Guineenses residentes em Portugal
querem ver atualizadas no programa do novo Governo as promessas de ajuda
anunciadas na mesa redonda de 2015, em Bruxelas. Para
evitar que a Guiné-Bissau "volte a ser um país adiado".
O futuro
governo da Guiné-Bissau deve tornar público a lista de países e fundos
prometidos durante a mesa redonda de Bruxelas, indicando a sua natureza e as
contrapartidas. O apelo consta de uma Carta Aberta que o Movimento Cantanhez,
com sede em Coimbra, endereçou ao PAIGC, ao partido vencedor das eleições
legislativas de 10 de março.
O documento, que dá corpo ao
projeto "Pa Guiné ka Maina", apresenta um conjunto de propostas
exequíveis ao futuro primeiro-ministro como contributo para o programa de Governo,
de modo a "evitar que a Guiné-Bissau volte a ser um país adiado."
Em janeiro de 2018, quando a
Guiné-Bissau se via confrontada com uma crise política sem saída, o movimento,
dirigido por Braima Mané, propôs como solução alternativa a tutela da gestão do
país pelas Nações Unidas por um período de cinco anos prorrogáveis. O Movimento
Cantanhez diz que continua a acreditar nessa posição, visando colocar a
Guiné-Bissau no patamar de países de desenvolvimento médio em 10 anos.
"Queremos influenciar com
ideias para que o próximo Governo possa, num curto espaço de tempo, dar sinais
claros de que pretende, de facto, tirar o país do marasmo em que se
encontra", diz Inácio Semedo, vice-presidente e um dos fundadores do
Movimento Cantanhez. E para que isso aconteça, sublinha, "o próximo
Governo terá obrigatoriamente que ser um governo de gente capaz, de gente
coerente, de gente séria, de gente comprometida com o país."
Propostas de governação
Declarações de Inácio Semedo,
vice-presidente e um dos fundadores do Movimento Cantanhez, que deposita
confiança no futuro primeiro-ministro, a quem apresentam, em Carta Aberta , várias
propostas de governação. "A nossa confiança dependerá apenas do Governo e
da sua atuação. Se for um Governo determinado em resolver os problemas dos
guineenses, naturalmente que nos conquistará a nós e aos guineenses",
assegura.
O Movimento quer ver aprovada na
Assembleia Nacional Popular um decreto-lei que estabeleça a obrigatoriedade de
concurso público para cargos de administração pública. Propõe um pacto com os
parceiros sociais de modo a assegurar um clima de estabilidade, que permita
colocar o país na senda do desenvolvimento. E também quer ver liquidados os
salários em dívida e pede disponibilidade orçamental que garanta o pagamento
regular de salários.
De acordo com os promotores da
Carta Aberta, será necessário submeter as propostas a um debate público
alargado, de modo a colher ideias e contributos de guineenses de vários
quadrantes. Isso vai enriquecer ainda mais o programa do Governo e a forma como
deve governar o país nos próximos quatro anos.
Aos partidos da oposição, Inácio
Semedo deixa um recado: "Não têm que ser inimigos, mas tem de haver, de
facto, oposição. Um escrutíneo permanente, uma exigência altíssima, porque o
país precisa que a oposição faça oposição, que aponte caminhos, que apresente
soluções. Isso é fundamental em qualquer democracia."
"Acredito que o país vai
mudar"
Na Damaia, freguesia do concelho
da Amadora, a DW África ouviu um grupo de cidadãos guineenses. Em todos eles
reina a esperança. "Para mim, a esperança é grande. Eu acredito que o país
vai mudar", diz Farim Baldé, a viver há 20 anos em Portugal.
Aissatu Dabó encolhe os ombros
com receio de falar. Mas depois de muita insistência, acaba por
confessar que acredita no futuro primeiro-ministro. "Domingos Simões
Pereira vai mudar a Guiné-Bissau."
Ama Demba, antigo combatente a
viver há 24 anos em Portugal, também acredita na coligação governamental
liderada pelo PAIGC: "Votámos outra vez no PAIGC para mudar. Não é
para ficar no mesmo sítio."
Jana Sidibé mora em Portugal há
quase 20 anos por razões de saúde. Acidentalmente, foi apanhado por balas perdidas
durante o conflito armado de 1998. Não acredita "que haverá tantas
mudanças", porque foi sempre o PAIGC quem governou o país. "Nunca
houve tranquilidade, nunca alguém governou. Se mudar, vai-me surpreender,
porque sempre quem governou o país é aquela mesma tecla", sublinha.
Úmaro Djau, residente em terras
lusas há 16 anos, pede união à classe política: "Que possam trabalhar em
união para desenvolver o país, porque todos estão a lutar para o mesmo
objetivo. O objetivo é para o país ir para a frente." O jovem guineense
apela a uma boa governação e cita setores chaves a desenvolver, entre os quais
a educação, a saúde e a agricultura.
Na sua maioria, os guineenses na
diáspora também expressam o desejo de um dia voltar à Guiné-Bissau assim que
houver condições. "Eu, se Deus quiser, vou voltar", promete Farim
Baldé.
João Carlos (Lisboa) | Deutsche
Welle
Sem comentários:
Enviar um comentário