segunda-feira, 29 de abril de 2019

Espanha, um país partido e com Vox


Pedro Ivo Carvalho | Jornal de Notícias | opinião

Espanha acorda hoje partida ao meio. Esta é a primeira conclusão a tirar do resultado das eleições legislativas mais importantes e participadas da História daquela democracia. A segunda, mais previsível, é a de que se confirmou não só a vitória do socialista Pedro Sánchez, como a necessidade que terá de promover uma coligação para governar, no âmbito da qual os independentistas poderão ser novamente a chave para um entendimento, gorada que ficou a possibilidade aritmética de um acordo natural com o Podemos ser suficiente para alcançar a maioria absoluta. E a terceira conclusão, que pairava como um fantasma sobre grande parte da nação, é a de que a extrema-direita, protagonizada pelo Vox, não capitalizou eleitoralmente ao ponto de influir na esfera do poder, mas irrompe no Parlamento com uma força tremenda, ao ter sido capaz de eleger 24 deputados. A balança só não pendeu de forma mais notória para o partido de Santiago Abascal porque a forte mobilização do eleitorado favoreceu a Esquerda nos territórios que, há quatro anos, foram da Direita.



A verdade é que o PP acabou por ser atropelado pela estratégia de radicalização seguida, ao perder metade dos deputados conquistados há quatro anos. Os espanhóis encantados com os valores radicais da Direita preferiram apostar no novel Vox, que, não tendo alcançado o desiderato de ser a segunda força mais votada desse espectro ideológico, angariou uns nada negligenciáveis 2,6 milhões de votos. Espanha junta-se, assim, a um movimento europeu de crescente representatividade de um discurso nacionalista, xenófobo e autoritário, a que, felizmente, Portugal ainda vai resistindo como um oásis parlamentar. Depois de uma campanha duríssima, Pedro Sánchez tem dois caminhos: à Esquerda, com o Podemos e os independentistas; ou à Direita, de mãos dadas com o Ciudadanos. O mapa do poder começa hoje a ser desenhado.

*Diretor-adjunto

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