Vítor Santos | Jornal de Notícias
| opinião
É possível despejar 100 mil
toneladas de resíduos, provenientes da Siderurgia Nacional, nas galerias de
umas minas desativadas e não ser condenado? Sim. Aconteceu ontem. Em Portugal,
claro está. São Pedro da Cova, freguesia de Gondomar, concretamente. O caso
remonta a 2001, mas só agora conheceu sentença, em linha com o padrão habitual
de celeridade da justiça portuguesa.
Quando, no mês passado, milhares
de estudantes saíram à rua para defender o ambiente, não faltaram políticos
mais rápidos do que a própria sombra na colagem à manifestação, valorizando a
consciência verde dos jovens, um sinal de mudança de mentalidades que nos faz
acreditar num futuro melhor.
O problema é que é impossível
acreditar num cenário diferente do atual, de desprezo recorrente para com as
questões ambientais, enquanto os infratores não forem efetivamente condenados.
E não é isso que acontece em Portugal, onde a culpa neste tipo de crimes morre
quase sempre solteira ou fica anos a fio a marinar em processos decanos.
No ano passado, por exemplo,
muito se falou sobre a poluição no rio Tejo, denunciada por Arlindo Marques,
que não teve medo de enfrentar empresas como a Celtejo, que ainda o tentou
"calar", movendo-lhe um processo judicial por difamação. Entretanto,
a empresa desistiu da ação, que estava condenada a perder, porque,
efetivamente, o ambientalista tinha razão.
Mas, lá está, quando alguém
"compra" uma guerra com uma entidade desta dimensão, não basta ter
razão. Continuamos à espera de sanções pesadas para os crimes ambientais
cometidos no Tejo, tal como as populações de Fânzeres e São Pedro da Cova, na
questão do depósito de resíduos: sentados e indignados.
*Editor-executivo
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