Díli, 20 mai 2019 (Lusa) -
Timor-Leste continua a enfrentar grandes desafios que podem pôr em risco a
estabilidade do país, com muitos timorenses, incluindo quase metade das
crianças, a viver ainda em situação de pobreza e miséria, disse hoje o
Presidente timorense.
"O futuro deste país está
comprometido quando 46% das nossas crianças com menos de 14 anos vivem abaixo
da linha de pobreza", afirmou Francisco Guterres Lu-Olo nas comemorações
oficiais do 17º aniversário da restauração da independência.
"A produção, a produtividade
e a qualidade alimentar têm vindo a degradar-se A taxa de desemprego continua
elevada no nosso país e a maioria dos nossos jovens procura emprego no
estrangeiro", disse.
Lu-Olo falava nas comemorações
oficiais do 17º aniversário da restauração da independência de Timor-Leste, que
decorreram hoje no Palácio Presidencial em Díli e onde estiveram as principais
dignidades do Estado.
Num discurso com vários alertas
sobre a futura estabilidade nacional, Lu-Olo referiu-se ao problema da escassez
de bens alimentares, de oportunidades de emprego, de água e eletricidade, ou a
falta de acesso a serviços de saúde e tratamento médico, que "podem ser
fatores de risco para a paz social e a estabilidade".
Ultrapassar estes desafios,
disse, requer "diálogo aberto, com a participação ativa dos
cidadãos", procurando "estabelecer consensos e identificar soluções
adequadas para os problemas da nação".
Lu-Olo retomou o tema da
diversificação económica, especialmente apostando num crescente apoio ao setor
agrícola, o maior empregador em Timor-Leste, onde "cerca de 60% da
população" depende do setor.
"Além do seu papel na
redução da pobreza e da fome em muitos países, a agricultura é a base para o
desenvolvimento de outros setores e contribui significativamente para a
conservação da biodiversidade", disse.
O chefe de Estado referiu-se
especialmente ao café, de cuja produção dependem mais de 38 mil famílias,
representando um rendimento anual do setor a ultrapassar os 22 milhões de
dólares, com uma produtividade baixa que pode ser aumentada.
"Quero deixar um apelo ao
Governo, para que reforce os esforços no sentido de incentivar os pequenos
produtores nacionais a aumentarem a produtividade de modo a poderemos reduzir
as importações de bens alimentares", disse.
"Não esqueçamos que, ao
importarmos, estamos a retirar dinheiro do Tasi Mane para 'afogá-lo' no Tasi
Feto", disse, referindo-se respetivamente ao mar do sul, de onde são
provenientes as receitas petrolíferas e ao mar do norte, por onde chegam as
importações.
Lu-Olo apelou ainda a que o
Governo se esforce para investir o Fundo Petrolífero do país de forma mais
sustentável, acelerando as "reformas que podem otimizar e impulsionar a
competitividade e estimular o potencial de crescimento e a capacidade de
resposta da economia perante um choque".
Em particular, disse, o executivo
deve trabalhar para criar um "ambiente geral de negócios que facilite o
investimento e as atividades comerciais no nosso país", com reformass que
incidam também no mercado de trabalho e na tributação.
Nas comemorações de hoje o
Presidente condecorou dez veteranos da luta contra a ocupação indonésia com o
Colar da Ordem de Timor-Leste e 15 com a Medalha da Ordem de Timor-Leste, dos
quais 15 a título póstumo.
"Estes veteranos deixaram
tudo para trás. Deixaram as suas casas, o seu bem-estar, as suas famílias, para
cumprirem um sonho coletivo", afirmou.
Sob o tema "Reforçar a
Unidade e Garantir a Estabilidade para o Desenvolvimento Nacional", as
comemorações deste ano servem, disse o chefe de Estado, para assinalar a
importância da unidade, da paz e da estabilidade para o desenvolvimento
nacional.
"Sabemos que é necessário
reforçar a unidade para garantirmos a estabilidade e, assim, continuarmos a
desenvolver o nosso país. No entanto, esta unidade tem de estar assente em
regras, princípios e valores. Uma unidade reforçada pelo princípio da inclusão,
em que ninguém é excluído", afirmou.
O chefe de Estado recordou o
"legado de valores e princípios que os pais desta Nação deixaram" e
que hoje importa defender "como herança para as gerações futuras".
E relembrou o "pequeno grupo
de nacionalistas informalmente liderado pelo saudoso Presidente Nicolau Lobato,
antes da queda do regime de Salazar a 25 de abril de 1974 em Portugal" que
começou a fomentar a "consciência nacional" que levou à independência
do país, restaurada há 17 anos.
Um processo que começou por
reconhecer o "património cultural que une" os timorenses e a sua
"identidade própria, sabedoria e força", num quadro de luta contra o
colonialismo e que hoje permite consolidar a pátria.
ASP // FST
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