Cristina Azevedo | Jornal de Notícias
| opinião
A exposição comemorativa do 25 de
Abril que a Câmara Municipal do Porto organizou com extraordinárias fotografias
de Sérgio Valente, e que ainda pode ser visitada por estes dias, mostra que
aqui como em Lisboa e um pouco por todo o país, a verdadeira comoção que brotou
do encontro fraternal de todos com todos na rua aconteceu, não a 25 de Abril,
mas no 1º de Maio de 1974.
São comoventes as imagens da
multidão que encheu os Aliados e ainda hoje, ao olhá-las, sinto a certeza com
que todos e cada um queriam mudar o Mundo.
Quarenta e cinco anos volvidos, o
dia que ontem se celebrou, é cada vez menos mobilizador e, pior, está cada vez
mais despido de significado.
A baixa sensível (em todos os
países da Europa) das taxas de sindicalização fazem dos atuais desfiles
verdadeiras relíquias sociais.
As palavras de ordem agarradas a
noções de trabalho e de trabalhador cristalizadas são como uma espécie de
língua morta, o latim do PCP.
E o cartaz com buracos e dois
paus a par com o altifalante roufenho, uma estética a roçar o neorrealismo
cinematográfico.
Horários de trabalho, condições
de trabalho, trabalho igual, salário igual, sinistralidade laboral, são noções
em rápido desaparecimento e já sem eco nas gerações mais novas.
As novas profissões prescindem do
local de trabalho, da progressão salarial e funcional, da comparação em função
do género, da segurança do emprego.
As novas profissões são vistas
como gestão de projetos, muitas vezes remotamente realizados, valorizadas
essencialmente pelos resultados e com parâmetros de comparação entre elementos
de grupos ultraespecializados muito para além das questões de género.
Os direitos que se reclamam
extravasam a relação empresa/trabalhador. Exigem-se organizações socialmente
responsáveis, ambientalmente sustentáveis e economicamente justas.
E os deveres que se assumem estão
igualmente em linha com estes novos patamares de leitura de um Mundo que se
sabe interligado.
Por isso não vemos jovens nestes
nossos dias 1 de Maio.
Simplesmente olhamos com ternura
para os que passam na Praça. Os mesmos que em 1974 acreditaram que podiam mudar
o Mundo.
*Analista financeira
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