sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

UE-Grécia | Os chamados "Dias de estudo" do GUE/NGL | Análises lacrimosas da "extrema-direita"


A verdade quanto ao papel da tal "esquerda dominante"

Elissaios Vagenas [*]

Recentemente tiveram lugar em Nicósia [Chipre] os chamados "Dias de estudo", organizados pelo grupo euro-parlamentar de "esquerda" denominado European United Left/ Nordic Green Left (GUE/NGL). Como é bem sabido, o KKE retirou-se deste grupo em 2014 uma vez que é – em sua essência – o "braço" parlamentar da estrutura oportunista do chamado "Partido da Esquerda Europeia" (PEE). O KKE na Europa coordena sua acção com 30 Partidos Comunistas e Operários que participam na "Iniciativa Comunista Europeia".

Voltando àquele evento, os "Dias de estudo" do GUE/NGL, vale a pena dar uma olhadela à declaração do vice-presidente do Parlamento Europeu e chefe da delegação do SYRIZA, Dimitris Papadimoulis, o qual apresentou o tema "A extrema-direita na UE. A resposta da esquerda".

É certamente audacioso da parte do GUE/NGL organizar uma discussão "sobre a luta contra a extrema-direita" e designar para apresentar este tópico o representante do SYRIZA o qual já há quatro anos co-governa a Grécia com o partido de extrema-direita Gregos Independentes (ANEL).

As causa do fenómeno e o silêncio culpado da "esquerda dominante" 

Na sua intervenção, o representante do SYRIZA considerou que a causa da ascensão da extrema-direita se encontra no "neoliberalismo que aumentou as desigualdades" na nossa sociedade.

Para dizer a verdade, é interessante ler estas linhas do representante de um partido que durante os seus quatro anos de governação implementou todas as duras medidas anti-populares que os governos anteriores de "direita" e social-democrata conseguiram descarregar sobre as costas do povo, sobrecarregando-o com novas medidas adicionais com o objectivo de aumentar os lucros das grandes empresas. Esta política anti-popular que foi implementada pelo governo "de esquerda" do SYRIZA também levou 46,3% da população a viver abaixo da linha de pobreza.

Realmente, como podem as "lágrimas" do SYRIZA quanto à ascensão da extrema-direita e do fascismo corresponderem com excursões conjuntas dos seus membros do parlamento com aquelas da "Aurora Dourada" nazi a Kastellorizo? [1] Como é que o seu governo convida representantes da Aurora Dourada para uma série de festas e eventos celebratórios? Como é que este governo "de esquerda" não tomou o passos necessários a fim de concluir o julgamento das dúzias de líderes do Aurora Dourada que tem tramitado durante os últimos cinco anos, em que aqueles em julgamento foram acusados de assassínio e outros crimes graves?

Talvez o vice-presidente do Parlamento Europeu não saiba que o parlamento que ele representa tomou uma série de decisões que "levam água ao moinho" da revisão da História e da justificação dos nazis juntamente com aqueles que com eles colaboraram.

Não sabe ele que a própria UE, a qual as forças do SYRIZA sempre apoiaram e que o GUE/NGL embeleza, cultivando a confusão com o mito acerca da "correcção" desta organização imperialista, elevou o anti-comunismo ao nível de uma ideologia oficial, estimulando assim a extrema-direita e forças fascistas?

Não sabe ele que com o apoio da UE numa série de países os partidos comunistas são proibidos, ou enfrentam enormes obstáculos que bloqueiam sua acção política?

Esqueceu-se ele que uma das primeiras viagens do presidente do SYRIZA, A. Tsipras, como primeiro-ministro, foi a sua visita à Ucrânia e a sua reunião como presidente P. Poroshenko que pouco antes subira ao poder através de um golpe contra a liderança do país, apoiado pelas forças fascistas.

Naturalmente ele sabe tudo isto! Assim como sabe muito bem que todo ano o GUE-NGL participa na "celebração" dos "Prémios Sakharov" anti-comunistas que foram instituídos pelo Euro Parlamento.

Portanto, a hipocrisia da forças da chamada "esquerda governante" é grande, pretendendo eles não saberem nada acerca do crime no qual eles próprios participam, administrando o capitalismo, implementando políticas anti-povo.

Anti-comunismo e anti-sovietismo, combinados com revisão da História e justificação dos nazis, juntamente com o refutar de esperanças que foram semeadas pelos governos sociais-democratas (velho e novo), são factores que "preparam o terreno" para o desenvolvimento de forças nacionalistas de extrema-direita e fascistas.

Os serviços providenciados pelo SYRIZA ao capital e ao euro-atlantismo reforçam o nacionalismo.

Além disso, o objectivo do governo SYRIZA-ANEL de servir os interesses do grande capital e suas alianças internacionais com os EUA, NATO e a UE foi o que levou ao chamado "Acordo Prespes" [2] . O objectivo é claro: Promover a integração do FYROM e dos Balcãs Ocidentais como um todo dentro da NATO e de associações imperialistas como a UE a fim de "esmagar" os interesses competitivos de outras potências imperialistas que procuram fortalecer suas posições nos Balcãs.

O "Acordo Prespes" que o governo SYRIZA assinou para apoiar planos Euro-atlantistas, preservando as sementes do irredentismo, fortalece o nacionalismo em ambos os lados das fronteiras. Ele prova mais uma vez que o cosmopolitismo burguês, no qual o SYRIZA é mestre, adequa-se perfeitamente às forças que cultivam o nacionalismo.

Quem constitui um dissuasor? 

Acerca disto, naturalmente, o sr. Papadimoulis não disse nem uma palavra em Chipre. Ao contrário, ele defendeu que o "antídoto" para o fortalecimento da extrema-direita é uma "esquerda unida" que possa organizar "grandes alianças progressistas".

Estas "grandes alianças progressistas" são nada mais do que o sonho de combinar novas e velhas forças sociais-democratas, as quais, como enfatizámos, têm enorme responsabilidade no fortalecimento da extrema-direita e do fascismo. Naturalmente estas forças, que estão integradas dentro sistema capitalista, que apoiam as associações imperialistas da UE e da NATO, os planos dos EUA, não podem de qualquer maneira contribuir para confrontar a extrema-direita e o fascismo. Elas enganam os trabalhadores disfarçadas sob o manto do "anti-fascismo" e das "frentes progressistas e anti-fascistas".

Brecht escreveu que "o fascismo só pode ser combatido como o capitalismo na sua forma mais crua e opressiva" e é irrefutavelmente verdadeiro que o fascismo nasce do capitalismo.

Pode ele ser combatido e derrotado? 

Só [com] as forças que têm claro que a questão não é o método de gestão do sistema, como afirma a nova social-democracia do SYRIZA e seus aliados, mas o próprio sistema capitalista.

Os partidos comunistas e operários que criaram uma frente contra o capital, as forças imperialistas como as dos EUA, bem como as associações imperialistas da NATO e da UE, e não aquelas da nova social-democracia que participa activamente nos seus desígnios.

Só os comunistas que mantêm uma frente contra o capitalismo, os monopólios, as uniões imperialistas, que travam uma batalha para a formação da Aliança Social da classe trabalhadora com os outros estratos populares e que enviarão para o caixote do lixo da História o ventre de onde nasce o fascismo, o sistema capitalista. 

NT
[1] Kastellorizo: Ilha turística grega.
[2] Acordo entre a Grécia e a antiga República Juguslava da Macedónia (FYROM), assinado por Tsipras.

[*] Membro do CC e responsável pela Secção de Relações Internacionais do KKE 

O original encontra-se no jornal Rizospastis, de 12-13/Janeiro/2019,
e a versão em inglês em inter.kke.gr/,,,

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

Sem comentários:

Mais lidas da semana