Última manobra do opositor junto
aos EUA bloqueou a venda de diluentes do petróleo e pretende causar rombo de
US$ 11 bi
Michele de Mello, do Brasil de
Fato | Caracas (Venezuela)
No último domingo (23), a
autoproclamação de Juan Guaidó como “presidente encarregado” da Venezuela
completou cinco meses. O cenário atual é de diálogo entre representantes
do deputado opositor e da administração do presidente Nicolás Maduro, que participam de
mesas de negociação na Noruega.
No entanto, nem sempre houve
espaço para diálogo. Nesse período como “presidente”, Juan Guaidó viajou
para os Estados Unidos, Europa, Brasil, Colômbia, Paraguai, Argentina e
Equador.
Além de pedir apoio e reconhecimento
de outros países para seu governo autoproclamado, Guaidó transformou-se num dos
principais incentivadores do recrudescimento do bloqueio econômico e
diplomático contra seu próprio país.
A resposta dos seus apoiadores
internacionais foi imediata. Até o momento, cerca de US$ 5,4 bilhões (cerca de
R$ 21 bilhões) foram bloqueados em contas venezuelanas no exterior.
A principal afetada foi a
indústria petrolífera, responsável pelo ingresso de 95% das divisas no
país. Por conta de uma ordem executiva do Departamento de Tesouro dos
EUA, foram
bloqueados cerca de US$ 30 bilhões (cerca de R$120 bilhões) em ativos e bens da
subsede da estatal PDVSA no Estados Unidos, a CITGO Petroleum, desde 28 de
janeiro de 2019.
Apesar de não ter respaldo legal
e legitimidade para gerir qualquer fundo estatal venezuelano, com manobras e
apoios de governos de outros países, Guaidó tem conseguido se apropriar de
dinheiro do país.
Sanções como arma de guerra
Há menos de um mês, no dia 7 de
junho, os Estados Unidos bloquearam a venda de diluentes de petróleo –
utilizados na produção de gasolina e outros combustíveis
– à Venezuela.
Segundo estatísticas do próprio
departamento de Estado dos EUA, divulgados pelo secretário John Bolton, as
novas medidas esperam gerar um prejuízo de US$ 11 bilhões (cerca de R$ 44
bilhões) ao país governado por Nicolás Maduro.
Os Estados Unidos parecem correr
contra o tempo – o que não é mentira, já que neste mês Guaidó chega à metade do
seu mandato como presidente da Assembleia Nacional e, quando deixar de
ocupar o cargo, perderá também o pretexto legal utilizado para exercer a função
de presidente interino da nação.
Como Guaidó se apropriou dos
recursos da CITGO
O governo autoproclamado de
Guaidó foi prontamente reconhecido pelos Estados Unidos. O reconhecimento
de Trump permitiu ao grupo opositor apropriar-se da sede diplomática da
Venezuela em Washington, além de garantir o controle da CITGO.
É justamente nesse ambiente onde a oposição tem focado suas movimentações
para seu autofinanciamento.
Andrés Eloy Padilla Villalba,
diretor da CITGO, nomeado por Guaidó, se tornou corretor público de títulos da
empresa na bolsa de valores. Em apenas uma oferta, US$ 5,5 milhões em
títulos (cerca de R$ 22 milhões) foram vendidos. Ou melhor, privatizados.
O diretor é irmão de Luis Carlos
Padilla Villalba, deputado pelo partido Ação Democrática e presidente da
Comissão de Energia e Petróleo da Assembleia Nacional da Venezuela. O uso do
dinheiro vendido nunca foi informado.
Outro corretor das ações da CITGO
na bolsa é Germán Rivero Zerpa. O banqueiro foi designado diretor
da Fundos de Desenvolvimento Social da Venezuela (Fivendes), uma empresa
criada em março pelo primo de Juan Guaidó, Juan Víctor Salcedo Márquez –
que atualmente vive em Chicago, mas abriu a conta bancária da empresa em
Londres.
Márquez tem direito de
administrar 75% da verba da Fivendes. Os outros 25% estão na mão de dois bancos
privados.
Bônus 2020
Em maio deste ano, a Assembleia
Nacional venezuelana, presidida por Guaidó, aprovou que a diretoria
opositora da CITGO se apropriasse dos dólares do Estado venezuelano bloqueados
pelos EUA para pagar os bônus da dívida da empresa na bolsa de valores.
O advogado Lee Buchheit foi
nomeado como assessor “pro bônus” pelos opositores para propor um novo plano de
reestruturação da dívida externa venezuelana, apesar de que o governo de Maduro
segue pagando os juros e amortizações da dívida.
Só em 2018, o Estado desembolsou
US$ 1,4 bilhão (R$ 5,6 milhões). Segundo o Banco Central da Venezuela
(BCV), o país terminou 2015 com uma dívida pública de US$ 120 bilhões (R$
480 bilhões).
Buchheit é o mesmo advogado
responsável por “renegociar” dívida contraída pelo Iraque depois da guerra
promovida pelo Estados Unidos, no início dos anos 2000. Mais recentemente, em
2016, também assessorou a secretaria de finanças da Argentina – país que possui
a segunda maior taxa de inflação do continente e uma taxa de desemprego de
10,1%. Ele trabalha em um escritório da Unidade de Assessoria Internacional e
Resolução de Disputas, em Londres, mesmo lugar onde a conta de Fivendes foi
aberta.
Em paralelo, uma investigação do
Departamento de Justiça dos Estados Unidos apura a apropriação, por parte dos
dirigentes de Guaidó, de cerca de US$ 70 milhões (cerca de R$ 280 milhões) que
seriam destinados a pagar os bônus da dívida da empresa.
Jornal GGN | Edição:
Rodrigo Chagas
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