quinta-feira, 23 de maio de 2019

Timor-Leste enfrenta desafios, incluindo pobreza, que são risco para estabilidade - PR


Díli, 20 mai 2019 (Lusa) - Timor-Leste continua a enfrentar grandes desafios que podem pôr em risco a estabilidade do país, com muitos timorenses, incluindo quase metade das crianças, a viver ainda em situação de pobreza e miséria, disse hoje o Presidente timorense.

"O futuro deste país está comprometido quando 46% das nossas crianças com menos de 14 anos vivem abaixo da linha de pobreza", afirmou Francisco Guterres Lu-Olo nas comemorações oficiais do 17º aniversário da restauração da independência.

"A produção, a produtividade e a qualidade alimentar têm vindo a degradar-se A taxa de desemprego continua elevada no nosso país e a maioria dos nossos jovens procura emprego no estrangeiro", disse.

Lu-Olo falava nas comemorações oficiais do 17º aniversário da restauração da independência de Timor-Leste, que decorreram hoje no Palácio Presidencial em Díli e onde estiveram as principais dignidades do Estado.



Num discurso com vários alertas sobre a futura estabilidade nacional, Lu-Olo referiu-se ao problema da escassez de bens alimentares, de oportunidades de emprego, de água e eletricidade, ou a falta de acesso a serviços de saúde e tratamento médico, que "podem ser fatores de risco para a paz social e a estabilidade".

Ultrapassar estes desafios, disse, requer "diálogo aberto, com a participação ativa dos cidadãos", procurando "estabelecer consensos e identificar soluções adequadas para os problemas da nação".

Lu-Olo retomou o tema da diversificação económica, especialmente apostando num crescente apoio ao setor agrícola, o maior empregador em Timor-Leste, onde "cerca de 60% da população" depende do setor.

"Além do seu papel na redução da pobreza e da fome em muitos países, a agricultura é a base para o desenvolvimento de outros setores e contribui significativamente para a conservação da biodiversidade", disse.

O chefe de Estado referiu-se especialmente ao café, de cuja produção dependem mais de 38 mil famílias, representando um rendimento anual do setor a ultrapassar os 22 milhões de dólares, com uma produtividade baixa que pode ser aumentada.

"Quero deixar um apelo ao Governo, para que reforce os esforços no sentido de incentivar os pequenos produtores nacionais a aumentarem a produtividade de modo a poderemos reduzir as importações de bens alimentares", disse.

"Não esqueçamos que, ao importarmos, estamos a retirar dinheiro do Tasi Mane para 'afogá-lo' no Tasi Feto", disse, referindo-se respetivamente ao mar do sul, de onde são provenientes as receitas petrolíferas e ao mar do norte, por onde chegam as importações.

Lu-Olo apelou ainda a que o Governo se esforce para investir o Fundo Petrolífero do país de forma mais sustentável, acelerando as "reformas que podem otimizar e impulsionar a competitividade e estimular o potencial de crescimento e a capacidade de resposta da economia perante um choque".

Em particular, disse, o executivo deve trabalhar para criar um "ambiente geral de negócios que facilite o investimento e as atividades comerciais no nosso país", com reformass que incidam também no mercado de trabalho e na tributação.

Nas comemorações de hoje o Presidente condecorou dez veteranos da luta contra a ocupação indonésia com o Colar da Ordem de Timor-Leste e 15 com a Medalha da Ordem de Timor-Leste, dos quais 15 a título póstumo.

"Estes veteranos deixaram tudo para trás. Deixaram as suas casas, o seu bem-estar, as suas famílias, para cumprirem um sonho coletivo", afirmou.

Sob o tema "Reforçar a Unidade e Garantir a Estabilidade para o Desenvolvimento Nacional", as comemorações deste ano servem, disse o chefe de Estado, para assinalar a importância da unidade, da paz e da estabilidade para o desenvolvimento nacional.

"Sabemos que é necessário reforçar a unidade para garantirmos a estabilidade e, assim, continuarmos a desenvolver o nosso país. No entanto, esta unidade tem de estar assente em regras, princípios e valores. Uma unidade reforçada pelo princípio da inclusão, em que ninguém é excluído", afirmou.

O chefe de Estado recordou o "legado de valores e princípios que os pais desta Nação deixaram" e que hoje importa defender "como herança para as gerações futuras".

E relembrou o "pequeno grupo de nacionalistas informalmente liderado pelo saudoso Presidente Nicolau Lobato, antes da queda do regime de Salazar a 25 de abril de 1974 em Portugal" que começou a fomentar a "consciência nacional" que levou à independência do país, restaurada há 17 anos.

Um processo que começou por reconhecer o "património cultural que une" os timorenses e a sua "identidade própria, sabedoria e força", num quadro de luta contra o colonialismo e que hoje permite consolidar a pátria.

ASP // FST

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