quinta-feira, 11 de abril de 2019

Portugal | Ambiente tóxico


Vítor Santos | Jornal de Notícias | opinião

É possível despejar 100 mil toneladas de resíduos, provenientes da Siderurgia Nacional, nas galerias de umas minas desativadas e não ser condenado? Sim. Aconteceu ontem. Em Portugal, claro está. São Pedro da Cova, freguesia de Gondomar, concretamente. O caso remonta a 2001, mas só agora conheceu sentença, em linha com o padrão habitual de celeridade da justiça portuguesa.

Quando, no mês passado, milhares de estudantes saíram à rua para defender o ambiente, não faltaram políticos mais rápidos do que a própria sombra na colagem à manifestação, valorizando a consciência verde dos jovens, um sinal de mudança de mentalidades que nos faz acreditar num futuro melhor.



O problema é que é impossível acreditar num cenário diferente do atual, de desprezo recorrente para com as questões ambientais, enquanto os infratores não forem efetivamente condenados. E não é isso que acontece em Portugal, onde a culpa neste tipo de crimes morre quase sempre solteira ou fica anos a fio a marinar em processos decanos.

No ano passado, por exemplo, muito se falou sobre a poluição no rio Tejo, denunciada por Arlindo Marques, que não teve medo de enfrentar empresas como a Celtejo, que ainda o tentou "calar", movendo-lhe um processo judicial por difamação. Entretanto, a empresa desistiu da ação, que estava condenada a perder, porque, efetivamente, o ambientalista tinha razão.

Mas, lá está, quando alguém "compra" uma guerra com uma entidade desta dimensão, não basta ter razão. Continuamos à espera de sanções pesadas para os crimes ambientais cometidos no Tejo, tal como as populações de Fânzeres e São Pedro da Cova, na questão do depósito de resíduos: sentados e indignados.

*Editor-executivo

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