O Expresso Curto sem delongas da
nossa parte. Fogos gregos e feministas. Os da Grécia quase iguais aos de
Portugal em 2017. Elas quase iguais aos machistas de sempre. Venha o diabo e
escolha. Pronto. Ficam todos na mesma prateleira dos conceitos, das taras e das
manias. Ponto. (PG)
Bom dia este é o seu Expresso
Curto
O que têm em comum algumas
feministas portuguesas e o incêndio na Grécia
Miguel Cadete | Expresso
O incêndio em Attica, a este de
Atenas, provocou 81 mortes,
segundo
a última contagem das autoridades gregas. Neste momento, as forças de
segurança preocupam-se em encontrar os desaparecidos.
Ignora-se,
porém, o real número de pessoas sem paradeiro conhecido, pois muitos
podem estar entre as vítimas mortais do incêndio ou tão só terem recolhido às
suas casas sem avisar as autoridades. O jornal grego “Ekathimerini” diz
apenas que se tratam de dezenas de pessoas.
Há mais dados factuais que confirmam as semelhanças entre este incêndio e os
dois que sucederam, o ano passado, em Portugal. O número de mortes pode,
por isso, chegar aos três dígitos, disse o presidente da Câmara de
Rafina-Pikermi, que acrescentou que a cidade de Matti se encontra
destruída em 98% da sua totalidade; existindo uma segunda localidade, Kokkino
Limanaki, que foi devastada pela metade. Dos 187 feridos, há 11
que se encontram hospitalizados em estado grave. Uma tragédia para a qual
foram anunciadas ajudas de cinco mil euros a todas as famílias
transtornadas, seis mil euros para as que têm três ou mais crianças
no agregado familiar e oito mil euros para cada negócio afetado.
Foram igualmente anunciadas isenções fiscais para os proprietários de
habitações seriamente danificadas. O ministro dos Transportes e Infraestruturas
identificou
200
casas completamente destruídas mas as equipas que estão no terrenos
contaram 211 habitações sem qualquer utilidade além de247 que estarão
seriamente danificadas. Em Mati, encontraram ainda 125 carros
carbonizados.
São inúmeros os exemplos publicados na imprensa portuguesa que comparam os
fogos que sucederam em Pedrógão e este que nos últimos dias tomou conta de
várias povoações na Grécia, como se pode ler no “Observador”. À distância
de um ano vale mais a pena retirar lições do que apontar culpados nestas
parecenças. Foi o que fez
Daniel
Oliveira, ontem, no Expresso Diário: “Somos a Grécia porque vivemos no
mesmo planeta que irremediavelmente destruímos, porque a Europa mediterrânea
está na linha da frente dos efeitos do aquecimento global e porque chegámos
historicamente atrasados ao desenvolvimento”.
Ao falhanço do Estado e, portanto, à política há que assacar responsabilidades.
Mas leva o bom senso a crer que a natureza não deve ser totalmente
colocada de parte, como também sublinhou
Filipe
Duarte Santos em entrevista ao “Público”, citada por DO no Expresso.
Segundo este professor universitário licenciado em Geofísica e doutorado em
Física Nuclear, o futuro, por essas mesmas razões, não será brilhante: “O que
se está a observar é uma maior frequência de ondas de calor em todo o mundo.
Nos países do Sul da Europa, da região do Mediterrâneo, também observamos um
clima mais seco. A combinação dessa secura com temperaturas mais elevadas é que
conduz a um maior risco de incêndios florestais. O que podemos esperar para o
futuro é um agravamento dessas tendências, porque as alterações climáticas
estão a progredir.”
É obrigatório pois prevenir, planear e produzir mais e melhor mas nem tudo está
ao alcance de um decreto.
OUTRAS NOTÍCIAS
Termina hoje o prazo que o Ministério da Educação impôs aos professores para
ser concluído o processo das avaliações – que foi mais demorado devido a
greves. Os diretores das escolas já fizeram saber que
a
maioria das reuniões para finalizar a atribuição de notas terminou
ontem. Para hoje sobram casos pontuais.
Macron estará amanhã em Lisboa. De manhã o Presidente francês irá à
Gulbenkian para uma “consulta cidadã” (segundo nota ainda provisória do
Eliseu), almoça com o primeiro-ministro e, da parte da tarde, participa
num
encontro sobre interconexões energéticas onde também estará presente,
além de António Costa, o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, além
do comissário europeu responsável pela pasta da Ação Climática e Energia, Miguel
Cañete. Desta cimeira resultará uma conferência de imprensa.
Também na sexta-feira deverá ser conhecido o novo proprietário da Herdade
da Comporta. Um dos concorrentes, o consórcio que junta os donos da
Portugália ao inglês Michael Holyoake acusou outro, aquele que junta o Grupo
Amorim ao francês Claude Berda, de
“deturpações
e falsidades”. Paula Amorim e Berda são acusados de “falsidades” por terem
declarado que a oferta de Holyoake e a Portugália seria pior por considerar a
aquisição de créditos da empresa DCR&HDC. Porém há um empate técnico. Ao
“Jornal de Negócios”, Francisco Carvalho Martins, da Portugália, acrescentou a
sua proposta é
“totalmente
independente do BES”, repudiando assim qualquer ligação ao grupo de Ricardo
Salgado, antigo proprietário dos terrenos.
Na
capa da revista “Visão” que chega hoje às bancas, pode ler-se que já há
dez arguidos entre os proprietários de habitaçõespor terem feito obras sem
as devidas autorizações. Beirão da Veiga, o aristocrata Louis-Albert de Broglie
(que é outros dos concorrentes à compra da Comporta) ou Albina du Boisrouvray,
madrinha da filha da princesa Carolina do Mónaco, são alguns dos nomes sonantes
que fazem parte do rol de arguidos.
Toupeira do Benfica acedeu 385 vezes a dez processos que se encontram em
segredo de justiça. Segundo o Expresso Diário, os juízes deram razão,
neste caso, ao Ministério Público mantendo José Silva – a toupeira – em prisão
preventiva.
O
suspeito é acusado dos crimes de corrupção, violação do segredo de Justiça,
favorecimento pessoal, peculato e acesso ilegítimo.
Trump e Juncker acabam com a guerra das tarifas. O Presidente da Comissão
Europeia e o Presidente dos EUA divulgaram medidas que visam atenuar a batalha
comercial recentemente aberta. Ainda que vagas, essas medidas têm impacto na
agricultura, indústria e energia.
Donald
Trump chegou a falar em zero tarifas alfandegárias para as trocas
entre a União Europeia e os EUA, com excepção do ramo automóvel.
FRASES
“Sim, somos a Grécia: estamos no mesmo planeta que destruímos, no mesmo sul da
Europa cada vez mais seco e entramos nesta guerra com o mesmo atraso político,
administrativo e económico. Sim, somos a Grécia: temos de nos preparar para
isto num tempo em que se impôs a ideia de que as sociedades são mais eficazes
se tiverem um Estado mais minguado e fraco. Sim, somos a Grécia com Costa ou
Passos, Tsipras ou Samarás”. Daniel Oliveira no
Expresso
Diário de ontem
“Temos deixado o primeiro-ministro à solta. Cometeríamos um erro político enorme
se formos percecionados como uma muleta do PS”. Luís Montenegro, do PSD
mas opositor de Rui Rio, em entrevista à TVI
“Não devemos ser capatazes do Governo”. Rui Moreira, Presidente da Câmara
Municipal do Porto, ao “Observador”
“Com décadas de atraso na cronologia do politicamente correcto, a esquerda
portuguesa lá descobriu que os portugueses foram grandes esclavagistas. Ainda
há uns anos, o tema era a ‘lusofonia’, ideia nascida de uma falácia: o caráter
especial do nosso colonialismo. E aqui convém frisar que o moderno nacionalismo
português (e a sua associação ao colonialismo) é uma invenção da esquerda. Já
leram o Eduardo Lourenço dos anos 50, 60 ou mesmo 70?” Henrique Raposo no
Expresso
Diário
“Um casal de homossexuais que se beijava num local público foi agredido por um
conjunto de ciganos que por ali passava. Dúvida tribalista: Defendemos os
homossexuais? Condenamos os ciganos? A resposta mais comum dos adeptos,
propagandistas e sicários destas causas foi um eloquente silêncio”. Henrique
Monteiro no
Expresso
Diário de ontem
O QUE ANDO A LER
Em fevereiro de 2016,a Revista do Expresso fez
capa
com Camille Paglia, incluindo no seu interior uma extensa entrevista com a
controversa feminista norte-americana.
A
conversa com Alexandra Carita terminava com Paglia a falar de si
própria. Disse que era perita a sintetizar o seu pensamento em frases
bombásticas: “o que digo torna-se uma máxima. É o que faz de mim perigosa”.
Descontando alguma sobranceria, ela é na verdade um perigo, pois as suas ideias
radicam na liberdade de pensamento e na liberdade de expressão. A sua obra “Mulheres
Livres, Homens Livres”, que a Quetzal acaba de publicar com tradução de Helder
Moura Pereira está carregado de petardos quase todos dirigidos à atual geração
de feministas.
Ando dois anos para trás para voltar à capa da Revista do Expresso onde estavam
reproduzidas algumas das suas respostas. “O feminismo não tem o direito de se
intrometer na vida privada”, “Estas mulheres querem que o mundo seja tão seguro
como a sala de estar dos seus pais” ou “O género tem uma base biológica
incontornável”. O seu feminismo, nascido na contracultura norte-americana, está
no polo exatamente oposto daquele que hoje tem maior divulgação. As frases
citadas e muitas outras pareciam, à partida, achas para fogueira das redes
sociais. Porque mais do que controversas, são polémicas e têm impacto em todos
nós de uma forma – diria – quase primária.
O que se seguiu foi o silêncio. Das redes sociais e de tudo o mais. Talvez
hoje, passados dois anos, com a publicação de “Mulheres Livres, Homens Livres”,
as ideias de Paglia tenham mais ressonância. Até porque as circunstâncias
radicalizaram-se como demonstrou a resposta de um conjunto de associações
contra a violência doméstica e agremiações ditas feministas a uma petição
que pretende alterar a lei para que a guarda partilhada e a residência
alternada sejam aceites realmente como a norma no caso de pais divorciados.
A esse respeito foram notáveis os dois textos entretanto publicados por Luís
Aguiar-Conraria (
She for
he? e
Críticas
razoáveis, mentirosas e inacreditáveis), além de um terceiro de Daniel
Oliveira na edição de sábado do Expresso (
Não
me divorciei da minha filha). A sua importância está no facto de
desmascarar a ideia de que algumas das correntes vigentes do feminismo
pretendem a equidade. A assunção, à partida, de que todos os homens são
culpados de violência doméstica, de forma a manter a lei tal como está, é
facilmente desmontada para quem tem horror ao totalitarismo.
Exatamente na mesma linha do que escreve Camille Paglia no capítulo “A Guerra
dos Sexos”: “a teoria feminista”, diz na página 183, “tem sido
grotescamente injusta para com os homens ao recusar reconhecer a forma
extraordinária como a grande maioria deles tem cuidado das mulheres e das
crianças. As lamentáveis exceções têm sido usadas pelas teóricas feministas
para culpabilizar todos os homens, quando a verdade é que ao longo da história
da humanidade eles contribuíram heroicamente, com a sua energia, o seu trabalho
e até com a própria vida, para beneficiar e proteger as mulheres e as crianças”.
É sobretudo nas mulheres de classe média e classe média alta que esta guerra
dos sexos existe – Camille Paglia frisa que os estados mais pobres dos EUA, em
que homens e mulheres trabalhavam em tarefas físicas de sol a sol, foram os que
mais cedo aceitaram o voto universal. Depois de uma digressão pelo
feminismo que censurava primeiro o alcoolismo (e que ajudou à
consagração Da Lei Seca) e mais tarde a pornografia, conclui que já “no
final do século XX, a confusão no que diz respeito à sexualidade é enorme, em
parte devido à homogeneização dos papéis profissionais no âmbito da classe
média, que podem ser desempenhados por ambos os sexos em plano de igualdade.”
Granada atrás de bombinha, Paglia destrói o neo-feminismo que descartou completamente
o factor biológico e a relação coma natureza. E ela, lésbica, mãe de um filho
de 14 anos gerado biologicamente pela sua mulher, não podemos considerar uma
fanática do conservadorismo.
Por hoje é tudo. Toda a
informação será atualizada no Expresso online. Às 18 horas chega o Expresso
Diário. Amanhã, pela mesma hora, estará por cá a Paula Santos, para em estreia
absoluta servir uma bica escaldada.