terça-feira, 31 de julho de 2018

Macron caceteiro | Da repressão ao escândalo de Estado


Rémy Herrera

Nos últimos meses, a repressão anti-social subiu vários degraus na França. O estado de emergência, substituído em Novembro de 2017 por uma lei antiterrorista, tem muito a ver com isso. Mas é sobretudo a multiplicação das lutas dos trabalhadores, em muitos sectores da sociedade, que explica a extensão das operações policiais e militares. 

Até há pouco, as oposições visíveis ao presidente da República Emmanuel Macron vinham da rua, dos sindicatos e do povo mobilizado, muito mais do que da classe política e dos media. Tudo isso mudou em 18 de Julho após a explosão do "caso Benalla". Bastaram três dias para fazer com que o Eliseu passasse da euforia da vitória da equipe francesa na copa do mundo de futebol para um sismo de amplitude política inimaginável.

Os mesmos media que haviam servido como máquinas de guerra para eleger o candidato Macron como chefe de Estado lembram hoje ao presidente que o seu poder executivo se limita ao de executante dos desejos dos grandes capitalistas. No Parlamento, o choque provocado por este "caso Benalla" conseguiu fundir a direita tradicional (os republicanos) e aquilo a que chamarei de "nova direita" (os resíduos da social-democracia) ao lado da extrema-esquerda ( France insoumise e Partido Comunista) e da extrema-direita (ex- Front National, agora Rassemblement national ) numa oposição generalizada contra Macron.

Mas do que se trata neste "caso"? Em 18 de Julho, vídeos datados do 1º de Maio último começam a circular na Internet mostrado um homem com capacete – que se verificará ser o adjunto do director do gabinete do presidente Macron, Alexandre Benalla – a interpelar e bater um casal jovem junto à manifestação da Festa dos Trabalhadores em Paris. Benalla revela-se brutal – à semelhança de numerosas operações de repressão –, mas ainda ostenta insígnias das forças da ordem, quando ele não é nem polícia nem militar. Ele é apenas um guarda-costas, confiante e brigão, mas muito apreciado por Macron que o havia recrutado durante a sua campanha eleitoral e depois o promovera no seu gabinete presidencial.

Sabe-se então que com apenas 26 anos de idade e não tendo outra formação senão aquela recebida no trabalho do serviço de ordem do ex-Partido Socialista, Benalla teria beneficiado de privilégios: promoção ultra-rápida, remuneração confortável, porte de armas obtido por procedimento não regulamentar, atribuição de um apartamento nos bairros elegantes da capital... Alguns destes favores eram manifestamente exorbitantes: hábito de dar ordens a polícias e militares, porte de braçadeira das forças da ordem, livre acesso à Assembleia Nacional, "contactos amistosos" na prefeitura de polícia que lhe transmitiu os registos de câmaras de vigilância que o põem em causa... Além disso, o gabinete de Macron pretende tê-lo imediatamente sancionado pelo seu excesso de zelo... sem que quaisquer traços dessas sanções fossem encontrados. Benalla continua a deslocar-se com o presidente, recebe seu salário, mantém seus privilégios...

Os slogans da campanha que prometiam uma "República exemplar" dão lugar à suspeita de criação de uma polícia paralela (ilegal, "privada") obedecendo ao presidente da República. Frente às explicações reclamadas por todos, Macron e seu governo, atordoados, permaneceram mudos durante vários dias. Foram necessárias às oposições dez horas de batalha parlamentar para suspender os debates sobre a reforma constitucional (pretendida por Macron, pois destina-se a dotá-lo de poderes ainda mais vastos do que aqueles, imensos, de que já dispõe) e para constituir uma comissão de inquérito. Perante esta comissão, o ministro do Interior veio dizer que não sabia de nada, enquanto um desfilar de altos funcionários acrescentava que eles tão pouco sabiam muito mais.

Não é de admirar: tudo se passava no Eliseu. Foi preciso esperar uma semana (de caos) antes que Macron interviesse. Ele o fez à sua maneira, feita de provocações, dizendo em substância: "Sou o único responsável. E quem o quiser, que me venha me!" Procurá-lo? Mas aqueles que conhecem as instituições políticas francesas sabem bem que a Constituição da V República protege poderosamente a pessoa do Presidente da República. De facto, o que declara Macron, como um pequeno fantoche de finanças, é que aplicará a força, que fará aplicar a vontade dos seus mestres capitalistas desafiando todos os contra-poderes: parlamento, media, manifestações populares...

Algumas vozes (não parlamentares) pedem a sua destituição. Duas moções de censura contra o governo foram apresentadas na Assembleia Nacional. O "caso Benalla", ainda em curso, sujou profundamente – e oportunamente – a imagem de Macron tanto no país como no estrangeiro. Daí, preparar em melhores condições os trabalhadores para o futuro retorno de lutas sociais, em Setembro! 

- Na foto e no vídeo: Benalla

29/Julho/2018


Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ 

Europa pode não ter saída, senão se adaptar ao calor


O que hoje é extremo pode virar apenas "verão" em algumas décadas no continente. Ondas de calor serão cada vez mais frequentes. E cientistas não têm dúvida: há uma relação direta com as mudanças climáticas.

Temperaturas recordes de até 39ºC na Alemanha; incêndios florestais fora de controle na Suécia e outras regiões tipicamente frias do norte europeu; e a eclosão, na Polônia, de algas tóxicas no Mar Báltico, que está mais quente que o costume: a Europa está sufocando na atual onda de calor do verão.

Com a continuidade das temperaturas extremamente altas na maior parte da região, muitos andam se perguntando se a culpa é das mudanças climáticas.

Cientistas dizem que sim.

"O aquecimento global, em geral, mais que dobrou as chances de acontecer uma onda de calor como a atual", diz Geert Jan van Oldenborgh, pesquisador do Instituto Meteorológico Real holandês.

Ele integra a WWA, um grupo de cientistas de seis instituições criado para fornecer análises em tempo real de relações possíveis entre as mudanças climáticas e eventos meteorológicos tidos como extremos e isolados.

Uma equipe da rede analisou a atual onda de calor no norte da Europa e apresentou resultados preliminares na última sexta-feira (27/07).

Identificar a culpa por eventos meteorológicos complexos não é tarefa simples devido às numerosas variáveis envolvidas, que vão desde a temperatura da água à pressão atmosférica.

Mas, graças a modelos climáticos de ponta, especialistas agora podem calcular a probabilidade de eventos isolados extremos terem ocorrido por causa das mudanças climáticas.

Assim como epidemiologistas ligam o fumo ao câncer, os cientistas do clima trabalham com probabilidade estatística.

"Fumar nunca é a única razão, mas aumenta a possibilidade de se desenvolver câncer", diz Friederike Otto, pesquisadora do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.

Para determinar a probabilidade de um evento isolado de tempo extremo ter sido causado pelo aquecimento global, os pesquisadores estimam qual seria a probabilidade de ocorrer um evento extremo específico no contexto climático atual, versus um evento que ocorreria num mundo livre de emissões de gases poluentes causadas pelo ser humano.

Segundo as estatísticas, em média, o ser humano já aqueceu o globo em cerca de um grau Celsius em comparação com a época pré-industrial. Colocando em paralelo os resultados desses dois cenários, cientistas podem atribuir as diferenças de probabilidade do evento extremo às mudanças climáticas causadas pelo homem.

Com esse método, a rede WWA já mostrou que o aquecimento global fez com que o furacão Harvey de 2017 tivesse probabilidade três vezes maior de acontecer, que a onda de calor Lucifer, que assolou o sul da Europa também em 2017, tivesse probabilidade quatro vezes maior de acontecer, e que não alterou a probabilidade da estiagem de 2014 em São Paulo se repetir.

Os pesquisadores da WWA compararam as altas temperaturas atuais com recordes históricos em sete estações meteorológicas na região norte da Europa: duas na Finlândia e uma na Dinamarca, na Irlanda, na Holanda, na Noruega e na Suécia.

As estações foram selecionadas por motivos práticos. Os dados atuais de temperaturas podiam ser acessados em tempo real, e todos os pontos de medição tinham arquivos com dados digitalizados desde o início da década de 1990.

Para cada ano no arquivo histórico, os cientistas observaram os três dias consecutivos mais quentes. Para 2018, escolheram os três dias mais quentes do ano até agora.

Em seguida, alimentaram modelos climáticos com esses dados e compararam os resultados do mundo hoje com o mundo do passado, quando as emissões de gases poluentes eram bem mais baixas.

No caso de Copenhague, o grupo descobriu que uma onda de calor como a atual acontece a cada sete anos no nosso mundo. Mas, num mundo sem mudanças climáticas criadas pelo homem, uma onda de calor como essa aconteceria apenas a cada 35 anos.

"Assim, podemos dizer que as mudanças climáticas aumentaram em dez vezes a probabilidade de o evento de acontecer ", diz Otto.

Ao compilar todos os resultados das sete estações meteorológicas analisadas em toda a Europa, os cientistas observaram ainda que a probabilidade de ondas de calor como a atual é, em geral, duas vezes maior hoje do que se as atividades humanas não tivessem alterado o clima.

Os resultados ainda não foram revisados por outros especialistas porque os cientistas da WWA querem fornecer uma análise veloz dos eventos extremos atuais, uma vez que o interesse público é alto. Eles planejam publicar os resultados formalmente numa revista científica, assim como fizeram com estudos anteriores.

As mudanças climáticas são um assunto abstrato, com medidas abstratas, a exemplo do aumento da temperatura média global.

Mas as pessoas não vivem temperaturas médias. Elas vivem a experiência de chuvas torrenciais, incluindo enchentes, ondas de calor, tempestades severas e estiagens.

"É muito importante fornecer ilustrações dos efeitos das mudanças climáticas", diz Robert Vautard, pesquisador do Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente da França. Para ele, será apenas quando entendermos qual é a aparência do aquecimento global é que poderemos nos preparar para combatê-lo.

Após a onda mortífera de calor de 2003, conhecida como canicule entre os franceses e que só na França resultou na morte de 15 mil pessoas, o governo francês criou um plano emergencial para lidar com problemas de saúde ligados ao calor.

Porém, especialistas acreditam que este plano esteja desatualizado. "Nossa infraestrutura e planos de saúde se baseiam em ondas de calor e chuvas que presenciamos no passado. Mas temos que entender que o clima de hoje não é o mesmo que costumava ser, e que será muito diferente no futuro", afirma Vautard.

Parlamentares no Reino Unido – onde os termômetros registraram temperaturas extraordinariamente altas, acima de 30ºC na semana passada (23/07) – enfrentam temores parecidos. Eles alertaram para o fato de que mortes prematuras causadas por ondas de calor podem triplicar até 2050, e exortam o governo a desenvolver uma estratégica para proteger a saúde da população.

Mas esses eventos extremos serão mais frequentes no futuro? Cientistas do clima concordam quase em unanimidade: sim.

"Eventos de calor extremo como este se tornarão mais frequentes e mais intensos enquanto o globo continua aquecendo", afirma Andrew King, pesquisador do ARC, o Centro de Excelência para Extremos do Clima da universidade australiana de Melbourne.

"Sabemos que ondas de calor e verões quentes como 2003 na Europa deverão ocorrer com muita probabilidade na maior parte dos anos, mesmo que ainda não se tenha aquecido o planeta em 2ºC", adiciona.

O Acordo de Paris de combate às mudanças climáticas busca limitar o aquecimento global entre 1,5 e 2ºC – mas, seguindo o ritmo atual, o planeta caminha para um aquecimento de 3ºC.

E o clima não está ficando apenas mais quente – está se tornando menos previsível.

A variabilidade de eventos meteorológicos extremos vai aumentar, segundo confirmou a pesquisadora do clima Friederike Otto. Se, durante um ano, poderemos ver ondas de calor, no ano seguinte poderemos vivenciar chuvas extremas. E o quadro pode ser muito diferente de um lugar para outro.

"O perigo das mudanças climáticas é que não estamos adaptados a elas", constata Otto.

Segundo os especialistas, além da necessidade urgente de limitar o aquecimento global a abaixo de 2ºC, aprender a se adaptar rapidamente a eventos extremos será um grande desafio para o futuro. Ondas de calor como a atual podem virar apenas "verão" no futuro.

Katharina Wecker (rk) | Deutsche Welle

*Com fotos e gráficos no original DW

Taxistas espanhóis continuam em greve


Várias associações do táxi em Espanha decidiram manter a greve iniciada em Barcelona, considerando insuficientes as medidas do governo sobre a atribuição de licenças a plataformas como Uber e Cabify

A greve dos taxistas no Estado espanhol teve início na quarta-feira da semana passada em Barcelona, depois de o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha ter dado razão à Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência, suspendendo o regulamento vigente na Área Metropolitana de Barcelona sobre as licenças a transporte em veículo descaracterizado a partir de plataforma electrónica (TVDE), como as multinacionais Uber ou a Cabify, que previa a atribuição de uma licença de TVDE por cada 30 de táxi.

O protesto alastrou a várias cidades e, depois de os taxistas catalães terem ocupado uma das principais avenidas de Barcelona, ontem foram os madrilenos a entupir o Passeio da Castelhana. Os profissionais do táxi exigem ao governo de Pedro Sánchez (PSOE) que defenda o sector, limitando a atribuição de licenças às plataformas referidas, que acusam de lhes fazer «concorrência desleal» e «não cumprir as suas obrigações fiscais».

Reunidas esta segunda-feira com o secretário de Estado das Infra-estruturas, Pedro Saura, as principais associações do táxi anunciaram que iriam manter a greve, havendo inclusive a hipóstese de a prolongarem até ao Conselho de Ministros da próxima sexta-feira, em que o sector do táxi será uma questão central.

Após a reunião, as associações revelaram que o executivo se compremeteu a fazer uma «declaração política de compromisso com o sector do táxi» no Conselho de Ministros de sexta-feira e que lhes garantiu que, em Setembro, irá aprovar uma lei para garantir a vigência da proporção 1/30 na atribuição de licenças.

Para Miguel Ángel Leal, da Fedetaxi, estas propostas são «insuficientes», na medida em que nada garante aos taxistas que o governo, minoritário, consiga fazer passar a lei no Parlamento ou que as comunidades autónomas – para cujo âmbito o governo quer passar a regulação do sector – a apliquem.

Em declarações à imprensa, o secretário de Estado das Infra-estruturas, Pedro Saura, reafirmou o empenho do executivo na resolução desta «herança endiabrada» do governo de Mariano Rajoy (PP), bem como a intenção de passar a atribuição das licenças de TVDE para o âmbito autonómico.

AbrilAbril

Foto: A greve em defesa do sector do táxi, que teve início em Barcelona, alastrou a várias cidades de EspanhaCréditos/ Info7.mx

Portugal | O que faz falta é um Alberto João em cada esquina


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

Rui Rio anda perto da frase em epígrafe quando nos questiona se "já alguma vez imaginámos se em vez de um, houvesse quatro ou cinco Alberto João por esse país fora?".

Os ares da Madeira provocaram uma acentuada excitação em Rui Rio, ao ponto de este não caber em si de felicidade de cada vez que tocava no nome de Alberto João Jardim. Não poupou elogios e foi ainda mais longe, sugerindo o paraíso na terra, ou melhor cinco ou seis Albertos por "esse país fora".

Rui Rio aparece na liderança do PSD rodeado de uma aparente tibieza que esconde a sua veia populista à qual não será estranha um conjunto de  formas endurecidas de actuação, chocando naturalmente com as boas práticas democráticas. De resto, recorde-se a relação pouco democrática de Rio com a comunicação social, enquanto Presidente da Câmara do Porto.

Quem faz a apologia do caudilho multiplicado por cinco ou seis dificilmente terá futuro na democracia. Percebe-se que a vida tem andado difícil para Rio, mas não vale tudo, ou pelo menos não devia.

De qualquer modo, diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és ou diz-me quem elogias profusamente dir-te-ei quem és.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão


Na foto: Rui Rio no Chão da Lagoa, a festa do PSD na Madeira | Homem De Gouveia/Lusa

Leia em Triunfo da Razão

Um bom camarada | Confiança e solidariedade para com Ricardo Robles


Este caso Robles está com maior duração que as pilhas Duracel. E há crítica dura, dura, dura. Afinal Robles acaba por ser vítima de si próprio pelas boas intenções e até ideologia (provavelmente), mas é bem provável que o “berço” faça incidir sobre ele a sua influência… E tudo deu nisto. E ele meteu os pés pelas mãos e as mãos pelos pés perante tais ataques acerca de sua postura de incongruência. Família obriga e o “berço” ainda mais. A não ser que nos desquitemos disso tudo, das raízes. O que é muito doloroso e complicado. 

Robles merece confiança? Sim, claro, no seu histórico, nas suas intenções, nos seus pensamentos em prol de uma sociedade mais justa que aquela que nos espezinha atualmente. Apesar de tudo temos de reconhecer-lhe essa sua forma de estar politicamente. Falhou agora como cidadão de algumas posses e aí a direita apegou-se às criticas, passando uma esponja sobre as práticas de muitos dos seus militantes e seus dirigentes e/ou outros com responsabilidades. Afinal Ricardo Robles falhou pela primeira vez, algum dia aconteceria. Quem está solidário com ele, um bom camarada, é o deputado do BE José Soeiro, e disse-o ao Notícias ao Minuto. Leia a seguir.

Deste novelo que insistem em enrolar o BE, via Robles, gostaríamos de não ter de referir mais. Foi chão que deu uvas… mijonas. A direita tem de se lembrar que teve e tem (provavelmente) nas suas fileiras reconhecidos ladrões, montanhas de vigaristas e corruptos, que têm compadrios que, esses sim, lesam os portugueses pelas vantagens e favoritismos que a esses proporciona. O CDS deve lembrar-se sempre dos submarinos ou de Benavente, ou…. O PSD, então, nem se fala. O PS, upa, upa. Esses sim, deve-se dizer com toda a propriedade “é fartar vilanagem”. E isto, ao que julgamos saber, que de algum modo veio a público, mais uns quantos (poucos) que foram efetivamente condenados por uma justiça que tantas vezes é injusta por ser a favor dos ricos (influentes) e usar de marreta para os pobres e os remediados. Quando não usa do peso de um autêntico cilindro contra os fracos, querendo parecer forte…

Adeus Ricardo, a vida é dura e muitas vezes injusta. Assomos de incoerência e de ingenuidade não cabem na política quando aos antagónicos dá jeito. Há os que ficam felizes com o mal acontecido aos outros. Sempre assim será. Mas também há os solidários, os amigos e camaradas de facto. Sempre assim será. (MM | PG)

"Robles nunca falhou. Merece a minha confiança e solidariedade"

A polémica em torno do prédio de Alfama levou Ricardo Robles a renunciar, na segunda-feira, aos cargos de vereador da Câmara Municipal de Lisboa e de membro da comissão coordenadora da concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda.

Depois de noticiado que Ricardo Robles teve à venda um prédio em Alfama, Lisboa, por 5,7 milhões de euros, quando o tinha comprado por 347 mil euros, bloquista afastou-se dos cargos que desempenhava.

Nesta senda, o também bloquista José Soeiro saiu em defesa do colega de partido, garantindo que este “nunca falhou em nenhuma luta e em nenhuma proposta mesmo contra o que poderiam ser os seus próprios interesses ou os da família”.

Numa publicação feita na sua página de Facebook, José Soeiro dá alguns exemplos das lutas em que Robles esteve envolvido: “Manuais gratuitos, construção de creches, política de redução de riscos e salas de consumo, direitos LGBTQI+, políticas de saúde pública, início da recuperação das cantinas escolares para a responsabilidade pública, defesa da regulação do turismo ou o acordo que fez para que centenas de casas pudessem ser disponibilizadas pela autarquia a rendas acessíveis”.

E, por tudo isto, o bloquista garante que o agora ex-vereador do Bloco em Lisboa “mereceu e merece”toda a sua “confiança política e solidariedade”.

“A militância política dele, que vem de longe e de há muitos anos, foi sempre consistente e fiel ao seu programa. E não termina agora”, sublinha Soeiro que descreve como “prova de solidariedade” para com o partido o facto de Robles ter renunciado aos cargos que ocupava até ontem.

“Acho que o Ricardo tomou a decisão certa”, remata, desejando uma “excelente continuação de bom trabalho” a Manuel Grilo, o substituto de Robles.

Patrícia Martins Carvalho | Notícias ao Minuto | Foto: Reuters

Robles | O homem que tem duas caras e quer sol na eira e chuva no nabal


‘Maizum’ dia Ricardo Robles no Curto. É assim que ‘abre’ a prosa de Luísa Meireles, a artesã de serviço. E ainda bem. Porque em cada dia que passa lá vem este ou aquele pormenor a esclarecer o que foi de inicio ‘viciado’ pelo Correio da Manha e mais um ou outro. Escribas das furnas de esgoto. Adiante e depressa porque cheira mal.

Luísa refere Fazenda, um ‘velho’ do BE, leiam a seguir e está tudo dito. Melhor entendimento viaja para a nossa massa cinzenta sobre o caso. É capaz de ser correto adiantar que Ricardo Robles queria sol na eira e chuva no nabal ou então é um dos homens de duas caras. Desses há demasiados por aí. Ele que vá para o PSD, CDS ou para o PS. Ali safa-se.

Faça um bom dia, mesmo à tarde e à noite. Goze a saúde que tem presentemente porque não é para sempre que a terá. Há uma certeza de que provavelmente se esquece por sistema: garantidamente um dia morrerá. Goze o sol que aparece de vez em quando e o calor que dizem que vai acontecer neste 'inverão' dos próximos dias. Convença-se que demos mesmo cabo disto tudo e que ainda vai acontecer pior com mais alterações climáticas. 

Outro assunto, para terminar: Se levar o seu canídeo de estimação à “sanita pública” que são as ruas, os passeios e as calçadas, apanhe a cagada que o animal fez. Não a deixe solitária à espera que a carimbemos com os nossos sapatos. Se não a apanhar fique sabendo e medite: você é um grande porco ou porca – dependendo do género – e que além disso está-se cagando para os outros seus concidadãos, para os velhos e crianças, etc. Vá bugiar, seu Robles dos animais de estimação.

Adeus, até ao meu regresso. Já digo isto há 50 anos… Faz-me lembrar qualquer coisa… (MM | PG)

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Ufa, finalmente percebeu!

Luísa Meireles | Expresso

Aquilo que parecia óbvio de imediato, Ricardo Robles demorou três dias a perceber. Soube-se ontem que apresentou a sua demissão no domingo a Catarina Martins, mas para o público, que ouviu ou leu logo pela manhã as declarações de Luís Fazenda, um dos líderes-fundadores do Bloco de Esquerda, que criticou as atividades imobiliárias como as realizadas pelo vereador do BE em Lisboa e apelou a uma reflexão, o anúncio de Robles parece causa-efeito.

Ontem mesmo, a Comissão Política do partido começou a conter os danos. Manuel Grilo, assessor do BE na área da Educação e ex-dirigente da CGTP e da Fenprof, é o novo rosto do partido na Câmara de Lisboa. Era o terceiro na lista.

Desde o princípio que se sabia que na direção do BE não havia unanimidade sobre a posição que acabou por ser defendida – em má hora – pela coordenadora do Bloco, que além de acusar a imprensa (sempre o mensageiro!) ainda disparou sobre tudo e todos, a pretexto de uma pretensa cabala. O óbvio era que a questão era moral e ética, porque um político que prega uma coisa e faz outra perde a legitimidade. Pior ainda quando se trata de um partido que sempre atacou a especulação imobiliária e os próprios proprietários. Apetecia perguntar, como Vítor Gaspar: “qual-é-a-par-te-que-não-per-ce-beu?”

A história toda, se quiser recordá-la, vem contada aqui pela Rosa Pedroso Lima, que lembra “As 76 horas da maior crise de sempre do Bloco de Esquerda”, pelo que me dispenso de a relatar. Não se esperava era que acontecesse no Bloco, que acaba assim de entrar na “idade adulta” dos partidos e ficou igual aos outros – pensam agora muitos eleitores, desafetos a estas organizações por razões assim. São estas as “dores de crescimento” que o BE vai ter de enfrentar.

O futuro, agora, é mais incerto e o partido está em polvorosa interna. Mas o mal está feito. Vai haver um preço a pagar. [Para já, Marcelo prepara-se para vetar o diploma que deu polémica com o Bloco. Pormenor eheh: o PCP diz que o projeto era dele].

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, já veio entretanto dizer que “tudo como dantes” se o Bloco quiser. O Bloco quer.

Quanto aos partidos, houve uma variedade de reações, com destaque para a mortífera declaração de Jerónimo de Sousa, que não comentando, comentou que está de consciência tranquila, porque aprendeu a fazer política para servir os outros e não a si próprio. Rui Rio achou sensata a decisão de Robles (o partido já tinha pedido a demissão), Assunção Cristas não comentou “por elegância” à tarde, mas de manhã já tinha dito que “o BE saía desmascarado”. Quanto ao PS, o partido não falou enquanto tal, mas Porfírio Silva, do Secretariado Nacional, disse no domingo, no facebook, que considerava o caso “necessariamente grave”.

Comentários houve muitos e para todos os gostos. Destaco alguns: Rui Tavares: “O charme discreto da violência verbal”; João Miguel Tavares: “Coitadinho do Bloco que está a ser perseguido”; Miguel Esteves Cardoso: “Ricardo e os turistas”; mais atual,0 a de Miguel Sousa Tavares, crónica de uma demissão anunciada. E por aqui me fico que isto de opiniões há sempre muitas. Incluindo a sua, caro leitor.

OUTRAS NOTÍCIAS

As do Orçamento e das audiências do Presidente da República, que desde ontem está “a tomar o pulso aos partidos”sobre as perspetivas do novo ano politico “sem nenhuma preocupação especial”, sem ser – e não é pouca – a da conjuntura europeia e internacional. Ontem foi o PAN, Verdes, PCP e CDS, hoje serão o BE, PS e PSD. Antes, há de receber os campeões europeus de futebol sub19, que chegaram ontem em apoteose ao aeroporto de Lisboa.

Parênteses para um momento tesourinho: Ana Lourenço voltou a protagonizar a mesma cena que há 11 anos fez sair do estúdio da SIC Santana Lopes, zangado por a jornalista interromper a entrevista para o canal fazer um direto com José Mourinho, que chegava a Lisboa. Ontem, na RTP 3, a jornalista também interrompeu Honório Novo (PCP) para um direto com os sub19, mas a reação do comentador foi outra. Honório Novo não se levantou para se ir embora, mas aproveitou para dar os parabéns à seleção. Mudaram-se os tempos!

Regresso ao assunto. Para já, PCP e PEV consideram que “não há orçamentos no papo, nem linhas vermelhas”, enquanto o CDS prefere dizer que “não deixará morrer Tancos”. Quanto ao PAN, a sua preocupação é a prospeção de petróleo no Algarve e a diminuição do uso dos plásticos na restauração.

Tancos. O assalto ao quartel volta ao Parlamento, desta vez para novas audições às secretárias-gerais do Sistema de Segurança Interna e do Sistema de Informações e do chefe de Estado-Maior do Exército. Aguarda-se com expectativa o que este tem a dizer sobre os novos desenvolvimentos que foram revelados pelo Expresso, de que afinal nem todo o material roubado tinha sido recuperado. Há 15 dias, foi ouvido o ministro da Defesa e disse que não tinha sido informado das discrepâncias. Afinal o Exército sabia ou não?

Novas (boas) da Economia: o ministro do Trabalho e da Segurança Social diz que o desemprego, que já está nos 7% e deve cair para os 6,7% em junho segundo os dados do INE, ainda deve descer abaixo das expetativas do Governo (é a taxa mais baixa em 16 anos). Efeito da criação de emprego, disse.

Outra boa notícia: há recém-licenciados a ganhar €3500 ao mês! Nem todos são quinheuristas! E quer saber? São os delegados hospitalares, na indústria farmacêutica, que lideram a lista de 20 profissões que pagam melhor aos jovens em Portugal. Quem diria?

Entretanto, se ainda não está a par, é melhor que saiba como evitar pagar as comissões nos ATM. A notícia não é de hoje, mas a informação ajuda-o a controlar os seus gastos e a não dar a outros o que é seu.

Mistério insolúvel (para mim): o que é que o Sporting tem de tão apetecível que já são nove os candidatos à sua presidência? Vá lá, sete, se tivermos em conta que dois estão suspensos e um deles é o próprio ex. Agora é José Maria Ricciardi que entra na corrida. Diz que quer (ou sonha?) com um “Sporting alemão” e “manter o melhor treinador do mundo” (José Peseiro, para sua informação).

Não resisto a este insólito: Portugal abunda em turistas, mas nem todos gostam. Até aí normal. O divertido são os comentários dececionados colecionados no Trip Advisor. Tipo: mosteiro dos Jerónimos – “nada a dizer. Só para turista ver”. Ou então, Templo de Diana em Évora – “este sítio parou no tempo”. A sério?

LÁ FORA

Letra A, de Angola. A imprensa do país noticia que Isabel dos Santos foi notificada para prestar declarações no âmbito do inquérito sobre a sua gestão à frente da Sonangol. O atual presidente do Conselho de Administração acusa-a de, pouco depois de exonerada, ter feito transferências no valor superior a 38 milhões de dólares para uma empresa no Dubai.

B, de Brexit: 78% dos britânicos estão descontentes com o Governo britânico por causa do Brexit e muitos querem um novo referendo. Theresa May está mesmo em maus lençóis. À medida que se vai aproximando a data (31 de março de 2019) cresce a tensão. Na semana passada, a União Europeia avisou as suas capitais para se prepararem para o pior cenário, mas no Reino Unido também se preparam os planos de contingência, com o Exército chamado a intervir, se for o caso. Downing Street desmentiu.

E, de Espanha. A greve dos taxistas está a causar danos a sério. E prometem continuar. As promessas do Governo não os convenceram. É um teste duro a Pedro Sanchez

F, de França. O Presidente Emmanuel Macron enfrenta hoje a sua primeira moção de censura. 62 deputados de esquerda entenderam-se sobre o tema. O motivo arrasta-se há semanas, é o caso do segurança Alexandra Benalla, que é muito mais do que um homem que bate por gosto, mas sim a tentativa de criar uma força de segurança paralela no Eliseu, como explica o Daniel Ribeiro, o que, diga-se de passagem, nem é inédito. Já aconteceu com Mitterrand e deu-se mal com isso.

G, Grécia. Ainda os incêndios de Mati – não perca este documentário do João Duarte. Dói. “Ninguém veio para nos salvar”. Vítimas mortais são 91, desaparecidos 25.

H, de Hungria. Na semana passada, o Presidente francês esteve em Portugal e disse que as próximas eleições europeias serão decisivas pelo que está em jogo e pelo xadrez político alterado na Europa, infestado de populistas e extremistas da xenofobia. Agora, o primeiro-ministro húngaro pegou-lhe na palavra, considera o mesmo (as eleições serão cruciais), mas põe em guarda a UE contra uma liderança da França e diz este mimo: “a Europa ocidental é não-democrática”. Se for fluente em francês, leia tudo.

Cantinho de Trump. 1. Depois de ter dito o pior do Presidente iraniano, eis que o Presidente dos Estados Unidos anuncia que está disponível para se encontrar com ele, “em qualquer altura e sem quaisquer condições”. 2. Donald Trump recebeu ontem na Casa Branca “um dos seus”: o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, com quem tem afinidades (1ª página do FT) em matéria de imigração e comércio. What else?

Recursos naturais. Esta notícia alarmou-me a sério: a partir de amanhã a Humanidade está a viver a crédito, quer dizer, feitas as contas, consumiu o total de recursos que a natureza consegue renovar este ano. 1 de agosto é a data em que terão sido utilizadas todas as árvores, água, solos férteis e peixes que a Terra consegue fornecer num ano para alimentar e abrigar os seres humanos e terá sido emitido mais carbono do que os oceanos e florestas conseguem absorver. Quer dizer que, hoje, precisaríamos de 1,7 planetas Terra para satisfazer as nossas necessidades. Se quiser ser curioso e ver a footprint de Portugal, vá a este site, role até ao fundo e explore o mapa.

E, finalmente Z, de Zimbabwe. O país foi às urnas ontem pela primeira vez sem Mugabe, mas sob a sua sombra. A contagem ditará se quem vence é o atual Presidente, Mnangagwa, do partido no poder ZANU-PF, ou o líder da oposição Nelson Chamisa. Com uma taxa de desemprego em torno dos 90% e quase metade dos eleitores com menos de 35 anos, o voto jovem é fundamental.

MANCHETES

"Guerra de preços na ADSE reabre conflito com privados" - Público

"Marcelo vai vetar a lei que dá direito de preferência a inquilinos" - I

"Metade das câmaras ajuda alunos com livros e material" - Jornal de Notícias

"Robles escapa a imposto Mortágua" - Correio da Manhã

"Melhoria do emprego dá folga orçamental" - Jornal de Negócios

"Marcelo prepara veto a lei que deu polémica com BE" - Diário de Notícias

FRASES

"Não tenho qualquer consideração pelo Bloco de Esquerda quando se faz passar por virgem sofredora do mundo em que vivemos" - Ascenso Simões, deputado do PS, no I

"Pessoal, não há stress: na guest house do Robles podemos todos plantar cannabis, eutanasiar avós e desligar a TV quando passa tourada" - Miguel Tiago, deputado do PCP (que vai deixar de ser), no I

"Não sigam modas, saltem dos caminhos que todos estão a percorrer e encarem um grande problema para o qual ainda não há resposta satisfatória da ciência" - Fraser Stoddart, num conselho aos jovens cientistas, que pode ser aplicado a tudo, no Público

"Agora a gente aperta um botão e tem tudo na palma da mão, mas eu levei 15 anos para ouvir Grândola, Vila Morena" - Gustavo Pacheco, escritor brasileiro, no Público

O QUE ANDO A LER

“Os Anos Trump, o Mundo em Transe”, de Eduardo Paz Ferreira (Gradiva), sobre o que nos deixa transidos (e não é de frio) na administração norte-americana e as consequências que já estão à vista. Com uma escrita fácil e uma cultura fora de série, o professor catedrático e advogado (já agora, antigo jornalista neste jornal) vai tratando de cada tema que o (nos) incomoda, tentando abanar consciências para se acordar de um pesadelo que tem causas profundas – e por isso não será fácil afastá-lo. O mundo não está fácil e Paz Ferreira não tem ilusões. Também ficámos sem elas.

Com tudo isto esquecia-me de o avisar: por favor, preste atenção ao tempo que aí vem. Depois do fresco e da chuva, chega o alerta vermelho sob a forma de uma vaga de calor que pode ir aos 45 graus no interior. É já a partir de amanhã! Cuide-se! E cuidado com os incêndios! Fique connosco, mas à sombra.

Assim chegámos ao fim deste Expresso abatanado.

Tenha um bom dia!

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