Guiné-Bissau continua sem Governo
depois das eleições legislativas de 10 de março. Mas analista considera que o
Presidente guineense, José Mário Vaz, tem "todas as condições" para
nomear o novo Executivo.
Quase dois meses depois das
eleições na Guiné-Bissau, o país continua sem
Governo. E a formação do novo Executivo está, por enquanto, suspensa, pelo
menos até sair uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça sobre a impugnação
interposta pelo Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15).
O segundo partido mais votado nas
legislativas de 10 de março pediu a anulação da eleição dos membros da mesa do
Parlamento, alegando vícios no processo. Como a mesa da Assembleia Nacional
Popular (ANP) não foi aprovada, o Presidente José Mário Vaz ainda não pediu
ao Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o partido
mais votado, para formar Governo. Como resolver o impasse político?
O novo impasse político surgiu
quando a maior parte dos deputados votou contra o nome do coordenador do
MADEM-G15, Braima Camará, para segundo vice-presidente do Parlamento. Desde
então, o segundo partido mais votado nas legislativas recusa-se a avançar com
outro nome para o cargo.
Para o analista político
guineense Luís Peti, o impasse pode terminar assim que as partes envolvidas se
sentarem à mesa, para dialogar. "Conversando, os partidos, o
Presidente da República e todas as partes legislativas podem encontrar uma
solução mais adequada para a nomeação mais urgente possível do Governo, porque
o país precisa", diz.
No entanto, segundo Peti, o chefe
de Estado guineense, José Mário Vaz, não precisa sequer de esperar pela
formação da mesa da ANP.
"Na minha opinião, o
Presidente da República já tem todas as condições para a nomeação do
Governo", afirma. "O que se tem falado não oficialmente até
agora é que [a nomeação do Governo pelo] Presidente está dependente da
composição da mesa Assembleia Nacional Popular. Mas, na minha opinião, esta não
devia ser uma posição para o Presidente da República nomear um governo, a não
ser que esteja a satisfazer os interesses dos partidos contestatários junta da
ANP quanto à nomeação."
O analista lembra que a situação
pode afetar as eleições presidenciais deste ano, visto que é o Governo que tem
a responsabilidade de conduzir o processo eleitoral. E considera que
a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que tem
mediado o conflito entre partidos, podia fazer mais.
"Precisamos da comunidade
internacional e dos países amigos para a estabilização política da
Guiné-Bissau", refere. "A CEDEAO tem uma obrigação de estar muito
próxima das autoridades políticas guineenses no sentido de encontrar uma
solução para a nomeação do Governo."
Reações dos partidos
O PAIGC, através do seu
líder Domingos Simões Pereira, acusou na quarta-feira (08.05)
o Presidente da República de prejudicar a Guiné-Bissau ao não nomear o
novo Governo.
"A situação económica e
financeira do país é caótica e aproxima-se da insolvência. O Estado está no
risco de entrar na falência. Isso traduz-se na incapacidade do Estado, por via
do Governo, em cumprir com as suas obrigações primárias. É importante concluir
estarmos perante uma violação flagrante da Constituição da República da
Guiné-Bissau por parte do seu primeiro magistrado, o senhor Presidente da
República."
Já o Partido da Renovação Social
(PRS), o terceiro partido mais votado, anunciou em comunicado que
considera uma "irresponsabilidade" e uma "interpretação
abusiva" a forma como o PAIGC está a analisar e a pretender aplicar as
normas para a composição da mesa que irá dirigir o novo Parlamento saído das
eleições.
O PRS intentou uma ação judicial
no Tribunal Regional de Bissau, exigindo que lhe seja atribuído o lugar,
invocando o regimento do Parlamento.
Mas, para o PAIGC, o PRS
"está com manobras" para levar o Presidente José Mário Vaz a
atrasar a formação do novo Governo.
Rodrigo Vaz Pinto, Agência Lusa |
Deutsche Welle
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