Pequim, 16 mai 2019 (Lusa) - A
China instou hoje os Estados Unidos a pararem com as suas práticas contra
empresas chinesas, depois de o Presidente norte-americano ter proibido firmas
dos Estados Unidos de usarem equipamento da Huawei.
"Ninguém vê essa medida como
construtiva ou amigável e pedimos aos EUA que parem com essas práticas",
disse o porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Lu Kang, em conferência
de imprensa.
Kang disse que Pequim "se
opõe a países que criam obstáculos usando a questão da segurança nacional como
desculpa" e assegurou que empresas estrangeiras a operar no país asiático
"não precisam de se preocupar desde que cumpram as leis".
O Governo norte-americano emitiu
hoje uma ordem executiva que proíbe as empresas dos EUA de usarem qualquer
equipamento de telecomunicações fabricado pela Huawei.
Uma outra ordem exige às empresas
do país que obtenham licença para vender tecnologia à Huawei, num golpe que se
pode revelar fatal para a gigante chinesa das telecomunicações.
A medida pode cortar o acesso da
Huawei aos semicondutores fabricados nos Estados Unidos e cruciais para a
produção do seu equipamento.
As ordens assinadas por Trump declaram
mesmo uma "emergência nacional" face às ameaças contra as
telecomunicações dos EUA, uma decisão que autoriza o Departamento de Comércio a
"proibir transações que colocam um risco inaceitável" à segurança
nacional.
Colocar a Huawei na lista
"negra" teria "efeitos em cascata" em todo o mundo,
considerou Samm Sacks, especialista em cibersegurança da unidade de
investigação New America, com sede em Washington, citado pelo jornal Financial
Times.
"As redes na Europa, África
e Ásia que dependem dos equipamentos da Huawei sentirão o impacto, porque a
Huawei depende de componentes fornecidos pelos EUA", disse.
Paul Triolo, especialista em
políticas de tecnologia do Eurasia Group, considerou a decisão um "grande
passo", que não prejudicará apenas a empresa chinesa, mas terá também um
"impacto" nas cadeias globais de fornecimento, envolvendo empresas as
norte-americanas Intel, Microsoft, Oracle ou Qualcomm.
"Os EUA declararam
abertamente uma guerra tecnológica contra a China", afirmou.
A Huawei fornece dezenas de
operadoras líderes em todo o mundo.
Em dezembro do ano passado,
durante a visita a Lisboa do Presidente chinês, Xi Jinping, foi assinado entre
a portuguesa Altice e a empresa chinesa um acordo para o desenvolvimento da
próxima geração da rede móvel no mercado português.
Washington tem pressionado vários
países, incluindo Portugal, a excluírem a Huawei da construção de
infraestruturas para redes de quinta geração (5G), a Internet do futuro,
acusando a empresa de estar sujeita a cooperar com os serviços de informação
chineses.
Austrália, Nova Zelândia e Japão
aderiram já aos apelos de Washington e restringiram a participação da Huawei.
Pequim e Washington travam, desde
o verão passado, uma guerra comercial, que se agravou na última semana, com os
governos das duas maiores economias do mundo a imporem taxas alfandegárias
adicionais sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de
cada um.
No cerne das disputas está a
política de Pequim para o setor tecnológico, que visa transformar as firmas estatais
do país em importantes atores globais em setores de alto valor agregado, como
inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.
Washington vê aquele plano como
uma ameaça ao seu domínio industrial e considera uma violação dos compromissos
da China de abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a
transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas,
enquanto as protege da concorrência externa.
JPI // FPA
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