Vivemos mergulhados em compromissos que nos exigem, a cada momento, nossa
presença. Como robôs programados, cumprimos uma agenda, muitas
vezes negligenciando nossos reais desejos. Anestesiados, fazemos nossas
refeições, cumprimos nossa carga horária e o ponto eletrônico nos sorri.
Ao término o mês, o salário nos dá a ilusão de que tudo está
politicamente correto, pois, embora fique aquém de satisfazer nossas
necessidades, não fazemos parte da lista dos desempregados do país.
Digno
de espanto é o preâmbulo da nossa Constituição, na qual consta de que o salário
mínimo deve suprir as necessidades básicas do ser humano, incluindo
lazer. É evidente que, na prática, a realidade do povo brasileiro não
corresponde ao texto constitucional. Somos reféns de um ideal democrático que
se anunciava viável, a partir de uma abertura política (1984), após 21 anos de
um ditadura civil-militar(1964-1985), e de uma Constituinte (1988) que
elaborou nossa atual Carta Magna.
Durante
o Império, nossa primeira Constituição (1824), outorgada por dom Pedro I,
considerava cidadão, com direito ao voto, somente àqueles que possuíam renda –
tratava-se do voto censitário - que excluia, dessa forma, a maioria da população,
pobre e analfabeta do processo político. Não podemos nos esquecer de que a
nossa base econômica, por quatro séculos, foi o latifúndio e o braço
escravo, sendo que o Brasil foi o último país, no contexto das Américas, a abolir a escravidão (1888) e a última
monarquia num contexto de um continente republicano.
Desde o Brasil
Colônia, os fantasmas que nos assombram, ligados à corrupção e ao nepotismo, já
eram alvo da implacável crítica do poeta baiano Gregório de Mattos Guerra
(1636-1696), “O Boca do Inferno”. Esse legado secular de transgressões
conhecido como “jeitinho brasileiro”, atualmente tem sido acompanhado pela
mídia e denunciado aos órgãos competentes. Quanto à maioria da população
brasileira, esta segue alimentando a ESPERANÇA que reside no fundo da “Caixa de
Pandora” como no mito grego.
Em relação aos problemas brasileiros, há quem os justifiquem por sermos um país jovem, cuja colonização iniciou no século 16, num período em que a Europa estava em expansão político-econômica durante as Grandes Navegações; outros já defendem a tese de que a colonização exploratória foi determinante para a formação de oligarquias. Discussões a parte, a ideia de um país do futuro não foge ao contexto do discurso oficial de que a Terra Brasilis ainda não atingiu a maioridade política daqueles que ocupam o pódio no primeiro mundo.
Em relação aos problemas brasileiros, há quem os justifiquem por sermos um país jovem, cuja colonização iniciou no século 16, num período em que a Europa estava em expansão político-econômica durante as Grandes Navegações; outros já defendem a tese de que a colonização exploratória foi determinante para a formação de oligarquias. Discussões a parte, a ideia de um país do futuro não foge ao contexto do discurso oficial de que a Terra Brasilis ainda não atingiu a maioridade política daqueles que ocupam o pódio no primeiro mundo.
O Brasil possui velhas feridas,
“ainda abertas”, cuja cicatrização perpassa, além das questões econômicas, por
mudanças de ordem moral e ética. A consciência cidadã é o passaporte que nos
possibilita a construção de uma sociedade mais fraterna e pautada por políticos
que não governem apenas para as elites. Que as palavras exclusão social e
impunidade possam se tornar apenas termos impressos em algum dicionário de um
velho sebo, e a democracia plena, finalmente, seja vitoriosa na Terra de Vera
Cruz, marcada, desde a sua colonização, pela espoliação de suas riquezas, mas
também pela sua rica diversidade cultural.
*Pesquisador e coordenador do
setor de imprensa do MuseCom
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