Martinho Júnior | Luanda
Como
feridas por soturar, as dramáticas pistas que comprovam a conspiração contra a
humanidade, vão deixando suas marcas traumáticas na memória dos povos e em cada
um de nós mesmos, combatentes que dão seu tributo modesto, com consciência
crítica e capacidade investigativa, para que haja vida no Movimento de
Libertação, para lá da nossa própria vida individual, na singularidade
passageira que nos fez homens… - Martinho Júnior.
1-
Longe já vão os tempos do exercício da administração republicana de Ronald Reagan
(dois mandatos de 1981 a 1989) e no entanto, aquilo que ela iniciou no âmbito
dos procedimentos típicos do capitalismo neoliberal, na sequência da implosão
da URSS e do desaparecimento dos países socialistas do leste europeu, continua
a fazer-se sentir, quer no âmbito do choque, quer no âmbito da terapia
neoliberal.
No
âmbito do choque neoliberal, o caos, o terrorismo e a desagregação de estados e
nações, continua na ordem do dia no Médio Oriente como em África, na sequência
das primeiras experiências registadas em África em 1992 (3 anos depois do fim
do ultimo mandato de Ronald Reagan), de que o Ruanda, Angola e o Congo foram
suas principais vítimas;
No
âmbito da terapia neoliberal (recorde-se os programas que tiveram o
rótulo “reaganomics”), entre os muitos exemplos que poderíamos citar,
recorde-se que as iniciativas do quadro das parcerias publico-privadas foram
pela primeira vez implementadas com Ronald Reagan.
A
CIA teve dilatações operacionais nunca antes anteriormente experimentadas, o
que premitia fazer revitalizar muitas redes “stay behind”, inclusive
dentro da que era então considerada “Cortina de Ferro”, que mais tarde
alimentaram entre outras iniciativas, as redes de fornecimento de armas a
partir de países como a Ucrânia e a Bulgária, implicadas no tráfico de armas
que alimentam as redes “privadas” (ou seja, respaldadas peor franjas
de iniciativas public-privadas) que promovem caos, terrorismo e desagregação
corrente no mundo…
2-
Logo durante a sua primeira campanha presidencial Ronald Reagan foi apoiado
pela American Conservative Union, que integrava um grupo, o The Conservative
Caucus, que apoiaria Savimbi, desde a sua retaguarda suportada
pelo “apartheid” à retaguarda que lhe propiciou Mobutu, “guerra
dos diamantes de sangue” afora e, depois do seu desaparecimento físico e
até há relativamente pouco tempo após a sua morte, enquanto Howard Phillips foi
seu principal dirigente…
Há
indícios de que com o actual Presidente Donald Trump, republicanos de
tendências “conservadoras” ligados a sectores que se podem considerer
de “fundamentalistas cristãos”, voltam a influenciar a Casa Branca, pelo
que o The Conservative Caucus tende a ganhar espaço e pode estar a promover
novas iniciativas em relação a África, numa primeira fase ainda não em aberto
(fase de contactos e lançamento de “programas”), repescando vínculos
anteriores que foram estabelecidos com e a partir de Savimbi, dois deles
implicados no corrente processo eleitoral em Angola (Samakuva e Chivukuvuku).
Com
um novo dirigente, por desaparecimento físico de Howard Phillips, o novo “chairman” do
The Conservative Caucus, Peter Thomas está a ensaiar os primeiros passos, pelo
queas espectativas na direcção de África são decorrentes do seu exercício
inicial…
3-
As políticas do presidente Ronald Reagan impulsionaram a contra-revolução na
América Central (Nicarágua), África Austral (Angola) e Médio Oriente
(Afeganistão), ligando-se e apoiando respectivamente quer os “contras”,
quer Savimbi, quer Bin Laden, na perspectiva de fazer frente, de acordo com as
interpretações dos falcões sobre a Guerra Fria, às iniciaivas imputadas à URSS
nessas paragens (de facto iniciativas essencialmente do campo de acção no
quadro do Movimento dos Não Alinhados).
No
que em relação a Angola diz respeito, essas iniciativas de ligação e apoio a
Savimbi, foram determinantes para a“coopção” de tutela sobre ele por parte
da CIA, no final da presença do “apartheid” na Namíbia e no início da
mudança de sua rectaguarda do Sudeste de Angola (encostado aos dispositivos das
South African Defence Forces, na faixa do Caprivi), para o Zaíre (enquanto
Mobutu conseguiu manter o poder).
Uma
das iniciativas foi o fornecimento clandestine em Angola de mísseis Stinger,
armamento que serviu para a defesa anti-aérea da Jamba e que as tropas do “apartheid” não
tinham acesso, mas se isso se passava ao nível das“estruturas no terreno”, já
nessa altura a ideologia ultra-conservadora do “Le Cercle” imperava
na super-estrutura ideological que alimentava Savimbi, ao nível do The
Conservative Caucus!
Essa
mudança de rectaguarda contribuiu imenso para que Savimbi, tendo perdido as
primeiras eleições em Angola, se lançasse na “guerra dos diamantes de sangue”,
precisamente uma altura em que fenómenos em cadeia de desestabilização do
continente-berço deram início nos países dos Grandes Lagos e no leste do então
Zaíre.
A
internacional fascista (que tinha apoios importantes no American Conservative
Union e por tabela no The Conservative Caucus, Segundo “dilatações
transatlânticas” do Le Cercle), revigorou na África Austral mesmo depois
do ultimo mandato do republicano Ronald Reagan e isso por que o “lobby” dos
minerais, também ele tocado pelos conservadores no quadro da aristocracia
financeira mundial, esteve bem presente no início do primeiro mandato do
democrata Bill Clinton, influenciando (entre outros exemplos que poderia
citar), por via do Rwanda Patriotic Front sob o commando de Paul Kagame, nos
acontecimentos fratrídicos do Ruanda e do leste do então Zaíre.
4-
O “lobby” dos minerais (incluindo o cartel dos diamantes), foi
inicialmente arrastado para o apoio a Savimbi na“guerra dos diamantes de
sangue” (1992-2002), no rescaldo dos exercícios dos Botha, na África do
Sul e de Mobutu, no Zaíre.
À
medida contudo do conhecimento público da mancha de sangue sobre os diamantes e
tendo em conta que o“lobby” do petróleo, no quadro das geoestratégias
sobre a energia, se impunha em África, o “tapete” foi sendo puxado
debaixo dos pés de Savimbi, pelo que cabia a Angola apertar com a ONU, face às
evidências recolhidas a cada dia a partor do terreno.
Nessa
altura eu apoiava clandestinamente o estado angolano conjuntamente
com outros dois camaradas de meu nível já falecidos (José Herculano
Pires, “Revolução” e Alberto José Barros Antunes Baptista, “Kipaka”)
e muitos outros angolanos que na Região Central das Grandes Nascentes se iam
afastando das dramáticas linhas de guerra de Savimbi, que providenciavam
a “somalização” de Angola… por isso o conhecimento sobre tráfico de
diamantes e tráfico de armas deviam ser enriquecidos, em função das nossas
investigações em curso e em defesa do estado angolano que abria espaço ao
Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN).
A
2 de Agosto de 1998, eu produzia o documento que dou pela primeira vez a
conhecer, numa altura em que tudo se tornava decisivo, um documento que fazendo
parte da complexidade da história, tem até hoje validade pelo que se tem
passado com as “Primaveras Árabes”, da Líbia ao Afeganistão, tendo em
conta as sistemáticas redes clandestinas de fornecimento de armamento que têm
polvilhado as cenas políticas internacionais desde a ligação e apoio do
republicano Ronald Reagan aos “constras”, a Savimbi e a Bin Laden.
Esse
documento, pela ênfase dos seus termos, foi concebido para contribuir para o
GURN pressionar sem remissão a ONU e o próprio Conselho de Sgurança e antecede
o célèbre “Relatório Fowler” que finalmente ocorreria a 10 de Março
de 2000…
Eis
o documento, que se junta e segue mesmo assim com letras garrafais quando no
original eram as únicas a negrito…
O
Governo deve aumentar as exigências em relação à MONUA e aos outros Organismos
da ONU .
02
AGO 98
1) O
facto da MONUA, em relação aos acontecimentos que enlutaram o País em BULA, ter
produzido a conclusão de “não haver provas que impliquem a UNITA no
massacre” e, em sequência disso acusar a imprensa estatal de estar
implicada num “acto de propaganda hostil”, parece-nos suficiente para o
ESTADO Angolano, rever o seu relacionamento com os Organismos Internacionais do
quadro da ONU e, ao mesmo tempo que deve exigir todas as explicações
necessárias em relação aos últimos acontecimentos, apresentar um inventário
integral de todos os pronunciamentos hostis que têm sido sistematicamente
feitos por SAVIMBI, a partir de meados do ano passado, incluindo o livro “COMBATES
PELA ÁFRICA E PELA DEMOCRACIA”, da Editorial FAVRE e da autoria de ATSUTSÉ
KOKOPUVI AGBOBLI.
2) A
MONUA deve ser chamada à atenção de, estando em ANGOLA, com o papel que possui
em todo o Processo, ela está aqui para conhecer e informar, principalmente
quando há ocorrências de carácter tão sanguinário quanto a de BULA: se não foi
a UNITA, conforme o testemunho dos populares feridos, então quem foi, por que
foi, que objectivos teve?
A
vontade política de querer salvar o processo de Paz, não pode inibir, no nosso
entender, a necessidade de esclarecimento da verdade, que passa por BULA,
pelo “acidente” que vitimou BLONDIN BEYE, pela ocupação de Municípios
e Comunas, emboscadas e assassinatos um pouco por todo o lado do território,
pelo aumento de refugiados e deslocados em número que coloca em risco a
sobrevivência de largos milhares de habitantes, no fornecimento clandestino de
armas e equipamentos à UNITA a partir de Países próximos e afastados, que passa
pelos pronunciamentos de SAVIMBI e os apoios clandestinos e velados que ele vai
cultivando um pouco por todo o MUNDO (apesar das sanções), etc., etc.
3) A
ONU tem a obrigação moral e cívica de fazer funcionar o Processo de Paz no
sentido da estabilidade política, económica e social do País, reforçando ao
mesmo tempo a necessidade de soberania do ESTADO Angolano, cumprindo com as
obrigações dos seus mandatos e estabelecendo o respeito pelos Direitos Humanos
e não pode funcionar “contra natura”.
O
CONSELHO DE SEGURANÇA deve ser levado a pronunciar-se sobre os sistemas
clandestinos que a UNITA beneficia na ÁFRICA DO SUL, na ZÂMBIA, no TOGO, em
PORTUGAL, em FRANÇA, nos EUA, na UCRÂNIA, etc., cujo “produto
acabado” é o risco de guerra que pende sobre o nosso País e implica que o
futuro de ANGOLA seja mais uma vez adiado.
O
emissário de KOFI ANNAN deverá ser esclarecido de todas as preocupações que atingem
as questões do ESTADO Angolano e as populações do País de forma tão
fundamentada quanto a possível, sendo justo que o Governo Angolano exija a
adopção de prazos para as iniciativas que se tomarem e medidas muito mais
eficazes que as que foram tomadas na sequência das resoluções do CONSELHO DE
SEGURANÇA à escala global.
02-08-1998
11:36
Fotos
e ilustrações que fazem parte das pistas:
Savimbi
no encontro com Ronald Reagan, na Casa Branca; Encontro de Ronald Reagan com
Donald Trump em 1987; Capa do livro de Robert R. Fowler, o diplomata que
produziu em 2000, com outros enviados da ONU o “Fowler Report”sobre Angola
e seria em 2008, “estranhamente” raptado pelo Al Qaeda do Magreb no
Níger (https://www.goodreads.com/author/show/5825183.Robert_R_Fowler);
Capa de O Rapto da minha amiga (que conheci apenas via “fracebook”, Dora Fonte (http://www.fnac.pt/O-Rapto-Dora-Fonte/a735239#)…
Nota
final:
Com
vidas tão completamente distintas, Dora Fonte e Robert R. Fowler têm muito em
comum: em 1984 e em 2008 os raptores, no quadro dum fundamentalismo sem
limites, obrigaram-nos a viver vidas que qualquer um deles jamais teria sonhado
que iriam viver (ou sobreviver) e ambos produziram testemunhos dessa
experiência amarga que fazem parte das imensas pistas que é necessário abordar…
prevenindo e acautelando sobre o futuro comum da humanidade.
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