terça-feira, 11 de dezembro de 2018

PORTUGAL À SOMBRA DE AMBIGUIDADES AINDA NÃO ULTRAPASSADAS – X



EXERCÍCIO ALCORA, SEU APROVEITAMENTO E O ÂMBITO DO 27 DE MAIO DE 1977...

LINHA CONTRA ANGOLA A PARTIR DE PORTUGAL COM MUITO POR INVESTIGAR!...

... E NÃO É UMA MERA E VERSÁTIL "QUESTÃO IRRITANTE"…

É EM TODA A SUA PROFUNDIDADE SÓRDIDA, A PROFUNDIDADE DUMA LONGA GUERRA PSICOLÓGICA COM SUAS METAMORFOSES E COM ADAPTAÇÕES EM FUNÇÃO DAS "MUDANÇAS DE ÉPOCAS"!

19 – Frank Charles Carlucci, um oficial sénior de inteligência da CIA que antes de ir para Portugal "fermentou" em África (Tanzânia, onde desembarcou o Che e Zaíre, para onde foi o Che em 1965, depois do assassinato de Patrice Lumumba), teve acesso aos segredos do âmbito do Exercício ALCORA e por isso, foi "mestre" no seu aproveitamento antes, durante e após o 25 de Novembro de 1975 em Portugal!...

Há muitas questões a levantar, entre elas nexos humanos que contribuíram duma forma ou de outra para a eclosão do fenómeno golpista do 27 de Maio em Angola, numa altura em que em Luanda as conjunturas imediatas ao 11 de Novembro de 1975 se propiciavam para tal.

Por exemplo: haviam ou não vários militares portugueses a actuar de forma discreta e influente, pouco tempo depois de ser instalado o 1º governo decorrente do 25 de Novembro em Portugal, na direcção de Angola?!...

A manobra tardia do reconhecimento de Angola por parte de Portugal inscreve-se na tensão contra a República Popular de Angola e tem de ser abordada levando em consideração os "jogos africanos" que vieram de trás, entre eles o spinolismo, agarrado ao "Portugal e o Futuro", que forneceu grátis a ideologia para as condutas de relacionamento para com África por parte dos governos do “Arco de Governação”!

O “Le Cercle”, que esteve por dentro do Exercício ALCORA, manteve-se por dentro e no apoio ao “apartheid”, em África, na Europa e nos Estados Unidos, estabelecendo programas abrangentes, geração após geração e de forma a nunca perder acção pelo menos nos campos doutrinário e ideológico, no âmbito da ”democracia cristã” e dos seus“élans”, como por exemplo o Conservative Caucus que a partir dos Estados Unidos se ligava estreitamente a Savimbi (https://www.washingtontimes.com/news/2002/mar/14/20020314-041032-2931r/).

Com o 25 de Novembro de 1975 foi possível, em relação à África Austral, reconfigurar o Exercício ALCORA, distribuindo papeis por actores-chave como Cavaco Silva, Mário Soares, Savimbi, Dlakhama, os Botha... algo que se tornou importante a fim de melhor orientar as condutas político-diplomáticas e as inteligências, em especial aquelas que conseguiram cobertura social-democrata e cristã-democrata (Le Cercle), as que melhor se podiam aproximar do "diktat do apartheid"!

Inscritos na mesma matriz de origem spinolista e circuitos de influência-inteligência próximos, embora distintos, estão Nito Alves e Savimbi e por isso tinham planos e papéis distintos, mas com objectivos confluentes!...

O "apartheid", com o golpe do 27 de Maio de 1977 iria ficar a ganhar na "border war", logo a seguir à derrota da Operação Savana, pois poderia beneficiar dum escancarar de portas em benefício directo dos "democratas" Savimbi, Holden e do próprio Nito Alves!

A ligação do Savimbi (http://www.angonoticias.com/Artigos/item/7074/tive-fama-de-ser-partidario-de-savimbi-mas-nunca-o-fui) a Mário Soares (mais discretamente a Cavaco Silva), permitiu pontes que desde a Operação Madeira beneficiaram o "apartheid", o principal interessado na África Austral em derrubar a República Popular de Angola!

20 – Algumas linhas de inteligência foram detectadas inclusive no terreno, entre elas a que explorava Amílcar Fernandes Freire, Francisco Alberto Albarran Barata e Dongala Kamati, na pesquisa de dados sobre portos e dispositivos das FAPLA.

Essa linha foi gerida a partir da iniciativa operativa de Jacobus Everhardus Louw, Adido Militar Adjunto da embaixada do “apartheid” em Lisboa em 1982, entidade que significativamente foi mais tarde agraciada com a Ordem do Infante Dom Henrique, pelo presidente Cavaco Silva (http://observatorioemigracao.pt/np4/588.html).

Note-se como, a pretexto da língua, (um processo de exclusividade de lusofonia extensivo aos critérios inscritos na prossecução da CPLP), o presidente Cavaco Sulva e outras figuras gradas do “Arco de Governação”, assim como por tabela muitas entidades brasileiras, regeram os relacionamentos para com África, em especial em relação ao grupo PALOP.

Esse Adido em Lisboa, em ligação como semanário Expresso do Bildeberger assumido Francisco Pinto Balsemão, desencadeou a Operação Cubango de contrapropaganda, que visava confundir, atingindo alvos precisos pré determinados por via de difamação aberta, ou velada, figuras do estado angolano.

Jacobus Everhardus Louw recebeu sintomaticamente três medalhas brasileiras, uma francesa e outra portuguesa, um trabalho sob a influência dos “lobbies” mais conservadores na esteira do Ezercício ALCORA, entre eles o “Le Cercle”.

 Posteriormente, de 1992 a 2002 o choque neoliberal alimentou-se desse “dispositivo” Portugal-Angola e depois do protagonismo de Savimbi na “guerra dos diamantes de sangue”, algo em que o prestígio do cartel e do “lobby” dos minerais ficavam a perder, pelo que Savimbi finalmente passou a “descartável”, até por que em Bicesse já se haviam reunido as condições para o início da terapia neoliberal modelando as “novas instituições democráticas” angolanas, algo que se arrasta até nossos dias, agora explorando mais as trilhas da inteligência económica!

Obstruir custasse o que custasse a luta contra o "apartheid" interessava aos golpistas do 25 de Novembro, aos governos do "Arco de Governação", como mais tarde às correntes que procuram expedientes de assimilação desde os ganhos do Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991, em direcção sobretudo a Angola, o que leva a que ainda em nossos dias, hajam expedientes de filtragem e distensão “soft power”, entre eles os que seguem a via económica e académica de relacionamentos, neste último caso, por exemplo, ao nível da jurisprudência!...

Ao “Arco da Governação” interessou sempre não publicitar muito o golpe do 25 de Novembro de 1975.

Salvo em círculos militares portugueses e dum modo “apagado” o golpe é “lembrado” em Portugal, mas em Angola desconhecem-no, desconhecem suas profundas implicações em Portugal e no relacionamento entre Portugal, Brasil e Angola, precisamente na razão inversa da publicidade que foi sempre dada ao golpe do 27 de Maio em Angola a fim de aglutinar pressões com sentido de ingerência e manipulação, imprescindíveis para os processos correntes de assimilação e manipulação, inclusive por parte de algumas entidades angolanas captadas nas suas motivações.

Por outro lado, com a migração para Portugal (e nunca para a URSS ou para a Rússia), de angolanos ligados de forma directa ou indirecta ao processo fraccionista que gerou o 27 de Maio de 1977, é permitido alimentar a partir de Lisboa uma tensão que interessa às mesmas linhas de intervenção que antes aproveitaram o Exercício ALCORA nos moldes tornados possíveis pelo tandem Frank Charles Carlucci-Mário Soares-Savimbi-Botha, ou seja, uma guerra psicológica de baixa intensidade mas de geometria variável, que se antes procurava integrar as iniciativas de derrube da República Popular de Angola, procura hoje pressão sobre a moldagem das mentalidades propícias aos convenientes módulos corporativos da assimilação conforme aos "superiores interesses" das caravelas!

A “lavagem” da imagem de Savimbi (https://www.tsf.pt/sociedade/interior/savimbi-nao-estava-preparado-para-uma-sociedade-aberta-e-livre-8827488.html), feita a partir de seus próprios filhos “trabalhados” pelos vínculos portugueses“cristão democratas”, alguns deles identificados com o CDS, inscrevem-se precisamente nesse mesmo plasma de opções correntes, opções essas que bebem da “experiência” que foi lançada com a Operação Madeira, em pleno fascismo e colonialismo português e, desde 1968, com seus laços no sudeste de Angola, com a hipocrisia da “border war” do“apartheid”!

Martinho Júnior. Luanda, 1 de Dezembro de 2018.


Imagens:
Frank Charles Carlucci III e Mário Soares (https://www.abrilabril.pt/nacional/carlucci-e-companhia);
Os “amigos” portugueses de Savimbi na Jamba (democratas cristãos e social-democratas) – https://www.publico.pt/2000/02/01/jornal/os-amigos-de-savimbi-139453;
Condecoração da Ordem do Infante Dom Henrique outorgado pelo presidente Cavaco Sulva a Jacobus Everhardus Louw, oficial de inteligência do“apartheid”, na ebaixada sul-africana em Lisboa em 1982;
Educação de alguns filhos de Savimbi em Portugal, a cargo de alguns “cristão democratas” do CDS (“fotos de família” recentemente publicadas);
Filha de Savimbi, “produto” dessa “educação” e uma das entidades promotoras interessadas na “lavagem” da imagem do pai (http://peroladasacacias.net/2017/09/meu-pai-jonas-savimbi/); https://expresso.sapo.pt/internacional/2017-09-02-Meu-pai-Jonas-Savimbi#gs.ije9cZ0; pensamento político de Jonas Malheiro Savimbi – oficial – https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=3213:pensamento-politico-de-jonas-malheiro-savimbi-oficial&catid=8&lang=pt&Itemid=1071

Artigos anteriores desta série:
Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_30.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – IV – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_8.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – V – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_14.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – VI – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_18.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – VII – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/06/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – VIII – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/07/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html

Portugal à sombra de ambiguidades ainda não ultrapassadas – IX – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html

Pistas e traumas do longo choque neoliberal – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/07/pistas-e-traumas-do-longo-choque.html

Pistas e traumas do longo choque neoliberal – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/pistas-e-traumas-do-longo-choque_29.html

Pistas e traumas do longo choque neoliberal – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/08/pistas-e-traumas-do-longo-choque.html

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