Manuel Molinos* | Jornal de Notícias
| opinião
Os poderes e os privilégios, os
favores e as cunhas, o compadrio e o "chico-espertismo" têm
aumentando o fosso entre ricos e pobres, a descrença dos portugueses e as
desigualdades no país.
O grande desafio que os partidos
políticos, clássicos e novos, têm pela frente é combater esta irmandade de
espertos, onde vale quase tudo.
E a abstenção nas últimas
eleições europeias não resulta apenas da indiferença da parte dos governados. É
também fruto de um país que teima em alimentar o centralismo, minimiza e
penaliza as zonas menos populosas do país e insiste na cultura dos salários
baixos, de transportes públicos escassos, velhos e mal distribuídos.
Quando direitos e deveres não têm
o mesmo peso numa Justiça que distingue endinheirados e remediados, quando se
classifica uma classe profissional como a nata da sociedade, equiparando os
seus salários ao do primeiro-ministro, quando não sabemos em quem devemos
confiar as nossas poupanças, quando as famílias não têm a mesma igualdade de
oportunidades no ensino, na saúde e na habitação, é difícil falar de um país
equilibrado.
Enquanto alguns continuarem a ser
os "donos disto tudo" e outros a ser parados na via pública, por um
chefe de um departamento do Fisco, para pagar dívidas de 150 euros, ninguém
terá legitimidade para falar de igualdade.
Portugal já se viu várias vezes
ao espelho. Com o sacrifício da maioria, "apertou o cinto" e
demonstrou sabedoria para lidar com adversidade. Superou-se. É um país
empreendedor, que aposta no desenvolvimento tecnológico e científico, que luta
pelos direitos dos animais, pela igualdade de género e pelo clima.
Mas a única verdade que nos
tornará mais iguais é o voto e este só será conquistado se a classe política
descobrir outro rumo, encontrar novos caminhos para se aproximar de todos nós.
É o que esperamos ouvir hoje na conferência sobre o futuro do país, que
assinala, no Porto, os 131 anos do "Jornal de Notícias".
*Diretor-adjunto do JN
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