Díli, 13 fev (Lusa) - Timor-Leste
está a ser mantido refém pelos preços "exorbitantes" das ligações
aéreas que agravam as dificuldades do país em desenvolver o turismo, disse hoje
o responsável de um projeto norte-americano de apoio ao setor, a USAid.
"É uma questão fundamental.
Estará Timor-Leste a ser mantido refém destes preços exorbitantes? Que podemos
fazer para mudar esta realidade e aumentar a concorrência?", questionou
hoje Peter Semone, da agência de cooperação dos Estados Unidos, USAid.
Intervindo num seminário em Díli
sobre o setor, Semone disse que as ligações aéreas são o principal exemplo dos
obstáculos de conectividade e acessibilidade ao país, onde faltam ligações por
ar, mar e terra, convenientes e com preços vantajosos, já que isso é
"requisito obrigatório para o turismo".
A situação que já era
relativamente séria no passado agravou-se significativamente, com rotas
limitadas e preços particularmente elevados, inclusive no voo de ligação a
Darwin, na austrália, que "milha por milha, é um dos mais caros do
planeta", afirmou.
Há um ano os voos de ida e volta
até Bali custavam menos de 200 dólares, havia duas ligações semanais com
Singapura e uma nova rota com Kupang, na metade indonésia da ilha de Timor.
"As coisas pioraram. O custo
do voo para Bali triplicou, a rota para Kupang fechou depois de poucos meses e
o voo de Singapura passou a ser semanal", disse.
"O custo de uma semana de
ferias em Timor-Leste para alguém de Singapura dava para pagar uma viagem para
a Europa", referiu Semone.
O responsável do programa da
USAid disse que a agência está disponível para ajudar o Governo a lidar com
esta e outras questões, procurando responder à "concorrência forte no
contexto regional, com destino estabelecidos próximos que recebem 120 milhões
de visitantes, mais de metade deles da própria região".
Uma eventual alternativa, disse,
pode ser o turismo doméstico e transfronteiriço -- quase 100 mil pessoas atravessaram
a fronteira na ilha de Timor no ano passado --, mas para isso o país tem que
fortalecer as suas infraestruturas, incluindo rede viária e saneamento básico,
e o fortalecimento do setor.
É importante ainda, defendeu,
rever a política de vistos, que são "caros e complicados", o que
torna "impossível" vender essa opção de turismo.
"Quatro milhões de dólares
de receitas anuais de visto podem ser benéficos para os cofres públicos, mas
essas taxas limitam o crescimento do turismo", disse.
Semone deu como exemplo a decisão
da vizinha Indonésia em liberalizar a sua política de vistos, com entrada
facilitada para cidadãos de 169 países, o que fez duplicar o número de
chegadas.
O responsável do projeto Turismo
para Todos falava num seminário sobre estratégias de crescimento do setor do
turismo através de parcerias público privadas (PPP), organizado pela USAid.
Semone destacou a importância das
PPP como "motor do desenvolvimento turístico", que pode ser uma das
"pedras basilares da diversificação económica do país".
Para isso, disse, setor privado e
setor público devem colaborar para ultrapassar obstáculos que continuam a
existir nos esforços de crescimento e desenvolvimento do setor.
"O turismo exige
relacionamentos próximos entre todos os agentes. Setor privado e público,
comunidade, jovens, académicos, Igreja, parceiros de desenvolvimento e grupos
de interesses", defendeu.
"Todos têm diferentes
perspetivas, diferentes contributos, necessidades e experiências únicas a
oferecer. Precisamos de soluções transversais e parcerias são a melhor forma de
alcançar isto", afirmou.
No mesmo encontro, a embaixadora
dos Estados Unidos em Díli, Kathleen Fitzpatrick, reafirmou o compromisso do
seu país em apoiar
Timor-Leste no reforço da sua estratégia de promoção do
turismo como setor vital para a diversificação económica nacional.
A diplomata destacou, em
particular, a importância que as PPP podem ter para ajudar a cumprir os
objetivos do Governo de alcançar um total de 200 mil visitantes por ano, gerar
15 mil empregos no setor e receitas totais de 150 milhões de dólares.
Trata-se, disse, de "ajudar
a construir economias fortes, baseadas no mercado, incentivando o
desenvolvimento económico sustentável", capitalizando os potenciais
turísticos de Timor-Leste, explicou.
"As PPP podem tornar isto
possível. Projetos de PPP bem estruturados podem atrair investimento de muitos
setores e parceiros, criando uma plataforma mutuamente benéfica onde o setor
publico tem um papel na melhoria na promoção do destino e o privado de oferecer
produtos turísticos variados e de qualidade", disse.
"Não há um modelo único de
PPP e cada país precisa de estratégias únicas, adaptadas à realidade
local", frisou.
Intervindo no encontro, o
secretário de Estado da Formação Profissional e Emprego, Julião da Silva,
recordou que, apesar dos esforços, o setor do turismo continua a enfrentar
grandes dificuldades e problemas.
Falta de operadores suficientes,
carências de recursos humanos, infraestruturas limitadas, custo de viagens
caras e falta de informação internacional são alguns dos fatores, disse, que afetam
as perspetivas do setor em Timor-Leste.
ASP // JMC
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