Díli, 16 mai 2019 (Lusa) -- O
ex-Presidente timorense José Ramos-Horta disse que Timor-Leste pode beneficiar
de parcerias com a China, como com outros parceiros, para o seu desenvolvimento
nacional, considerando "propaganda" as campanhas de receio sobre o investimento
chinês.
"Há muita propaganda, de
repente. O que se passa é que a China surgiu agora como grande potência global
económica e isso atrapalha o monopólio de influência económica de muitos
países. É um fenómeno novo na geopolítica mundial", disse José Ramos-Horta
em declarações à Lusa.
"As preocupações no caso de
Timor-Leste não fazem sentido. Posso entender as preocupações, obviamente, mas
a nossa resposta às preocupações é estar sempre disponível para explicar as
implicações do envolvimento da China, quer a nível oficial, quer do setor
privado internacional", considerou.
José Ramos-Horta falava à Lusa
depois de regressar da China onde participou em reuniões do Conselho Global
para a iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota", com vários ex-chefes de
Estado e de Governo de que agora também faz parte.
Ramos-Horta explicou que foi
convidado pelo presidente do Conselho Global, o ex-chefe de Estado sérvio,
Boris Tadic, a integrar o organismo que "visa aconselhar as autoridades,
quem de direito, sobre as implicações culturais, sociais, políticas, diplomáticas
da iniciativa 'Uma Faixa, Uma Rota".
Uma outra vertente, explicou,
"é mobilizar parcerias quer entre a China e países terceiros, quer entre a
China e setores privados, para a boa execução" da iniciativa.
A iniciativa chinesa "Uma
Faixa, Uma Rota" é uma estratégia de desenvolvimento do Governo chinês que
aposta no desenvolvimento de infraestrutura e investimentos em vários países da
Ásia, África e Europa.
Ramos-Horta desdramatizou as
preocupações sobre a presença económica chinesa em Timor-Leste, afirmando que
"não é maior do que a presença indonésia ou da presença australiana".
O país, disse, tem vários acordos
de cooperação nas áreas da defesa e segurança, com a Austrália, Portugal e
Estados Unidos, e outra cooperação com países como o Japão, a Coreia do Sul e a
Alemanha, além da União Europeia.
"A presença chinesa na
Austrália é muito maior, muito maior nos Estados Unidos onde a China detém dois
triliões de dólares em divida pública norte-americana e investimento nos
Estados Unidos", salientou.
Esta semana, recorde-se, o
presidente da petrolífera timorense, Timor Gap, disse estarem a decorrer
negociações com a China para o financiamento do novo Porto de Beaço, inserido
no projeto do Greater Sunrise, no sul de Timor, e avaliado em 943 milhões de
dólares.
Francisco Monteiro confirmou que
o projeto -- que deverá ser construído pela China Civil Engineering
Construction Corporation - insere-se na iniciativa chinesa "Uma Faixa, uma
Rota".
"Estranho algumas
preocupações de certos setores internacionais. O importante é Timor saber
negociar e enquadrar o apoio chinês nas áreas que interessa a Timor, como
definido no Plano Estratégico de Desenvolvimento Nacional" afirmou
Ramos-Horta.
O líder timorense disse que
Xanana Gusmão, ex-chefe de Estado e de Governo e agora representante do
executivo para os assuntos do Mar de Timor, também esteve nos encontros da
"Uma Faixa, Uma Rota", na China, iniciativa que "elogiou".
Ramos-Horta questionou, em
particular, as preocupações com o endividamento à China, notando que muitos
países de África e da Ásia sofreram e ainda sofrem com empréstimos ao FMI,
Banco Mundial e bancos comerciais europeus e norte-americanos, alguns feitos
nos anos 60 e 70.
"Eu acho interessante no
mínimo dizer-se que certos países, certas instituições internacionais manifestam
preocupação em relação ao endividamento dos países do terceiro mundo em relação
à "Uma Faixa, Uma Rota", declarou.
"O drama do endividamento de
tantos países, sobretudo africanos, mas também muitos asiáticos, vem desde os
anos 60 e 70, e as grandes crises financeiras foram criadas por dividas
contraídas por esses países e outros com o FMI, com o Banco Mundial e os bancos
comerciais europeus e americanos", disse.
Além disso, sublinhou, estudos
mostram que a dívida chinesa é menor, que o país renegoceia ou perdoa muita da
dívida e que os juros são muito mais baixos, a 1% bonificados, que os 4% do
Fundo Monetário Internacional e Banco Asiático de Desenvolvimento ou 7 ou 8% de
bancos europeus e norte-americanos.
Timor-Leste deve, por isso, procurar
"diversificar ao máximo as suas relações comerciais e financeiras",
sublinhando que estes processos "são uma estrada de dois sentidos".
"Timor quando faz
solicitações, tem uma resposta rápida da China, quer oficial, quer privada. A
UE e os EUA, Japão e Coreia, têm também que ser mais ágeis na resposta as
necessidades de Timor, aos convites de Timor para parcerias económicas e
técnicas", sustentou.
"Não é só Timor querer. O
problema é que tem acontecido sempre [uma] enorme morosidade de instituições como
a UE, Banco Mundial e Banco Asiático de Desenvolvimento e dos setores oficiais
e privados de alguns países", afirmou.
ASP // JMC
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