O presidente do Eurojust,
Ladislav Hamran, confirmou hoje que Rui Pinto, colaborador do Football Leaks,
está a cooperar com as autoridades de três países, França, Bélgica e Holanda,
revelou em Bruxelas a eurodeputada portuguesa Ana Gomes.
Ana Gomes explicou que, por
ocasião da deslocação do presidente da Unidade Europeia de Cooperação Judicial
ao Parlamento Europeu para apresentação do relatório anual de 2018 do Eurojust,
questionou Hamran sobre o que estava a fazer a agência "relativamente à
proteção dos denunciantes e, em particular, no caso de Rui Pinto", visto
que o seu processo de extradição da Hungria para Portugal tinha sido conduzido
através do Eurojust.
Ainda na comissão parlamentar de
Liberdades Cívicas, e em resposta à eurodeputada, o presidente do Eurojust
confirmou que "Rui Pinto estava efetivamente a colaborar como
'whistleblower', como denunciante, com autoridades de vários países europeus,
mas que o caso que tinha dado origem ao pedido de extradição por Portugal era
um caso diferente daqueles em que ele estava a colaborar com outras
autoridades", apontou Ana Gomes.
"No exterior, tive uma
conversa mais longa com o presidente do Eurojust, que obviamente não vou
revelar, mas posso apenas dizer que tive a confirmação que os países que já
estão a colaborar com Rui Pinto como denunciante, como 'whistleblower', e,
portanto, com o estatuto que merece ser protegido são a França, a Bélgica e a
Holanda", revelou então a eurodeputada.
Ana Gomes disse que, face a esta
confirmação de que as autoridades de três Estados-membros já estão a recorrer
às informações de que o colaborador do Football Leaks dispõe, o que a
"intriga é como é que é possível que as autoridades portuguesas, ainda por
cima tendo o Rui Pinto sob sua custódia, na prisão, não tenham ainda
formalmente pedido ao Rui Pinto para colaborar", sendo que "ele
obviamente está mais do que disponível para cooperar".
"E é aí que eu me questiono:
então como é que é? As autoridades portuguesas não querem apurar e deslindar
todo o esquema de criminalidade organizada que está por detrás do Football
Leaks, como querem as de outros países? Ainda por cima tendo uma principal
fonte de informação sob sua custódia", declarou.
Na segunda-feira, numa
intervenção realizada no âmbito do debate "Football Leaks e a proteção dos
denunciantes -- o papel de Rui Pinto", em Lisboa, Ana Gomes já manifestara
o receio de que Rui Pinto possa não ter um tratamento correto pelas autoridades
nacionais e alertou para recentes "disfunções da justiça".
Apelando à proteção jurídica dos
denunciantes e incluindo Rui Pinto sob este estatuto, a eurodeputada portuguesa
anunciou também que o Parlamento Europeu vai votar em abril uma diretiva que
vai criar mecanismos de defesa para estes indivíduos.
Em prisão preventiva desde 22 de
março, Rui Pinto, de 30 anos, foi detido na Hungria e entregue às autoridades
portuguesas, com base num mandado de detenção europeu, indiciado pela prática
de quatro crimes: acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa à pessoa
coletiva e extorsão na forma tentada.
Na base do mandado estão acessos
aos sistemas informáticos do Sporting e do fundo de investimento Doyen Sports e
posterior divulgação de documentos confidenciais, como contratos de
futebolistas do clube lisboeta e do então treinador Jorge Jesus, além de outros
contratos celebrados entre a Doyen e vários clubes de futebol.
Lusa | em Notícias ao Minuto |
Foto: Global Imagens
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