quinta-feira, 21 de junho de 2018

Os "euroinómanos" já não podem ocultar a decomposição da UE


Jacques Sapir

A União Europeia está em decomposição. Doravante isto tornou-se uma evidência. Os discursos estabelecidos e os fingimentos daqueles que os nossos amigos italianos chamam de "euroinómanos" mascaram cada vez pior esta decomposição. Desde a semana passada este processo entrou numa nova fase de aceleração.

Muito claramente, a questão dos "migrantes" desempenhou o papel de um detonador. Sobre esta questão somam-se efectivamente os erros políticos, um discurso com pretensão moral que se verifica ser fundamentalmente moralista e uma enorme hipocrisia. Tem-se a prova com o caso Aquarius, este navio fretado pela ONG SOS-Méditerranée. Mas, no fundo, esta questão apenas reflecte as contradições internas que se desenvolveram no seio da UE. Num certo sentido, pode-se pensar que raros são os dirigentes que ainda "acreditam" numa UE federal, ainda que o nosso presidente se agarre desesperadamente a este mito.

Esta decomposição poderia conduzir a uma explosão da UE, assim como também poderia conduzir à sua evolução para uma zona comercial com regras flexíveis, organizada em torno de diversos círculos de cooperação definidos por projectos e problemas particulares. Mas, qualquer que seja a solução, e mesmo que o nome "União Europeia" devesse sobreviver, é claro que esta não seria mais a UE tal como foi imaginada e posta em prática desde a votação do famoso "Acto Único" de 1986. Assistimos à derrocada de mais de trinta anos de "construção europeia".

Um processo bastante avançado 

Impõe-se um balanço das transformações, antigas e recentes, que se verificaram na União Europeia. Muito se falou do Brexit, votado em 2016, que alguns esperavam inverter por não se sabe qual trapalhice "legal". Ora, com a votação recente no Parlamento britânico, uma votação em que a sra. Theresa May sobrepujou a facção pró UE [1] , está claro que o Brexit se verificará. O Reino Unido deixará portanto a União Europeia em 29 de Março de 2019 à meia-noite do continente [2] . As eleições gerais ocorridas nestes últimos seis meses, na Hungria e na Áustria, mas também na Eslovénia, levaram (ou mantiveram) no poder governos claramente eurocépticos, que desejam uma modificação profunda das regras da UE. Finalmente, a acção do actual governo italiano, resultante de uma coligação entre o M5S e a Lega levou a por à luz estas contradições.

Foi o resultado da decisão do ministro do Interior italiano, sr. Matteo Salvini, de recusar ao navio Aquarius fretado por uma ONG o direito de desembarcar migrantes recolhidos que provocou o escândalo. As boas almas levantaram-se contra esta decisão. Mas por um lado esta respeitou o direito internacional marítimo [3] e o facto de a ONG em causa não ter atacado o governo italiano o testemunha e, por outro lado, os casos de urgências humanitárias foram respeitados. Apesar de declarações muitas vezes bombásticas, o sr. Salvini aceitou que as mulheres grávidas e as pessoas gravemente doentes fossem desembarcadas e as Guardas Costeiras italianas continuam suas missões de salvamento. O Aquarius, que é regularmente seguido pelos aviões de reconhecimento marítimo italianos e franceses, nunca correu o risco de afundar e é escoltado por um navio da Guarda Costeira italiana, o que é reconhecido pela própria SOS-Méditerranée [4] .

Hipocrisias franco-alemãs

Portanto, o que está em causa é uma política caracterizada por uma cegueira ao real e uma imensa hipocrisia que é o feito de a UE, mas também da Alemanha e particularmente da França. É esta hipocrisia atribui à Itália o peso quase exclusivo da acolhida dos "migrantes" nestes últimos três anos.

O recuo do presidente francês, sr. Emmanuel Macron, que – depois de ter denunciado a atitude da Itália mais em termos de moral do que em termos políticos [5] – foi obrigado a baixar o tom sob pena de ver anulada a reunião que teve esta sexta-feira 15 com primeiro-ministro italiano, é significativo. Declarando que convinha separar a política da emoção, ele voltou a uma política mais razoável, mas ao preço de uma humilhação internacional. A reunião portanto pôde verificar-se e os dois dirigentes exibiram um acordo ainda mais cordial por se saber que estiveram à beira da crise [6] .

Ao mesmo tempo, esta crise entrou na Alemanha onde Angela Merkel foi obrigada a chegar a termos com o seu próprio ministro do Interior, sr. Horst Seehofer. Este último, apoiado por uma maioria dos deputados da CDU-CSU, deseja que a Alemanha faça um acordo com a Grécia e a Itália sobre a questão dos migrantes, um acordo que permitiria à Alemanha rejeitar todos os migrantes não registados previamente. Isto é muito embaraçoso para a sra. Merkel, que vai ser obrigada a pedir o seu acordo tanto a Alexis Tsipras como a Giuseppe Conte. Muito claramente, a sra. Merkel saiu enfraquecida desta crise.

Igualmente, sabe-se de uma reunião dos três ministros do Interior da Alemanha, da Áustria e da Itália sobre a questão da imigração ilegal. Isto mostra a vontade dos governos de se coordenarem. Mas, e isto não escapará a ninguém, trata-se de uma coordenação inter-governamental entre Estados soberanos, coordenação que contorna alegremente os procedimentos e os hábitos da UE e que, provavelmente, porá as suas regras em causa. Sinal dos tempos?

Para além da questão dos migrantes

Isto poderia levar a acreditar que a questão dos "migrantes" esgota a ordem do dia da UE. Ainda que este assunto tenha um lugar efectivamente importante, ele entretanto está longe de ser o único. O governo italiano, sempre ele, acaba de anunciar que proporia ao Parlamento não ratificar o CETA, o tratado de Livre Comércio assinado entre o Canadá e os países da UE [7] . Uma decisão que a prazo poderia provocar a anulação deste tratado. Sabe-se que este último era muito contestado, e não sem boas razões, tanto do ponto de vista do direito dos consumidores como das preocupações ecológicas e também jurídicas. Este tratado previa a substituição do direito dos Estados por cortes de arbitragem comercial. Além disso, esta decisão do governo italiano é contraditória com a vontade da Comissão Europeia de decidir, em lugar e em substituição dos Estados, sobre as questões comerciais. Trata-se portanto da reafirmação da função principal, e fundadora, da soberania dos Estados que está aqui em causa. A decisão tomada pelo governo italiano constitui portanto uma pedrada no charco, ou antes na capoeira de Bruxelas. Além disso, o governo italiano deu a entender que se poderia opor à renovação das sanções contra a Rússia [8] . Aqui ainda trata-se de uma decisão tomada por consenso. Se um país rompe este consenso, outros se seguirão.

Como se vê, as questões económicas e comerciais têm um papel destacado no processo de decomposição da UE. Um processo que foi salientado pela decisão da Alemanha de recusar a maior parte das propostas feitas pelo presidente francês, Emmanuel Macron [9] . A publicação recente pelo OFCE [Observatoire français des conjonctures économiques] de um texto sobre o papel deletério do Euro em relação às economias tanto francesa como italiana confirma-o [10] . De facto, constata-se que o "casal franco-alemão" não existe, a não ser nos delírios dos editocratas franceses. As formas tomadas pelas "narrativas" da crise engendrada pela Itália [11] , em primeiro lugar as escandalosas manchetes da imprensa alemã mas também as palavras extremamente mordazes que Emmanuel Macron havia utilizado, são ao mesmo tempo um sintoma da decomposição da União Europeia, mas constituem também uma das suas causas. Doravante é evidente que a UE não "protege" e não favorece a paz ou o entendimento entre os povos. Trata-se mesmo exactamente do contrário. 


O retorno da soberania das nações 

Esta decomposição da UE é um processo de longo prazo, engendrado pelas contradições internas desta instituição e também pela sua incapacidade crónica de se reformar de outro modo que não sejam modificações marginais. Neste contexto, o gesto de Matteo Salvini a propósito do Aquarius, quer se aprove ou não, provocou uma cisão importante. Mostrou que um país podia libertar-se das regras da UE e demonstrar ao mesmo tempo a inexistência da "soberania europeia", este mito tão caro a Emmanuel Macron, e a existência da sua própria soberania.

Este gesto terá consequências. Ele contribui para devolver aos italianos uma confiança no governo do seu país e nas capacidades deste. Isso é importante quando se avizinham outros confrontos, em particular sobre as questões económicas. Mas este gesto também é importante para os outros países da UE. Pois se a Itália pode recuperar sua soberania, ela pode num momento de crise decidir que é ela a fixar a ordem do dia dos problemas a tratar assim como a natureza das soluções, o que é uma definição da soberania, e outros países reterão a lição. Poderíamos muito bem assistir, nos próximos meses, uma aceleração do mencionado processo de decomposição. Ao mesmo tempo, este acto de recuperação da soberania não tem nada de incompatível com a busca de cooperações, em que os parceiros podem ser escolhidos e já não serão impostos por Bruxelas. Desenham-se então os contornos de uma outra forma de organização da Europa, uma forma pós União Europeia, mas que não poderá se afirmar senão quando constatada publicamente a morte desta última.

16/Junho/2018

[1]  www.bbc.com/news/uk-politics-44456035
[2]  www.business.hsbc.fr/...
[3]  www.ouest-france.fr/...
[4]  www.lefigaro.fr/international/...
[5]  www.huffingtonpost.fr/2018/06/12/...
[6]  www.huffingtonpost.fr/2018/06/15/...
[7]  www.lesechos.fr/monde/europe/...
[8]  www.lefigaro.fr/...
[9]  www.romandie.com/news/926189.rom
[10] Villemot S., Ducoudré B., Timbeau X., "TAUX DE CHANGE D'ÉQUILIBRE ET AMPLEUR DES DÉSAJUSTEMENTS INTERNES À LA ZONE EURO", in, Revue de l'OFCE, n°156 (2018)
[11]  www.ft.com/content/087e3a12-6b1e-11e8-8cf3-0c230fa67aec

Ver também: 

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/

PAGAR O FASCISMO | “Não há como expulsar da UE países fascistas”


Isabel Moreira lamenta que estejamos todas e todos a pagar o fascismo na União Europeia. Parlamento húngaro aprovou ontem lei que castiga quem ajudar imigrantes.

A deputada socialista Isabel Moreira comentou esta quarta-feira o panorama europeu, numa altura em que a Hungria aprovou uma lei polémica (‘Stop-Soros’) que penaliza quem ajuda imigrantes.

Sublinha a deputada que o artigo sétimo do Tratado de Lisboa – apelidado de “bomba atómica, apesar de não prever a expulsão de estados-membros - “não serve para arreliar a Polónia e a Hungria”.

“Para lhes retirar direitos é necessária unanimidade e estes dois países protegem-se mutuamente”, constata, sublinhando que estamos “todas e todos a pagar o fascismo”. “Não há como expulsar da UE países fascistas”, lamenta.

Recorde-se que o Parlamento húngaro aprovou esta quarta-feira, precisamente no Dia Mundial do Refugiado, a polémica lei 'Stop-Soros' que castiga com um ano de prisão quem ajudar imigrantes em situação irregular, nomeadamente refugiados e requerentes de asilo.

Melissa Lopes | Notícias ao Minuto

O racismo e a xenofobia avançam na União Europeia


O fascismo aproveita-se da democracia para se impor e, sempre que pode, avançar. Isso é evidente por toda a Europa e vimos na Itália – país mais a ocidente – a receita parecida com os países de leste que aderiram à EU e que ainda há pouco anunciaram “que não vão participar na minicimeira europeia sobre migrações que se realiza no domingo em Bruxelas.” 

Neste caso o boicote refere-se a Hungria, Eslováquia, Polónia e República Checa. Existem contudo mais países a comungar daquele tipo de racismo, de xenofobia, de fascismo, leis e procedimentos desumanos que violam os princípios e valores por que a União Europeia se regula.

É evidente a falta de coerência e de força estatutária dos órgãos da UE e países democráticos e humanistas da contra os que não cumpram os valores e regras humanitárias, praticando e legislando com evidência a propagação da xenofobia e do racismo. Afinal essa é a causa por que a intolerância e o fascismo alastra sem contenção, principalmente vindo de países de leste, e já afeta outros países europeus. O caso de Itália é flagrante e o da Alemanha ou de França são motivo de preocupação. Na UE tem de haver leis que regulem a admissão dos países e os expulsem como no caso de países manifestamente totalitários. Fascistas. Cresce a urgente necessidade de expulsar os que nada têm que ver com a UE e seus valores elementares ou a decomposição será inevitável a médio prazo.

Atualmente já estamos a assistir ao fim da UE e ao regresso à soberania dos estados, o que agradará a bastantes.

A notícia que melhor esclarecerá os que fazem questão de acompanhar a deterioração da  UE, da democracia, da perda de soberania e o regresso ao fascismo, racismo e xenofobia está já a seguir e pode ler… para acreditar. (PG)

Quatro países de leste vão boicotar minicimeira europeia

Os países do Grupo de Visegrado - Hungria, Eslováquia, Polónia e República Checa -- anunciaram hoje que não vão participar na minicimeira europeia sobre migrações que se realiza no domingo em Bruxelas.

"A minicimeira de domingo é inaceitável, não vamos participar, querem requentar uma antiga proposta que já recusámos", afirmou o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, após uma reunião com os homólogos húngaro, eslovaco e checo.

Morawiecki criticou ainda que o encontro tenha sido convocado pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, porque é o presidente do Conselho Europeu, Donald "Tusk o responsável pela organização das cimeiras".

"Não participaremos porque isso é contrário aos costumes da União Europeia", acrescentou.

"Os países membros do Grupo de Visegrado consideram que o diálogo sobre migrações é da competência do Conselho e não da Comissão", afirmou também o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban.

Os dirigentes dos quatro países reuniram-se hoje em Budapeste com o chanceler da Áustria, Sebastien Kurz, e, segundo Orban, acordaram reforçar a defesa das fronteiras externas da UE.

Juncker convidou na quarta-feira nove países da União Europeia para uma "reunião de trabalho informal", no domingo, sobre migrações, um dos temas centrais da cimeira europeia de 28 e 29 de junho.

A Comissão anunciou a participação dos líderes da Alemanha, França, Espanha, Grécia, Itália, Áustria, Bulgária, Bélgica e Holanda, mas frisou que a reunião é aberta a participação de todos os Estados-membros que manifestem interesse.

A reunião é vista como uma manifestação de apoio à chanceler alemã, Angela Merkel, pressionada pelo aliado de coligação CSU a obter dos parceiros europeus um endurecimento das regras em matéria migratória.

Segundo um projeto de documento de trabalho citado pela agência France-Presse, a reunião deverá terminar com um compromisso para acelerar a transferência dos requerentes de asilo para o país pelo qual entraram em território europeu e a criação de um "mecanismo de solidariedade eficaz" com uma repartição obrigatória dos refugiados pelos países membros, uma proposta que os países de Visegrado recusam categoricamente.

Lusa | em Notícias ao Minuto

EUA | Não são jaulas, apenas “campos de férias”


Em Washington tenta-se pôr água na fervura e remendar uma política de imigração que não agrada a ninguém e está a gerar uma contestação e emoção crescentes por todo o mundo, devido à medida das autoridades norte-americanas de separar as crianças dos pais ou outros familiares que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

A acusação formal de todos os ilegais que passam a fronteira dos EUA começou em abril. Seguiu-se a separação das famílias e, com as primeiras imagens, a opinião pública mobilizou-se. Uns defendem a prática, recusando comparações com os nazis, outros não só a comparam às políticas de Hitler como às dos próprios norte-americanos quando criaram campos de internamento para japoneses, durante a Segunda Guerra Mundial.

Mais de dois terços dos norte-americanos têm vergonha do que está a passar-se na fronteira sul com o México, onde cerca de duas mil crianças foram separadas dos pais, todos eles imigrantes ilegais, enquanto as autoridades processam as suas entradas.

As imagens dos menores a dormir no chão em celas que mais se assemelham a jaulas foi a gota de água que fez transbordar um copo que se encheu aos poucos, fruto do paulatino endurecimento das políticas de integração.

“Isto não é o Texas que eu conheço”, confessa ao Expresso Dora Saavedra, que, desde domingo, não arreda pé da entrada do centro de acolhimento de McAllen, naquele estado do sul do país. “O que estamos a fazer enquanto nação é infligir enorme sofrimento nestas crianças e nos seus pais”.

James Wegman, assessor do senador republicano Ben Sasse, resumiu-nos o sentimento coletivo dos aliados políticos da Casa Branca: “É errado! A América não retém crianças como se fossem reféns, ponto.”

Esta terça-feira, dois outros senadores conservadores, Susan Collins e Jeff Flake, escreveram uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pedindo que pare com o método. Até à hora de fecho desta edição, ainda não tinham recebido qualquer resposta.

Desde abril, todos os indivíduos apanhados a tentar passar a fronteira de forma clandestina são acusados formalmente, uma política batizada tolerância zero. Esta atitude contrasta com a que foi levada a cabo nos 15 meses anteriores, quando mais de 100 mil pessoas foram capturadas, mas depois libertadas, entre elas 37 mil jovens.

Trump afirma que o antecessor, Barack Obama, fez o mesmo. Por exemplo, no verão quente de 2014, quando se bateu o recorde de entrada de ilegais, a U.S. Customs and Border Protection (USCBP) reteve 68 mil menores e segundo o magnata nova-iorquino “muitos deles” acabaram naquelas jaulas.

Gil Kerlikowske, democrata e antigo chefe da USCBP, agência responsável pela fiscalização da fronteira, defendeu-se terça-feira, durante uma entrevista à rádio pública (NPR). “Nos casos em que esses mesmos menores foram acusados de trazer drogas, sem dúvida que as famílias acabaram separadas.”

UM ALERTA COM MAIS DE UM ANO

Independentemente da troca de acusações, a verdade é que o anúncio da detenção de todos aqueles que ousem entrar nos EUA ilegalmente, assim como a inevitável separação das famílias, ocorreu há mais de um ano.

Nessa altura, o general John Kelly, então líder do Department of Homeland Security (Departamento de Segurança Interna, organismo criado após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001), hoje chefe de Gabinete da presidência, avisou: “Sim, considero a possibilidade de separar os menores dos seus pais, de maneira a acabar com os movimentos no interior dessa terrível organização”.

Kelly referia-se à teoria de que há membros do gangue MS-13 infiltrados nas vagas de clandestinos. O receio deve-se ao facto de, ao longo dos últimos anos, aquele grupo ter espalhado o terror em algumas das maiores cidades americanas - Nova Iorque, Los Angeles, Miami, etc..

O seu colega de Executivo Jeff Sessions, ministro da Justiça, também defendeu a decisão. Em declarações à Fox News, acrescentou que a medida “pretende dissuadir entradas ilegais e reafirmar princípios básicos de um Estado de Direito. Todos os que quiserem entrar, devem fazê-lo pelas vias legais”.

Porém, desde que a política de tolerância zero foi posta em prática, o fluxo migratório manteve-se. Todos os meses, calcula-se que mais de 50 mil pessoas passam ilegalmente do México para os EUA, ao longo de um corredor sinuoso de cerca de três mil quilómetros entre San Diego, na Califórnia, e Loredo, no Texas. O processamento cadastral de todos eles é quase impossível, indicam ao Expresso vários advogados especializados em lei de imigração.

SOLUÇÃO PROCURA-SE

Mesmo assim, Trump insiste que “os Estados Unidos não se tornarão um campo de refugiados”. De forma mais elaborada, o seu diretor de assuntos legislativos, Marc Short, reconheceu à rádio pública de Boston (WBUR) que “há uma crise na fronteira”, mas que “cabe ao Congresso resolver o problema, visto que a Casa Branca não gosta de soluções binárias (deportação ou simples libertação)”.

Num discurso em Nova Orleães, na terça-feira, a sucessora de Kellly à frente do DHS, Kirstjen Nielsen, também colocou o foco no Congresso. “Há muita consternação e francamente desinformação por parte de congressistas, jornalistas e ativistas, alegando que o DHS está de forma intencional a fazer coisas desumanas, cruéis e imorais. Não estamos a fazer nada disso. Estamos a cumprir a lei emanada do Congresso. Mudem a lei e nós mudaremos também”.

Nielsen explicou depois a complicada trama legal. “Não podemos manter as crianças com os seus pais de acordo com uma decisão do tribunal, datada de 2015. Ou libertamos pais e filhos, prática levada a cabo pela anterior Administração e que ditou a anarquia, ou o menor e o adulto serão separados na sequência do processamento da entrada do mais velho”.

Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara dos Representantes, negou responsabilidades, esclarecendo que “não é um assunto de política de imigração. É uma questão humanitária”.


HITLER E OS “CAMPOS DE FÉRIAS”

Perante as críticas contra a política de tolerância zero, Sessions insistiu em cerrar fileiras. Na segunda-feira, desmentiu que as separações forçadas se assemelhem às políticas de Hitler, visto que “os nazis proibiam os judeus de regressar”.

Laura Ingraham, estrela da Fox News e putativa secretária de Imprensa, optava pelo mesmo tipo de comparações coloridas, revelando que os centros de acolhimento para menores “no fundo, são campos de férias”.

“Enojada”, Laura Bush, antiga primeira-dama, já tinha traçado um outro paralelo histórico num artigo de opinião publicado no “The Washington Post”, mas desta vez para arrasar o comportamento da Administração. “Estas imagens são reminiscentes dos campos de internamento para japoneses nos EUA, criados durante a Segunda Guerra Mundial.”

A este propósito, o Expresso conversou durante alguns minutos com May Yamaoka, uma dessas vítimas de um pesadelo com mais de 75 anos, e registou que as memórias do cárcere ainda a consomem. “Foram tempos de exceção. Era uma criança e os meus pais tinham um alvo na testa. Mesmo com o fim da guerra, a discriminação continuou. Não quero acreditar que iremos repetir a mesma fórmula tanto tempo depois”.

O MURO

A propósito do pedido de Nielsen, ou seja da alteração da lei de Imigração, note-se que a proposta da Casa Branca está congelada na Câmara dos Representantes. A causa do impasse relaciona-se com dois pontos fundamentais: muro na fronteira com o México e legalização dos “Dreamers”, os menores que entraram ilegalmente com os pais no início deste século e que obtiveram um estatuto legal provisório graças a um despacho assinado por Barack Obama.

Trump e o Freedom Caucus (movimento de extrema direita no Congresso, com raízes no movimento Tea Party) pretendem a edificação da barreira no sul do país, enquanto a oposição democrata e o “establishment” republicano (núcleo conservador do Partido) se opõem de forma mais ou menos clara.

Antecipa-se que o preço a pagar por uma legalização dos “Dreamers" (cerca de dois milhões, 55 deles portugueses) seja, por isso, a construção desse mesmo muro.

“Do ponto de vista político, Trump julga que o muro e as detenções irão beneficiá-lo junto dos republicanos. No caso das separações forçadas, há um documento que circula na Casa Branca provando que a Administração acredita que, ao deter estes pais, aqueles que se preparam para iniciar viagem irão pensar duas vezes e desistir”, diz ao Expresso Paul Miller, professor de Ciência Política na Universidade do Texas.

Até ao final desta semana, prevê-se um longo debate na Câmara dos Representantes em torno da alteração da polémica lei. Existem duas propostas e ambas têm o apoio de Trump, que mesmo assim irá sempre “ler e avaliar antes de assinar”, recordou ontem.

“É a semana da imigração”, ironiza James Wegman. “Vamos ver o que dá, mas duvido que haja progressos”. Miller concorda. “É um problema sem solução”.

Ricardo Lourenço, correspondente nos EUA | Expresso | Fotos: Getty

EUA E TRUMP, OS TERRORISTAS DAS CRIANÇAS LATINOAMERICANAS


Crianças em jaulas, separadas dos país, é o terrorismo dos EUA de Trump e dos norte-americanos que têm mais genes de tendências criminosas do que humanista. Não há sombra de dúvidas. E esses, eles e elas existem por toda a parte. E invadem o mundo com os seus crimes. E saqueiam países e povos. São o país que ao longo da sua curta história mais tem assassinado a população mundial… No entanto, todos esses criminosos são tratados com reverência e salamaleques. Nesta administração Trump as evidências ainda são mais flagrantes.

São principalmente os sul-americanos as grandes vítimas dos EUA no continente americano. Do que mais se tem falado é das crianças daqueles que procuram atravessar a fronteira sul do país, pais com filhos à procura da “terra prometida”, correndo o risco da ilegalidade ao pretender imigrar desse modo… Uma boa parte do mundo tem repudiado as ações terroristas dos EUA para com as crianças enjauladas e separadas dos país detidos. Outra parte, racista, fascista, xenófoba, desumana remete-se ao silêncio ou usa pretextos diplomáticos para ser extremamente hipócrita. Outros são transparentes e apoiam Trump  concordando com a desumanidade e manifestam-se. É o mundo em que vivemos, quer dizer: em que dificilmente os pobres sobrevivem.

Curiosamente publicámos no PG, ontem, um artigo com vídeo de um trabalho de Amanda Holpuch, no The Guardian  e traduzido pelo Outras Palavras. O título: “Ainda se encarceram crianças, no século 21?”. Se quiser leia. Um trabalho acompanhado de vídeo que, se bem reparar, passado umas horas de ter sido publicado no PG foi ‘esvaziado’ – concretamente foi censurado. Mais grave ainda porque o mesmo aconteceu no Youtube. Por atitudes destas bem podemos perceber o mundo em que sobrevivemos e o que é esta pseudo liberdade e pseudo democracia do chamado ocidente ‘humanista e evoluído’. Adiante.

O Curto que trazemos aqui a seguir aborda à sua maneira o tema e o crime EUA de enjaular crianças. Nem tecemos mais considerações sobre o que sentimos e pensamos, preferimos convidar os interessados para ler o Curto e saudar o verão de treta que hoje começou. Tenha um resto de dia feliz, se conseguir… ( CT | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

No fundo, são jaulas

Pedro Santos Guerreiro | Expresso

Ensina-se que tudo tem dois lados, que o mundo não se divide entre bons e maus, que a realidade não é preto e branco, que no meio está a virtude, que por um lado há sempre por outro lado. E depois aprende-se que há assuntos sobre os quais não pode haver relativização. Chame-lhe direitos humanos, se quiser, mas chame-lhe também política.

O mesmo Donald Trump que ordenou separar crianças dos seus pais na fronteira dos Estados Unidos com o México, e que disse estar apenas a aplicar a lei, afirma agora que o grito lançado contra ele “é uma distração” criada pelo partido Democrata. Sim, “distração”, disse ele, atacando Hillary Clinton.

Trump muda de assunto e tem milhões de apoiantes, como vão mostrando manifestações e estudos de opinião nos EUA. “A política cruel de Trump para as fronteiras criou uma crise desnecessária”, escreve Richard Wolffe no The Guardian. “Está longe de acabar”. Apesar do recuo, “não estamos prestes a ver uma política humana substituir uma política desumana”.

Sim, é “um recuo”, depois do choque e protesto. Os Estados Unidos vão deixar de separar crianças dos pais imigrantes na fronteira, mas a política de “tolerância zero” é para continuar. E um ministro de Trump recusou as comparações com os nazis da seguinte forma: “Na Alemanha eles queriam evitar que os judeus partissem”.

Nos Estados Unidos, foram usadas jaulas para crianças, que personalidades como Laura Ingraham, putativa secretária de Imprensa, desvendaram com gentilezas como esta: “no fundo, são campos de férias”.

“Mais de dois terços dos norte-americanos têm vergonha do que está a passar-se na fronteira sul com o México, onde cerca de duas mil crianças foram separadas dos pais, todos eles imigrantes ilegais, enquanto as autoridades processam as suas entradas”, conta o correspondente do Expresso nos Estados Unidos. “As imagens dos menores a dormir no chão em celas que mais se assemelham a jaulas foi a gota de água que fez transbordar um copo que se encheu aos poucos, fruto do paulatino endurecimento das políticas de integração.”

“Os norte-americanos foram confrontados com a ignomínia e obrigados a ver os rostos e a ouvir as vozes da crueldade do seu governo”, escreve Daniel Oliveira no Expresso Diário, que pede à esquerda e à direita que não se acobardem. “Querem derrotar Trump, Salvini e a AfD? A resposta é proteção social, emprego e regulação económica.”

Aqui ao lado, o “Aquarius” já zarpou de Valência para regressar às águas internacionais frente à Líbia, depois do acolhimento por Espanha daqueles que Itália recusou receber. O nosso continente está desunido e Pedro Sánchez já estabeleceu como prioridade reforçar a relação de Madrid com Paris e Berim, escreve o El Pais. O presidente do governo espanhol estará com Macron no sábado e com Merkel na próxima semana.

Como escreve Cristina Peres, “Angela Merkel é a diplomata do momento”: desde segunda-feira que a líder do país que mais migrantes e refugiados recebeu e recebe na União Europeia anda numa roda viva. “A tarefa é tentar convencer os líderes europeus a remendarem com ela os rasgões no tecido comum provocados pelas punhaladas dos eurocéticos”. Na Alemanha, “o ministro do Interior e parceiro de coligação mostrou que pode enfrentá-la, impondo-lhe um prazo desconfortável para que resolva a crise que mais divide os Estados-membros”.

“Como é possível não vermos e não temermos o abismo que se abre diante de nós?”, pergunta Henrique Monteiro. É possível que não o vejamos? Ou temamos?
OUTRAS NOTÍCIAS
No debate quinzenal ontem no Parlamento, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia mostraram-se desconfiados da relação do Governo com o PSD: deles veio o tom mais duro com o Governo. O PEV quis saber se Costa contava com o PSD para aprovar as leis laborais; o PCP comparou o PS à coligação de direita e ao FMI.

Já o Bloco de Esquerda nem tocou nos temas complicados no debate quinzenal desta quarta-feira, um dia depois de se terem reunido com Costa por causa do orçamento. “António Costa teve uma tarde parlamentar facilitada pelo BE e pelo PSD”, analisa o editor do ExpressoO Bloco diz que a convergência com PCP foi importante, mas quer ser força de Governo em 2019.

António Costa rejeitou o desafio de Assunção Cristas para debater sobre Habitação. Depois de uma discussão acesa no Parlamento, a líder do CDS Cristas lançou o desafio, mas o primeiro-ministro foi seco na resposta: "Pode fazer o debate com as pessoas que têm sido vítimas da lei dela".

“Seria um suicídio o PSD inviabilizar o acordo de concertação social", defende José Silva Peneda, coordenador do partido para a área da Solidariedade, na Renascença.

Rui Nunes, o primeiro candidato a anunciar a candidatura à liderança da maior distrital do PSD, afirma que há “um clima de medo” junto dos militantes nas eleições da Distrital do PSD Porto, marcadas para 30 de junho.

Por dentro da queda da Mossack Fonseca. A investigação dos Panama Papers prossegue, com uma nova fuga de informação, com documentos recentes que revela como houve pânico e caos dentro da operadora de offshores depois da primeira vaga de notícias, em 2016.

O Turismo do Porto e Norte de Portugal, o Sporting de Braga e o Vitória de Guimarães foram alvo de buscas da Judiciária. Em causa estão suspeitas de corrupção envolvendo entidades e empresas que, nos últimos anos, realizaram contratos com o Turismo do Porto. Melchior Moreira, presidente do organismo, é um dos cinco arguidos.

Os procuradores que investigam Manuel Pinho e EDP sofrem nova derrota. O Tribunal da Relação pronunciou-se desta vezdando razão ao juiz de instrução criminal Ivo Rosa, que decidiu invalidar qualquer prova obtida com uma pesquisa informática abrangente no processo do Ministério Público sobre o BES.

A Altice vendeu as torres de telecomunicações de Portugal e de França por 2,5 mil milhões de euros. No caso português, são 2961 torres vendidas por 660 milhões de euros, ficando 75% na posse da Morgan Stanley Infrastructure Partners, onde participa o fundo português Horizon Equity Partners, de Pires de Lima e Sérgio Monteiro.

A CMVM enviou dez processos de investigação criminal para o Ministério Público em 2017. O regulador do mercado de capitais concluiu 20 processos de investigação no ano passado, a maioria relacionados com suspeitas de abuso de informação privilegiada. O relatório anual da CMVM foi ontem publicado.

“Para fazer um penico é preciso um estudo de impacto ambiental”, ironiza Fernando Carpinteiro Albino, gestor da marca Cereais do Alentejo, que se queixa da burocracia. E deixa o alerta: “O ano até acabou por ser de chuva, mas o problema da falta de água é estrutural”. Se nada for feito, vamos ter repetidamente problemas na agricultura. O

Lisboa saberá esta noite se será a "Capital Verde Europeia" em 2020. O DN explica a candidatura.

Lisa Marie Presley perdeu a fortuna: 85 milhões ficaram reduzidos a 12 mil euros. A filha de Elvis Presley apresentou queixa contra o ex-manager, alegando que este lhe esvaziou a conta.

Em Angola, João Lourenço exonerou três oficiais generais das casas de Segurança e Militar do Presidente da República. Um foi o tenente-general Leopoldino Fragoso do Nascimento (“Dino”), um dos maiores empresários do país e próximo de José Eduardo dos Santos.

Voltará a Grécia a financiar-se nos mercados? Mário Centeno espera que sim. Hoje, o Eurogrupo, que o ministro português preside, reúne-se no Luxemburgo para discutir um pacote de medidas que seja considerado “credível” pelos mercados financeiros, de modo a abrir caminho a uma saída “limpa” em agosto do terceiro resgate da Grécia.

A esclerose lateral amiotrófica, doença neurológica degenerativa rara e sem cura, afeta cerca de 800 pessoas em Portugal e 70 mil em todo o mundo. O Expresso relata aqui “O teorema da singularidade das mentes livres condenadas à prisão do corpo”

Trabalhou no Expresso, deixou-nos esta semana: Lucília Santos “vai fazer falta a muita gente”, escreve Francisco Pinto Balsemão, num texto de despedida.

Morreu Fernando Guedes, ex-presidente da Sogrape e um dos primeiros enólogos portugueses. Em homenagem, a AEP recorda“a figura de grande relevância de um dos maiores empresários portugueses das últimas décadas”.

No desporto, começamos pelo que não é desporto. A comissão de gestão do Sporting foi impedida de trabalhar em Alvalade. Segue-se queixa e auditoria às contas.

Os olhos estiveram no entanto durante a tarde de ontem na Rússia. Portugal ganhou 1-0 a Marrocos e a Tribuna Expresso, que está a acompanhar tudo do Mundial de Futebol, publica a informação, as crónicas e as contra-crónicas:

“Valeu-nos (outra vez) o nosso G.O.A.T.”, Ronaldo, ou como se explica aquele princípio de barbicha do jogador português. A seleção ganhou mas aflita, o que revelou alguns problemas: maus posicionamentos e demasiadas bolas longas na frente. Olhos ainda noutro jogador, “João Pequeno”. “Depois disto, ainda não percebi se precisamos da Susana Torres ou de um exorcista”, desabafou Um Azar do Kralj. Já Lá em Casa Mando Eu diz que “Pepe foi fintado na área e não espetou um pontapé nas trombas que iria parar com aquela brincadeira”. E Diogo Faro fala da “Segurança Social, o tajin marroquino, o Miguel Ângelo dos Delfins e as versões dos plágios de Tony Carreira”.

Dois outros jogos de ontem são importantes para Portugal. Espanha ganhou 1-0 ao Irão (A crónica: “O Diego Costa de sempre na vitória de duas caras da Espanha”.) E o Uruguai bateu a Arábia Saudita. (“Mais uma bola parada a decidir um jogo parado”.)

FRASES

“A decisão de regressar à semana de 35 horas foi uma promessa política irresponsável que colocou em causa a prestação de cuidados de saúde”. João Vieira Pereira, no Expresso Diário.

“Fará sentido Portugal rejeitar alguns milhões de passageiros por ano porque o aeroporto de Lisboa, nomeadamente, tem a capacidade mais do que esgotada?” Pedro Santana Lopes, no Negócios.

“Somos dos países onde menos se lê: só compramos 1,3 livros por ano”. Francisco José Viegas, no Correio da Manhã.

“A cultura não evita guerras nem debela conflitos estruturais, mas acentua em todos nós a responsabilidade de sermos humanos e de fazermos dessa condição a ponte que nos permite evitar os caminhos de fogo, de medo e de cinza para os quais a vida e o mundo tantas vezes nos empurram sem remissão ou remédio”. José Jorge Letria, no DN.

O QUE EU ANDO A LER

Numa daquelas banquinhas de pechinchas da Feira do Livro de Lisboa apanhei “Nostalgia do Absoluto”, um conjunto de textos de conferências de George Steiner proferidas 1974 (da Relógia d’Água). É um pequeno grande livro, que se lê de uma penada, que parte de uma premissa: a de que a erosão da teologia deixou o Ocidente seco de um sistema de pensamento que procurou substituir com outras “mitologias”.

“A história política e filosófica do Ocidente ao longo dos últimos 150 anos poderá ser vista como uma série de tentativas (…) de preenchimento do vazio central deixado pela erosão da teologia”, escreve Steiner, que desenvolve uma análise do marxismo e da psicanálise precisamente como “substitutos” com uma suposta mas não confirmada validação científica.

O livro, escrito pouco depois do 25 de abril, dá aliás o exemplo do nosso país: “Caso amanhã, ao abrirmos o jornal, descobríssemos que o golpe português tinha sido uma fraude, ou que fora, na realidade, financiado por sinistras forças da Direita, ou que estava a ser esmagado, ficaríamos tristes e amargurados”. Ao abrir o jornal, Steiner não se desiludiria.

Tenha um excelente dia. A primavera vai-se despedindo com calores de trovoada.

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