Manlio Dinucci*
Durante sete anos de guerra
contra a Síria, Israel interveio, secreta e permanentemente, dando apoio aéreo
aos jihadistas, a fim de que eles pudessem derrubar a República. Desde o final
de 2018, Tel Aviv mudou de táctica e agora efectua operações de bombardeio
violentas e não se esconde mais. Tratar-se-ia de atingir alvos iranianos com o
acordo tácito de Moscovo. No entanto, os alvos iranianos parecem ser,
meramente, desprezíveis. Simultaneamente, Israel, que concluiu um acordo com os
dirigentes do Hamas e os financia publicamente através do Catar, prossegue a
sua guerra contra os civis de Gaza.
“Com um movimento muito insólito,
Israel oficializou o ataque contra alvos militares iranianos na Síria e intimou
as autoridades sírias a não se vingarem contra Israel”: é assim que a
comunicação mediática italiana relata o ataque de ontem de Israel na Síria, com
mísseis de cruzeiro e bombas guiadas. “É uma mensagem para os russos que,
juntamente com o Irão, permitem a sobrevivência de Assad no poder”, comenta
o Corriere della Sera.
Ninguém põe em dúvida o “direito”
de Israel de atacar um Estado soberano para impor que governo deveria ter,
depois de, durante oito anos, os USA, a NATO e as monarquias do Golfo tentarem
demoli-lo, juntamente com Israel, como fizeram em 2011 com o Estado da Líbia.
Ninguém se escandaliza de que os
ataques aéreos israelitas, sábado e segunda-feira, tenham causado dezenas de
mortes, entre as quais, pelo menos, quatro crianças, e sérios danos no
aeroporto internacional de Damasco, enquanto se salienta a notícia que, por
prudência, permaneceu fechada durante um dia, para grande desgosto dos
excursionistas, a estação de esqui israelita no Monte Hermon (totalmente
ocupada por Israel, juntamente com as Colinas de Golan).
Ninguém se preocupa com o facto
de que, ao intensificar-se os ataques israelitas na Síria, com o pretexto de
que ela serve de base de lançamento de mísseis iranianos, faz parte da
preparação de uma guerra em larga escala contra o Irão, planeada com o Pentágono,
cujos efeitos seriam catastróficos.
A decisão dos Estados Unidos
sairem do acordo nuclear iraniano - acordo definido por Israel como “a rendição
do Ocidente ao eixo do mal, liderado pelo Irão” - causou uma situação de
extrema gravidade, não só para o Médio. Israel, a única potência nuclear no
Médio Oriente - não aderente ao Tratado de Não-Proliferação, assinado pelo Irão
– tem apontado contra o Irão, 200 armas nucleares (como especificou o antigo
Secretário de Estado USA, Colin Powell, em Março de 2015 [1]).
Entre os diversos transportadores de armas nucleares, Israel possui uma frota
considerável de caças F-35A, declarada operacional em Dezembro de 2017. Israel
não foi apenas o primeiro país a comprar o novo caça de quinta geração da
empresa americana Lockheed Martin, mas com as suas próprias indústrias
militares, desempenha um papel importante no desenvolvimento do caça: as
‘Israel Aerospace Industries’ começaram a produzir, no passado mês de Dezembro,
componentes de asas que tornaram o F-35 invisível ao radar. Graças a essa
tecnologia, que também será aplicada aos F-35 italianos, Israel fortalece as
capacidades de ataque das suas forças nucleares, integradas no sistema
electrónico da NATO, no âmbito do “Programa de Cooperação Individual com
Israel”.
No entanto, de tudo isto, não há
notícias na nossa comunicação mediática, como não há notícia de que, além das
vítimas causadas pelo ataque israelita na Síria, há ainda mais numerosas
provocadas entre os palestinianos pelo embargo israelita, na Faixa de Gaza. Aí
– devido ao bloqueio decretado pelo governo israelita, os fundos internacionais
destinados a instalações sanitárias na Faixa de Gaza - seis hospitais de treze,
incluindo dois hospitais pediátricos Nasser e Rantissi, tiveram de fechar em 20
de Janeiro, devido à falta de combustível necessário produzir energia eléctrica
(na Faixa, o fornecimento via rede é extremamente irregular). Não se sabe
quantas vítimas provocará o encerramento deliberado dos hospitais de Gaza.
De tudo isto não haverá notícias
na nossa media que, pelo contrário, deram relevo ao que declarou o
Vice-Primeiro Ministro, Matteo Salvini, na sua visita recente a Israel: “Todo o
meu empenho em apoiar o direito à segurança de Israel, baluarte da democracia
no Médio Oriente”.
Manlio Dinucci*
| Voltaire.org.net | Tradução Maria Luísa de
Vasconcellos | Fonte Il Manifesto
(Itália)
[1]
“Powell
Acknowledges Israeli Nukes”, Eli Clifton, Lob Log, September 14, 2016.
*Geógrafo e geopolítico. Últimas
publicações : Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ; Diario di
viaggio, Zanichelli 2017 ; L’arte
della guerra / Annali della strategia Usa/Nato 1990-2016, Zambon 2016;Guerra
nucleare. Il giorno prima. Da Hiroshima a oggi: chi e come ci porta alla
catastrofe, Zambon 2017; Diario di guerra.
Escalation verso la catastrofe (2016 - 2018), Asterios Editores 2018.
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