segunda-feira, 27 de maio de 2019

REFLEXOS CONDICIONADOS!...

 Martinho Júnior, Luanda

COM O DEDO NA FERIDA

A guerra psicológica da NATO contra Angola ao serviço dos interesses de exclusividade da hegemonia unipolar, explora vários conteúdos, recorrendo a expedientes próprios, incluindo os de índole ideológica, com vista a fazer reflectir manipulações que conduzem aos fins em vista: no seu horizonte enquanto objectivo, estão os parâmetros dum modelo condicionado de democracia que pretendem induzir no país alvo que é Angola, com recurso a ingredientes de ordem económica, financeira, jurídico-institucional e até administrativa trabalhados a partir da conexão portuguesa explorando os fenómenos da lusofonia e da CPLP… (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/02/angola-na-ala-dos-namorados.html).

Um dos mais persistentes exemplos dessa guerra psicológica é a avassaladora campanha que sistematicamente tira partido dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977 em Angola com intensa emissão de continuados sinais mensageiros em Portugal! (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/06/a-guerra-psicologica-do-imperio-da.html).

1- É altura de começar a fazer um inventário sério dos pronunciamentos que socorrem essa esteira de pressões em campanha, seja as de ordem humana (e sobretudo psicológica), seja as de ordem física (autores e editores) que infestam desequilibradamente os relacionamentos bilaterais entre Angola e Portugal, “em nome do mercado” e dos lucros que só ele pode propiciar!

É um processo lento, em fogo lento, nos limites dos “brandos costumes” típicos da “ocidental praia lusitana” e nos limites até do raio-de-acção dos que veiculam ideias na língua de Camões! (http://www.dw.com/pt-002/27-de-maio-de-1977-e-nito-alves-o-tabu-da-hist%C3%B3ria-de-angola/a-15925292)


Está em causa a necessidade dum arrolamento exaustivo dos autores, do intrincado dos relacionamentos humanos (como por exemplo os que se referem ao quadro dos clãs familiares que afectam as elites angolanas), dos ambientes sociopolíticos, socioculturais, económicos e financeiros lusos para com Angola, dos conteúdos explorados, das ideologias de opção para focar os factos, das correntes de interpretação, do arrolamento dos temas e subtemas, dos métodos utilizados para colocar as interpretações e os conteúdos, por fim, das estatísticas que a propósito há que realizar e das razões que sobre os factos conduzem os autores a só rebuscarem testemunhos num dos lados, esvaziando sua própria capacidade objectiva tal qual é recomendada pela história e por todas as outras ciências humanas, quando tanto exploram o caudal das emoções!

As evidências da existência duma campanha não declarada de intensidade variável que se prolonga no tempo são efectivamente gritantes e como prova basta observar que a esmagadora maioria das intervenções e edições sobre os acontecimentos do 27 de Maio de 1977 em Luanda e em Angola, são produzidas… em território português, sobretudo em Lisboa!...


2- Um dos componentes dessa campanha, dando um mote original às interpretações, é José Manuel Milhazes Pinto (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Milhazes), ideologicamente identificado como um explorador da “perestroika” da URSS ao serviço de entidades ideológicas inconfessáveis (comentador da SIC, por exemplo), pretensamente espreitando nos labirintos do Kremlin por via dos seus livros, entre eles o“Golpe Nito Alves e outros momentos da história de Angola vistos do Kremlin” (https://www.aletheia.pt/products/golpe-nito-alves-e-outros-momentos-da-hist-ria-de-angola-vistos-do-kremlin#).

Integrando o vasto pelotão dos autores portugueses que se têm debruçado sobre os acontecimentos, ele propõe que é Moscovo, por tabela a URSS, um dos partícipes na tentativa do golpe a favor de Nito Alves, de forma a sintomaticamente procurar “marcar” a opinião pública, desviando inadvertidamente (?) as atenções sobre o caudal de outras conexões externas que influíram de forma directa e indirecta nos factos, a ponto de ser possível continuar a influir até hoje nos meandros do seu deliberado “apagão”!

É logico que entidades como a NATO são algumas das mais interessadas nesse tipo de interpretações, num quadro emocional que tem sido cultura, algo que corresponde a intrínsecos objectivos: quanto mais se desviarem as atenções sobre as conexões de Lisboa nessa época, (conexões que reproduziam os interesses, as conveniências, as ingerências e as manipulações vinculados ao “arco de governação” sucedâneo do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal), mais à vontade ficam os autores e editores portugueses que sistematicamente têm explorado o tema e mais à vontade ainda ficam os que dão o corpo ao manifesto pela manutenção da campanha, inclusive no ambiente sociopolítico embrenhado nos relacionamentos lusos para com Angola!

Moscovo nesses termos, é um antecedente aliás de outras campanhas contra os russos que vão poluindo a actualidade!

Nada melhor que um aderente da “glasnost” (https://cvonline-jm.weebly.com/) para fazer esse trabalho de sapa, “reorientando” a campanha, para “lavar mais branco” na cobertura dela e para estimular as medidas de guerra psicológica que motivou o regime oligárquico português e seus periféricos desde então e desde logo na tentativa de contribuir subtilmente para pôr fim à República Popular de Angola que durou pouco mais de 10 anos, uma Angola que, integrada na Linha da Frente, travava uma dura luta contra o “apartheid” a fim de o derrotar e legitimamente extirpar na África Austral!...

Essa campanha surgiu, desde o seu berço, num ambiente em que os governos do “arco de governação” projectados a partir do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, fizeram a recuperação ideológica do spinolismo, reeditando de forma tão ou mais silenciosa quanto antes, alguns dos termos “inteligentes” da aliança conforme ao Exercício Alcora!

Um esforço continuado reflecte-se em Angola, conforme os sobejos exemplos da pressão de entidades capazes de assim afirmar a pés juntos conforme a este exemplo (https://jornalf8.net/2018/mpla-acovarda-verdade-nao-prescreve/):

… A justiça de que a maioria dos angolanos carece, merece e lhe foi prometida, desde que um partido, privatizou, colonizando todas as instituições, e órgãos do Estado, colocando-se mesmo acima destes.

A maioria dos autóctones augura uma “justiça-cidadã”, que torne desnecessária a condenação de alguém, sem que seja julgado, num justo processo legal, alavancado em provas irrefutáveis.

Neste Maio, alguns, ingenuamente, acreditaram no lançar das sementes da reconciliação, tão desejada para a harmonia e reencontro de todos quantos ostracizados ao longo de 41 anos, no seio ou fora do MPLA, clamando, cabisbaixos, uns, e outros libertando-se das amarras mantém o facho da memória acesa”…

Esse sintoma leva-nos a perceber um dos meandros que se viveu em Bicesse (https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Bicesse) a 31 de Maio de 1991, no que aos “observadores” diz respeito: foi em ambiente de “glasnost” que foi discutido o arranque para a democracia angolana e por isso mesmo os resultados da guerra dos diamantes de sangue, entre 1992 e 2002, foram os que terrivelmente demonstram o choque do capitalismo neoliberal providenciado contra Angola, a fim de dar sequência à terapia que a partir de interesses externos de natureza hegemónica, se instalou em Angola de 2002 a esta parte!...

Será que o José Manuel Milhazes Pinto alguma vez se interrogou se houve alguém que, no rescaldo da tentativa do golpe de estado e sob seus efeitos directos ou indirectos, se refugiou na Rússia e quantos não só buscaram refúgio em Portugal, como se têm manifestado em Portugal ao longo de tantos anos desta deliberada campanha?

É para este tipo de personalidades e de critérios que há condecorações em Portugal, por obra e graça do regime da oligarquia! (https://sicnoticias.pt/pais/2013-06-05-presidente-da-republica-condecora-22-personalidades-das-comunidades-e-cidadaos-estrangeiros).

Não há notícia de José Manuel Milhazes Pinto ter vindo alguma vez a Angola por causa de alguma de suas intervenções sobre Angola!...


3- Na presunção da inocência desvia-se a atenção do cordão umbilical que de Lisboa se conectou aos acontecimentos (se conecta hoje tirando partido da guerra psicológica no âmbito da continuada campanha nunca como tal declarada) e, ao deliberadamente se esquecerem da tão necessariamente desapaixonada objectividade, os investigadores desses temas e subtemas nunca desse modo abordados, acabam por ficar sem resposta ainda hoje um sem número de questões, entre as quais destaco o seguinte (https://www.globalresearch.ca/a-conquista-da-africa-nato-em-gerra-num-terceiro-continente/5324083):

Qual o reflexo do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, na crise angolana do 27 de Maio de 1977?... (http://baseaerea3.blogspot.com/2010/03/costa-martins-heroi-ou-traidor.html)

Por que razão nunca esta questão foi levantada por qualquer entidade portuguesa e que reflexos se esbatem, precisamente por causa disso, em nossos dias?...

Quanto "o arco de governação" do regime oligárquico português, influenciou no fim da República Popular de Angola e na "temperança" dos governos que se lhe sucederam?... (https://www.publico.pt/2015/10/05/politica/opiniao/a-maldicao-do-arco-de-governacao-1710102).

Como está a ser levada a cabo o esforço da assimilação lusa em Angola, em pleno século XXI, quando persiste além do mais uma visão eurocêntrica nos relacionamentos internacionais (https://www.infoescola.com/sociologia/eurocentrismo/) e quando a inteligência económica lusa tem um papel-chave nos relacionamentos bilaterais e multilaterais e os aspectos culturais, ideológicos e jurídico-institucionais tendem a tornar-se também relevantes não sendo processos transculturais, mas garantindo influência directa na formação das elites angolanas contemporâneas? (https://paginaglobal.blogspot.com/2017/02/para-que-serve-inteligencia-economica.html).

Quais as áreas de sua maior afectação, quais as instituições instrumentalizadas, que entidades, personagens e conteúdos são utilizados, sobretudo em conexão com a campanha?

Que aspectos da campanha estão interrelacionados com o esforço de influência existente no âmbito jurídico-institucional e no corpo de leis em Angola? (https://www.angop.ao/angola/pt_pt/noticias/economia/2019/3/17/Sistema-juridico-angolano-consolida-economia-mercado,3c9c1b79-58ed-4f6c-b3e8-b0b152bb7aa8.html).

Como para a NATO e os interesses nela representados, se tem feito via Portugal, a guerra psicológica contra Angola? (https://kaosenlared.net/la-guerra-psicologica-del-imperio-de-la-hegemonia-unipolar-en-africa/).

Por que razão se sobrevalorizam algumas questões, acontecimentos e interpretações, quando outras são propositadamente silenciadas, ou subavaliadas?

Assim como no império romano "todos os caminhos iam dar a Roma", quantos caminhos, no caso do 27 de Maio de 1977 em Angola, vão dar a Lisboa e porquê? (https://journals.openedition.org/mulemba/603).


4- Como a campanha e o tema já vão tão longe na sua “maturação”, creio que as estórias começam a ficar esgotadas em prejuízo da história que há por fazer e a própria campanha com todas as estórias e versões de contingência se tornou sobejamente identificável…

A história contudo, ao não existir na acepção de sua exigência objectiva, (por que não há testemunho dos que defenderam a República Popular de Angola e o Presidente António Agostinho Neto), não pode todavia deixar de indicar outras variáveis:

Os fieis à RPA e a Neto, que em nada se identificavam na época, como é lógico, com os derivados do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal;

Esses fieis não só nada têm a ver com essa campanha, como também são avessos pelo menos à sua ausência de objectividade e/ou ao caudal de emoções deliberadamente induzidas e projectadas pela catadupa das mensagens; (http://opais.co.ao/historiador-angolano-destrata-primeiro-presidente-de-angola/)

Também não têm razões para se deixarem arrastar por aqueles que na projecção do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, têm vindo a cultivar seus directos e dilectos sucedâneos que compõem o ramalhete em torno do “arco de governação” e dos interesses e conveniências do regime da avassalada oligarquia portuguesa!

Uma pergunta final portanto subsiste ainda neste contencioso, uma pergunta cujas respostas poderão contribuir para confirmar os caudais de assimilação com sentido norte-sul: a quem interessa a não descolonização mental de portugueses e angolanos, enquanto persistirem este tipo de“âncoras mentais e psicológicas”? (http://jornaldeangola.sapo.ao/entrevista/nao-visito-angola-para-falar-do-27-de-maio).

Martinho Júnior | Luanda, 25 de Maio de 2019

Imagens:
Livros que integram a campanha e a foto da actual Ministra da Justiça do governo de Portugal.

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