segunda-feira, 25 de março de 2019

Angola | A luz e as sombras de Cuito Cuanavale


Martinho Júnior, Luanda 

1- Há um manancial de energia que se concentra e concentrará inexoravelmente todos os anos, a 23 de Março, em Cuito Cuanavale!

A partir de agora, todos os continentes têm sobejos motivos para nessas paragens irem beber a inspiração para fazer face aos desafios do presente e do futuro, pois no fundo, desde as profundidades das raízes do movimento de libertação que une três continentes, há um Dia de Libertação que transcende a África Austral!

Esse manancial de energia, entre ainda tão pouca luz e tantas sombras, mais que os historiadores, mais que os antropólogos, mais que os combatentes de várias gerações, são os povos que interpretam por inteiro, os povos que longamente experimentaram e experimentam ainda, apesar de todas as alienações e ilusões acumuladas, o opróbrio da opressão à margem da história dos poderosos, os povos que pouco a pouco vão vencendo os fantasmas de séculos, que pululam vadiando ainda, particularmente nos vastos continentes e mares do sul…

Essa energia ilumina esses povos nas suas mais legítimas aspirações colectivas, aquelas que se situam como um poderoso e telúrico íman, em benefício de toda a humanidade!

Desde o capitalismo mercantil que assim é, de capitalismo em capitalismo, expansivo, ou redutor, ainda que os poderosos tentem disseminar ainda mais fantasmas, sobre os milhões e milhões de fantasmas ignotos que como sombras se revolvem desde o passado de barbárie e trevas…

2- O manancial de energia teve seus intérpretes forjados e temperados na longa luta de libertação que leva mais de dois séculos, a sul.

Da revolução dos escravos no Haiti, às batalhas que inundaram o continente americano no berço de independências alcançadas a ferro e fogo, às batalhas heroicas do Sudeste Asiático, até à saga de Argel ao Cabo da Boa Esperança, nutre-se esse movimento de libertação que vai rompendo as trevas, que espanta fantasmas e sombras, que continua a trazer a luz indispensável à consciência da própria humanidade!

Os intérpretes dessa energia tiveram e têm em consciência a noção da dialéctica que continua em causa entre norte e sul, por que é a partir dessa sabedoria que alguma vez se poderá ir alcançando a síntese civilizacional que nutrirá uma humanidade saudável e um planeta livre de ameaças que só o homem pode causar, entre si e em relação à natureza, ali onde é apenas um minúsculo e evolutivo embrião, meio perdido e meio obscuro ser entre os seres…

Nem todas as ameaças, sabemo-lo, serão extirpadas sobre este planeta-azul, nossa casa e nossa causa comum, mas essa síntese iluminada, foco civilizacional evocada cada ano em Cuito Cuanavale, ao menos contribuirá para retirar ao homem o peso das sombras que advêm da barbárie suprema, a barbárie dele se ter tornado no mais inconsciente e insaciável predador, conforme ainda se vai nutrindo a sua saga em pleno século XXI…

A luz que esvai a barbárie teve o condão de incidir em cheio no Cuito Cuanavale, desde o foco luminoso que atravessou o Atlântico Sul, desde o alto da Sierra Maestra…

Do Haiti a Santiago de Cuba e Sierra Maestra, da Sierra Maestra a um continente inteiro, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, um intérprete, acompanhado por tantos fiéis intérpretes connosco por dentro, acompanhado de milhões e milhões de seres desse manancial de energia e vida que se levanta a sul, fluem cada ano em direcção ao Cuito Cuanavale que rompe as “terras do fim do mndo”, espantando as sombras e os fantasmas remotos, mas revendo-se nos sonhos perdidos e nos pesadelos de tantas vivências submersas e esmagadas…

No foco e entre as luzes, eleva-se com toda a intensidade e capacidade de iluminar o futuro, desde a saga-matriz que constitui a sua própria vida para lá do que lhe foi físico, a luz singular da imprescindível figura do Comandante Fidel, qual cavalo alado, transatlântico e transcontinental, ele próprio um dos maiores artífices da projecção global do mais profundo significado do contemporâneo Cuito Cuanavale!


Fidel condensou e condensa todas essas energias inesgotáveis e telúricas, um vulcão ardente e vigoroso, não no sentido do apocalipse, mas no sentido da redenção civilizacional humana!

São essas as energias que expandem a luz a partir do sul, sobre todos os fantasmas, sombras e trevas que fluem desde o passado… essa é a densidade maior que paira como um cada vez mais potente farol, na Sierra Maestra, em Cuito Cuanavale e em todos os teatros de luta e rebeldia que foram sendo semeados por todos os recônditos mais ignotos do sul!

Que assim seja e se continue com todas as luzes que nos sejam possíveis condensar, adensando a sabedoria da mais legítima rebeldia a sul: a saga da lógica com sentido de vida em benefício de toda a humanidade!...

Martinho Júnior | Luanda, 23 de Março de 2019

Fotos: Imagens da energia e da luz que emerge das sombras e sobre as sombras…

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