Pedro Ivo Carvalho | Jornal de
Notícias | opinião
Espanha acorda hoje partida ao
meio. Esta é a primeira conclusão a tirar do resultado das eleições
legislativas mais importantes e participadas da História daquela democracia. A
segunda, mais previsível, é a de que se confirmou não só a vitória do socialista
Pedro Sánchez, como a necessidade que terá de promover uma coligação para
governar, no âmbito da qual os independentistas poderão ser novamente a chave
para um entendimento, gorada que ficou a possibilidade aritmética de um acordo
natural com o Podemos ser suficiente para alcançar a maioria absoluta. E a
terceira conclusão, que pairava como um fantasma sobre grande parte da nação, é
a de que a extrema-direita, protagonizada pelo Vox, não capitalizou
eleitoralmente ao ponto de influir na esfera do poder, mas irrompe no
Parlamento com uma força tremenda, ao ter sido capaz de eleger 24 deputados. A
balança só não pendeu de forma mais notória para o partido de Santiago Abascal
porque a forte mobilização do eleitorado favoreceu a Esquerda nos territórios
que, há quatro anos, foram da Direita.
A verdade é que o PP acabou por
ser atropelado pela estratégia de radicalização seguida, ao perder metade dos
deputados conquistados há quatro anos. Os espanhóis encantados com os valores
radicais da Direita preferiram apostar no novel Vox, que, não tendo alcançado o
desiderato de ser a segunda força mais votada desse espectro ideológico,
angariou uns nada negligenciáveis 2,6 milhões de votos. Espanha junta-se,
assim, a um movimento europeu de crescente representatividade de um discurso
nacionalista, xenófobo e autoritário, a que, felizmente, Portugal ainda vai
resistindo como um oásis parlamentar. Depois de uma campanha duríssima, Pedro
Sánchez tem dois caminhos: à Esquerda, com o Podemos e os independentistas; ou
à Direita, de mãos dadas com o Ciudadanos. O mapa do poder começa hoje a ser
desenhado.
*Diretor-adjunto
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