonino fez várias defesas ‘gigantes’, impedindo que o adversário marcasse.

Piccini: Discreto e assertivo. Cumpriu o seu papel, mas podia ter ajudado mais no capítulo ofensivo.

Coates: O patrão da defesa leonina esteve à sua semelhança, com uma boa organização defensiva.

Mathieu: Tal como Coates, o central francês esteve bem no seu papel, não comprometendo a defesa dos leões, sempre que chamado à ação.

Coentrão: Apesar de ter protagonizado dois remates para o Sporting – um deles com perigo -, deixou um pouco a ‘desejar’ no capítulo defensivo, dando espaço, do lado esquerdo, para o Benfica explorar aquela ala.

William Carvalho: Regressado de lesão, o médio leonino não convenceu. Foi claramente um sinal menos.

Battaglia: Tem sido um hábito as boas exibições de Battaglia. O argentino deu muita luta no meio-campo, seguro de si mesmo.

Bryan: Surgiu no lugar de Acuña, mas sem grande destaque. O costa-riquenho esteve um pouco ‘fora do jogo’.

Gelson Martins: Voltou a ser o ‘espalha brasas’ do costume. Agitou e tentou dar mais dinâmica ao jogo.

Bruno Fernandes: Não foi a noite de maior inspiração de Bruno Fernandes. É verdade que o português não sabe ‘jogar mal’, porém, não conseguiu impor o seu jogo.

Bas Dost: Protagonizou a melhor oportunidade para o Sporting, em cima do intervalo, mas não conseguiu concretizar da melhor forma.

Acuña: O argentino entrou para a saída de William Carvalho (63’) e trouxe mais equilíbrio e dinâmica à equipa, mexendo no jogo.

Misic: Entrou bem (83’), porém, não esteve em campo tempo suficiente para fazer a diferença.

Lumor: Entrou aos 90 minutos, não tendo tempo para acrescentar nada ao jogo. 

Benfica

Bruno Varela: Com menos trabalho do que Rui Patrício, Bruno Varela também esteve bem na partida. Concentrado em impedir as investidas leoninas.

Grimaldo: Cumpriu bem a tarefa defensiva, sem comprometer a equipa.

Rúben Dias: Esteve bem na partida mas continua com algum excesso de ‘agressividade’ na abordagem a alguns lances. Podia ter visto o cartão vermelho.

Jardel: Regressou à titularidade numa noite tranquila. Falhou, apenas, no lance de Bas Dost, em cima do intervalo.

Douglas: Surgiu no lugar do lesionado André Almeida, ofensivamente registou uma exibição bastante positiva, mas falhou no capítulo defensivo.

Fejsa: Sinal mais do Benfica. O jogador concentrou-se, sobretudo, em impedir que o Sporting saísse a jogar.

Samaris: O grego apareceu, a espaços, na tarefa ofensiva das águias. Manteve uma exibição constante.

Pizzi: Continua sem ‘convencer’, esta temporada, sem conseguir acrescentar nada de especial ao jogo.

Zivkovic: Tentou fazer a diferença no jogo, principalmente, em velocidade. Tentou criar oportunidades para oferecer o golo ao Benfica.

Rafa: Registou uma exibição positiva, com uma forte dinâmica e intensidade. Tal como Fejsa, foi um dos destaques do Benfica.

Jiménez: Esteve ‘apagado’, não conseguiu ‘explodir’ como necessário.

Salvio: Contrariamente aos últimos jogos, o jogador ‘saltou do banco’ mas não conseguiu melhorar o capítulo da eficácia.

Jonas: Regressou de lesão, mas não teve tempo para fazer a diferença.

Cervi: Entrou muito perto do apito final, sem tempo para impor o seu jogo.

Andreia Brites Dias | Notícias ao Minuto | Foto: Global Imagens


FC PORTO JÁ É CAMPEÃO 2017/18

O homem que derrotou o mundo

Agora que é campeão e que pode discutir a continuidade nos seus próprios termos, é tempo de recuperar e refletir sobre o que se disse e se escreveu a propósito deste treinador

Fomos todos particularmente preconceituosos nos adjetivos que pusemos a Sérgio Conceição quando se tornou evidente de que seria ele, e não Marco Silva, o sucessor de Nuno Espírito Santo no Porto.

Não foi por mal.

Na realidade, foi sempre assim.

Na bola costumamos irremediavelmente praticar aquilo que na lógica se chama generalização precipitada, ou seja, concluir rapidamente que fulano é assim e assado, porque fez precisamente isto e aquilo e mais um par de botas.

No caso de Sérgio, ainda assim, havia algumas atenuantes para as análises estouvadas que se escreveram, incluindo as minhas - o homem tem, de facto, o sangue quente e há vários episódios efervescentes que o provam. Como qualquer corporativista devidamente doutrinado, irei generalizar uma vez mais sobre o que se disse a partir daquela quinta-feira, 8 de junho de 2017, dia da oficialização.

A saber:

Sérgio era difícil de aturar e chateara-se com os presidentes da Olhanense, da Académica, do Guimarães e do Brago, e isso era muito.

Sérgio tinha jogado pelas melhores equipas e nos melhores estádios e havia inclusivamente um estádio com o nome dele em Coimbra, o que não era para todos - ah, e marcara três golos à Alemanha no Euro2000, o que é para ainda menos.

Depois, Sérgio era portista; bom, Sérgio fez-se portista, porque nasceu numa família pobre e numa vizinhança e numa aldeia profundamente sportinguistas, mas isso passou-lhe quando assinou pelo FC Porto pela primeira vez, em 1996. No dia seguinte a tornar-se oficiosamente portista, o pai morreu num acidente de moto, na moto em que costumava levá-lo aos treinos quando era puto - pouco depois, faleceu a mãe e a orfandade enrobusteceu-lhe o caráter e a rebeldia. Nesse momento, falou-se então, Sérgio ganhou o direito a dizer que tudo o que conquistou, foi à conta dele. O que era verdade.

Mas também era verdade que Sérgio, por ter mau feitio, mau perder, garra, por se chatear por dá cá aquela palha e por ser rebelde, não aguentava muito tempo no mesmo sítio.

Ora, o Porto, sem dinheiro e sem títulos há não sei quantos anos, estava mesmo a pedi-las quando foi contratar um tipo destes, só carisma e pouco mais, ainda por cima sabendo ele que não era a primeira opção do seu presidente favorito.

Só que no meio deste chorrilho de certezas irresistíveis, esquecemo-nos de alguns pormenores, a começar por este: Sérgio Paulo Marceneiro Conceição. Três nomes bíblicos e uma profissão amigada à do pai de Cristo não são um acaso, mas um sinal.

Pois então, Sérgio, como um carpinteiro de habilidades sobrenaturais, pegou em meros toros de madeira que já ninguém queria, ou que queriam à força, e transformou-os em obras de arte tosca, sim, mas irresistivelmente eficaz. E, então, apareceram Marega a marcar golos em série como se fosse um ponta de lança prodigioso - que não é -, Danilo a subir no terreno feito médio de condução - que também não é - e Brahimi a defender as costas de Telles em jeito de sacrifício - que não fazia, antes de Sérgio aparecer na vida dele.

Chegámos todos à conclusão de que Sérgio Conceição era um mestre motivacional, ainda que por estas bandas já cá houvesse um de semelhantes características. E quando ele errou, também todos lhe anunciámos prematuramente o fim. Aconteceu quando o Porto perdeu contra o Besiktas ou contra o Paços de Ferreira ou contra o Liverpool, e, sobretudo, quando o caso-Casillas se tornou tema de conversa, servindo de paradigma para o treinador dito conflituoso e über rigoroso.

Na altura, Conceição não quis abrir exceções e arriscou o pescoço, pois o espanhol era (e é) factualmente o jogador com maior currículo que alguma vez pisara um pedacinho de relva em Portugal; mais importante do que isso, Casillas era bem melhor do que José Sá.

Mas Sérgio lá provou que estávamos todos errados, demonstrando-nos que era muito mais do que um xamã da estirpe macho lusitano. Vimos isso na forma como mexeu na equipa nos jogos contra os grandes para a Liga e na forma como mexeu com todas as conferências de imprensa em que participou.

Agora que se sagrou campeão, discute-se a sua continuidade no Porto. Não porque alguém o ponha em causa, mas porque ele é um rebelde de causas. Tendo ganho esta, poderá escolher outra, nos seus próprios termos. Também conquistou esse direito.

PEDRO CANDEIAS | Expresso

Tática e estratégia: o modelo de Sérgio Conceição que deu o campeonato ao FC Porto

A atacar, a defender e a transitar - o analista de futebol Tiago Teixeira explica como é que o FC Porto de Sérgio Conceição jogou e conquistou a Liga 2017/18

Desde o primeiro jogo oficial desta época (vitória por 4-0 contra o Estoril, no estádio do Dragão) que Sérgio Conceição demonstrou qual o modelo de jogo que queria implementar no seu FC Porto, e de que maneira esse modelo podia potenciar as características individuais dos jogadores que dispunha.

Vamos por partes.

MOMENTO DEFENSIVO

Organizado em 4-4-2, foi durante toda a época um FC Porto bastante competente no momento defensivo, tanto a nível individual (muitos duelos ganhos) como a nível coletivo, não permitindo aos seus adversários criar muitas oportunidades de golo durante os 90 minutos.

Em bloco baixo ou médio, a equipa de Sérgio Conceição apresentou-se com as linhas bastante juntas, coordenadas e posicionadas para orientar a construção do adversário para os corredores laterais.

A 1ª linha de pressão é composta pelos dois avançados, sempre posicionados em diagonal para não deixar o médio defensivo adversário receber a bola nas suas costas. A linha média tem os dois médios centro também na diagonal para diminuir o espaço entre linhas e proteger o espaço à frente dos dois centrais, e os dois extremos sempre articulados com os médios, preocupados em fechar o corredor central quando a bola se encontrava no lado oposto.

Em bloco alto, isto é, quando quis condicionar a primeira fase de construção do adversário, foi sempre um FC Porto muito agressivo e muito competente na maneira como pressionou.

Numa primeira linha pressão, os dois avançados sempre a pressionarem os dois centrais adversários e um dos médios a acompanhar o médio adversário que recuava para receber a bola perto dos centrais, para que este não recebesse a bola com espaço.

Mais atrás, uma linha de três (o médio defensivo e os dois extremos) posicionada no corredor central, sendo que os dois extremos se encontravam sempre preparados para pressionar os laterais adversários caso a bola chegasse a eles.

MOMENTO OFENSIVO

Não se pode dizer que tenha sido um FC Porto muito criativo no seu processo ofensivo durante a presente época, mas é inegável que na maior parte dos jogos os portistas foram extremamente fortes naquilo que o seu treinador definiu para o momento ofensivo.

Uma capacidade tremenda para conquistar o espaço nas costas da linha defensiva adversária através dos movimentos de rutura da dupla de avançados e a muita presença e agressividade em zonas de finalização para corresponder aos cruzamentos foram, juntamente com as bolas paradas, as grandes armas do FC Porto a nível ofensivo.

A ideia de Sérgio Conceição passou sempre por ter os laterais muito projetados de modo a darem largura e profundidade ao ataque do Porto e com isso permitir que os extremos se posicionassem no corredor central para receber a bola entre linhas e servir os movimentos de rutura dos avançados, como aconteceu neste lance que serve de exemplo.

Alex Telles a dar largura no corredor lateral esquerdo e Brahimi posicionado no espaço entre os defesas e os médios adversários. Assim que Brahimi recebeu a bola e se virou para a baliza adversária apareceu logo o movimento de rutura de Marega, que recebeu a bola já nas costas da linha defensiva adversária.

Mesmo nas situações em que Brahimi recebia a bola ainda com os médios adversários pela frente, a procura dos movimentos de rutura dos avançados é uma constante. No lance que serve de exemplo, apesar de Brahimi ainda ter à sua frente a linha média e a linha defensiva adversária, procurou logo servir Marega nas costas dos defesas do Marítimo.

Também em transição foi um Porto demolidor sempre que houve espaço nas costas da linha defensiva adversária. Brahimi foi sempre a principal referência para conduzir as transições (qualidade em condução e perceção do momento para soltar a bola).

Recebia a bola e conduzia para depois servir os movimentos de rutura dos avançados nas costas da linha defensiva do adversário.

Com o adversário num bloco mais baixo, o FC Porto foi sempre uma equipa muito perigosa através dos cruzamentos. O posicionamento mais interior dos extremos (principalmente Brahimi) permitiu várias vezes que os laterais (principalmente Alex Telles) recebessem a bola com espaço e tempo suficiente para cruzar. Além da qualidade de execução de quem cruzava, a ideia de Sérgio Conceição passou sempre por ter vários jogadores agressivos e fortes nos duelos aéreos (Soares, Marega, Abubakar) em zonas de finalização, o que acabou por se revelar determinante para a marcação de vários golos através de cruzamentos.

A dimensão física esteve muito presente no futebol praticado pelo FC Porto durante a época e apesar de alguns acidentes de percurso (houve jogos em que faltou mais criatividade e inteligência em vez de tanta velocidade e força), não há como negar que o FC Porto foi bastante competente dentro do estilo de jogo que Sérgio Conceição definiu como identidade.

Posto isto, parabéns ao Futebol Clube do Porto pela conquista do campeonato!

*TIAGO TEIXEIRA, ANALISTA DE FUTEBOL E CRIADOR DO BLOGUE DOMÍNIO TÁTICO | Expresso |Imagem: Gualter Fatia

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