Jorge Rocha* | opinião
Como seria a saúde dos
portugueses se a conjunção dos esforços dos grupos privados e dos dois
sindicatos dos enfermeiros, comandados pela sua bastonária, bastar para pôr em
xeque o SNS? A hipótese de serem bem sucedidos é reduzida, mas as últimas
semanas têm sido pródigas em casos - desde a «greve cirúrgica» à novela ADSE
sem esquecer as colaterais reclamações das farmácias - que visam conjugar-se no
objetivo de impedir a publicação da nova Lei de Bases da Saúde, peça mestra da
estratégia de separar o setor entre quem dele cuida como direito dos cidadãos e
os que visam nele fazer o seu negócio.
O exemplo do que pode vir a ser
um problema grave se os portugueses se vissem cingidos aos hospitais e clínicas
privadas, foi-me hoje dado por familiares que vivem em Haia, na Holanda. Nessa
cidade existem três hospitais, que foram comprados por um grupo privado. A
ideia era conseguir uma melhor prestação de cuidados aos pacientes, já que ali
vigora a política de um governo de direita para o qual o mercado só oferece benefícios,
enquanto, o Estado só tende a atrapalhar. O problema é essa falácia estar a ser
rapidamente desmascarada com muitos dos habitantes da cidade a ficarem
justificadamente alarmados pelo facto desse grupo privado já se queixar de não
ter pacientes em número suficiente para conseguirem a esperada rentabilidade,
pelo que se propõem fechar um deles - o Bronovo -, tido como o mais relevante,
tanto mais que é aquele a que recorre a família real, quando disso tem
necessidade.
Coincidentemente esse hospital
fica localizado numa zona da cidade, que vale muitos milhões se for demolido
para dar espaço a um investimento imobiliário.
Na prática o que os habitantes de
Haia estão a sentir é o esplendor da saúde entregue a interesses privados, que
desprezam totalmente a qualidade dos serviços prestados aos cidadãos, porque
dão prioridade à maximização dos lucros dos acionistas. Os holandeses estão,
pois, a sentir o que significa entregarem a grandes grupos económicos as
funções, que deveriam caber ao Estado. Esperemos que os portugueses não deixem
chegar o setor a tão repugnante deriva do capitalismo selvagem.
*jorge rocha | Ventos Semeados
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