quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Timor-Leste refém de preços "exorbitantes" nas ligações aéreas - USAid


Díli, 13 fev (Lusa) - Timor-Leste está a ser mantido refém pelos preços "exorbitantes" das ligações aéreas que agravam as dificuldades do país em desenvolver o turismo, disse hoje o responsável de um projeto norte-americano de apoio ao setor, a USAid.

"É uma questão fundamental. Estará Timor-Leste a ser mantido refém destes preços exorbitantes? Que podemos fazer para mudar esta realidade e aumentar a concorrência?", questionou hoje Peter Semone, da agência de cooperação dos Estados Unidos, USAid.

Intervindo num seminário em Díli sobre o setor, Semone disse que as ligações aéreas são o principal exemplo dos obstáculos de conectividade e acessibilidade ao país, onde faltam ligações por ar, mar e terra, convenientes e com preços vantajosos, já que isso é "requisito obrigatório para o turismo".

A situação que já era relativamente séria no passado agravou-se significativamente, com rotas limitadas e preços particularmente elevados, inclusive no voo de ligação a Darwin, na austrália, que "milha por milha, é um dos mais caros do planeta", afirmou.

Há um ano os voos de ida e volta até Bali custavam menos de 200 dólares, havia duas ligações semanais com Singapura e uma nova rota com Kupang, na metade indonésia da ilha de Timor.

"As coisas pioraram. O custo do voo para Bali triplicou, a rota para Kupang fechou depois de poucos meses e o voo de Singapura passou a ser semanal", disse.

"O custo de uma semana de ferias em Timor-Leste para alguém de Singapura dava para pagar uma viagem para a Europa", referiu Semone.

O responsável do programa da USAid disse que a agência está disponível para ajudar o Governo a lidar com esta e outras questões, procurando responder à "concorrência forte no contexto regional, com destino estabelecidos próximos que recebem 120 milhões de visitantes, mais de metade deles da própria região".

Uma eventual alternativa, disse, pode ser o turismo doméstico e transfronteiriço -- quase 100 mil pessoas atravessaram a fronteira na ilha de Timor no ano passado --, mas para isso o país tem que fortalecer as suas infraestruturas, incluindo rede viária e saneamento básico, e o fortalecimento do setor.

É importante ainda, defendeu, rever a política de vistos, que são "caros e complicados", o que torna "impossível" vender essa opção de turismo.

"Quatro milhões de dólares de receitas anuais de visto podem ser benéficos para os cofres públicos, mas essas taxas limitam o crescimento do turismo", disse.

Semone deu como exemplo a decisão da vizinha Indonésia em liberalizar a sua política de vistos, com entrada facilitada para cidadãos de 169 países, o que fez duplicar o número de chegadas.

O responsável do projeto Turismo para Todos falava num seminário sobre estratégias de crescimento do setor do turismo através de parcerias público privadas (PPP), organizado pela USAid.

Semone destacou a importância das PPP como "motor do desenvolvimento turístico", que pode ser uma das "pedras basilares da diversificação económica do país".

Para isso, disse, setor privado e setor público devem colaborar para ultrapassar obstáculos que continuam a existir nos esforços de crescimento e desenvolvimento do setor.

"O turismo exige relacionamentos próximos entre todos os agentes. Setor privado e público, comunidade, jovens, académicos, Igreja, parceiros de desenvolvimento e grupos de interesses", defendeu.

"Todos têm diferentes perspetivas, diferentes contributos, necessidades e experiências únicas a oferecer. Precisamos de soluções transversais e parcerias são a melhor forma de alcançar isto", afirmou.

No mesmo encontro, a embaixadora dos Estados Unidos em Díli, Kathleen Fitzpatrick, reafirmou o compromisso do seu país em apoiar Timor-Leste no reforço da sua estratégia de promoção do turismo como setor vital para a diversificação económica nacional.

A diplomata destacou, em particular, a importância que as PPP podem ter para ajudar a cumprir os objetivos do Governo de alcançar um total de 200 mil visitantes por ano, gerar 15 mil empregos no setor e receitas totais de 150 milhões de dólares.

Trata-se, disse, de "ajudar a construir economias fortes, baseadas no mercado, incentivando o desenvolvimento económico sustentável", capitalizando os potenciais turísticos de Timor-Leste, explicou.

"As PPP podem tornar isto possível. Projetos de PPP bem estruturados podem atrair investimento de muitos setores e parceiros, criando uma plataforma mutuamente benéfica onde o setor publico tem um papel na melhoria na promoção do destino e o privado de oferecer produtos turísticos variados e de qualidade", disse.

"Não há um modelo único de PPP e cada país precisa de estratégias únicas, adaptadas à realidade local", frisou.

Intervindo no encontro, o secretário de Estado da Formação Profissional e Emprego, Julião da Silva, recordou que, apesar dos esforços, o setor do turismo continua a enfrentar grandes dificuldades e problemas.

Falta de operadores suficientes, carências de recursos humanos, infraestruturas limitadas, custo de viagens caras e falta de informação internacional são alguns dos fatores, disse, que afetam as perspetivas do setor em Timor-Leste.

ASP // JMC

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