Presidente não era bem-vindo em
Nova York e teve que buscar prêmio na província americana. Sequer uma
personalidade de destaque foi à cerimônia. Isso deve ocorrer mais vezes, pois
país perde importância.
Deveria ser uma cerimónia de premiação do
presidente brasileiro nos EUA como Personalidade do Ano – e acabou sendo uma
suja batalha política. A Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos queria
homenagear nesta semana o presidente Jair Bolsonaro no Museu Americano de
História Natural, em Nova York, junto com o secretário de Estado americano,
Mike Pompeo. O evento de gala anual, generosamente patrocinado por empresas
brasileiras e americanas, é uma festa de rotina em que investidores e
empresários comparecem buscando o acesso exclusivo aos premiados.
Mas desta vez tudo deu errado.
Primeiro os patrocinadores do museu pressionaram e exigiram o cancelamento do
jantar – devido ao conteúdo populista de direita e misantropo das opiniões de
Bolsonaro. Quando a cerimónia de premiação foi transferida para um hotel, os
primeiros patrocinadores retiraram
o apoio. Aí o prefeito
de Nova York, Bill de Blasio, entrou na discussão: o presidente brasileiro
não era bem-vindo "por causa de seus pontos de vista homofóbicos e
racistas".
Por causa da resistência, os
diplomatas de Bolsonaro transferiram o
evento para Dallas, no Texas, onde a visita de 24 horas do presidente
brasileiro quase não chamou a atenção. De Blasio ironizou, afirmando que
Bolsonaro é covarde demais para aparecer em Nova York.
A atitude do prefeito de Nova
York pode ser explicada principalmente pelo ângulo da política interna. Como
membro do Partido Democrata, ele quer polir sua reputação como um verdadeiro
ativista dos direitos humanos. O fato de não hesitar em insultar o presidente
democraticamente eleito do Brasil mostra, acima de tudo, como o Brasil
perdeu força no exterior. Pois não se sabe de protestos de De Blasio
contra a presença em Nova York de ditadores economicamente influentes do
Extremo Oriente e do Oriente Médio.
Mas também nenhum defensor
conservador de Bolsonaro nos EUA veio a público para se solidarizar com ele.
Como um cão escorraçado, o presidente brasileiro teve que pegar seu prêmio
na província americana. Nenhum representante político e de negócios de alto
nível dos EUA conseguiu ser persuadido a comparecer à reunião no Texas.
O Brasil está perdendo
rapidamente importância na política mundial. Embora isso não tenha começado com
a posse de Bolsonaro, sua presidência está acelerando esse processo. A
influência internacional do Brasil começou a diminuir há cerca de cinco anos,
juntamente com o declínio da economia brasileira. Até então, o Brasil se valia
de sua soft power para conseguir alcançar suas metas em política
externa – em contraste com o hard power da Rússia, dos EUA ou da
China.
Joseph Nye, um especialista
americano em relações internacionais, cunhou os termos: segundo ele, um país
trabalha com hard power quando impõe sua liderança global sobretudo
através de sua força económica, financeira e militar. Os diplomatas do Brasil
tradicionalmente trabalham com soft power – nos anos 2000, reforçado
por sua forte presença como a oitava maior potência econômica e provedora de
alimentos para o mundo, como um importante fornecedor de matérias-primas
industriais e energia.
O Brasil convencia seus parceiros
de negócio com a credibilidade de seus diplomatas, com sua imagem positiva de
uma cultura tropical multiétnica capaz de superar contrastes – entre negros e
brancos, pobres e ricos, desenvolvidos e subdesenvolvidos. No debate climático
e no comércio mundial, o Brasil alcançou surpreendentes êxitos
diplomáticos porque seus diplomatas conseguiram forjar alianças – através
dos continentes e entre países industrializados, emergentes e em
desenvolvimento.
Mas o soft power do
Brasil vem desacelerando há algum tempo: por um lado, porque o país se tornou,
no auge de seu sucesso económico, há dez anos, cada vez mais um
concorrente dos países industrializados nos setores agrícola, de energia e de
matérias-primas – potência econômica não combina bem com soft power tropical.
Com o declínio económico, o poder de persuasão do Brasil perdeu ainda mais
força: um soft power sem dinâmica económica também não é convincente.
Agora, a perda de imagem do
Brasil se acelerou: o presidente Bolsonaro continua, na sua política interna e
externa, a polarização que prometeu na campanha eleitoral – e por causa da
qual muitos brasileiros votaram nele. Com a sua clara opção por um esquema
amigo-inimigo na política externa, nenhuma aliança global surpreendente pode
mais ser forjada. Os brasileiros terão que se conformar com o fato de que não
mais serão, como no passado, recebidos em todos os lugares de braços abertos.
Alexander Busch (md) | Deutsche
Welle
Na foto: Protesto contra
Bolsonaro diante de hotel em Nova York que ia sediar premiação do presidente
brasileiro
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