Eugénio Costa Almeida* | opinião
A esperança de novos rumos
políticos, económicos e sociais esteve sempre no ar após a eleição de João
Lourenço, como Presidente de Angola, e tendo em conta a
"glasnostização" (transparência) que eu previa - mas que João
Lourenço, prefere designar de "reformas", na linha de Deng Xiaoping.
Com as suas reformas, Lourenço
acabou mais por as tornar símbolos de transparência, nomeadamente, com a
exigência do retorno de capitais indevidamente retirados de Angola, do que
introduzir claras reformas no sistema político-social.
As expectativas como propalado e
desejado retorno de capitais parecem ter sido um facto tornado fogo-fátuo. Se
alguns dizem que houve já retorno de algum capital, aquém do expectável e do
previsto, há quem, junto da banca, afirme que ainda não ocorreu qualquer retorno
desse capital tresmalhado. Nem mesmo sabendo os seus detentores que o referido
retorno seria anónimo e não sancionável.
Expectativas goradas que se estão
a reflectir na vida social dos angolanos. A falta de dinheiro, nomeadamente,
divisas, impede que certas melhorias que seriam desejáveis, se tornem realidade.
A mesma falta de divisas que, recentemente, provocou um caos social devido à
falta de produtos petrolíferos transformados – leia-se, combustíveis – com manifestos
reflexos quer nos transportes, quer na inoperacionalidade dos geradores que
são, ainda, bem de primeira necessidade nas casas dos angolanos, em particular,
dos luandenses, devido à falta de energia eléctrica.
E esta falta de divisas, de
electricidade, e de combustíveis, espelha-se, igualmente, na deficiente
qualidade da água potável que circula nos canos ou nos camiões cisternas abastecedores,
que abastecem a cidade-capital; na dificuldade de fornecer as cidades de
produtos perecíveis produzidos no interior, pela falta de combustíveis e pela
deficiente construção e manutenção das estradas nacionais, a maioria, supostamente
recuperadas e bem pagas; na falta de serviços médico-sanitários com qualidade e
de vacinas para defesa, principalmente, das crianças - o recente surto de
sarampo na Lunda Sul é a prova disso; nas greves em certos sectores públicos, como
o escolar, previstas ou realizadas.
Reconheça-se que muita coisa mal feita
durante tantos decénios não se consegue resolver em 3 ou 4 anos, mas outros factores
persistem que o Governo de João Lourenço ainda não conseguiu alterar.
Por exemplo, a qualidade
habitacional nas grandes cidades angolanas. Recorde-se que a deputada Luzia
Inglês, em recentes declarações, afirmava que um dos maiores problemas sociais
por que Luanda passa é a explosão populacional.
Em ternos sociais, há muito para
fazer. Como diz o adágio europeu, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Mas, é
possível retirar de certas rubricas do OGE algumas percentagens a favor de
outras rubricas, nomeadamente as de cariz social. Por exemplo, continuar a
gastar tanto dinheiro em apetrechamento militar, nomeadamente em aviões de combate
ou na manutenção de um elevado número de efectivos militares, quando estamos em
paz em todo o território nacional. De realçar, como exemplo próximo, que a África
do Sul só tem 66.350 efectivos, dos quais 8.150 são do serviço de apoio médico,
enquanto nós temos 117.000 militares, dos quais 100.000, contra 40.200
sul-africanos, estão no Exército. A Marinha, careceria de mais e melhores equipamentos.
Até porque vai haver eleições
autárquicas, aguardemos que o próximo OGE permita melhor reescalonar e
redistribuir o que há pelas áreas que mais precisam e mais impacto têm na
qualidade de vida social dos angolanos.
É uma expectativa, tendo em conta o novo rumo
nacional, na esperança que as crises sociais sejam minoradas – nunca acabam.
*Investigador Doutorado do Centro
de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL (CEI-IUL) e Investigador Associado do
CINAMIL e investigação para Pós-Doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da
Universidade Agostinho Neto.
(Todos os textos por mim escritos
só me responsabilizam o autor e não às entidades a que está agregado)
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