terça-feira, 28 de maio de 2019

Portugal | A abstenção subiu… mas desceu. Baralhado?


Quase a meio da tarde de ontem (27) surgiu a explicação para a subida da abstenção em Portugal, que entre brancos e nulos atingem mais de 75% em Portugal, conforme é referido no nosso título. Saiba-se que tal subida corresponde a verdade-verdadinha, basta pegar no número de inscritos, confrontar com o número dos que votaram e encontramos uma abstenção a subir, com votos brancos e nulos ainda mais sobe. Evidentemente.

Mas existe uma explicação. A seguir vai encontrar o que a TSF anunciou por voz e texto. É uma explicação compreensível, plausível, mas não invalida o facto de que a abstenção cresceu. É alegado que em território nacional até decresceu quase um ponto percentual… Mas cresceu na realidade. Números são números.

Que tenha sido por isto ou por aquilo o que é facto é que a abstenção em território nacional ficou acima dos 60%, pelas contas dos senhores que deram a “explicação”, e isso leva-nos a uma questão: porque será que os políticos, os poderosos, não se envergonham e nada fazem para se credibilizarem, para darem provas da sua transparência, da sua honestidade e deixarmos de ouvir em Portugal que "são todos o mesmo", que "são todos uns ladrões, uns mentirosos"?


A raiz da abstenção está nessas causas, as desonestidades, umas mais gravosas outras menos. Mas sobre as causas, pouco ou nada se fala e é escandalosamente notório que nem existe vontade de atacar a corrupção, por exemplo, como é imperioso fazer.

Dando de barato que a abstenção não subiu e que até desceu fica certo - pelos números - que na verdade subiu. Baralhados? Ora, se fosse só com isto que nos baralhássemos estávamos bem. Pior é o churrilho de baralhações com que deparamos no dia a dia. A quase todas as horas.

Acabar com a desonestidade política, intelectual e outras baixará drasticamente a abstenção… Mas existem máfias que não estão para isso. Pois. (MM | PG)

A abstenção subiu ou não subiu? Em território português, afinal, até desceu

Mudança no recenseamento ajuda a explicar aumento da abstenção para número recorde nestas eleições europeias.

A abstenção nas eleições europeias foi a mais alta de sempre do Portugal democrático, mas a explicação está sobretudo numa mudança na forma como os eleitores estão recenseados, nomeadamente no estrangeiro.

Entre quem vota em território português a abstenção até diminuiu.

A explicação está naquilo que em estatística se chama uma "quebra de série", ou seja, como define o Instituto Nacional de Estatística (INE), "uma alteração nas normas estabelecidas para definir ou observar uma variável ao longo do tempo".

Quando se fala em abstenção esta baseia-se numa conta simples: a percentagem de eleitores que foram votar em relação aos que estão inscritos para o fazer.

O problema é que o número de inscritos para votar teve em 2019 uma enorme novidade: o novo recenseamento automático (e não a pedido do próprio) que fez com que no estrangeiro o número de recenseados, em condições de votar, passasse de apenas 300 mil em 2014 para mais de 1,4 milhões em 2019, sendo aí que a abstenção, que sempre foi enorme, disparou ainda mais.

Foi pouco, mas abstenção em território nacional desceu

Numa altura em que ainda faltam contar 7 de 100 consultados, a taxa de participação lá fora passou de 2,01% para apenas 1,01% o que só por si não parece, à primeira vista, muito, mas como o número de eleitores registados quadruplicou isto significa que nas últimas europeias não tinham ido votar cerca 200 mil portugueses no estrangeiro e agora foram muito mais de um milhão, mesmo que em números absolutos até tenham existido o triplo de eleitores lá fora a votar (de 4.540 para mais de 12 000).

De facto, a percentagem total da abstenção (território nacional + estrangeiro) subiu: 66,09% em 2014 para 68,3% em 2019.

No entanto, se olharmos apenas para os números em Portugal a abstenção não aumentou, até desceu um pouco: 65,34% para 64,68%, numa altura em que todas as freguesias nacionais já estão contadas.

Se olharmos para números absolutos, em Portugal até houve mais 21.934 eleitores a votar.

Nuno Guedes | TSF | Foto: Rodrigo Antunes/EPA

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