Quase a meio da tarde de ontem (27) surgiu a
explicação para a subida da abstenção em Portugal, que entre brancos
e nulos atingem mais de 75% em Portugal, conforme é referido no nosso título.
Saiba-se que tal subida corresponde a verdade-verdadinha, basta pegar no número
de inscritos, confrontar com o número dos que votaram e encontramos uma abstenção
a subir, com votos brancos e nulos ainda mais sobe. Evidentemente.
Mas existe uma explicação. A
seguir vai encontrar o que a TSF anunciou por voz e texto. É uma explicação compreensível, plausível, mas não invalida o facto de que a abstenção cresceu. É alegado que em
território nacional até decresceu quase um ponto percentual… Mas cresceu na
realidade. Números são números.
Que tenha sido por isto ou por aquilo
o que é facto é que a abstenção em território nacional ficou acima dos 60%,
pelas contas dos senhores que deram a “explicação”, e isso leva-nos a uma questão: porque será
que os políticos, os poderosos, não se envergonham e nada fazem para se
credibilizarem, para darem provas da sua transparência, da sua honestidade e
deixarmos de ouvir em Portugal que "são todos o mesmo", que "são todos uns ladrões,
uns mentirosos"?
A raiz da abstenção está nessas
causas, as desonestidades, umas mais gravosas outras menos. Mas sobre as
causas, pouco ou nada se fala e é escandalosamente notório que nem existe vontade de atacar a
corrupção, por exemplo, como é imperioso fazer.
Dando de barato que a abstenção não
subiu e que até desceu fica certo - pelos números - que na verdade subiu. Baralhados? Ora, se
fosse só com isto que nos baralhássemos estávamos bem. Pior é o churrilho de
baralhações com que deparamos no dia a dia. A quase todas as horas.
Acabar com a desonestidade política,
intelectual e outras baixará drasticamente a abstenção… Mas existem máfias que
não estão para isso. Pois. (MM | PG)
A abstenção subiu ou não subiu?
Em território português, afinal, até desceu
Mudança no recenseamento ajuda a
explicar aumento da abstenção para número recorde nestas eleições europeias.
A abstenção nas eleições
europeias foi a mais alta de sempre do Portugal democrático, mas a explicação
está sobretudo numa mudança na forma como os eleitores estão recenseados,
nomeadamente no estrangeiro.
Entre quem vota em território
português a abstenção até diminuiu.
A explicação está naquilo que em
estatística se chama uma "quebra de série", ou seja, como define o
Instituto Nacional de Estatística (INE), "uma alteração nas normas
estabelecidas para definir ou observar uma variável ao longo do tempo".
Quando se fala em abstenção esta
baseia-se numa conta simples: a percentagem de eleitores que foram votar em
relação aos que estão inscritos para o fazer.
O problema é que o número de
inscritos para votar teve em 2019 uma enorme novidade: o novo recenseamento
automático (e não a pedido do próprio) que fez com que no estrangeiro o número
de recenseados, em condições de votar, passasse de apenas 300 mil em 2014 para
mais de 1,4 milhões em 2019, sendo aí que a abstenção, que sempre foi enorme,
disparou ainda mais.
Foi pouco, mas abstenção em
território nacional desceu
Numa altura em que ainda faltam
contar 7 de 100 consultados, a taxa de participação lá fora passou de 2,01%
para apenas 1,01% o que só por si não parece, à primeira vista, muito, mas como
o número de eleitores registados quadruplicou isto significa que nas últimas
europeias não tinham ido votar cerca 200 mil portugueses no estrangeiro e agora
foram muito mais de um milhão, mesmo que em números absolutos até tenham
existido o triplo de eleitores lá fora a votar (de 4.540 para mais de 12 000).
De facto, a percentagem total da
abstenção (território nacional + estrangeiro) subiu: 66,09% em 2014 para 68,3%
em 2019.
No entanto, se olharmos apenas
para os números em Portugal a abstenção não aumentou, até desceu um pouco:
65,34% para 64,68%, numa altura em que todas as freguesias nacionais já estão
contadas.
Se olharmos para números
absolutos, em Portugal até houve mais 21.934 eleitores a votar.
Nuno Guedes | TSF | Foto: Rodrigo
Antunes/EPA
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